BELCHIOR
MELODRAMA
1987
– todas as letras e músicas de Belchior, exceto onde indicado
DE PRIMEIRA GRANDEZA
Quando eu estou sob as luzes
Não tenho medo de nada
E a face oculta da lua
Que era minha aparece iluminada
Sou
o que escondo sendo uma mulher
Igual a tua namorada
Mas o que vês
Quando mostro estrela de grandeza
inesperada
Musa, deusa, mulher, cantora e bailarina
A força masculina atrai não é só ilusão
A mais que a
história fez e faz o homem se destina
A ser maior que Deus por ser filho de adão
Anjo, herói, prometeu,
poeta e dançarino
A glória feminina existe e não se fez em vão
E se destina à vida, ao gozo, a mais do que
imagina
O louco que pensou a vida sem paixão
ABUCANEIRA
(Caio Sílvio, Belchior, Gracco)
Alá-lá-ô que calor! Alá-lá-ô (2x
Alô, alô, mozuelas que sueltam la papaya!
Caiam por cima de mim,
caiam por
cima de mim!
Jambalaia, eu topo essa vaia! Tomara que caia,
caia por cima de mim,
caia por cima de mim!
Suando
- soando uma salsa Caymmi, e sem sair do bem-bom
um rum, bumbuns... Um hum, hum com Valdir Calmon
Haiti, ai de mim! Suriname, ai de ti! Uma lambada a l'amour!
Botha pra fora - apartheid! Áfricas do Sul!
Alá-lá-ô, que calor
Bucaneiras e guantanameras de José Marti!
Mi corazón guarani,
Peri beija Ceci
Indios, blancos,
criollos - los colores de la amistad
la liberdad com tesón e voluntad!
TODO SUJO DE BATOM
Eu estou muito cansado
Do peso da minha cabeça
Desses dez anos passados (presentes)
Vividos entre o sonho e o som
Eu estou muito cansado
De não poder falar palavra
Sobre essas coisas sem jeito
Que eu trago em meu peito
E que eu acho tão bom
Quero uma balada nova
Falando de brotos, de coisas assim
De money, de banho de lua, de ti e de mim
Um cara tão sentimental
Quero uma balada nova
Falando de brotos, de coisas assim
De money, de banho de lua, de ti e de mim
Um cara tão sentimental
Quero a sessão de cinema das cinco
Pra beijar a menina e levar a saudade
Na camisa toda suja de batom
DANDY
Mamãe quando eu crescer
Eu quero ser artista
Sucesso, grana e fama são o meu tesão
Entre os bárbaros da feira
Ser um reles conformista
Nenhum supermercado satisfaz meu coração
Mamãe quando eu crescer
Eu quero ser rebelde
Se conseguir licença
Do meu broto e do patrão
Um gandhi dandy, um grande
Milionário socialista
De carrão chegou mais rápido à revolução
Ahh! Quanto rock dando toque, tanto blues
E eu de óculos escuros vendo a vida e mundo azul
Mamãe quando eu crescer
Eu quero ser adolescente
No planeta juventude
Haverá vida inteligente?
Plantar livro, escrever árvores
Criar um filho feliz
Um porquinho pra fazer de novo tudo o que eu já fiz
Ahh! Quanto rock dando toque, tanto blues
E eu de óculos escuros vendo a vida e mundo azul
EXTRA COOL
Latino-América libre!
La Mamma Africaribe!
Extra cool,
a década da decadência!
Onda blue,
o verde não
violência!
Soul e sul,
Latino-América libre!
Que lundu,
La Mamma Africaribe!
Ai! Ai! Ai! Ai! Quanto sol!
o mundo
nu para breve!
Tou em greve
Cansongs em portunhol!
Olha a dança
vingando a nossa esperança, çá, çá, çá!
Saia da
roda a baixeza
- crime de lesa-beleza!
Armada só de luz, papoula a manhã!
Desarmement!
Je chant quelle etoile
rouge... En passant!
