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YEAH, HOUSTON, WIR HABEN BÜCHER!

e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

quarta-feira, 15 de julho de 2020

YEAH, HOUSTON, WIR HABEN BÜCHER!

e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos os outros que eu publicarei a posteriori!
fuckin enjoy!!!!

um cara chamado Tchau
julho de 2020
INTRODUÇÃO
“O mesmo céu, a mesma cor 
Quanto tempo passou? 
Não há mais o que provar 
Recomeçar em outro lugar 
Que relevância pode existir 
Em lamentar agora o que não fez?” 
– Dead Fish, “Exílio”.


um cara chamado Tchau é um título que criei pra um livro de poemas no começo da primeira década do século XXI, não lembro se foi em 2002 ou 2003 mas lembro que comentei com uma amiga e seu comentário altamente pontual 
“tchau, Tchau.” 

esse livro em seu poder não é um “tchau” e sim um “oi” (“anarquia, oi! oi!”?). “oi” a contos relativamente curtos que, apesar do oceano de referências e homenagens neles presentes, creio serem muito mais aproximados tanto a Bukowski quanto a Nelson Rodrigues do que Rubião, K. Dick, Colasanti e até mesmo... Lovecraft? Howard? também li muito Hemingway mas eu não saberia identificar onde ‘tá essa influência no que escrevi e se faz presente nessa antologia. Robert Ervin Howard é meu autor favorito de literatura fantástica, mas mais cedo ou mais tarde, ‘tô mostrando algo escrito para e por ele. quanto à prosa do gênero em minha língua mater, posso afirmar categoricamente que Murilo Eugênio Rubião e Marina Colasanti ocupam tais assentos. não nessa obra, em outra a porvir, vai ter uma que junta os dois. 
a presente antologia tem muitos dos meus textos favoritos, mas todos mereciam ser trazidos à baila cada vez que, quando os vejo... os leio, são filmes que passam em minha cabeça devido eu fazer uma salada de informações neles que me fazem sempre pedir pros meus amigos lerem pra eu ter certeza de que estou escrevendo algo minimamente coerente de forma minimamente coesa et coerente e dizer quando e porque não o estou fazendo. sim, pessoas, é importante ter amig@s que não tenham papas nas línguas pra criticar o que tu escreves. pensando o quê? que tu já nasceste um Dalcídio Jurandir e/ou um Ganymedes José ou uma Cecilia Meireles e/ou uma Pollyana Furtado? não, não, não. há de se sempre haver crítica, a crítica. a crítica por terceiros e a para si própria. até nossos queridíssimos Manoel e Hilda sempre se botavam à análise a si e para outrem. “mas qual seria a função deste livro? objetivo? finalidade? essas coisas...” a primeira é entreter. arte sem entretenimento? não, né? o objetivo é que a pessoa que leia tome vergonha na cara e comece a escrever também textos em prosa. “eu só escrevo textão no Facebook” também vale. contos com capítulos publicados ocasionalmente em Orkut salvos em documentos do Word perdidos em confins de e-mails? vale! microcrônicas twitterianas do cotidiano até 140 caracteres ou mesmo a 280? junte tudo e publique, junte tudo e publique. atualmente temos facilidades de publicação que nossos ancestrais literatos jamais conseguiriam sequer imaginar, então por que não aproveitá-las? 
por fim, há três contos na versão em .pdf (e que também estarão na versão impressa) mas, por motivos de conteúdo e formatação, não sairão na versão kindle. mas tu haverás de saber. e alguns outros aqui presentes já deram o ar de sua graça no meu début Encontros e Des-encontros e Re-encontros: os encontros de estudantes como gênero literário (e se eu não tivesse revisado direito, já iam entrar alguns repetidos a mais). e um dos meus favoritos de todos os tempos, Praia no Inverno, deveria ter sido incluso ao début mas não o foi por pura e simples falta de atenção. e há um texto que, caso inserido, provocaria um senhor rebuliço, que considero totalmente desnecessário (a ponto de talvez eu nem mesmo chegue a publicar, diga-se logo). 

café a postos? 
cigarros a postos? 
vinho a postos? 
tira-gostos a postos? 

é sua hora de dizer “oi” ao cara chamado Tchau. vai que, em algum momento, não vês algo da história dele em ti e comeces a escrever sobre? 
a Literatura agradece e todos nós, começando por ti, só temos a ganhar.




Terreno Baldio Blues (tomara que maio demore a chegar, tomara que maio não se tarde a passar)
junho de 2020
INTRODUÇÃO
“O mundo esta mesmo louco
Pra que te levar assim?
Sem ao menos lhe dar um tempo
Terminar o que não teve fim

Não dá mais para aguentar
Aonde isso ira chegar?
Por causa de um erro de alguém
Sem um porquê, se é que existe um porquê!

Para de me perguntar
‘Por que aconteceu assim?’
Muitos passarão por isso
Não quero pensar assim...”
– CPM22, “Amigos Perdidos”.

