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YEAH, HOUSTON, WIR HABEN BÜCHER!

e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

OPERAÇÃO: ESCURECER [ideia tida no banho e pós-banho]

Ideia de mesa de RPG/conto concebida em um banho ontem de noite
Título: Operação: Escurecer

Em um planeta similar à Terra, as fêmeas humanas são férteis até os trinta – trinta e três anos no máximo – por terem mais genitais do que os homens.
Os homens são férteis até os trinta e dois – trinta e cinco anos, no máximo.
Considera-se que, nesse planeta, todas as religiões oficiais que têm na Terra oficial, até a história e países e toda a caralhada é a mesma.
OK
Então um casal de gêmeos de quarenta anos fertiliza, ele engravida uma mulher mais nova e ela engravida de um cara mais novo e o todo mundo do mundo todo “AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! QUE PORRA É ESSA, BIAL?”
As divindades ‘descem’ ao planeta: “Ê, rapá, como assim vocês são férteis nessa idade? Bora levar vocês”. Chegando à ‘morada dos deuses’, os dois irmãos descobrem que as divindades não são divindades, também são humanos, e a “espécie” deles é um experimento de laboratório a longo prazo, a nível de controle de natalidade, uma vez que são INÚMEROS Planetas Terras com INÚMERAS variáveis de período fértil de homens e mulheres.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

... vor einem Jahr...

A exatíssimo um ano atrás, eu tava bebendo na casa de um puto por quem tenho real e imensurável estima, Kaius Almeida, e a outros a quem TAMBÉM posso me referir-me como IRMÃOS e, principalmente, IRMÃOS-LOBOS - Herr und Frau Muitas-Garras-Sob-O-Sol, Anderson “Papa”, Sandro e Yuri Viana.
Apesar de ter chovido pra porra e faltado energia (ouvindo Led Zeppelin no talo num celular quase descarregando foi foda!!!!), a festa foi realmente e caralhalmente épica e inesquecível.
Porra, seria legal uma reunião daquelas de novo (e desta vez COM FOTOS!), não? Não?
Eu sei que seria.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A HISTÓRIA DA VIDA DE UM CARACOL DE JARDIM [a segunda metade]

Eram elas que deixavam o ar mais pesado, a energia que exalavam se estudando deixava o ar mais pesado. O ar era mais pesado e elas mais leves. Me acredite quando digo que a arte deve fluir como um rio sem barreiras, e não é diferente com as artes marciais – é um rio aberto, uma corrente solta, a corrente de ar vai quebrar em seu corpo mas continuará. O judô deve fluir pelo seu corpo, te deixar mais leve, ser mais leve e simplesmente leve (apesar do exemplo mais claro ainda ser o kung fu e suas vertentes). E o mesmo com o kendô: corpo e alma e espada unos, não existe diferença, o uno. Camila e Talita exalavam toda a energia para se tornarem mais leves ao lutar. Como Valvassori é muito muito muito alva, seu pescoço, bochechas e testa avermelharam mais rápido do a tez poesia-amorenar de Ricieri – os dois pares de olhos eram impassíveis, não podiam se entregar pelos olhos, os olhos entregavam a luta mais do que acenos corporais.
Quando Camila ergueu os calcanhares, Talita voou o primeiro golpe. Só ouvimos o impacto das pontas das shinais improvisadas. “CARALHO, JÁ?!?” Como a Talita se moveu tão rápido que a gente não viu acontecendo? A londrinense golpeou vigorosamente outra vez que teria derrubado qualquer novato na arte antes de voltar à sua posição – as duas evitavam respirar pela boca, podíamos ouví-las respirando alto. Pequenos ataques cardíacos à plateia, Valmir, eu, Rodolfo, Matheus, Lúcio, Pedro, Leonardo, Claudinei e Dannylo então… Quando Camila abriu as mãos rapidamente, segurando o tsuka somente com os polegares, eu saquei o que ela ia fazer. Uma das meninas que também estavam lá – meninas lá que nunca saberei os nomes, eu não sei o preço que eu pagaria para serem elas Elisiane e Jacqueline e Júlia Helane – me olhou e assentiu positivamente. Camila pôs a shinai adiante de si. Talita levantou uma sobrancelha. 
Só ouvimos o kiai da sul-rio-grandense e o impacto. Acho (e eu não sou de achismos) que toda a UECE acordou com o kiai de Valvassori e a porrada na shinai de Ricieri. A primeira surpresa residia na shinai não ter sido quebrada. A segunda é que Talita ainda estava em sua base. Sim, estávamos pasmos com aquilo. Joelhos curvados, pés firmados no chão, ombro a ombro, antebraço a antebraço, shinai a shinai, cada uma um passo atrás antes de mais um golpe ensurdecedor e voltarem às posições, cada uma de “guarda aberta”. Talita com a shinai à lateral esquerda, a mão da tsuka não encostando ao joelho e a outra livre, a ponta da shinai não encostando ao chão. Camila com a shinai e a perna direita adiante, uma mão em cada extremo da tsuka. Isso foi a um ano e quatro meses.
Um ano e quatro meses depois as duas na mesma posição do campo aberto do campus Itaperí. As duas já haviam pontuado, Matheus e eu com cigarros e cafés às mãos (não podia fumar, e daí?), Palavras-Prateadas só com o café – nós três em pé, quase enfartando –, Lynn e Fê e Eliete se perguntando o que estava acontecendo, a luta mais difícil do feminino daquela manhã, já que elas estavam muito equiparadas. “Mala, velho”, o Math, “‘cê não faz ideia do tanto que a Mila treinou pra esse campeonato”, eu gostava de como ele ria, aquele cara de hippie pilantra dele, eu gostava de vê-lo junto à minha irmã; a irmã dela, a Ana Paula, pessoa bem agradável também, diga-se logo. Os pais da Tali ficaram meio……. Conosco, mas… É, a mãe da Talita também ‘tava em pé, com o coração na boca. Todos nós íamos jantar juntos depois da competição era muitíssimo de meu agrado que aquilo acontecesse. Faltando menos de um minuto, ambas sofreram penalidade.
Agora sim a luta ia ficar realmente boa de se ver.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

MAIS UM CONTO ENFIM TERMINADO....

“If you want a picture of future, imagine a boot stamping on a human face – forever!”
– George Orwell, 1984.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

inteligente sem precisar ofender a inteligência

Duas pessoas estão numa floresta e encontram um urso. A primeira se ajoelha e começa a rezar enquanto que a segunda se ajoelha e começa a amarrar as botas.
– Para que está amarrando as botas? – diz a primeira. – Você não vai correr mais que o urso.
– Não preciso correr mais que o urso – diz a segunda. – Só preciso correr mais do que você.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

foto e texto dizem mais... foto e texto resumem melhor...


O VELHO LEON E NATALIA EM COYACAN

desta vez não vai ter neve como em petrogrado aquele dia
o céu vai estar limpo e o sol brilhando
você dormindo e eu sonhando

nem casacos nem cossacos como em petrogrado aquele dia
apenas você nua e eu como nasci
eu dormindo e você sonhando

não vai mais ter multidões gritando como em petrogrado aquele dia
silêncio nós dois murmúrios azuis
eu e você dormindo e sonhando

nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia
nada como um dia indo atrás de outro vindo
você e eu sonhando e dormindo

:: Paulo Leminski ::
:: Caprichos e Relaxos ::
:: 1983 ::

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

reflexão pilantra da tarde depois de acabar de acordar

Ouvindo: Steppenwolf, Steppenwolf, 1968.

Quando vejo essa imagem, lembro do verdadeiro e imensurável desserviço que será a inclusão de fisiculturismo nos Jogos Olímpicos, considerando o tanto de esporte legal e realmente digno de figurar no evento, como skateboarding (esse deveria ter entrado faz é tempo [sou suspeito pra falar devido ser praticante do esporte]), wu shu (esse ai deveria estar presente ***SOMENTE*** desde os Jogos Olímpicos da Era Moderna, de 1896), kendô (idem), wakeboarding, boliche, xadrez (‘tô falando sério!!!!), poker (‘tô falando sério!!!! [2]), kart (‘tô falando sério!!!! [3]), e a lista segue.
Eu queria fazer uma ideia do que os lobistas do “esporte” e os grandes empresários dos suplementos alimentares utilizados (seja lá qual for o nome que o pessoal use) fizeram pra convencer o COI* para tal inclusão. Porque, pra convencer os caras a incluir um esporte ***APARENTEMENTE*** (asteriscos e maiúsculas utilizadas a nível de ênfase enfática enfatizante enfatizadora) parecido ao levantamento de peso (que, ao meu ver, é mais competitivo e desportivo) e o pessoal do jiu-jitsu ainda não ser E.O.** mesmo sendo anterior ao judô (mais um motivo preu zoar os caras pro resto da vida [eu creio que o COI não leva o brazilian jiu-jitsu a sério, HA HA HA]).
Nada contra os e as praticantes da modalidade, eu tenho uma tara inclusive por mulheres fisiculturistas. Mas nas Olimpíadas? Não fode minha paciência, cara...

* Comitê Olímpico Internacional, organização não-governamental criada em 23 de Junho de 1894, por iniciativa de Pierre de Coubertin, com a finalidade de reinstituir os Jogos Olímpicos realizados na antiga Grécia e organizar e promover a sua realização de quatro em quatro anos 
** Esporte olímpico

domingo, 13 de dezembro de 2015

A HISTÓRIA DA VIDA DE UM CARACOL DE JARDIM [a primeira metade]

“the truth that war may be, among many other things, the perpetuation of a culture by its own means.”
– John Keegan, War in Human History, 1993.


