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e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

sábado, 25 de abril de 2020

CRÔNICAMENTE INVIÁVEL - crítica e análise do filme

ouvindo: Wendy Carlos, Tron: Original Motion Picture Soundtrack, de 1982

“A violência é tão fascinante
E nossas vidas são tão normais
E você passa de noite e sempre vê
Apartamentos acesos
Tudo parece ser tão real
Mas você viu esse filme também”
– Legião Urbana, “Baader-Meinhof Blues”.

tem esse vídeo aqui do Canal Barbônico e o Barba falou de alguns de seus filmes favoritos 
e falou desse filme nacional que vou comentar hoje: Cronicamente Inviável, de Anthem for the Year 2000, dirigido por Sérgio Luís Bianchi (Quanto Vale Ou É Por Quilo?, Maldita Coincidência, Os Inquilinos) e roteiro dele com o também cineasta Gustavo Steinberg (1,99 - Um Supermercado Que Vende Palavras; O Prisioneiro da Grade de Ferro[1], Fim da Linha), a partir da história escrita pelo Bianchi com a escritora Beatriz Bracher.




Cronicamente Inviável, de 2000 de Sérgio Luís Bianchi e escrito por ele + Gustavo Steinberg
(coloquei todas as capas pra cinema porque achei todas fudidas de bacanas)

esse filme, pra dizer o mínimo e se tu não tens noção do que é o brasileiro médio de verdade sem um telefone celular na mão, é uma pedrada daquelas seguras na tua cara com exceção do sistema escolar e do futebol e da religião, ninguém deixa de levar sua devida lapada do povo. eu senti falta pra caralho destes itens terem sido “ignorados” MAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAS foda-se, cara. Cronicamente Inviável é.... meio... que icônico eu ter visto hoje, esse primeiro semestre, esse ano, não somente porque o filme completa vinte anos, e porque faz vinte anos do meu terceirão do médio e eu crente que sabia do mundo mas, na verdade, não sabia era de porra nenhuma.
e, até hoje, digo que não sei de muita coisa até agora.

“CRONICAMENTE INVIÁVEL?!? POR QUE ‘CRONICAMENTE INVIÁVEL’?” 
o que não falta no Brasil é escritor/a foda. não tem como fugir disso mesmo apesar do país ainda ter, de acordo com o IBGE Educa, 11.3 MILHÕES de analfabetos, somos ricaços em produção literária, seja em poesia, seja em prosa e sendo a crônica meio que o gênero literário brasileiro do século XX, ainda que não seja exclusividade nossa. mas nem todo mundo tem Nelson FUCKING Rodrigues, Murilo FUCKING Rubião, Carlos FUCKING Drummond de Andrade, Rubem FUCKING Braga, Paulo FUCKING Mendes Campos, Fernando FUCKING Sabino, Vinicius FUCKING de Moraes, Clarice FUCKING Lispector, Martha FUCKING Medeiros, Rachel FUCKING Queiroz, Millôr FUCKING Fernandes, Paulo FUCKING Henriques Britto, um caralho de gente que eu ia morrer e não ia terminar de falar nesse post.
mas crônica? o que porra é crônica? não é só a música dos Engenheiros do Longe Demais das Capitais, é FUCKING caracterizado principalmente, às palavras da Prof.ª. Ms.C. Ana Cecília Nascimento e Santos, por abranger 
“‘pequenas produções em prosa, de natureza livre, em estilo coloquial, provocadas pela observação dos sucessos cotidianos ou semanais, refletidos através de um temperamento artístico’. A linguagem utilizada nesse gênero é, normalmente, muito próxima da oralidade, pois ‘sendo ligada à vida cotidiana, a crônica tem que se valer da língua falada, coloquial, adquirindo inclusive certa expressão dramática no contato da realidade da vida diária[2]’.” (SANTOS, n/d).