Allons, enfants! Alons, enfants!
Tao eterno,
que tudo o mais vá pro inferno! Oh! Folia!
Tão moderno,
Pierrot, Le Fou! Anarquia!
Toque o deus Pan
new bossa e Cubanacán
Fortaleza! A flor do heavy, a leveza,
e o beijo noir-neon de uma fã!
Armada só de luz, papoula a manhã!
Desarmement!
Je chant quelle etoile rouge... En passant!
Allons, enfants! Alons, enfants!
Allons, enfants! Alons, enfants!
Desarmement! Alons, enfants!
Desarmement! Alons, enfants!
Desarmement! Desarmement!
Desarmement! Desarmement!
EM RESPOSTA A CARTA DE FÃ
Baby, respondo enfim
aquela carta de fã
que você mandou pra mim.
Sabe, quase que eu ia fazendo a canção
tropical que você me pediu.
Mas quem sou eu, mentalidade mediana, para imitar Jorge Ben?
Por favor, não confunda as coisas! toda a canção e vulgar!
Eu é que sou um cara difícil de domesticar.
Gato violento e cruel? ora, ora!
Você já ouviu falar em política? oh! não.
Poema, o que e um poema? Isto não é do meu tempo
Tempo de sex drug and rock and roll, computador!
Mas não se engane! sou do poetariado,
Um roqueiro fingido, estreando a vida fácil, meu amor.
Obrigado pelo brando do subúrbio, pelo garoto de aluguel.
Não sou nenhum Alain Delon!
Pra terminar meu livro de cabeceira para ler com todo o corpo
e aquele de que fala a elegia de Donne.
JORNAL BLUES (CANÇÃO LEVE DE ESCÁRNIO E MALDIZER)
Nesta terra de doutores, magníficos reitores, leva-se a sério a comédia!
A musa-pomba do Espírito Santo – e não o bem comum! – Inspira o bispo e o Governante.
Velhos católicos, políticos jovens, senhoras de idade média,
- sem pecado abaixo do Equador - fazem falta e inveja ao inferno de Dante.
Tão comum e tirar-se daqui qualquer coisa que eu também tiraria o chapéu a vontade.
Aos cidadãos respeitáveis, donos de nossas vidas, pais e patrões do país.
Mas em vez tiro o lenço... Não para enxugar, portuguesmente, a saudade...
Mas pra saudar num Ciao! Quem me expulsa de casa! Dar um “viva, excelência!” E tapar o nariz!
Não, não quero contar vantagem mas já passei fome com muita elegância.
E uns caras estranhos – ordens superiores! Já invadiram minha casa... Mas com muito respeito!
Diabo de profissão! Ganhar com o suor de meu gosto o bendito pão e o gim das crianças!
Noblesse oblige! Eu talvez seja o cara que você ama odiar, inimigo do peito!
Cá em casa quem morre se torna querido, tido e havido por justo e inocente.
Mas pode ir tirando o cavalo da chuva que eu não vou nessa de morrer só para agradar vocês.
Aluno mal comportado, pela regra da escola, devo ser reprovado...sumariamente
Mas não faz mal. Deixo os louros ao poeta! Lauras e o que me importa! Quero o meu dinheiro no fim do mês!
Mas que poeta idiota! Canções tão tocantes dão sempre uma nota raramente vulgar!
Atentado à Moral e aos Bons Costumes, lapido diamantes, não falsos brilhantes.
Kitsch elegante que te mente elegantemente! Oh! Abre alas que eu quero passar!
There's no business like soul business! There’s no Political solution, meus caros estudantes!
Tá todo mundo comido, lavado, passado, bronzeado... Ora, muito obrigado!
Só eu não venço na vida, não ganho dinheiro, não pego mulheres, não faço sucesso!
O velho blues me diz que, ateu como eu, devo manter os modos e o estilo...Réu confesso!
Eles vão para a glória sem passar pela cama... Ou jesus não me ama ou não entendo nada do riscado!