“PARA O CENTRO DO TATAME: CAMILA VALVASSORI BITTENCOURT, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, E TALIA RICIERI CASTRO E SILVA, DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA.” A sul-rio-grandense levantou-se e pegou o Men das mãos do sensei e preparou na cabeça enquanto este o amarrava, a paranaense amarrou os cabelos cortados à altura dos ombros e já sem volume para poder colocar o Men. Ambas de olhos castanhos como pedras em chamas acesas que não podiam ser ignoradas mesmo elas com os elmos de combate, Bittencourt batia no tsuka  da shinai , ora com o indicador e o médio, ora com o anelar e o mindinho, sempre mantendo a estabilidade da arma com o polegar. Ricieri girava a sua em uma das mãos com a mesma precisão e velocidade que um Ulrich ou um Bonham giravam a baqueta entre uma música e outra. Ambas para o caminho do tatame. O cumprimentaram. Adentro.
À frente, o juiz as olhou, elas se posicionaram. Sem mais dentes rangendo, respiração pela boca, caretas, sorrisos. “Mas quem diria”, alguém diria ao vê-las frente à frente, a um ano e quatro meses atrás simulando combate com cabos de vassouras em um dos terrenos a céu aberto do campus Itaperí da Universidade do Estado do Ceará. Os cabelos presos praticamente à base, pés esquerdos à frente, Camila segurava a dianteira do tsuka com o indicador e o médio e a traseira com o anelar e o mindinho, Talita o portava com polegares, revezando os outros dedos. A primeira inexpressiva, a segunda passava a língua entre os lábios, ambas com os olhos dentro dos da adversária. “Vocês não tão sentindo o ar mais pesado, não?”, o Rodolfo falou. Estava realmente muito quente (quando no Ceará não ‘tá muito quente?), mas parecia estar bem pior, mas eu não queria sair dali pra ver que diabo ia acontecer. Era realmente novo pra todo mundo as duas serem kendokas  – e de longa data, já que “poozers não seguram shinais desse jeito”, alguém observou (alguém nerd, pra fazer esta referência na observação). Mas, a meu ver, foi bem melhor vê-las ano passado, na UECE, do que aqui no Brasileiro de Kendô, em Belém; tanto vim com o Palavras-Prateadas pra tirar a cabeça dele do TCC e com a Fernanda pra tirar a cabeça dela da não-aprovação na prova do MSc.-PPGLit-UFPA (que eu também não tinha passado, diga-se logo) quanto pra Lynn conhecer “as cunhadas” (ingressos a preços módicos também ajudaram a execução da empreitada). Entretanto, eu não devia estar surpreso das duas chegarem à final sem dificuldades, não depois de ver como elas digladiaram ano passado: Camila é mais focada a ataques certeiros a men-uchi e Talita em contra-ataques que abram espaço para ataques a tsuki ou a kote-uchi, todavia não conseguiu muito, uma vez que Camila já havia aprendido sua tática quando mediu com os olhos a distância da shinai de Talita e seus braços até ela.
Uma das minhas certezas nessa vida é que as duas não são estúpidas. Logo, elas não perderam tempo se estudando para lutar: já haviam “combatido” no ENEH e se visto lutar com outrem nesse mesmo campeonato brasileiro que estava rolando no final de semana último. Quando se trata de kendô, deve-se ter em mente que este definitivamente e absolutamente não é um esporte para malandros – ninjas eram malandros, samurais não. Sim, as duas eram malandras natas, nunca se sabia o que estavam aprontando por trás dos tenros sorrisos e doces olhares. Mas bastou um espírito-de-porco dizer “ah, a gente podia brincar de samurai” que as feições delas mudaram completamente. Depois de uma... Meia hora talvez, por ai, apareceram com cabos de vassoura e canetas-piloto, demarcando posições nestas, como se fossem sinais e então lá, adiante uma à outra, e nós como plateia, cigarros e baseados e bebidas às mãos (vou falar disso em outro texto que ‘tô pra terminar faz um tempão e preciso terminar inclusive). Elas “eram elas mas não eram mais elas naquele momento”, sabe? Eu sei que sim. Os olhares, as posições, as formas que seguravam “as espadas” com uma só mão... Não. Ambas na posição do cavalo, Camila portava à “espada” à sua frente e Talita o portava com polegares e indicadores à sua frente, à altura dos joelhos.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O DIA DO BURRO - um trecho

«Bom», Nery começou, «eu tinha uns quatorze, quinze anos. Eu ainda morava em Santa Mãe Laura. Sabem como é, eu precisava ser aceito em algum grupo. Não tinha um que eu me encaixava. Ai um amigo, o Lucas, a gente chamava ele de Luke, me apresentou pruns amigos deles...»
«Uma gangue.»
«Não. Sim. Diziam que a gente era uma gangue. Alguns dos nossos diziam “nós somos uma gangue”. Mas não. A gente preferia se ver como uma...»
«Como uma Ordem?»
«Yeah, como uma Ordem.»
«E qual era o nome dessa “Ordem”, sabichão? Ordem dos Cavaleiros Jedi?»
Todos riram.
«Perai», Guerin o cortou, «Santa Mãe Laura? A cidade industrial perto de Belém?»
«É, essa», Nery respondeu. «Na região metropolitana de Belém, quando juntaram Belém, Marituba, Santa Bárbara e Benevides em um só município que virou uma cidade e depois uma cidade industrial que virou pólo de produção de módulos e naves de combate durante A Ocupação. Eu já morava lá durante a anexação d’Os Quatro...»
«E porque Santa Mãe Laura?»
«Porque eram os nomes das mães dos prefeitos dos municípios na época e das esposas de dois deles. Também dizem por ai que eram os nomes das amantes de alguns desses fudidos. Sabem como é, ia ser muito desagradar as amantes. Vai saber o que elas iam fazer.»
– Rafael Alexandrino Malafaia, “O Dia do Burro”, dezembro de 2015 [conto ainda em construção].

terça-feira, 17 de novembro de 2015

“Demant lembra que, cada uma a seu modo, duas sociedades muito diferentes, mutuamente hostis, mas intimamente ligadas, estão alcançando constelações ideológicas semelhantes. Poderia o paralelismo nas escolhas de identidade que os confronta servir como ponte para o diálogo? Enquanto os paralelos entre a evolução cultural de ambas as sociedades são apenas incidentais, os obstáculos permanecem formidáveis. Se depois de Israel também os palestinos tiverem a possibilidade de cruzar o patamar de Estado, estaria armado o cenário para um declínio do nacionalismo. O que virá em seguida? Dois modelos mutuamente exclusivos de identidade coletiva, um baseado em religião e outro em democracia pluralista, estão lutando pela ascensão em ambas as sociedades. Essas semelhanças estruturais são precondições indispensáveis para uma aproximação cultural dessas comunidades. Ainda que influências culturais globais e regionais estejam mais fortes em todo lugar, e o verdadeiro conteúdo de cada identidade seja diferente em cada sociedade, a evolução ideológica tanto de Israel quanto da Palestina será fortemente dependente do que acontece com seu vizinho. Segundo Demant, uma comunicação israelense-palestina baseada em autêntico diálogo só será possível entre aquelas forças de cada sociedade que optarem por uma identidade coletiva democrática não religiosa. A reaproximação cultural israelense-palestina, hoje uma miragem distante, tornar-se-á uma opção apenas quando a identificação nacional de ambas as nações for menos fanática e menos exclusiva, e quando a opção democrática obtiver uma vitória decisiva sobre o fundamentalismo religioso.
Demant acha que, no longo prazo, Israel não será capaz de sobreviver como Estado judaico. Ou manterá sua identidade oposicionista ou será vencido num confronto com um inimigo maciçamente mais numeroso, no momento em que o mundo árabe muçulmano supere seu atraso tecnológico. Ou, alternativamente, Israel modificará internamente sua posição, transformando-se num Estado ‘normal’ com uma maioria judaica e simbolismo coletivo judaico, mas sem a estrutura discriminatória que hoje o caracteriza. Este seria o melhor resultado para todos os envolvidos, mas pressuporia uma sutil interação entre o processo de paz e os concorrentes ideológicos internos. Conclui que, paradoxalmente, o pós-sionismo pode ser o único modo de salvar pelo menos o núcleo moral mínimo do sionismo.”
– Gilberto Dupas, na introdução de Israel-Palestina: a construção da paz vista de uma perspectiva global, 2002, pgs.13-14.