o filme se passa ao redor do dono de restaurante no Rio de Janeiro Luís (Cecil Thiré), o casal de classe alta (Betty Gofman) e Carlos (Daniel Dantas), Amanda (Dira Paes), a gerente do restaurente de Luís, e o andarilho-narrador Alfredo (Umberto Magnani Netto [1941-2016]) e das cagadas ensaiadas que rolam nas cinco regiões do Brasil. 
esse filme é FUDIDO porque não vai comendo pelas beiradas até chegar o momento pra pisar na sua cara falando de muitas das as cagadas, como muito do que era produzido na época da ditadura militar brasileira (1964-1985), ou de modo metafórico ou até metalinguístico. 
Cronicamente Inviável é fudido porque vai indo por região a região do Brasil pra “olha, deixa eu te explicar porque aqui o negócio é uma merda” e um monte de situação corriqueira que todo mundo vê/presencia mas finge que não é consigo pra não ter mais motivo pra ficar neurado mas depois comenta em casa com a família ou c’os amigos no RPG ou tomando uma. 
a narração do Alfredo fica dentro da tua cabeça e a aparição de Leonardo Vieira, Dan “EU NÃO SOU PORTUGUÊS, SOU DESCENDENTE DE POLONÊS” Stulbach, as Zezés Barbosa e Motta, Gero Camilo, Lígia Cortez, Paulo Friebe, Rodrigo Santiago, Carmo Dalla Vecchia e João Acaiabe sendo gente comum e não artistões da Globo deixam o negócio muitíssimo infinitamente mais crível, ainda mais com a referência direta à reforma agrária, que rola em Santa Catarina (quando o sindicalista-chefe, Valdir [Cosme dos Santos], treta com o fazendeiro interpretado por Osmar di Pierri), desmatamento em Rondônia e Roraima executado por madeireiros e mineradoras, alienação voluntária do carnaval da Bahia, desumanização em decorrência da superpopulação em São Paulo (o sabão que a personagem da Lígia Cortez passa no do Gero do Camilo é antológico pelo quão mal tu ficas ao assistir e depois de assistir[3]). é por assaz interessante ver a forma como os índios são tratados a partir de sua situação no Mato Grosso, começa com um papo meio referencial aos povos originários mas, em certo momento, um que tu terás que prestar atenção pra caralho pra saber, ele (o roteiro) dá com a pá na tua cara com a mesma força que o Sentinela cacetou o Hulk em Hulk Contra O Mundo. a crítica direcionada à cidade do Rio de Janeiro chega dá prazer de ver, já que carioca adora falar bem de sua metrópole, mas que nunca foi essa “legalize” que propagandeiam.
também tem uma homenagem foderaça ao período da pornochanchada, Boca do Lixo Feelings total mesmo. se tu criticas a Globosta pelo teor das novelas dela, dizendo que só falta aparecer gente transando igual filme da Evil Angel, se prepara pra ter tuas tripas arrancadas pra fora e mastigadas. tu tens discurso de PM só bater em “vagabundo” que era pra estar ou na escola ou trabalhando e que não agride ninguém gratuitamente? prepara pra ter sua esperança igualmente carolcapeliamente destruída, champinha.
como (n)o Hikari no Tachi (comentado AQUI), as histórias são tão absurdas que não parecem reais, parecem literatura... remetem, de tão cruelmente reais, algo como o adágio “truth is stranger than fiction” gurewitziano. quem não tá acostumado a ver jornal de meio-dia, dos que, se espremer, só falta sair sangue pra encher uma bolsa de sangue, vai achar que é zuada e zuada das brabas. mas vai olhar de perto como as pessoas vivem mesmo. vai passar meia hora conversando com gente de periferia, vai conversar com gente que trabalha pra rico – todos eles haverão de te contar histórias que tu ficarás “ÊEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEÊ, PARE COM ISSO, TÁ ME ZUANDO, ISSO NÃO PODE TER ACONTECIDO”
mas sim. acontece sim. e mais vezes que se pode contar. e não ia ter espaço na terra pra contar todas as histórias, sendo que muitas delas só mudam os nomes e locais, as filhadaputagens continuam as mesmíssimas.

e sabem o que o trio do talk show que inicia o filme quer dizer na verdade, nas poucas vezes que aparece? é algo um bordão que já virou chavão pra todo mundo que curte meme e resume uma constante universal, se tratando de nosso país:
“O BRASIL NÃO É PARA AMADORES!”
assista Cronicamente Inviável, é a crônica do cotidiano mordaz como nunca antes e verdadeira como jamais se repetirá.


[1] foda esse documentário, muleque, assista sem medo.
[2] COUTINHO, 1988, p. 306 apud SANTOS, n/d, p.7.
[3] uma das funções da arte é fazer @ caboc@ se sentir mal mesmo e refletir sobre a obra a partir disso.

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

BRASIL. Educação. IBGE Educação. disponível em <https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18317-educacao.html>. acessado em 25 de abril de 2020.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A, 1988.
SANTOS, A. C. N. Os Mecanismos Enunciativos no Ensino do Gênero Crônica. disponível em <https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/6462/2/Ana%20Cecilia%20-%20TCF%20Caderno%20Pedag%C3%B3gico.pdf> . acessado em 25 de abril de 2020.










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