Não toques esse disco! Não me beijes, por favor!
Meu professor de filosofia me dizia que eu viveria sempre adolescente
Hoje, qualquer mulher, assim que me abandona, já me tem por durão, mesmo sabendo que mente.
Desculpem! Infelizmente não sou à prova de som nem de amor...de amor...
de amor...de amor....de amor... de amor... de amor... de amor... de amor
LUA ZEN
No mar de Malibu
Paira uma lua azul
A mesma praia blue
De Honolulu
Há de haver aí
Mais de um Havaí
Lua cheirando a luar
E a abacaxi
Numa savana africana
O luar-luz no capim
Lamento babuíno, o hino
Do pai primata em mim
Ó, Cerejeira do Japão
A nuvem nô, gueixa e bonsai
Purpura pura a murmurar:
Madame Butterfly!
Sob a palmeira neon
Eu danço nu, como é bom
No litoral tropical
Além do bem e do mal
Pra Santiago de Cuba
Se vai de lua e bongô
Mil lantejoulas, New York
Lugar comum de metrô
OS DERRADEIROS MOICANOS
Nós somos uns pobres diabos sul-americanos, ô, ô, ô, ô
Os derradeiros moicanos, ô, ô, ô
Perís, Cecis, Guaranis – um glamour de índios de Chateubriand
Tambores tão bons, uns quantos radares, antenas de raça tantã
Voz de palmas: palmeiras, batidas! Dançar ao som de uma só mão
Pra nós da geral - macacos geniais! - fora do carnaval não há salvação
Lá em São Luís, cristão infeliz, o bom selvagem aprende francês
Pra ler (e escrever!) o poema do Brasil no original, pela primeira vez!
E nesses brasis – um paris tropical – Henri Salvador de Martinique!
Dans l’esprit de la danse une chance! Vive la France antarctique!
Uns brancos de alma negra... des masques cubistes, africaines, decor...
Uns pretos no branco e uns brancos no preto-americanamente bicor
Uns barrocos, baianos do sul, com tudo sutil e sensual:
De terno de linho, chapéu de palhinha – belos como Dorival
Verão (do verbo ver) o verão (estação) que, quem vier, viverá
Dans les tristes tropiques, dans les beaux pays de lá bás
E nesses Brasis – um Paris tropical – le maracatu atomique
Dans l’esprit de la danse une chance! Vive la France antarctique!
Alavantú, nossa gangue, a quadrilha do sangue danse lá en arrière
Que sonhamos, nos campos, Duchamp, Picasso e Rimbaudelaire
Canibales tropicales en parade autour de la tour Eiffel
Dans mon ile - tabaco de cuba pour messieur le colonel
Domingos, Sivuca, Gonzaga no acordeón, nossos clochards
Brilhe o belga Jacques Brel, já que bel nisso não é de brilhar.
E nesses Brasis – um Paris tropical! tous les voix de l'Afrique!
Dans l'esprit de la danse une chance! Vive la France antarctique!
TOCANDO POR MÚSICA
Aluguei minha canção
Pra pagar meu aluguel
E uma dona que me disse
Que o dinheiro é um deus cruel
A minh’alma esteve a venda
Como as outras do lugar
Só que ninguém me comprou
Pois só eu quis me pagar
Os anos verdes são negros
Como era verde o meu vale de lágrimas
Hoje eu não toco por música
Hoje eu toco por dinheiro
Na emoção democrática
De quem canta no chuveiro
Faço arte pela arte
Sem cansar minha beleza
Assim quando eu vejo porcos
Lanço logo as minhas pérolas
Os anos verdes são negros
Como era verde o meu vale de lágrimas
Como era verde o meu vale de lágrimas
e “FELIZ ANIVERSÁRIO!!!!” e “MUITAS FARRAS NA VIDA!!!” pro meu grande amigo VITOR HUGO AUZIER LIMA!!!!
BIS
ZU
DEM
BREAKING
FUCKING
NEUEN
POST
!!!!
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