sobre a questão palestina

“Demant lembra que, cada uma a seu modo, duas sociedades muito diferentes, mutuamente hostis, mas intimamente ligadas, estão alcançando constelações ideológicas semelhantes. Poderia o paralelismo nas escolhas de identidade que os confronta servir como ponte para o diálogo? Enquanto os paralelos entre a evolução cultural de ambas as sociedades são apenas incidentais, os obstáculos permanecem formidáveis. Se depois de Israel também os palestinos tiverem a possibilidade de cruzar o patamar de Estado, estaria armado o cenário para um declínio do nacionalismo. O que virá em seguida? Dois modelos mutuamente exclusivos de identidade coletiva, um baseado em religião e outro em democracia pluralista, estão lutando pela ascensão em ambas as sociedades. Essas semelhanças estruturais são precondições indispensáveis para uma aproximação cultural dessas comunidades. Ainda que influências culturais globais e regionais estejam mais fortes em todo lugar, e o verdadeiro conteúdo de cada identidade seja diferente em cada sociedade, a evolução ideológica tanto de Israel quanto da Palestina será fortemente dependente do que acontece com seu vizinho. Segundo Demant, uma comunicação israelense-palestina baseada em autêntico diálogo só será possível entre aquelas forças de cada sociedade que optarem por uma identidade coletiva democrática não religiosa. A reaproximação cultural israelense-palestina, hoje uma miragem distante, tornar-se-á uma opção apenas quando a identificação nacional de ambas as nações for menos fanática e menos exclusiva, e quando a opção democrática obtiver uma vitória decisiva sobre o fundamentalismo religioso.
Demant acha que, no longo prazo, Israel não será capaz de sobreviver como Estado judaico. Ou manterá sua identidade oposicionista ou será vencido num confronto com um inimigo maciçamente mais numeroso, no momento em que o mundo árabe muçulmano supere seu atraso tecnológico. Ou, alternativamente, Israel modificará internamente sua posição, transformando-se num Estado ‘normal’ com uma maioria judaica e simbolismo coletivo judaico, mas sem a estrutura discriminatória que hoje o caracteriza. Este seria o melhor resultado para todos os envolvidos, mas pressuporia uma sutil interação entre o processo de paz e os concorrentes ideológicos internos. Conclui que, paradoxalmente, o pós-sionismo pode ser o único modo de salvar pelo menos o núcleo moral mínimo do sionismo.”
– Gilberto Dupas, na introdução de Israel-Palestina: a construção da paz vista de uma perspectiva global. São Paulo: UNESP, 2002, pgs.13-14.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

desabafo cruel

Seu bando de caralhos, deixem-me eu falar umas coisas bem legais pra vocês.
Prestem bastante atenção porque eu só vou dizer essa vez. Talvez possam até colocar fogo na casa da minha mãe por causa disso mas vamos lá.

O capitalismo no Brasil não deu certo, e não vai dar. Certo. Óbvio. 
Socialismo?
“Ah, mas tem o modelo uruguaio”. Putão, olha o tamanho do Uruguai e olha o tamanho do Brasil. Putão, estuda a história do Uruguai e compara com a do Brasil. E assina aqui o teu diploma de doutor em estupidez se tu acreditas realmente que a descriminalização das drogas (i.e., maconha) vai funcionar num país do tamanho do nosso, com nosso povo e nossos governantes. Em bom paraensês, “tu jura!” “Ah, a Holanda”, vai ler como funciona o negócio lá antes de falar merda.
“Tem o modelo cubano”. Mesma merda. E com o agravante do país estar num incessante “sai não sai de um regime militar”. Cuba é tãããããaão legal que cubano vive migrando de lá aos EUA e ao Brasil às três porradas nas coxas. Quer ir? Vai. E com passagem só de ida. Faça o favor. Ernesto “Che” Guevara de la Sierna (1928-1967) era um assassino misógino homofóbico. Mao-Tse Tung (1893-1976) idem. Não esquece nem te faz de cego que o Jean Wyllys é farinha do mesmo saco do Jair Messias Bolsonaro e do Marco Antônio Feliciano, a outra ponta do transferidor.
“Tem a Rússia”. Putão, dá uma lida POR ALTO na história da Rússia e compara com a do Brasil, fora a formação do povo russo. Se fosse um resumo pra evento acadêmico, as palavras-chave seriam: Vodka, Guerra, Vladmir Ilitch Lenin, Gulag, Josef Vissarionovitch Stalin, Genocídio, Guerra Fria, Corrida Armamentista, Perestroika, Glasnost, Crise, Boris Nikolayevitch Yeltsin. E só pra não esquecer: Putin.
“Tem os países escandinavos”. Certo, um bom exemplo. Todavia… Mais uma vez, aqui entram os fatores História e Formação Populacional. Fora que, em tamanho, os dois maiores países escandinavos não chegam à metade do Amazonas. Aqui, na-melhor-das-hipóteses, teríamos que rebootar o Brasil e dividir em um verdadeiro caralhal de nações pra podermos começar a pensarmos em fazer a merda funcionar.
“E a Coreia do Norte?” Ver Cuba.
Se vou defender os EUA? Hiroshima. Nagasaki. Honduras. Guatemala. Argentina. Chile. Brasil. Nicarágua. Oriente Médio. Vietnã. A lista segue. Dá uma estudada como a merda funciona de verdade nos EUA. Pode mudar pra Miami. Mas ainda será um latino de merda. Ajoelha e me chupa. E não morde.
Japão? Estuda o que o Japão aprontou na Ásia pós-abertura dos portos pelos EUA e Inglaterra. Sim, eles merecerem crédito pelo Nachkriegs (pós-II Guerra), mas o Japão não é o Brasil. Temos o que aprender com eles? Sim, muitíssimo. Ademais, mesmos comentários finais quanto aos países escandinavos. Tem cara de japonês e teu japonês é fluente? Mas ainda será um gaijin de merda. Ajoelha e me chupa. E não morde.
Alemanha? Estuda o que o então Império Alemão aprontou na África após a divisão do continente pelos europeus. Ademais, mesmos comentários finais quanto ao Japão e países escandinavos.
A Questão Palestina merece um texto só praquela putaria que acontece lá.

“Ah, hora de dar chance pro Marxismo”. Velhoooooooooooo. Os atores sociais mudaram. Os meios e as relações de trabalho mudaram de forma brutalizadora, ainda mais depois que a mulher descobriu seu verdadeiro poder no mercado (¡ainda bem!) e as minorias cansaram de ser saco de pancada do “homem branco heterossexual cristão” (¡ainda bem!²). Mais da metade do mundo em crise socioeconômica. Obama e Putin tão como dois galos de rinha se estudando, ‘tamos a um pé da Terceira Guerra Mundial. Quase 7,5 bilhões de pessoas no planeta. Estamos mais próximos de uma revolução das máquinas do que de uma revolução do operariado. Em outras palavras: Marxismo é eu dando um roundhouse kick de dois pés no meio da tua cara, seu corno. O próprio Karl Heinrich Marx (1818-1883) assinaria desistência de suas ideias ao saber do “marxismo stalinista” e da leitura brasileira de “restituição de posse” e meteria uma bala na cabeça sem pensar duas vezes. (Eu não consigo deixar de questionar qual seria a reação dele ao Movimento dos Sem-Terra. Negativa, eu imagino… Nunca saberemos.).

Ah, sim. A cidade sede das Olimpíadas do ano que vem – a saber, a cidade do Rio de Janeiro – está prestes a entrar em Guerra Civil. Não esqueçamos disso. Em momento algum. Eu tenho amigos lá e os caras estão realmente muitíssimo putíssimos com o desdém dos governos federal e estadual quanto a isso. Enquanto tu te emocionas com crianças mortas em praias europeias, cariocas pais e mães e irmãos estão chorando por suas crianças mortas. Seus compatriotas, parça. Podes acreditar não teres nada a ver com eles, mas não esqueças que já foste criança e tua irmã ou irmão ou amigos têm filhos – ou tu mesmo/a. Então…
Não esqueçamos inclusive que as vinte e seis unidades federativas mais o Distrito Federal da República Federativa do Brasil são vinte e sete barris de pólvora: quase duzentos MILHÕES de pessoas com sangue nos olhos e babando ácido-que-corrói-metal encaralhadas pelos mais diversos motivos que não podem mais ser ignorados e precisam ser discutidos e tratados mais-do-que-imediatamente. Se por algum mísero momento, pensares em “a culpa é do PT”, pode parar de ler esse texto aqui e agora, porque eu me basto de ignorante e hipócrita e estúpido.
O filósofo, filólogo e historiador francês Joseph Ernest Renan (1823-1892) afirmou que uma nação fundamenta-se sobre um “princípio espiritual”, em que os indivíduos se reconhecem não como sujeitos isolados, onde todos são partícipes dos sentimentos que emprestam forma à entidade simbólica que é a nação. Já o também historiador francês Numa Denis Fustel de Coulanges (1830-1889) conceituou nação como síntese cultural e uma memória coletiva. Nós, brasileiros, não estamos isolados, todos somos partícipes dos sentimentos que nos formam enquanto povo e nação – Raiva, Dor, Frustração e Angústia de ver onde nos permitimos chegar. Pode não parecer, mas são tais sentimentos que permeiam e compõem nossa memória coletiva. Os Humilhados e Sofredores e Ofendidos não esquecem o que passaram. Nós não esquecemos. Nós não esqueceremos. As seleções brasileiras de vôlei e futebol podem ir à merda porque não são elas que nos unem. Samba? Não me faça rir, calouro. “A Esperança em um Brasil melhor”? Seus latidos me insultam! As Humilhações e Sofrimentos e Ofensas-Recebidas diariamente e perpetuamente nos unem enquanto Povo e Indivíduos. São quinhentos e quatorze anos de todos os tipos de insultos não somente recebidos, mas inclusive os perpetrados contra nós mesmos. Nós não esquecemos. Nós não esqueceremos.

Concluindo: o Capitalismo não deu certo. Nem cogitemos o Socialismo. Estamos em Guerra.
A meu ver, a solução de e para nós, brasileiros, é nos unirmos. Direita e Esquerda e Centro e a puta que pariu toda. Chega de sermos nosso problema. Passou da hora de sermos a nossa SOLUÇÃO. Não para poucos, não para muitos – para todos. Já chega de estarmos doentes. Não melhoraremos em separado.

“Juntos, nós lutamos”, disse Roger Waters, “Divididos, nós caímos”.
E, por Mãe Gaia, em toda Sua Graça e Misericórdia e Piedade, já caímos por tempo demais.

Eu sou Quilômetros-a-Pé, Theurge Fostern dos Andarilhos do Asfalto.
Esta é a minha canção.
Ouça e vá embora.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Ouvindo: Marisa Monte, Mais, 1991.