Eu lembro que escrevi meu primeiro poema em seis de agosto de mil novecentos e noventa e cinco, em decorrência de uma matéria no Fantástico sobre os cinquenta anos da bomba atômica em Hiroshima. Depois comecei a escrever mais algumas coisas em 1996, 1997, no final do fundamental, sétima e oitava série. Desembestei mesmo a partir de 1998. Primeiro ano. Anchieta. Mundo novo. Pessoas novas. Frustrações novas. Esperanças novas. Eu incluiria este meu primeiro aqui – “Bomba de Hiroshima” o nome, inclusive – se eu soubesse onde ele está. Os de 1997 e 1998? 
Rá, rá.
Não.
De 1995 pra 2020 não contam vinte e cinco anos de poesia, negócio começa mesmo em 1997, ainda que eu não tenha coragem de publicar o que escrevi nesse ano, só começando em “Cães”, de 1999 e indo embora até – pelo menos nesta presente antologia – “Às 17h34min40s (o Fim da Terra)“, do mês passado. Escrevendo sobre praticamente tudo o que me incomoda e raramente sobre o que me agrada.
Eu, enquanto poeta (como escritor a nível geral, diga-se) me vejo constantemente em duas problemáticas tensas. A primeira é não estagnar a nível de produção literária, por isso sempre estou lendo coisas novas e trazendo coisas novas pros meus textos. A segunda é não escrever somente pra mulher. Falando nisso, era pra sair dois livros hoje. Este e o ♫♪vou sentir saudade dos seus olhos de menina♪♫ , com textos somente para Musas Inspiradoras, que não foi porque a primeira capa não está como eu queria. Paciência, né? Mas mês que vem é certeza.
E... Era pra esse livro ser só pra um amigo que morreu em maio de 2000. Mas seria muitíssimo egoísmo e falta de sensibilidade não estender a outro que também disse tchau, mas em fevereiro de 2017. Creio que os dois – que eram duas pessoas, no mínimo e na pior das hipóteses, pessoas maravilhosas e incríveis – aprovariam totalmente e veemente a ideia. E também aposto que, caso se conhecessem, teriam se dado muitíssimo bem. Eu sou suspeitíssimo pra falar qualquer coisa dos dois por ser fã deles e sentir falta deles todos. Os. Dias. E, em suas memórias, em homenagem a elas, este livro que estás lendo.
Eu, sinceramente, não sei se eles gostariam do título. encontrar... Fazer título pra livro é tão difícil quanto fazer a capa. Eu tinha comentado com uma amiga, começo da década passada, sobre um conto chamado Um Cara Chamado Tchau. E depois pensei em utilizar como nome dessa antologia. Poderia até ser o nome do conto que fecha essa coleção, visto que, ao tratar do mesmo tema, sua presença aqui se faz obrigatória. Mas a foto do Heverton, que criou o poema que dá nome a esta obra, ficou tão legal – e o poema também – que pensei “por que não usar como título?” “E, como vou publicar em maio, por que não incluir a parte sobre o mês que o meu chegado disse ‘tchau’?”. Me pareceu uma boa ideia, apesar de ser longo como o livro anterior .
Eu não pretendo revolucionar a Poesia (talvez só um pouquinho). Admito que tenho a pretensão de marcar meu nome a ferro e fogo na literatura brasileira. Todavia, com a presente obra, tenciono somente não deixar estes meus dois amigos... Dois de meus IRMÃOS que a Vida escolheu pra mim passarem... Em vão (?!) pelo mundo. Tenciono dizer “olha, duas pessoas incríveis passaram pelo mundo, eles fizeram a diferença e fazem falta!”, porque eles fizeram diferença pra mim e não tem um maldito dia que não sinto as faltas deles por aqui. E não, eu não sou o único.
E também desejo, de todo meu coração, mostrar que texto em verso escrito por homem não se resume à poética lírica ora drummondiana ou viniciusdemoraesiana de um extremo, ora bukowskiana ou de outro. Sim, há muitos localizados no meio-termo. Mas quem são? Onde estão? O que escrevem sobre si e sobre o mundo ao seu redor? Onde está o que escrevem sobre si e sobre o mundo ao seu redor? Em uma sociedade doente onde há muitas cobranças e poucos retornos e é proibido aos homens externar seus sentimentos sendo isso sinal de fraqueza tanto para homens quanto para mulheres, seria demérito para um homem falar sobre suas aflições e medos e desesperos e desesperanças? Em uma época onde há muitas pedras pontudas e remédios para tudo e poucos beijos e palavras positivas verdadeiras, seria demérito falar o que se sente pra sua mãe, por sua mãe? Em um mundo esquizofrênico dividido entre “tu já ‘tá mocinho, não pode fazer isso” e “tamanho cavalão fazendo uma coisa dessas, tu não se enxerga?” , seria demérito dizer que se sente falta de seus amigos que morreram de maneiras trágicas e isso atormenta sua alma?
Se, para ti, não haver demérito, boa leitura.
Depois da primeira página, não tem mais volta.

“não há volta... não há volta...”



Encontros e Des-encontros e Re-encontros: os encontros de estudantes como gênero literário
maio de 2020
INTRODUÇÃO
Além de terem me dito que o tempo passa de maneira diferente na universidade, algo que vi – e comprovei – pessoalmente foi o quão isso se torna verdade nos encontros de estudantes, sejam os locais, sejam os regionais, sejam os nacionais, sendo a verdadeira integração acadêmica. 
Como eu disse na segunda capa, quem se dispõe a participar de tal empreitada, deve ir pronto para encontrar todo e qualquer tipo de pessoa e se dispor tanto a não-matar gente indesejada quanto a aprender e exercer companheirismo, tolerância, despir de preconceitos e pré-conceitos quanto a como o homo universitarius se comporta em um terreno desprovido de qualquer autoridade além do bom senso e das noções básicas de higiene. 
Por tal evento ser uma realidade à parte do mundo e separar as crianças das adultas (e eu já estive dos dois lados da equação, pontuo, e mesmo que essa linha seja muitíssimas vezes, muitíssimo tênue), há esse compêndio em seu poder, visto que as respostas de questões como “O que acontece em um encontro de estudantes?”, “Quais são os absurdos que podem acontecer?” e “Que tipo de pessoa frequenta esses encontros?” variam muito dependendo de pra quem se pergunta isso. E uma das melhores coisas do curso de Letras é poder usar a Literatura para se contar pequenas grandes histórias sobre amores de uma noite, perdas, facadas nas costas, festas impossíveis de ser narradas sem os detalhes inenarráveis. Por isso o “encontros de estudantes como gênero literário”.
Mas e o “Encontros e Des-encontros e Re-encontros”? Yeah, tem a ver sim com o filme da Sofia e sobre aquela tristeza que bate no fim de cada encontro, principalmente nas despedidas, e fica pior caso não consiga se despedir. E ainda bem que há internet pra reajuntar o povo, né não? O Orkut que o diga, não? 

