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e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

quarta-feira, 1 de abril de 2020

BELCHIOR - CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO - 1984

BELCHIOR
CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO
1984
– todas as letras e músicas de Belchior, exceto onde indicado
OURO DE TOLO 
(Raul Seixas)
Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego
Sou o dito cidadão respeitável
e ganho quatro mil cruzeiros por mês
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
porque consegui comprar um Corcel 73
Eu devia estar alegre e satisfeito por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na cidade maravilhosa
Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
e um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso, abestalhado, que eu estou decepcionado
Por que foi tão fácil conseguir e agora eu me pergunto: e daí?
Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar
E eu não posso ficar aí parado

Eu devia estar feliz pelo Senhor ter me concedido o domingo
Pra ir com a família no jardim zoológico
dar pipocas aos macacos
Ah, mas que sujeito chato sou eu
que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro, jornal, tobogã
eu acho tudo isso um saco

É você olhar no espelho, se sentir um grandesíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
E que só usa 10 de sua cabeça animal

E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social

Eu é que não me sento no trono de um apartamento
Com a boca escancarada, cheia de dentes
esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas
que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador

PLOFT
O nordeste, sentado na esquina do mapa
Olividado de los Reyes del mundo en un siglo de luce
Se mira no Atlântico: Américas, Áfricas
Índios, pobres e jovens, tudo um negro blues

A dor do Nordeste, a cor do Nordeste
Deste e daqueloutro que homem não vê
Las venas abiertas de Latino-América
Mil poetas, primatas que abraçam o E. T

A anarquia de corpo, paixão dia a dia: sensualidade
E a folia do povo na democracia: feli (z) cidade
O prazer e o trabalho que a mulher pedia: liberdade
Toda a mocidade em radioatividade: louçania
Sob o sol das estrelas tudo é novidade: alquimia
Ah! meu Deus, se eu pudesse cantar de verdade, dançaria

Sensualidade
Louçania
Feli (z) cidade
Alquimia
Liberdade
Utopia

BROTINHO DE BAMBU
Oh! Meu brotinho de bambú
Delicadeza de rosal amante
Um leque, um chá da china, um hai-cai és tu
Menina moça, fina massa, porcelana

Rã de manhã de sol de rouxinol
Meu e, meu vê, meu a (h!) xé, Ié, Ié

E é a clara caligrafia lê
A alegria com que encanto é!
E a melodia em que me verso vê
A energia com que digo: Dê
A primazia a ser feliz e sê já!

ROCK-ROMANCE DE UM ROBÔ GOLIANDO
Alô rapaziada! Alô gente fina! Alô moçada!
Eu sei que vocês estão com a vida que pediram a Deus
E ele deu
Muito que bem! Por isso espero tudo de vocês
Mas não confiem em mim: Eu não existo!
Sou apenas um personagem que diz isto
E não me chame irresponsável
Para que levar a vida assim tão a serio?
Afinal, a vida é mesmo uma aventura
da qual não sairemos vivos
Ah! Tudo já é outra viagem!
Abra com meu velho canivete seu jovem coração de lata
Entre no barco eletrônico da emoção barata
Vamos, na crista da onda
Dar um balanço cibernético nas horas!
Pulsars, quasars, buracos negros, astros, guerra e paz
Amor nas super-estrelas
Robô goliardo deste tempo
Narro a minha vida começando pelo fim
É bem melhor assim
Vou contar pra vocês a vida que eu inventei pra mim

CANÇÃO DE GESTA DE UM TROVADOR ELETRÔNICO
(Belchior, Jorge Mello)
O som do alto falante
Rolava e me dava um toque
E Chuck Berry, berrando
Em sua guitarra, era um choque
Cometas Halley passando,
Astros no pó de Woodstock,
Cabeças, pedras rolantes
Jim, Jimi, John, Janis Joplin
E a moçada do subúrbio,
Cinema, topetes, motos...
Rock, rock, rock, rock, rock,

Cai na estrada tirana:
(A juventude é um dom!)
Garotas, sonhos, mil transas,
Como dar bandeira é bom!
Olhando a cidade grande
Cheia de fúria e de som;
Querendo ser uma estrela
De sexo, laser e neon...
Cidade grande é uma droga
Mas o rock dá o tom
Rock, rock, rock, rock, rock,

São mil milhões de habitantes deste parque industrial:
Negros, mulheres, menores
Filhos da crise geral
Iguais pela mesma bomba
Que vai cair no quintal
Ídolo de Deus dos esgotos
A musa urbana me fez
Meu sucesso é saber disso
E bater tudo pra vocês
Num rock, rock, rock, rock, rock.