[¡sem título!]

E poesias completas
E textos incompletos
E lembranças e
E projetos que só ficarão no projeto embrionário
E noites não-dormidas
Lembrando e sonhando.
Tanto a fazer e a ler e a estudar
E, ainda assim,
Nesta condição
Nela tão absorto e abstraído
Que o faço muitíssimo bem por nós dois juntos.
Uma vez não dois
Uma vez dois
Ainda dois
Ainda dois?
Dois não como dois
Uma vez não dois
Um dia não mais dois.
Não mais livro
Livros separados na estante
Capítulos em livros
Lidos ou não
Com lágrimas e suspiros
Entretanto certamente
Com sorrisos e suspiros.
Bem que todos poderiam terminar tão bem
Quanto nós
Como nós
E então nós agora.
Uma vez
Ainda
Ainda?
Não
Não mais
Um dia não mais nós:
Que seja calmo e sereno como o amanhecer no campo antes da batalha.


:: 07 de junho de 2015 ::

domingo, 7 de junho de 2015

[zwei eins Males] AN DIE MARIE...

Ouvindo: Marisa Monte, MM, 1989.


AI DE MIM! (Dichte geschrieben am Autobus)

AI DE MIM!, ai de mim!
Ai de mim por Vós ai e eu aqui
Sem Vós aqui para eu fazer Primeira e Única e Última
E Ama e Senhora e Dama e Princesa e Rainha
E tão e indubitavelmente e incomensuravelmente feliz.
Ai de mim o tolo que sofre estupidamente
Imaginando Vós em outros braços e outros beijos que não os meus
Mesmo sabendo... Mesmo considerando nossos acordos e tratados
Nossa Tordesilhas, Verdun, Potsdam, Asilomar e Kyoto...
Mesmo vendo e apaixonando por todas que aparecem e desaparecem e vêm e vão frente ao stand da Feira do Livro
Apaixonando e desapaixonando e suspirando
E sonhando acordado com Vós aparecer e me agraciar com o mais radiante dos sorrisos e mais confortável dos abraços e os mais saborosos e voluptuosos beijos.
Ai de mim!, dizer Vosso nome em suspiros
E, apesar de todos os pesares contados nos dedos de uma mão, meu coração como um todo e todo e completamente todo ai Convosco.
E eu aqui triste por Vossas tristezas, frustrado por Vossas frustrações e em verdadeiro e inegável júbilo por Vossas vitórias e conquistas.
Ficai somente feliz e em júbilo e gozo, Morena-Marinheira-do-Arrozal, porque, como disse o artificie de literatura cujo nome não lembro,
Quando ficares triste, em lástima, frustrada, desgostosa ou derrotada
Não ficai, não ficai, não ficai
Eu ficarei por Vós, eu ficarei por Vós, eu ficarei por Vós.
À Marinheiras, Princesas, Damas não cabe a Melancolia e seus pares.
E ai de mim! em saudade...!
Ai de mim! em espera...!
Até Primeiro de Julho toda manhã e toda noite cada vez mais longas...
E então e então finalmente e então finalmente novamente Vós aqui!
E então feliz de mim! Feliz de mim!
Vós aqui comigo a mim e para mim!

:: 05 de junho de 2015 ::
:: da tradução do título: do alemão, “poema escrito em ônibus” ::


ASSIM DISSE A MARISA

NÃO é qualquer pessoa... Não são quaisquer...
Eu já deveria saber... Eu já sabia
Só estava me enganando alimentando falsas esperanças
Esperanças em continuar como antes e vós aqui
Como tu ainda por aqui.
Fim iminente, fim já previamente determinado.
Eu ainda aquele o pior cego que não quer ver o óbvio...
Onde tu agora? Onde vós agora?
Onde agora além de em meu coração?
Onde agora além de excelentes lembranças grafadas em pedra?
Enquanto permaneces um pictograma talhado em rocha
Me imagino me esvaindo de sua memória em velocidade moderada
Devido falarmos sobre praticamente tudo todos os dias
Todos os dias quase o dia todo...
Entendo perfeitamente
Diferença de mentalidade... Diferença de perspectiva
Mudança de perspectiva
Mudança e redução constante da velocidade da reação exotérmica:
Ao contrário da letra da música da Marisa.
Não tão contrário, mas os sintomas por ela tão bem descritos
Tão bem e muito bem nos descrevem atualmente.
Eu não devia pensar sobre? Porque eu me torturo pensando tanto
E parece ser tudo em vão.
Talvez seja mesmo
Já que não consigo não imaginar que já acabou e só eu não consigo ver.
Mais um Fim do Mundo, mais um Fim de Tudo
Mais um ver-partir, seus cabelos esvoaçados pelo vento invernal
Cujas correntes quebrando em seu rosto sem olhar para trás
Ao som de uma cantiga de despedida
Sussurrada pelo cantar de adeus passarinhado de Marisa.


:: 06 de junho de 2015 ::
:: a canção da Marisa Monte citada no texto é “A Sua”, composta pela dita ::

sexta-feira, 15 de maio de 2015

[vierte] DICHTUNG AND DIE MARIE...

[¡sem título!]

EU quero de volta a resposta à oração que fiz à Gaea...
Eu quero de volta a meus braços a resposta à minha oração...
Eu quero de volta a meus beijos a resposta à minha oração.
Os dias demoram à passar
A vida demora a passar
E tudo o que tenho de melhor está com ela
Onde ela estiver agora mesmo ao mesmo tempo deste poema.
Ah, os beijos dela novamente
Ah, o bem-querer físico in loco novamente
E seus sorrisos e risos e voz cantante a meus ouvidos
Novamente.
E ainda vai demorar um pouco a nos vermos...
A nos termos novamente
Mas paciência é uma virtude a ser exercida
E sabemos que nosso momento vai chegar novamente
E enfim saberemos se assim será
Nós juntos novamente e enfim e então
Juntos de uma vez.
E se fazes presente pelo menos em um versos ou dois por dia de pelo menos quase todas as músicas que ouço
Tu não tão distante... tu cada vez mais próxima
Não uma estrela naquela constelação mas um átomo na minha cadeia.
Eu sei que demora, eu sei que tarda
Eu sei que, d’uma forma ou outra, ouvirei e saberei o que não queres
Mas faz parte de viver, banquete de sapos vivos e pedras pontudas.
Dia após o outro, hora depois da outra, semana frente a outra
Não peço pro tempo passar rápido nem pra não vê-lo passando –
Somente e nada além de paciência
Porque a mais amanhecer, menos anoitecer, ela volta com seus melhores
Beijos e Sorrisos e Risos e Bem-Quereres
Para a me presentear
E eu e enfim e então corresponder pessoalmente
E plenamente
E então meine Prinzessin y Señora
a minha Morena-Marinheira-do-Arrozal
– resposta da oração que fiz a Gaea –
em meus beijos e braços e bem-quereres e tudo o tudo o que eu tiver e puder oferecer
Então e enfim Ela
Então e enfim a Ela
Então e enfim
novamente com ela.

:: Paragominas, maio de 2015 ::

sábado, 25 de abril de 2015

[dritte] DICHTUNG AND DIE MARIE...

[¡sem título!]

ENTÃO é assim:
Assim que termina dessa vez, mais uma vez?
Indolor, (não tão) indolor
Ainda bem que nunca mais me iludi, só precisava confirmar.
Poucas palavras dizem tudo
Silêncio e atos mais ainda;
Mas nada que uma boa conversas simples entre suas pessoas que se entendem muito bem resolva.
Então é assim: enfim e novamente tudo como antes daquela noite de sexta-feira
Não, não, já era assim faz tempo
Agora a chave do meu coração nas minhas mãos novamente
Não, já estava mas eu me recusava a acreditar.
Eu preferiria terminar pessoalmente mas melhor não, já que contratamos e determinamos desde o começo
E desde o começo tudo o que planejamos
E começamos e terminamos e permanecemos ajustados, conversados, convergentes, companheiros e acertados
Mesmo que odeie o termo “amigo” apesar de tudo
E, apesar de tudo, então e tudo isso agora
E agora...? agora sonho e lembrança e não o “poderia ter sido” e sim o “como poderíamos ter continuado”
E talvez (talvez “talvez não mais”) mais nem isso.
O problema não é nem recomeçar nem seguir em frente,
É não sentir mais saudade nem falta nem lembrar mais
É não mais querer, nem desejar nem passar a noite acordado e nem dormir depois que amanhece lembrando e lembrando
De sua vez, boca, bunda, cintura, voz, corpo e gozo
De seus risos e comentários e carinhos e bem-querer e companheirismo.
As melhores lembranças de amor correspondido à altura são mais fortes e perpétuas
E mais uma vez dormir sozinho nesta cama que também já foi sua e não falar em voz alta que desejo novamente
Que seja mais uma vez pela última vez.


:: 24 de abril de 2015 ::

domingo, 15 de março de 2015

ANNA (SANTA) SOPHIA

ANNA (SANTA) SOPHIA 

“Aldous Huxley disse que um intelectual era uma pessoa que tinha descoberto algo mais interessante do que o sexo. Um homem civilizado, pode-se dizer, é alguém que descobriu algo mais interessante do que o combate.”
– John Keegan, A guerra e os antropólogos. Tradução de Pedro Maia Soares.