Venha. Seja bem-vindo. Que, pelo menos, durante essa leitura, volte até quando o mundo lhe pertencia e sua vida era algo realmente extraordinário de ser vivido. E agora lembrado.

E quem dera se, todas as vezes que se recita “We’ll Meet Again” (a versão do Cash, por favor), pudéssemos reunir novamente 

mais uma vez













Boa leitura e não se admire com nada que ler!

baixe o seu exemplar em

um sonho sobre lobisomem: o apocalipse

Bom. Tive um sonho hoje. Sonho foi assim. Foi em dois tempos.
O mundo que eu vi, como em jogo de terceira pessoa, era, um conjunto de complexo de prédios e indústrias. Arranha-céus que tinham andares subterrâneos, e prédios interligados aos centros industriais para facilitar a chegada e saída dos operários. Eu trabalhava como técnico em Estradas, rodovias ligando uma obra à outra, um complexo ao outro e ai, um belo dia, depois de ver o mapa dos complexos da região e depois de uma reunião com os chefes dos chefes do complexo no qual eu morava e trabalhava, decidi dar uma olhada em como ‘tava a obra em questão (só em sonho que essa porra é serviço burocrático), né?
Eu sei que encontrei dois amigos meus e os caras que foram comigo até lá. Descemos tanta escada que quase que desistimos da quest. Demos com umas portas e vimos tipo a beira de um rio e o pessoal desmatando pesadamente por ali, uns bulldozers do caralho. Palavra “Pentex” brincava de pira por lá. Ai um momento, quando fui falar com o encarregado, ele disse que não era pra eu estar lá e outro “hora do monstro” e todo mundo foi se esconder em algum lugar porque algo realmente grande estava vindo.

Corta pro momento dois: eu ‘tava em um quarto, era cuidado por uma menina negra. “Menina” entre aspas, ela devia ter pra mais de vinte e um anos, puxando por baixo. Ela me dava o que comer e me levava ao banheiro pra fazer necessidades e tomar banho. Ela dividia o quarto comigo e com a irmã menor, que passava grande parte do dia comigo em dia – a irmã mais velha saia para trabalhar – e sempre ‘tava vendo desenho e comendo (como diabo ela não engordava eu não sabia). Eu sempre ‘tava dopado e, sabe Gaia como, eu não sabia mais falar, mas entendia o que ela dizia (mas não entendia os barulhos dos desenhos que menininha via na TV, vai entender). Quando a irmãzinha era levada não sei pra onde, a mais velha levava alguém pra transar com ela, sabendo que eu ‘tava consciente (não me perguntem porquê). Ela, a irmã mais velha, enquanto me dava comida (minha hipótese é que as drogas estavam na comida) e me levava ao banheiro, dizia que ia me levar embora de lá, pro meu verdadeiro lar, que meu lugar não era ali, patati patata. Ela só esperava o momento correto de fazê-lo.
Uma noite, senti me quanto dela me levantou pelas pernas e – creio que era um dos homens com quem ela transava com – outra pessoa me levantou pelos braços e me colocaram no bando de trás de um carro. Outro cara que já ‘tava nos esperando perguntando se ela tinha certeza que eu era um deles.
“Mas qual é a tribo dele?”
“Vou saber? Tenho cara de Theurge?”

e foi isso.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

BELCHIOR – BAIHUNO – 1993

BELCHIOR
BAIHUNO
1993
– todas as letras e músicas de Belchior, exceto onde indicado
segundo Josely Teixeira Carlos, pesquisadora da obra belchiora, Baihuno, mesmo tendo algumas canções de álbuns anteriores, é o último título autoral do músico cearense foda isso de, ao invés de torar música própria, os bastiões brasileiros ficam metendo pilha em porra de coletânea, coletânea, coletânea mas vida que segue, não? jogo que segue, não?

BAIHUNO
Já que o tempo fez-te a graça de visitares o Norte, leva notícias de mim
Diz àqueles da província que já me viste a perigo: Na cidade grande enfim
Conta aos amigos doutores que abandonei a escola pra cantar em cabaré, baiões
Bárbaros, baihunos, com a mesma dura ternura que aprendi na estrada e em Che

Ah! Metrópole violenta que extermina os miseráveis, negros párias, teus meninos!
Mais uma estação no inferno, Babilônia,  
Dante eterno! Há Minas? Outros destinos?
Conta àquela namorada que vai ser sempre o meu céu, mesmo se eu virar estrela
(O par de botas de couro combina com o meu cabelo, já tão grande quanto o dela)
E, no que toca à, família, dá-lhe um abraço apertado, que a todos possa abarcar
Fora-da-lei, procurado me convém família unida contra quem me rebelar

Cai o Muro de Berlim - cai sobre ti, sobre mim, nova ordem mundial
Camisa-de-força-de-Vênus, Ah! Quem compraria, ao menos, o velho gozo animal?