O NEGÓCIO É O SEGUINTE
Não é o fato de Antônio ter pregado ao peixes
Nem o de Francisco ter falado às aves
Aquela nuvem zen, bem, pode ser de algodão
Ouro branco que faz em paz o povo feliz

Orgulho do nosso ser tão grande
Orgulho do nosso ser tão grande

O negócio é o seguinte
E o seguinte é esse
O negócio é o seguinte
E o seguinte é esse

O negócio é o seguinte
E o seguinte é esse
O negócio é o seguinte
E o seguinte é esse

Até um cão conhece a voz e o toque do seu dono
Cabeças falantes, cabeças rolantes
Que ouço eu, casto às estrelas
Eu respiro sanfona resfogando num forró
Ó, estado de graça, ser um homem, não ser só

Orgulho do nosso ser tão grande
Orgulho do nosso ser tão grande

O negócio é o seguinte
E o seguinte é esse
O negócio é o seguinte
E o seguinte é esse

BEIJO NO MOLHADO (TELE-CANÇÃO DE NOVELA BRASILEIRA)
Um beijo molhado,
escandalizado,
mas sintonizado
em nossa estação.
Um beijo comprado
no supermercado;
transistorizado,
beijo do Japão.
Only you, only you sabe dar!

Marylin, Greta, Marlene -
deusas que EU amei com as mãos
na fumaca azul do cinema...
poeira de estrelas, de sexo/ ilusao.
menina, quanta saúde,
FACINATION...Hollywood
de cartão postal Lamê!
tesouro da juventude,
Cuba- libre Anti - ilha do tesouro
que eu ganhei na matinê.
ié, ié, ié, ié, ié, ié, only you (bis)

Moças, bonecas de louça fofinhas,
dolores de mi pasion!
Oh! Diana suburbana, sulamericana,
suja de baton.
Oh! deusa da discoteque!
Oh! musa do fliperama
meu bichinho de neon!
vamos de motocicleta
tomar um sorvete!
Na lanchonete sempre rola um som.
Only you, only you saber ser, saber dar
Only you, only you, tip, tip, tip, tip, truú

Que coisa louca! que céu da boca
um beijo no carro no banco de tras.
Pélvis no roque, me pegue, me toque.
saques de sax....você é demais!

Al di lá delle cose piu belle
Ci sei tu, ci sei tu
Al di lá, delle stille
Ci sei tu perme

ONDE JAZ MEU CORAÇÃO
Ei! Senhor meu, rei do tamborim, do ganzá!
Cante um cantar, forme um repente pra mim
Aqui – Nordeste! – um país de esquecidos,
Humilhados,
ofendidos
e sem direito ao porvir.
Aqui – Nordeste! – Sul América do sono...
no reino do abandono
não há lugar pra onde ir.

De Nashville pro sertão (se engane não!)
tem muito chão! Tem, meu irmão, muito baião.
E, em New Orleans, bandos de negros afins
tocam, em bandas, banjos, bandolins...
Onde jaz meu coração?

Em mim, desse canto daqui – lugar comum –
como no assum, azul de preto,
o canto é que faz cantar.
Cresce e aparece em minha vida e eu me renovo
no canto – o pio do povo.
Pio. É preciso piar.

Ah! minha voz – rara taquara rachada –
vem, soul-blues, do pó da estrada
e canta o que à vida convém!
Vem, direitinha, da garganta desbocada
mastigando... in-nham... in-nham
cheinha de nhém, nhém, nhém.

FORRÓ NO ESCURO
(Luiz Gonzaga)
O candeeiro se apagou
O sanfoneiro cochilou
E a sanfona não parou

E o forró continuou

Meu amor não vá embora
Não vá simbora
Fique mais um bucadinho
Um bucadinho
Se você for seu nego chora
Seu nego chora
Vamos dançar mais um tiquinho
Mais um tiquinho
Quando eu entro numa farra
Num quero sair mais não
Vou inté quebrar a barra
E pegar o sol com a mão

O candeeiro se apagou
O sanfoneiro cochilou
E a sanfona não parou
E o forró continuou

O candeeiro se apagou
O sanfoneiro cochilou
E a sanfona não parou
E o forró continuou

Meu amor não vá embora
Não vá simbora
Fique mais um bucadinho
Um bucadinho
Se você for seu nego chora
Seu nego chora
Vamos dançar mais um tiquinho
Mais um tiquinho
Quando eu entro numa farra
Num quero sair mais não
Vou inté quebrar a barra
E pegar o sol com a mão

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