ROSTOS ALVOS ENTÃO EM ESCARLATE. Ranger de dentes. Espinhas curvas mas cabeças não abaixo. Nenhum pé a frente. Mãos aos uwagis, dedos com esparadrapos. Muros sem brechas. Cabelos cobrindo os olhos. Não mais olhos castanhos e sim pedras de carvão acesas novamente. Passadas minimamente acertadas. Às vezes, pé na canela ou uma puxada para baixo para não-falta por falta de combatividade. Mãos nos shitabakis eram shidô. Salvo sussurros entre os juízes e algumas pessoas falando entre si ou aos celulares, nunca uma semifinal de jogos brasileiros  fora tão silenciosa. Pelo mesmo estado, na mesma pesagem. Campo de batalha: a boa e velha e amada Belém. Quem diria que seria em casa? Mas quando elas lutavam...
Elas que tinham muito em comum mas não se pertenciam dentro do dojô ao serem escolhidas para uchi komi, que dirá em tatames de competição? As Annas que nem mesmo se cumprimentavam além da saudação-padrão. Me acredite, eu estava lá algumas vezes. Histórias diferentes e criações quase iguais. Cabe aqui dizer que me encantei por ambas por estatura e, por que não dizer e lembrar?, pelos modos nada sutis. Mulheres de ideal e atitude me abrem o interesse – e logo elas... Devo dizer que cai para trás e meu coração quase para fora da boca ao saber que elas também judocas, mas que não cantavam aos quatro ventos. E, uma vez que passei muito tempo afastado do esporte (festas, bandas, trabalho, essas coisas), não estava a par de que eram rivais dentro das quatro linhas. E até onde bem soube, somente nelas, uma vez que o contato era somente em treinos e competições (certo, e então perguntarás como sei que tinham muito em comum? Pesquisas por fora ajudam após as ver naquela tarde chuvosa da última quinta de outubro).
Faz quantos anos desde aquela tarde? Fora por algumas fotos, faz anos que não as vejo pessoalmente. Até onde sei, a loira agora é juíza e a morena é alguma coisa na Aeronáutica e coisa e tals. É, tivemos nossas diferenças e desentendimentos e cada um pro seu lado. “E a gente foi simplesmente parando de se falar...”, um pernambucano (Pedro, seu Fianna safado, estou falando com você) me disse uma vez. Tem o seu sentido, já aconteceu tantas vezes que... É, não foi a primeira vez e nem a última. Às vezes, isso dói. Mas digamos que já me acostumei a isso a ponto de esquecer, seja no dia seguinte, seja no momento seguinte. Somado à outras situações relacionadas à amizade (que não posso chamar exatamente de “confortáveis”), ou você aprende a viver com as pessoas entrando e saindo da sua vida ou você não vive. Algumas vezes, memórias são as melhores companhias. Outras, as únicas que você tem.
Cada uma já tinha um waza-ari . Então uma a seu lado, arrumar cabelos e judô-gi, Magalhães de branco (se pudesse, lutaria de preto, tal como alguns muitos jiu-jitsokas) e Medrado de azul (ela odiava lutar de azul). Era estranho vê-las sem óculos (sim, estou sorrindo). Vocês tinham que ver os outros das Letras lá, abismados e boquiabertos com a disciplina e determinação das duas. Eu mesmo disse “quem diria...” quando soube e já meio que previra tal reação do pessoal ao ver tal presepada quando vi os nomes delas na lista da seleção feminina. E, antes de retornar minha atenção à luta, Medrado levara um koka  por não ter tirado um pé a tempo – ainda consigo ouvir seus pais xingando os juízes a plenos pulmões. Nós, da UFPA, obviamente, quase derrubamos o ginásio da Escola Superior de Educação Física (“território inimigo”, como alguns disseram, muitos rimos) em comemoração, apesar das duas serem do mesmo time. Vocês realmente deviam ver quando começamos a gritar “Ih, foi mal, a minha é Federal!” (os pais da Sophia não sabiam onde colocar a cara ouvindo aquilo, mas acho que o pai dela ‘tava gostando devido um sorriso no canto da boca), nossos pariceiros de Letras da UEPA  quiseram a morte, mas... “amigos, amigos, universidades à parte...” Eu sei que vocês entendem.
Não deu tempo de comemorar muito. Sophia entrou de mau jeito em uma projeção que os juízes entenderam como shidô. E, malditos sejam eles e todas suas gerações a posteriori!, marcaram como shidô! E eis as duas novamente no mesmo páreo. Se tu achas que juiz de futebol é xingado em final de campeonato, devia estar lá naquele dia pra ver o que é zueira. Tiveram que pedir para nos acalmarmos e pararmos de gritar. Pessoal da UEPA não deixou por menos as encarnações de momentos antes: “cadê tua moral? Eu sou da Estadual!” E as meninas querendo se enterrar no tatame, tamanha a vergonha da bagunça na arquibancada. Anarquia somente freada quando o árbitro disse que a luta continuaria só e somente se a pândega parasse. Os pais delas suspiraram de alívio. E todo mundo “pooooooorra......”
Lembro de cada uma delas como se fosse ontem. Em sorrisos, em voz, em presença. A meu ver e por mais que elas me contradigam, cada uma maravilhosamente adorável de sua maneira, mesmo que, às vezes, tomada igualmente por ímpetos de melancolia ou jovialidade. Lembro de suas vozes, de seus quereres e sonhos díspares, do silêncio segurando as lágrimas devido à minha presença – “nem fudendo que vou chorar na tua frente”. Não foi como eu queria, com nenhuma delas, mas... Como eu disse... “Algumas vezes, memórias são as melhores companhias. Outras, as únicas que você tem”. E afinal... O que eu tenho delas? O que me resta delas? O que resta em mim nelas? As melhores lembranças, os melhores sorrisos, os melhores abraços – e eu queria ter tido os melhores beijos, porém porém porém (eu pareço estar frustrado, não? me acreditem, já aprendi a viver muito bem com as minhas frustrações). E como elas lembram de mim depois de todos estes anos passados? Se ainda lembram de mim, diga-se logo. Mas eu sei que alguém vai ver os nomes delas neste texto – que não pode ser exatamente categorizado como conto ou quiçá crônica – e, muito certamente, mostrar a elas. E então elas recordarão. O quê? Como? E então a chuva daquela tarde. E um trovão, talvez um enviado diretamente por mestre Thor.
E eis as duas novamente em pé. Dez segundos para o fim.
Hajime! 



:: 11 de março de 2015 ::

sábado, 14 de março de 2015

PORQUE AGORA INÊS É MORTA - conto completo

PORQUE AGORA INÊS É MORTA

“Eu sei que ela nunca mais apareceu
Na minha vida, na minha mente novamente”
– Cidade Negra, “À Sombra da Maldade”, Sobre Todas as Forças, 1994.


ESPERAVA A MAIS DE UMA HORA NA FRENTE DO ESCRITÓRIO DA TRANSPORTADORA, NÃO FUMAVA ANTES MAS AGORA COM UM CIGARRO NA MÃO. Chuva, muita chuva. Quanto tempo que não chovia daquele jeito? Não lembrava, queria poder lembrar. Sapatos e calças molhadas, a capa de chuva preta, presente dela enquanto ainda namorados. Alguns carregadores e até o encarregado pediram para ele ficar onde não molhasse, não foram ouvidos, “ah, foda-se”. Dava espaço para os caminhões, picapes e carros menores passarem. E começando a anoitecer não-lentamente, ainda a chuva e agora alguns trovões. Quanto tempo da última vez das mãos dela nas dele, e aquele sorrisos como as nuvens e os olhos como céu? Quanto tempo do queixo dela a seu ombro e o nariz ao ouvido até à lateral de seu queixo? E ela acordando a seu lado? Quanto tempo?
Ele veio lá longe, já no sobretudo e a capa de chuva prestes a ser aberta, era impassível à chuva, como se ela não estivesse lá ou se fosse afeito à ela de tanto tanto tempo. Soubera que ela havia lhe arrumado o emprego e ele do Norte do país até aqui, e então tomá-la para si. Todos já falando, comentando, apontando para ele. Não dormia mais, não pensava mais, não comia mais, que dirá sair da casa dos pais para onde voltara depois dela o deixar sem dizer palavra – faltava ao trabalho, ia somente para fazer número, olhando para a tela do computador ainda desligado. Ele o festeiro e mulherengo e recém-formado em Letras na Federal do Pará e então aqui. Ela uma vez dele, que ainda queria como dele e, principalmente, com ele. À direção dele em passos curtos, “esse puto anda rápido”. O viu parar e um momento estático, a sua mão à arma à cintura debaixo do casaco, tremia, ele virou, estava iluminado e podia ver a parte do rosto não coberta pelo gorro do sobretudo e pela barba, os olhos negros de filme de terror, inquietos e enlouquecidos, um passo à frente. Tremia tanto que não conseguiu tirar a arma, um passo à frente. “Ele vai me matar”, um passo à frente. O coração queria sair pela boca, um passo à frente. Se arrependeu por estar lá, um passo à frente. Queria poder dar um passo ou dois para trás, um passo à frente. Frente à frente.
Miguel, eu creio.
O dito balançou a cabeça afirmativamente.
Pensei que você não ia aparecer. Eu te pago um café. Vamos.
Miguel estranhou vê-lo cumprimentar muitos no local e então sentarem. Fora do sobretudo, vira que era menor que ele, em estatura e largura, podia quebrá-lo ao meio se não visse as fotos das competições de judô e medalhas subsequentes, repensou. todavia olhou a careca reluzente e barba de alguns fios já brancos já a ponto de trançada e pensou que judô seria a última coisa que usaria contra ele caso levantasse a mão. “Por favor”, ele pediu para que sentasse, antes que o fizesse e soltasse a gravata e abrisse o primeiro botão da camisa, “o lugar é ótimo, o único defeito é não poder fumar aqui dentro”, a moça bem magra levou os dois cafés e deixou o pote de açúcar entre os dois. O dito queria poder tirar o caso mas veriam o revólver e o caos estaria instalado, viu o barbudo escrever algo em um bilhete e lhe entregar, “coloque a arma dentro do casaco e coloque o mesmo na cadeira do seu lado”, ficou constrangido e envergonhado pela falta de tato e teve certeza de que não teria chance contra ele – casaco sobre a cadeira, revólver no bolso.
Veio falar sobre a Paulina, não?
Miguel em silêncio.
Olha, eu sei que tu estás puto, eu mesmo estaria, ela me explicou a situação quando eu cheguei, toda a situação. Pelo menos a parte dela, primeiro gole no café, está ótimo para esta chuva.
Acho que tu ainda não tens gravidade da situação, ela ainda é minha esposa e tu não sabes o que estão falando de mim por ai...
Tsc, ei. Eu sei, eu não sou surdo, eu não sabia como te encontrar mas sabia que tu ias dar as caras mais cedo ou mais tarde depois que eu aparecesse e tome o seu café. Eu sei que tu ainda a amas, ainda gosta muito dela, quer que tudo volte como era antes, mas... Rapá, vai por mim, ‘tá foda, isso não acontecer, nunca volta a ser como era antes, ela vai ter os dois pés atrás contigo pra tudo, mesmo que tu faças tudo certo. Te falo como voz da experiência.
Tu não sabes... O que a minha família fala. Um homem na casa dela...
Por pouco tempo.
... De uma mulher sozinha...
Não é por culpa dela.
... Casada com um filho de uma família tradicional...
(Altenor riu) E riu alto! Cotovelos à mesa, punho fechado à palma d’outra mão, de frente ao sul-rio-grandense que podia sentir o sorriso demoníaco por baixo da barba que considerava sinal de falta de higiene e respeito pessoal e com terceiros.
Rapá, se fosse pra tá comendo a tua mulher, eu já tava andando de mãos dadas com ela por ai e tirando fotos a rodo e postando por ai na internet e mostrando pros meus pares lá de Ananindeua e Belém. ‘Tá vendo essa morena aqui comigo? Ela ‘tá fazendo o mestrado na porra da Federal do Mato Grosso e vim aqui presse outro pólo de fim de mundo de país que a gente vive juntar o máximo de grana pra ir ficar com ela. Ela. É. A. Mulher. Da. Minha. Vida. Entende isso? Eu sei que entende, tu fizestes a mesma coisa pela Ana Paulina. Não foi? A única vez que encostei nela foi quando ela me abraçou quando nos vimos na rodoviária e daí nunca mais. Eu sequer a olho nos olhos.
É mentira!