Já que o tempo fez-te a graça de visitares o Norte, leva noticias de mim
O cara caiu na vida, vendo seu mundo tão certo, assim tão perto do fim
Dá flores ao comandante que um dia te dispensou do serviço militar
Ah! Quem precisa de heróis: Feras que matam na guerra e choram de volta ao lar

Gênios-do-mal tropicais, poderosos bestiais, vergonha da Mãe Gentil
Fosse eu um Chico, Gil, um Caetano, e cantaria, todo ufano: Os Anais Da Guerra Civil

Ao pastor de minha igreja diz que essa ovelha jamais vai ficar branquinha
Não vendi a alma ao diabo. O diabo viu mau negócio nisso de comprar a minha
Se meu pai, se minha mãe se perguntarem, sem jeito - Onde foi que a gente errou?
Elogiando a loucura, e pondo-me entre os sonhadores, diz que o show já começou

Trogloditas, traficantes, neonazistas, farsante: Barbárie, devastação
O rinoceronte é mais decente do que essa gente demente do Ocidente tão cristão

NUM PAÍS FELIZ
(Belchior, Jorge Mello)
Ainda não se ouvia o ai do sabiá
E nem Jaci sabia que ele assobiava lá
O índio ia indo, inocente e nu
E no cauim ninguém sentia a essência do caju
Não navegavam naus abaixo do equador
Aqui sem sonhos maus, não há anhanguá,
nem cruz nem dor
E o índio ia indo, inocente e nu
Sem rei, sem lei, sem mais, ao som do sol
e do uirapuru
Não navegavam naus abaixo do equador
E à terra chã, tupã descia sem pam de tambor
Ainda não se ouvia o dó das juritis
E eu já sonhava com a cor e o tom de algum paí
Num país feliz

SENHORA DO AMAZONAS
(Belchior, João Bosco)
Rio, vim saber de ti e vi.
Vi teu tropical sem fim
Quadrou de ser um mar.
Longe anhangá!
Tantas cunhãs e eu curumim!
O uirapuru
(Oh! Lua azul!)
Cantou pra mim!
Rio, vim saber de ti, meu mar
Negro maracá Jarí
Pará, Paris jardim
Muiraquitãs,
Tantas manhãs - nós no capim!
Jurupari
(Oh! Deus daqui!)
Jurou assim:
- Porque fugir se enfim me queres!
Só me feriu como me feres
A mais civilizada das mulheres!
Senhoras do amazonas que sois
Donas dos homens e das setas,
Porque já não amais vossos poetas?

NOTÍCIA DE TERRA CIVILIZADA
(Belchior, Jorge Mello)
Era uma vez um cara do interior
Que vida boa, água fresca e tudo mais
Rádio e notícia de terra civilizada
Entram no ar da passarada
E adeus paz

Agora é vencer na vida
O bilhete só de ida
Da fazenda pro mundão
Seguir sem mulher nem filho
Oh! Brilho cruel dos trilho
Do trem que sai do sertão

Acreditou no sonho
Da cidade grande
E enfim se mandou um dia
E vindo viu e perdeu
Indo parar, que desgraça!
Na delegacia

Lido e corrido relembra
Um ditado esquecido
“Antes de tudo um forte!”
Com fé em Deus um dia
Ganha a loteria
Pra voltar pro  
Norte

QUINHENTOS ANOS DE QUE?
(Belchior, Eduardo Larbanois)
Eram três as caravelas
Que chegaram d'alem mar
E a terra chamou-se América
Por ventura? Por azar?

Não sabia o que fazia, não
D. Cristóvão, capitão
Trazia, em vão, Cristo no nome
E, em nome dele, o canhão

Pois vindo a mando do senhor
E d’outros reis que, juntos
Reinam mais
Bombas, velas não são asas
Brancas da pomba da paz

Eram só três caravelas
E valeram mais que um mar
Quanto aos índios que mataram
Ah! Ninguém pôde contar

Quando esses homem fizeram
O mundo novo e bem maior
Por onde andavam nossos deuses
Com seus andes, seu condor?

Que tal a civilização
Cristã e ocidental
Deploro esta herança na língua
Que me deram eles, afinal

Diz, América que és nossa
Só porque hoje assim se crê
Há motivos para festa?
Quinhentos anos de que?

ONDAS TROPICAIS
(Belchior, Caio Sílvio)
Serviço de alto falante
“voz de cristal” e “bom som”!
paisagem tango bolero,
cafona como “eu te quero”
sonho de valsa e bombom. 
Na província...Hollywood!
eu era um brando farsante.
na luz azul do cinema
piscava o olho- um poema!
a princesa do elefante. 
Como e um objeto não identificado
descia sobre mim aquele feixe de luz.
outra Via-Láctea, escada de prata...
e eu, o rei da emoção barata,
subia a Capital
Mondrians, jazz, boggie-booggie, blues.
Brasil, mulato inzoneiro,
Brasil, mulato inzoneiro,
bandeiras de São (Volpi) João!
no televisor ligado
videotexto grafitado
ai, coração e o sertão...

ONDE JAZ MEU CORAÇÃO
Ei, senhor meu rei do tamborim, do ganzá
Cante um cantar, forme um repente pra mim
Aqui, nordeste, um país  
de esquecidos, humilhados
Ofendidos e sem direito ao porvir
Aqui, nordeste, sul-américa do sono
No reino do abandono, não há lugar pra onde ir

De Nashville pro Sertão (se engane, não)
Tem meu irmão, fora da lei, muito baião
E, em New Orleans, bandos de negros afins
Tocam em bandas, banjos, bandolins
Onde “jazz” meu coração

Ei, senhor meu rei do tamborim, do ganzá
Cante um cantar, forme um repente pra mim
Aqui, nordeste, um país de esquecidos, humilhados
Ofendidos e sem direito ao porvir
Aqui, nordeste, sul-américa do sono
No reino do abandono, não há lugar pra onde ir