É, ele veio.
E então?
Conversamos. Tentamos conversar.
Hum.
E a reação dele não foi das melhores.
Eu te falei que ele não ia acreditar nessa balela, não?
Porque eu simplesmente não fico admirado?
Não vão demorar para achar a arma pelas impressões digitais.
Uma arma? Ele ‘tava com uma arma?
Eu não fico admirado, olha...
Porra...
E agora...?
Ei.
Espera... Ele apontou a arma procê?
Não, a arma caiu do casaco e atingiu um senhor.
Jesus!
E agora?
Agora fudeu muito valendo pro lado dele, principalmente se o velho tiver morrido. Ai nada nesse mundo ajuda o cara, ainda mais sem porte de arma.

Ele foi preso cerca de três dias depois, o senhor morrera no caminho ao hospital. Impressões digitais na coronha, número da arma raspado, origem desconhecida, mas já estava sendo procurada por ter sido usada em dois assaltos com tiro e mais uma execução. Como previsto, carregadores, motoristas, encarregados e tantos outros o reconheceram, fora preso em um bar por civis à paisana atrás de outro suspeito que fora visto lá pela última vez. “Não devia ser assim”, ela repetia todas as noites antes de dormir, quando dormia, cabeça ao travesseiro, escuridão, o mesmo filme passando rente a seus olhos anis. “Altenor?”, o braço moreno sobre o tórax alvo até a mão alcançar o pulso.
Sim, Annie?
E agora?
Agora tu continuas.
Não era pra ser assim.
Nunca é como pensamos.
Annie?
Oi?
Eu gosto de como seus olhos azuis brilham quando tu falas.
ela sorriu




:: para Graziela Inês Jacoby, de Santa Maria do Rio Grande do Sul ::

:: 13 de março de 2015 ::

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

conto sem título

[¡sem título!]

Porra, André – ela de óculos escuros estilo Lennon, maiô, bermuda e sandálias; o coldre na perna, por uma abertura na bermuda que facilitaria o saque –, quem dera se toda missão fosse assim: ir atrás do bloco, chuva, marchinha, beber tudo sem ficar bêbado... 
Porra, Kat – Cahlkias de sandálias e bermudas, camisa na cintura –, eu também curto muito tudo isso, o foda é ter que ficar reparando aquele bando de jumento da universidade. 
E tudo pago pelo governo, olha – Jainchill observou. – Não que eu aprove esse gasto. E acho que cê também não, caloura.
A “caloura” era Kathaerine Pelegrina Melo, récem-recrutada pela ABIN como infiltrada no Movimento Estudantil da Universidade Federal de Pelotas, e um ano e meio mais nova do que Jainchil e três do que Calkhias. Era sua primeira missão de observação fora da universidade e arredores, sendo coordenada pelo londrinense e avaliada pela fluminense. André Magalhães e Jussara Grassetti compunham o resto da equipe, o primeiro monitorando o que Melo pegava com as câmeras em seus óculos (a altura dela ajudava pela visão mais completa do local) e a segunda monitorando a posição em campo do trio, que estava de olho nos “alvos”, mas a distância que pudessem ver e não ser vistos. Antes de sair, tomaram remédios especiais para não se embriagarem, independente do quanto bebessem, ou até mesmo se utilizassem outros tipos de drogas. Armas carregadas e posicionadas, identificação via satélite ok, identificação colada ao corpo caso fossem parados pela polícia ou afins ok, se misturaram com o povão.

Sim, porque eu iria trabalhar pra vocês? – incisiva.
Eu poderia te dizer que vamos te pagar muito bem...
Eu estudei sobre a ditadura e...
Não estamos mais na ditadura e o buraco é muito mais embaixo atualmente.
Multipolaridade mundial pós-Guerra Fria?
Eu disse que ela era uma boa escolha – Wackwitz abriu os braços para cima.
Fora que você viu o que viu em Fortaleza ...
O tal REX?
O tal REX.
E o que vocês fizeram com o......?
O apagamos do sistema e proibimos de repetirem o nome dele em voz alta por ai.
Não, ele não está morto. Só o trancamos e jogamos todas as chaves fora.
[silêncio]
Mas isso não responde minha pergunta: “porque eu?” E também minha outra pergunta “porque eu trabalharia pra vocês?”
Porque, se você não trabalhar pra gente e com a gente, vamos te apagar que nem apagamos aquele paraense doente mental filho da puta. Porra. Não podemos ter essa conversa e te deixar passeando por ai como se nada tivesse acontecido. Porra.
Ah...

Desespero total entre a multidão. “Não os percam de vista”, Magalhães gritou. Melo pensou em tirar a arma, mas, além de não achar prudente, lembrou-se “de só tirar a arma em último caso que não houvesse mais solução”. Já sabia o procedimento, separar-se e encontrar. A perua havia explodido no momento em que os alvos haviam se encontrado, impedindo que Magalhães e Grassetti fechassem a posição do negociador e rastreassem seu rosto no banco de dados. “Liguem os RE²Mics internos”, Grassetti ordenou, Melo odiava tais maquinários. Ela odiava o trabalho todo em si, se sentia uma traidora mentirosa imunda – que ganhava mais do que ganharia como professora de História ou historiadora ou mesmo designer – para entregar os amigos, tanto que usava o dinheiro somente para o estritamente necessário e dava o resto para os pais e instituições de caridade apoiadas pelo coletivo feminista que era integrante (e acabou conhecendo as lá infiltradas). O treinamento foi uma verdadeira barra e mais ainda por ainda ter que manter o peso de antes da convocação, para não levantar suspeitas, apesar de ter gostado de agora saber utilizar várias armas e técnicas de combate corpo-a-corpo que acreditava não poder fazer devido ao biótipo. Quase não completou os módulos de montagem e manutenção geral, infiltração, intimidação e tortura (por motivos óbvios), entretanto foi aluna exemplar em identificação, tiro, improvisação e adaptação, planejamento e combate corpo-a-corpo. Neste momento, corria atrás de atravessador um de drogas experimentais para a sua universidade e seu respectivo fornecedor. “Já fiz uma varredura por satélite”, Grassetti gritou, “não foi tiro de bazuca que atingiu a kombi, ela explodiu sozinha. Se concentrem no careca, deixem que os tubarões resolvam isso”.

Desde Fortaleza... – ela sussurrou. – Vocês ‘tão me monitorando desde Fortaleza...
Pra falar a verdade, foi a Jainchill e a Sagnol que deram a sugestão quando te viram lá.
Sagnol?
Ana Talita Sagnol. Se formou recentemente no mesmo curso que tu na Universidade de Londrina, mas agora é agente de campo mesmo. “Menos trabalho do que infiltrada”, foi o que ela disse.
Quantos... Infiltrados...?
Mais do que você pode imaginar. Competimos pau a pau com os militares, mesmo trabalhando com eles.
Têm militares infiltrados no Movimento Estudantil?!?!?
Você ia meter uma bala na cabeça agora mesmo se soubesse onde tem gente... Sorte a nossa que você não tem arma pra fazer nem autorização pra saber.

“Sara, fecha no meu sinal”, Lenina sussurrou, “‘tô do lado dele”. “Cahl, Kat, vão!”, Magalhães gritou após a morena de olhos bem negros informar a posição a eles e transmitir para seus celulares. O londrinense levantou o braço e fez um sinal com a mão, a pelotense viu e obedeceu – cada um chegar por um lado do alvo para fechá-lo. A caloura perguntou se Jainchill havia achado o atravessador ou o fornecedor. “O segundo”, a acreana respondeu, “o que vocês estavam esperando para encontrar”. Carros de polícia e televisão por todos os lados. Visualizou o local de encontro, um restaurante. Entrou. Após uma olhada rápida, viu a carioca, que fez sinal com a boca “é ele”, mas não pôde ser visto devido às pessoas à sua frente. O londrinense se aproximava pelo outro lado. “Caloura”, Magalhães, “fecha o foco nesse animal pra eu fixar a imagem e procurar no banco de dados”. O sangue subiu todo à cabeça dela quando o fez. Ferveu como uma caldeira já em ponto de derreter metal instantaneamente.
“Seu filho de uma puta”, ela rangeu os dentes. Ele olhou para ela. O resto de sua equipe não entendeu. “Eu prometi que ia te achar até no inferno”. O sergipano anunciou ter encontrado a ficha do procurado, Lenina pediu um tempo para saber o que a caloura faria. “Puta merda”, Aluizio Fernandes Rochedo se lembrou dela, “não você”. Antes que a analista de campo infiltrada no Movimento Estudantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro pudesse pensar em algo, ele saiu rapidamente pelo outro lado, até mesmo fora do alcance de Cahlkias. “Kat, mas que porra...?”, Jussara.
Ele estuprou a minha irmã!
“VAI!”, Grassetti e Jainchill soltaram a corrente do lobo.



:: 17 a 19 de fevereiro de 2015 ::

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O MAIS LONGO DOS MINUTOS - conto completo

O MAIS LONGO DOS MINUTOS


Encontro Nacional de Estudantes de Ciências da Religião (ENECiR)
Algum lugar do Brasil
Sábado, 17 de Fevereiro de 2008
10:35:50

ELES O VÊEM. O chamam pelo nome. Ainda está sonolento. Olhos querendo continuar fechados. Eles gritam seu nome. Escova de dentes em uma das mãos. Toalha em um dos ombros. Nem sabe se as sandálias aos pés são suas. Ele levanta a cabeça, abre a boca
E o mundo pára.
NENHUM dos lá presentes jamais esquecerá o que ouviu aquela manhã. O mais longo dos minutos. O mais infinito e interminável. Quando todo um campus e arredores ouviram aquilo que era indistinguível entre um rugir e um estrondo. E os corações inflados de pavor e desespero por sessenta segundos completos. Se possível fosse, corações parariam e pássaros presos em pleno ar. Crianças presas às pernas de pais e mães e professores. Mãos quase quebrando dedos. Somente o estômago rasgando o silêncio. E então o mundo em silêncio. Outra vez.
Abaixou a cabeça. Virou-se para eles. “Me chamaram?”
“Não, cara”, horror em corações e mentes, “nada não.”
Foi tomar banho para tomar café. O sábado prometia como último dia de evento.



:: para Endressy Anselmo Pereira da Silva, a.k.a. “Arroto de 99 Hits” ::

:: 21 de fevereiro de 2015 ::

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

conto sem título

[!sem título!]