Em mim, desse canto daqui, lugar comum
Como no assum, azul de preto
O canto e que faz cantar
Cresce e aparece em minha vida, e eu me renovo
No canto, o pio do povo. Pio, é preciso piar

E a minha voz, rara taquara rachada
Vem soul blues, do pó da estrada
E canta o que a vida convém
Vem direitinha, da garganta desbocada
Mastigando inham, inham
Cheinha de nhem-nhem-nhem

Ei, senhor meu rei do tamborim, do ganzá
Cante um cantar, forme um repente pra mim
Aqui, nordeste, um país de esquecidos, humilhados
Ofendidos e sem direito ao porvir
Aqui, Nordeste, Sul-América do sono
No reino do abandono, não há lugar pra onde ir

LAMENTOS DO MARGINAL BEM SUCEDIDO
Baby
Enquanto um velho mestre de blues radioativa nas ondas
Sonoras do carro, tome um fósforo e, ao gosto dos anjos, acenda
O ultimo cigarro
Que aquele bêbado lhe deu
E blues lamente comigo os tempos cínicos e cruéis para o caubói
Delicado que você diz que sou eu
Ah! Você lembra?
Naquele tempo, quem não queria tomar o poder e que mãe não tomava comprimidos pra dormir?
É proibido proibir!
Ora, ora o poder, humilhação e violência! Vocês querem
Bacalhau
Ao vencedor as batatas, o troféu abacaxi
E por falar em política, os meninos de rua já sentem na pele a verdade nua e crua do que nunca aconteceu
Marginal bem sucedido e amante da anarquia, eu não sou
Renegado sem causa, oh! Não
E uma dose de amor, esse artigo sempre em falta, cairia muito
Bem em mim
Melhor que a droga do gim
Lançado em meu cartaz de procurado de vira-lata de mercado, com a pata esmagada por um trem
Ah! Fique aqui, só entre nos dois, este papo amarelo de dor
Que rima com conversa mole de amor
Pois, você sabe, eu prefiro a inocência do sexo e a pureza da
Paixão depois do amor, o tédio e a solidão!
Quem diria?
Ontem a noite na cama me senti arrasado com você me chamando - idiota, bandido, um canalha, indecente, transviado, machão!
Ah! Enquanto essas senhoras e esses senhores viram o jogo
Contra nós e põem o mundo a seu favor - que horror!
(Conversação de marginais sobre terra devastada, em meio a nossa guerra civil. Desde Cabral o Brasil é Brasil)
Guardo-lhe, como um presente, o meu modo masculino, raro e
Fino, de trovador eletrônico, anjo torto, ciberneticamente a mil
Baby, tudo vai dar pé, você sabe e eu também sei... Qual é o problema?
Mas, pelo sim pelo não me dê a sua mão igual a seu coração
E, num amasso apertado um beijo molhado e escandalizado
Daqueles de cinema
Baby, tudo vai dar pé, você sabe e eu também sei... Qual é o problema?
Mas, pelo sim, pelo não, me dê a sua mão, igual a seu coração
(All we need is love!) e, num amasso apertado- da cor do
Pecado, um beijo molhado, escandalizado, daqueles de cinema

S.A.
(Belchior, João Mourão)
Assaltantes, bêbados, índios
Nordestinos retirantes
Prostitutas, pivetes punks
Suicidas solitários
De onde eles vem?
Viciados velhos vagabundos
De onde eles vem?
Viciados velhos vagabundos
De onde eles vem?
Sacos de plásticos, latas amassadas, copos de papel
Esquecidos no estádio depois do jogo e das feras
Miseráveis sempre sem pão, e daqui a pouco sem circo
Coisa cuja visão da vontade de morrer
E a gloria? E a gloria? E a gloria? Ahh
E a honra dos seres humanos que Deus criou
E pôs um pouquinho só abaixo dos seus anjos
Mas esses senhores não querem nada
Não querem perder tempo
Com essa porcaria que se chama gente
Mas esses senhores não querem nada
Não querem perder tempo
Com essa porcaria que se chama gente
Eu não sou cachorro não
Pra viver tão humilhado

AMOR E CRIME
(Belchior, Francisco Casaverde)
Amor, não há amor
Existem só provas de amor
Mas, no amor, provas não bastam

Tudo mentira
Tudo cinema

Apenas cenas
Quando, em ledo engano-me, acenas
Regressando em algum trem

Ah! Essa historia de amor
Porque uns barcos se afastam
E mil sereias cantam sem pudor

Oh! Que trágico destino!
Preferi-ser o assassino
Ao amante leal
E que os bandidos são úteis
E nós, os amantes, fúteis
Vulgaridade do mal

Amar agora e crime
Só a paixão nos redime
Da obsessão do sublime
Do ideal

Tudo romance, tudo poema, apenas cenas
Fazer mal do amor
E a glória?

E o sofrer, da paz? A quem?

Ah! Essa historia de dor
Buscar o amor sem vitória
Voltar feliz, sem memória
Ao paraíso terreal

BALADA DO AMOR
(Belchior, Francisco Casaverde)
Não quero amar, não! Nunca mais
que esse negocio de amor
já não se faz sem punhais.
Mister dos mistérios tais
Ah! Eu nasci perdedor.
Pra que mentir de fingidor
das dores tão reais.
Que romantismo e insolência
torna-se o amor em violência
só à paixão luz natural
tesão de deusa pagã
que vence o amor a La D.Juan
certeza e gloria de fazer o mal.
Amor que move o sol e outras estrelas...
Ah! Quem penou a luz delas,
esses eu conheço de outros carnavais.
Deixem-me ser aprendiz
do amor perverso, do amor feliz.
Lugar comum de anjos e animais.

AELEGIA OBSCENA
Meu bem,
admire o meu carro e goze sozinha,
enquanto fumo um cigarro
mas cuidado!, atenção!
- Oooh! oooh!...  não vá quebrar mais nenhum coração.
Podemos até nos deitar
mas você saberá...
saberá que será
puro flertar, paraíso perdido,
meros toque de Eros, um sarro, um tesão
- Oooh! oooh! ... bad bed bed times
os teus peitos no jeito
e eu pego e me deleito,
na flor do meu umbigo.
- Oooh! oooh!... E ainda ponho a camisa
que avisa precisa
- I can’t get no satisfaction
- Oooh! oooh! ... bad bed bed times!
onde os puros saberes
onde a fúria de seres humanos
contra a ira dos deuses
que cena obscena pedir, pedir
Por favor, nada de amor
- I can’t get no satisfaction

ARTE FINAL
(Belchior, Gracco, José Melo)
Desculpe qualquer coisa, passe outro dia,
Agora eu estou por fora, volto logo,
Não perturbe, pra vocês eu não estou.

Sessão de nostalgia, isto é lá com minha tia,
Isto é lá com minha tia!

Alô, presente, estou chegando,
Alô futuro, já vou!
Alô, presente, estou chegando,
Alô futuro, já vou!

Ora, Ora! Até vocês que ouvi dizer,
São gente quase honesta.
Ora, ora! Até vocês os reis da festa,
Ora, essa! Não confiam mais em mim!
E me tratam como tratam mulher, preto,
Todos entramos no gueto
Quando a coisa entrou no ar.

Mas pegue leve, não empurre, seja breve,
Conheço o meu lugar!
Mas pegue leve, não empurre, seja breve,
Conheço o meu lugar!

Dancei, sei que dancei,
Dancei meu bem!
Mas vem que ainda tem!

Dancei, sei que dancei,
Dancei meu bem!
Mas vem que ainda tem!

Dancei, sei que dancei,
Dancei meu bem!
Mas vem que ainda tem!

Dancei, sei que dancei,
Dancei, meu bem!
Mas vem que ainda tem!

E então, my friends?
Bastou vender a minha alma ao diabo,
E lá vem vocês seguindo o mau exemplo.
Entrando numas de vender a própria mãe.
Alguém se atreve a ir comigo
Além do shopping center? Hein? Hein?
Ah! Donde están los estudiantes?
Os rapazes latino-americanos?
Os aventureiros? Os anarquistas? Os artistas?
Os sem-destino? Os rebeldes experimentadores?
Os benditos? Malditos? Os renegados?  Os sonhadores?
Esperávamos os alquimistas, e lá vem chegando os bárbaros
Os arrivistas, os consumistas, os mercadores.
Minas, homens não há mais?
Entre o Céu e a Terra não há mais nada
Do que sex, drugs and Rock’n’Roll?
Por que o Adeus às armas?
Não perguntes por quem os sinos dobram,
Eles dobram por Ri!
Ora, senhoras!  Ora, senhores!
Uma boa noite lustrada de neon pra vocês
E o último a sair apague a luz do aeroporto
E ainda que mal me pergunte:
“A saída será mesmo o aeroporto?”

SE VOCÊ TIVESSE APARECIDO
Se você tivesse aparecido
em minha adolescência, 
canção Blake de inocência
amor, quem não teria ido e vivido
com Byron, o bardo da gangue
do “le me perish young” 
Se você tivesse aparecido esta 
droga de existência se mudaria em viver
eu coração (traído) bandido, 
canção Blake de experiência
revelaria seu ser. 
Leste de Éden violência e abandono.
Vinhas de ira... Ah! Quanto suicídio
garotos no esgoto...São ratos? São homens
suave é a noite?
Seremos vencidos? Oh! Cara 
onde o galo canta ai janta e assim
yeah! yeah! yeah! yeah!
Pegar carona nesta decadência e o fim
como pode acontecer?

VIVA LA DOLCEZZA
(Belchior, Gracco)
Daqui da zona fantasma,
te mando minha lágrima feminina
de super-homem 
Os bárbaros voltaram quem duvidara?
Viva La dolcezza!
E a grama que pisaram reverdecera?
Viva La dolcezza!
Já dei adeus as armas, quem me livrara?
Viva La dolcezza!
Se o resto e som e fúria, que se cantara?
Viva La dolcezza!

ATÉ MAIS VER
Ate mais ver, ate mais ver, meu camarada.
Contigo em mim e ainda em ti, vou indo em dois
qualquer distância  
entre nós, tornada em nada, 
só assinala um novo encontro pra depois.
So long sem gesto, um bye ao leu... Não diga sorte
Não fale adeus que enruga o olhar mais compassivo
se, sob o sol, nada mais velho e vil que a morte, 
quem viu, na vida, novidade em estar vivo?










BIS 
ZU 
DEM 
BREAKING 
FUCKING 
NEUEN 
POST
!!!!

quarta-feira, 8 de julho de 2020

BELCHIOR – ELOGIO DA LOUCURA – 1988

BELCHIOR
ELOGIO DA LOUCURA
1988
– todas as letras e músicas de Belchior, exceto onde indicado
AMOR DE PERDIÇÃO
Entrar, ficar em ti
Tem sido o meu melhor perigo
Primeiro o meu viver
Segundo este vil cantar de amigo
Depois não pressenti sequer
O que no pré em meio após
Quer de si
Quer de mim
Quer de deus uma mulher
Ama e faz o que quiseres
Tu me falaste eu repeti
Meu sim
Nosso amor se perdeu
Entre tantos quereres
E hoje já era o que era
Para não ter fim
Nosso amor se perdeu
Entre tantos quereres
E hoje já era o que era
Para não ter fim
Odeio a tua paz
Rejeito o teu perdão
Pois qualquer sofrimento
Passa mas o ter sofrido não
O amor que diz talvez
Não é gozado nem paz
Deixa sempre a desejar
Deixa no ar atrás
Casos descasos
Desastres da paixão
Oh real ilusão
O bem e o mal em vão
Casos descasos
Desastres da paixão
Oh real ilusão
Amor de perdição
Odeio a tua paz
Rejeito o teu perdão
Pois qualquer sofrimento
Passa mas o ter sofrido não
O amor que diz talvez
Não é gozado nem paz
Deixa sempre a desejar
Deixa no ar atrás
Casos descasos
Desastres da paixão
Oh real ilusão
O bem e o mal em vão
Casos descasos
Desastres da paixão
Oh real ilusão
Amor de perdição