ELA NÃO SABIA NO QUE PENSAR. Os cabelos enrolados e puxados para trás, torcendo seu pescoço. Os dedos apertando quase entrando em sua carne. A pica que dilatava a buceta e martelava o útero. Quando não gemia para acordar uma casa, rangia os dentes como um tubarão em direção inexorável à presa.
Ele era o irmão mais novo do amigo de escola. Ela estava na seca há quase dois meses e o fez tanto para enfim se saciar e enfim ser dona da situação quanto por acreditar que ele era “mais um virjão que precisava conhecer uma mulher de verdade”. Mas que ledo engano! De branca como uma boneca de porcelana, tornou-se escarlate quanto a bandeira do estado ou um buriti  maduro esperando para ser colhido: foi mordida, chupada, lambida, estapeada... “Hoje você vai ser a minha puta!”, ele gritava como um trovão. Ensandecido. “Imagina o tanto de punhetas que bati pra ti”, ele urrava enquanto colocava a língua toda ora dentro da buceta ora dentro do cu da ruiva tingida de farmácia, fazendo seus olhos verdes revirarem em seus eixos em todas as direções, abrindo as pernas com as mãos. Quando a língua estava dentro da buceta, dois dedos grossos dentro do cu. Quando a língua estava dentro do cu, dois dedos grossos dentro da buceta. Quase arrancou os mamilos ao mordê-los e chupá-los tal como quando o fez com a língua.
Perdera o ar novamente quando viu o tamanho do pau do moço. “Me fudi”, pensou em voz alta. Ele sorriu diabolicamente. “Devagar”, pedira. Prendeu a respiração quando ele colocou a camisinha e a colocou à beirada da cama, de pernas abertas e os quadris à margem. Perdeu-se em engasgos e soluços quando sentiu entrar. “Sua vadia apertada”, ele gemeu. “Puta que pariu”, ela gemeu, “é muito grande. Não coloca tudo”, pediu. Tarde demais, sentiu as bolas batendo à bunda. Tremia. Ele tirou à metade, mas não a aliviou. “Meu Deus”, sussurrou de olhos fechados. Se amaldiçoou por ter escolhido justamente aquele e não o magrinho que também usava óculos de lentes grossas ou o negro de lábios bem carnudos com problema de fala. “Não, negros tem pau grande e ele pode me partir no meio”, riu bem alto ao falar com uma colega de faculdade. “Pode gritar bem alto, sua puta”, ele disse depois lhe esbofetear a cara, “minha irmã também é escandalosa e meus pais ‘tão viajando a trabalho”.
Não tinha forças para chorar ou responder contra. Mas gemeu bem alto quando ele começou o vai e vem. Uma mão estava em seu ombro e a outra na cintura dele. Um breve momento em pausa antes dele colocar as duas mãos em seus ombros e começar a meter rápido. Teve certeza que a coisa ia piorar ao sentir as mãos no pescoço e os dedos no queixo, quase à boca. Acelerou. Enfim começou a bater no útero e os gritos ressoando pela casa. A irmã colocou o som nas alturas para não ouvir a moça. “Eu sabia que ainda ia te comer, sua vagabunda”, o gordo disse roçando a barba em um dos ouvidos, “cansei de falar isso pro viado do Eusébio e o fresco só ria da minha cara”, ela não diferenciava palavras, morfologia ou sintaxe em sua atual condição, “‘A Isabel? Mas nunca que tu vai conseguir comer, os caras mais fodônicos da escola e da faculdade não comeram, tu vai conseguir comer?’”, repetiu as palavras do irmão mais velho, amigo dela de escola. “Quer saber? A gente batia punheta junto pra ti, sua cadela”, dois dedos na boca da mulher, a mão segurando o rosto, vara verde não era nada comparando ao quanto ela tremia. Fechou as mãos em seus pulsos, gritos presos na garganta.
Ela saía para caminhar depois que acordava. Como ele estava de férias, lhe cabia levar os cachorros para passear assim que os pais acordavam. “Porra, mas a Elizabete também ‘tá de férias da universidade”, reclamou, “Vai logo, seu vagabundo”, os pais replicaram em coro. Ela trabalhava à tarde e o rumo da casa dele estava em seu trajeto. Se encontraram, ela o reconheceu e puxou assunto. Demorou para a ficha cair nele mas não perdeu tempo quando aconteceu. E lá uma punheta para a amiga de escola do irmão, (tal como a irmã mais velha) o perfeitinho primeiro da turma e homenageado da faculdade queridinho dos pais e professores e chefe e tios e o caralho a quatro, e ele sempre considerado o filho da puta inútil imprestável. “Te fode agora, Eusébio”, falava em voz alta, “‘tô comendo essa puta na tua cama, pra tu deixar de ser otário e parar de me sacanear”. SE ela ouvisse, a transa terminaria naquele momento. SE. Antes do fim da primeira semana, ela já estava de mãos dadas com ele, que não acreditava na situação. Na seguinte, além de o abraçar em público, já lhe pagava sorvete e fazia questão que a deixasse em casa. E no fim da segunda, ela de calcinha e sutiã sobre a cama. “Vem”, disse, “hoje eu sou só pra ti”. Por fetiche dele, a fez colocar as meias ¾ e os tênis. “EI!”, disse em voz alta ao sentir as primeiras mordidas e lambidas, “não me bate”, ao sentir as tapas, “eu fico toda vermelha e meus pais vão ver”. 
FODA-SE. Abriu as grandes nadégas da grande bunda redonda para colocar a língua no cu da “porcelaninha” (como era chamada pelos pais e professores). Cuzinho rosado, buceta depilada, mais rosada ainda. Para ela, era uma experiência nova: transar com um gordo, maior com ela na estatura, tamanho e largura e ter a sensação de ter os “buracos” invadidos por uma língua imensa e barba grossa à altura dos mamilos. “Deve ter pau pequeno”, a amiga dela da faculdade comentou, as duas e as outras à mesa riram bem alto, faziam o possível tamanho com uma das mãos, os risos preenchiam o bar e restaurante e pizzaria. Para ele também: a amiga do irmão mais velho – cobiçada só por todos que conhecia, mulheres e homossexuais do sexo masculino inclusive – e não as conhecidas do bairro, ou primas dos amigos ou amigas dos pais ou filhas destes (e ai dele se os pais ou maridos e pais destas soubessem!). “Deixa eu te chupar”, ela disse. “Oooooooooooooooook”, ele a puxou pelos cabelos.
“Caralho”, disse em voz alta, o pegou com uma mão, não conseguiu fechá-la. Não podia ver o sorriso debaixo da barba. Colocou a glande dentro da boca e sentiu a mandíbula abrindo quase ao máximo. “Isso vai me fuder”, disse olhando para o mastro. “Seja legal comigo, viu?”, pediu. “Pode crer que sim”. “‘Pode crer que sim’ o quê?” “Pode crer que isso vai te fuder valendo”. Isso foi a duas horas atrás, ele já estava montado nela de quatro ao chão, com o rosto nos antebraços, gemendo em voz alta, que podia ser ouvida da porta da casa. Um morango não estava vermelho como ela, marcas de dentes e mãos, uma poça de suor no quarto e a casa seria tomada pelo cheiro de sexo animal quando a porta fosse aberta. Sem mais lençol à cama e o case do violoncelo do irmão já ao chão sendo empurrado pela cama.  
“Hoje eu vou dar”, levantou decidida da cama. “Aquele gordo vai levar uma surra de buceta que ele nunca mais vai esquecer na vida”, entrou para tomar banho, “Vai ser a inauguração inesquecível daquele nerd virjão”, nem enxugou os cabelos “De hoje não passa”, colocou as camisinhas dentro da calcinha antes de vestir a legging. Prendeu os cabelos (“preciso retocar a pintura de cabelo”, pensou olhando para o espelho) e colocou o cordão com as chaves de casa. “Vou dar muito e vou acabar com aquele gordo”, boné pra trás e ritmo na corrida, “Vou dar muito e vou acabar com aquele gordo”. Estava estirada à cama, quase como um cadáver. Arfava forte. As mãos tremiam, tremia toda. Já completamente sem voz após o trovejar quando ele penetrou seu cu, mesmo tomando um anestésico e lubrificantes terem sido passados no local e proximidades (ele chegou até a misturar o anestésico com os lubrificantes) mas o tamanho de seu “instrumento” foi demais para a mulher. Sentia bater em sua garganta, quando não martelava diretamente seu cérebro. Por um momento, lembrou-se que ainda tinha que começar a advogar um caso importante para a promotoria aquele dia – aquele dia não mais. Ele ao chão, cigarro aceso e um copo de café. Antebraços nos joelhos e costas à parede.
Quando ela acordou, começava a anoitecer. Luz apagada. Virou-se com dificuldade, barriga e olhos ao teto. Estalou toda ao sentar-se à cama. “Vim sem maquiagem”, pensou consigo ao colocar os dedos nas olheiras, “devo estar horrível”. Lembrou-se onde estava, não tinha lençol para se cobrir. Levantou-se com mais dificuldade ainda, queria ficar/permanecer deitada mas tinha que voltar para casa, os pais deviam estar loucos de preocupação, uma vez que saía antes deles acordarem. Pior ainda, não levava telefone. “Porque porra ‘tô de tênis e meias?”, se perguntou ao ver as pernas, “Ai, meu Deus”, disse ao ver as marcas de mãos pelos braços e vermelhidões pelo corpo, “caralho, meus pais vão me comer viva quando verem isso”. Ele abriu a porta quando ela estava indo em direção ao interruptor para procurar as roupas. Ela, ao assustar-se, pôs as mãos à virilha e aos seios, não sabendo o que esconder. Ele riu, “pára com isso, sua louca, fudemos o dia inteiro e agora tu me vem com isso?”. “Fecha a porta”, ela pediu. “Não tem ninguém em casa, tira esses tênis e vem pra eu te dar um banho”.
Depois de um senhor sermão histórico-homérico dos pais sobre ter saído sem telefone e não ter avisado para onde ia e ter demorado uma vida para voltar e outro do chefe por ter faltado a um compromisso diversas vezes remarcado e adiado, novamente estirada à cama – mas enfim a sua. Novamente nua, cara no colchão, nem se perguntou porque os pais não tinham perguntado sobre as marcas vermelhas na cintura, barriga, braços, colo, quadris e pescoço. Ligações e mensagens de meio mundo ao telefone, nem quis ligar o notebook para ver os e-mails. “Pelo menos de blazer, não vão ver as marcas pelo corpo”, pensou. Quase não atendeu o telefone. “Isabel”, disse. “Isa, é a Marta”.
Ah, oi.
E ai? E o gordo virjão?
Rolou.
Rolou? E ai? Me conta.
Mulher... Ele me fudeu valendo. Eu nem te conto...
Como assim ele te fudeu valendo? Que aconteceu?
Ele não era o virjão que eu pensava, isso sem falar no tamanho do pau dele.
Mazuh caralho! Como assim, pau de jegue mesmo? [risos]
E ainda colocou no meu rabo. Vou ficar sem andar pelo resto da vida.
CA-RA-LHO-! [risos] Vai me dizer que ele também te deixou toda vermelha de tanto te chupar, morder e bater.
Caralho, Marta, ‘tô pior que nem morango maduro. Só tu vendo.
[risos] Puta merda, Isa. Só tu mesmo. Mas e ai? Vai rolar de novo ou vai deixar “prazamiga” também saber se ele é tudo isso? [risos]
Porra nenhuma! Aquele pau é só meu.
Pooooooooooooooooooooooorra, ruiva. Como assim? Se apaixonou pela pica do gordo mesmo? [risos]
E num é? Amanhã ‘bora almoçar juntas. Reúne o resto das putas que conto toda a história pra vocês.
Elas já ‘tão aqui e ouvindo a conversa toda.
Porra, Marta. Porra, Marta. Porra, Marta. 
Onde amanhã? Cardin ou La Vera?
[voz da Érica ao fundo] A Tia Joana tem promoção de dieta nos almoços de quinta. 
Pode ser mesmo. Quem mais ‘tá de dieta além de mim e da Moltrasia?
Praticamente todas nós, disque. Sempre essa história. [risos] A Bel ‘tá perguntando se esse gordo é o irmão do Kiesel, que fez o Médio com a gente. 
É, o Elias, irmão do Eusébio Kiesel, o lindão da nossa sala.
[risos gerais] [voz da Bel ao fundo] Porra, logo quem? Ele joga RPG e videogame com meus irmãos. Não tinha um menos gordo e menos nerd, não? [risos]
Esqueceu de falar “um menos roludo”. [risos delas] Mas sim, suas vadias, preciso terminar de dormir. Onde amanhã?
Na Tia Joana mesmo. Depois a Val desce contigo pro Tribunal de Justiça.
Perfeito. Beijo, Marta. Até amanhã. Beijos nesse bando de piriguete ai.
Beijão, Isa. Beijos das putas.
Telefone desligado. Ligação encerrada. Cochila por instantes que parecem ser horas. Levanta a cabeça. Telefone novamente. Telefone residencial. Ela atende. “E ai, mulher?”
Quem......?
Elias.
Ah! [silêncio] Como tu conseguistes esse número?
Pedi pra hackearem o telefone do Zé [Eusébio].
Ah! [sobrancelhas levantadas e testa franzida; “caralho”, ela pensa]
Só pra constar, tu não és a única Isabel que ele conhece.
Ah! [olhos fechados]
Liguei pra saber se estás bem.
Depois de ter levado um senhor carão dos meus pais e do meu chefe e ser zoada pelas minhas amigas por transar com o gordo nerd dito virjão irmão do bonitão gostosão do Ensino Médio, posso dizer que estou bem.
É, eu ouvi tua a conversa com elas.
COMO? [ela acorda realmente]
‘Te zoando, mulher. Só pedi pra hackearem o telefone do Zé pra pegar teu número. Vamos nos ver amanhã?
Pode ser. [ela sorri] Não colocando no meu cu, pode ser sim. Na sua casa?
Mesmo horário, pode passar aqui sim. Foda delivery, sabe?
Isso não tem graça. Já ‘tá fazendo gordice.
Ei, esse é meu charme [risos]. Beijos e durma bem, sua vadia.
Beijo e até amanhã, gordo filho da puta.
[silêncio]
Obrigado pela foda.
Sou eu que agradeço, mesmo tendo ficado literalmente fodida depois dela.
[risos] Ok, ok. Sempre que precisar, já sabe...
Foda-se, esse pau é só meu a partir de agora.
[risos] Ok, ok. Você manda. Sua exclusivista egoísta do caralho.
Foda-se novamente. Tenho que dormir. Beijo, beijo. E beijo nessa pica que é só minha a partir de agora. Beijo.
Beijo, sua puta. Até mais.
“Eu bateria uma siririca se tivesse força”, ela pensa novamente de cara no colchão. Mal sabe que vai acordar na hora de encontrar com as amigas no dia seguinte. “Nem, eu não vou dividir porra nenhuma”, ela ri com elas ao redor da mesa, “Arrumem os gordos barbudos picudos nerds de vocês que aquele é só meu”, risos que enchiam o local. “A gente pode ver, pelo menos?”, Catarina pergunta de forma debochada. “Podem ver e até filmar pra se matar na siririca depois, mas só isso”, a resposta. Antes do final do dia, o blazer e a saia e as roupas íntimas ao chão do quarto, ela o puxando pela barba e ordenando-lhe em gritos que não parasse para toda a vizinhança ouvir.



:: agradecimentos especiais a Bruno “Immortal” Silva, Neuton Martins Vieira Filho e Dannyllo Borges [Londrina-PR] pela idealização do personagem “gordo nerd virjão” ::
:: 12 de fevereiro de 2015 ::