ELEGIA OBSCENA
Meu bem,
admire o meu carro e goze sozinha,
enquanto fumo um cigarro
mas cuidado!, atenção!
- Oooh! oooh!...  
não vá quebrar mais nenhum coração.
Podemos até nos deitar
mas você saberá...
saberá que será
puro flertar,  
paraíso perdido,
meros toque de Eros, um sarro, um tesão
- Oooh! oooh! ... bad bed bed times 
os teus peitos no jeito
e eu pego e me deleito,
na flor do meu umbigo.
- Oooh! oooh!... E ainda ponho a camisa
que avisa precisa
- I can't get no satisfaction
- Oooh! oooh! ... bad bed bed times!
onde os puros saberes
onde a fúria de seres humanos
contra a ira dos deuses
que cena obscena pedir, pedir
Por favor nada de amor
- I can’t get no satisfaction

BALADA DE MADAME FRIGIDAIRE
Ando pós-modernamente apaixonado pela nova geladeira.
Primeira escrava branca que comprei, veio e fez a revolução.
Esse eterno feminino do conforto industrial injetou-se em minha veia, dei bandeira!
e ao por fé nessa deusa gorda da tecnologia gelei de pura emoção!

Ora! desde muito adolescente me arrepio ante empregada debutante.
Uma elétrica doméstica então... Que sex-appeal! Dá-me o frio na barriga!
Essa deusa da fertilidade, ready made a la Duchamp, já passou de minha amante
Virou super-star, a mulher ideal, mais que mãe, mais que a outra... Puta amiga!

Mister Andy, o papa pop, e outro amigo meu xarope se cansaram de dizer:
Pra que Deus, Dinheiro e Sexo, Ideal, Pátria, Família pra quem já tem frigidaire?
É Freud, rapaziada!  
Vir a cair na cantada dum objeto mulher.
Eu me confundo, madame! E a classe média que mame se o céu, a prazo, se der!

Que brancorno abre e fecha sensual dessa Nossa Senhora Ascéptica!
Com ela eu saio e traio a televisão, rainha minha e de vocês.
Dona Frigidaire me come... But no kids double income! Filho compromete a estética!
Como Édipo-Rei momo, como e tomo tudo dela... Deleites da frigidez!

Inventores de Madame Frigidaire, peço bis! Muito obrigado!
Afinal, na geladeira, bem ou mal, pôs-se o futuro do país.
E um futuro de terceira, posto assim na geladeira, nunca vai ficar passado.
Queira Deus que no fim da orgia, já de cabecinha fria, eu leve um doce gelado!

Mister Andy, o papa pop, e outro amigo meu xarope, se cansaram de dizer:
- Pra que Deus, Dinheiro e Sexo, Ideal, Pátria, e Família pra quem já tem frigidaire?
É Freud, rapaziada! Vir a cair na cantada dum objeto mulher...
Mas que trocadilho infame! La vraie Ballade des Dames du Temps Jadis... au contraire!

NO MAIOR JAZZ
Guerra,
Guerra sem paz!
E que se fez da terra,
Mãe dos mortais?
Certo,
A vida é demais!
Mas sem nós, feita um  
deserto,
Com quem rolarás, oh terra?

Esses senhores se sentam à mesa
Decidem por nós... Negociações...
Estúpidos e idiotas da política!
Dólares, tanques e mísseis
Meu coração tropical não agüenta
E o Cruzeiro do Sul, que não nos orienta?

Certo,
Há que ter gás
Mas no dom de viver perto
Dos animais.

Terra!
Oh! Como me atrais!
Ah! Traz para ti quem erra
No maior jazz!

RECITANDA
(Belchior, Gracco)
Graças a deus
Eu perco sempre o juízo
No lance de dez
No acaso do sucesso

O paraíso é a palavra
O país é lá
Mensagem de amor
A votação no congresso

Vem viver comigo
Vem correr perigo
Vem, meu bem, meu bem
Que outros cantores chamam “baby”

Esse jeito de deixar sempre de lado a certeza
Sem deixar o meu cigarro se apagar pela tristeza
É proibida a entrada, mas ainda quero falar:
Viver é melhor que sonhar

Vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação
Sinto tudo na ferida viva do meu coração
Olha, o show já começou, é bom não se atrasar
Viver é melhor que sonhar

LIRA DOS VINTE ANOS
(Belchior, Francisco Casaverde)
Os filhos de Bob Dylan, clientes da Coca-cola
Os que fugimos da escola
Voltamos todos pra casa.
Um queria mandar brasa;
Outro ser pedra que rola...
Daí o money entra em cena e arrasa
E adeus, caras bons de bola!

Mamãe! como pôde acontecer?
Ah! meu coração-lobo mau não aguenta!
...e andarmos apressados
Deu em chegar atrasados
Ao fim dos anos cinquenta!

Meu pai não aprova o que eu faço.
Tampouco eu aprovo o filho que ele fez.
Sem sangue nas veias, com nervos de aço,
Rejeito o abraço que me dá por mês.

OS PROFISSIONAIS
Onde anda o tipo afoito
Que em 1-9-6-8
Queria tomar o poder?
Hoje, rei da vaselina,
Correu de carrão pra China,
Só toma mesmo aspirina
E já não quer nem saber.

Flower power! Que conquista!
Mas eis que chegou o florista
Cobrou a conta e sumiu
Amor, coisa de amadores
Vou seguir-te aonde f(l)ores!
Vamos lá, ex-sonhadores,
À mamãe que nos pariu!

Oh! L’age d’or de ma jeunesse!
Rimbaud, “par delicatesse
J’ai perdu (também!) ma vie!”
(Se há vida neste buraco
Tropical, que enche o saco
Ao ser tão vil, tão servil!)

E então?  
Vencemos o crime?
Já ninguém mais nos oprime
Pastores, pais, lei e algoz?
Que bom voltar pra família!
Viver a vidinha à pilha!
Yuppies sabor baunilha
Era uma vez todos nós!

Dancei no pó dessa estrada...
Mas viva a rapaziada
Que berrava: “Amor e Paz!”
Perdão, que perdi o pique...
Mas se a vida é um piquenique
Basta o herói de butique
Dos chiques profissionais.

I have a dream... My dream is over!
(Guerrilla de latin lover!)
Mire-se o dólar que faz sol
Esplim, susexo e poder,
Vim de banda e podes crer:
“Muito jovem pra morrer
E velho pro rock ‘n’ roll!”

KITSCH METROPOLITANUS
Oh, comedor de hambúrguer
Oh, mascador de chiclete
Oh, beberrão de keep cooler
Vejam só que canivete!

Onde era mesmo a escola?
Meu broto passa gillette
Garotos clones mutantes
Mostrem de novo o topete

Que tal usar brilhantina?
No país da vaselina
Quem tiver cara, me piche
E eu chego feito um pivete
À glória do sanduíche

Que gente fina! gentinha...
Rainha em puxar tapete
Não posso entrar numa sala
Que eles vêm de cassetete

Kitsch metropolitanus
Essa moçada promete
Garotos clones mutantes
Com que gastar meu confete?

Que tal usar brilhantina?
No país da vaselina
Quem tiver cara, me piche
E eu chego feito um pivete
À glória do sanduíche

TAMBOR TANTÃ
Doutor em dor, bate o tambor,
Tantã de tanto dar
Quanto prazer, luz do calor!
Mamãe, quero mamar!
Graças a Zeus tem gente assim!
Comer, beber, dançar!
E que dizer pra mister fim?
- as águas vão rolar!

Segundo o primeiro terreiro, o terceiro mundo embanana,
Imbalança....oh! lalá!
Mas quando eu me chamar Raimundo vou fundo e... é fumo pra lá e pra cá

Oh! Adelita, amor civil,
Quando a guerra acabar
Explodirei, com mais de mil,
Em um trem militar
E quem vier a fim de mim
Se ligue em meu canal!
Em reggae, em rumba, em Cuba, enfim
Na América Central.

Vocês, de lá da babilônia, não sentem vergonha de sonhar um sonho tão ex?
Oh! tirem-me desta mentira, brilhantinamente sem vez!

De bom tom dá pedal!
Tudo som, tudo são tão legal!
Um grau dez pelo dom da mulher
E um bombom pro que der e vier!

ARTE FINAL
(Belchior, Gracco, José Melo)
Desculpe qualquer coisa, passe outro dia,
Agora eu estou por fora, volto logo,
Não perturbe, pra vocês eu não estou.

Sessão de nostalgia, isto é lá com minha tia,
Isto é lá com minha tia!

Alô, presente, estou chegando,
Alô futuro, já vou!
Alô, presente, estou chegando,
Alô futuro, já vou!

Ora, Ora! Até vocês que ouvi dizer,
São gente quase honesta.
Ora, ora! Até vocês os reis da festa,
Ora, essa! Não confiam mais em mim!
E me tratam como tratam mulher, preto,
Todos entramos no gueto
Quando a coisa entrou no ar.

Mas pegue leve, não empurre, seja breve,
Conheço o meu lugar!
Mas pegue leve, não empurre, seja breve,
Conheço o meu lugar!

Dancei, sei que dancei,
Dancei meu bem!
Mas vem que ainda tem!

Dancei, sei que dancei,
Dancei meu bem!
Mas vem que ainda tem!

Dancei, sei que dancei,
Dancei meu bem!
Mas vem que ainda tem!

Dancei, sei que dancei,
Dancei, meu bem!
Mas vem que ainda tem!

E então, my friends?
Bastou vender a minha alma ao diabo,
E lá vêm vocês seguindo o mau exemplo.
Entrando numas de vender a própria mãe.
Alguém se atreve a ir comigo
Além do shopping center? Hein? Hein?
Ah! Donde están los estudiantes?
Os rapazes latino-americanos?
Os aventureiros? Os anarquistas? Os artistas?
Os sem-destino? Os rebeldes experimentadores?
Os benditos? Malditos? Os renegados?  
Os sonhadores?
Esperávamos os alquimistas, e lá vem chegando os bárbaros
Os arrivistas, os consumistas, os mercadores.
Minas, homens não há mais?
Entre o Céu e a Terra não há mais nada
Do que sex, drugs and Rock‘n’Roll?
Por que o Adeus às armas?
Não perguntes por quem os sinos dobram,
Eles dobram por Ri!
Ora, senhoras!  
Ora, senhores!
Uma boa noite lustrada de neon pra vocês
E o último a sair apague a luz do aeroporto
E ainda que mal me pergunte:
“A saída será mesmo o aeroporto?”


amanhã o último disco de canções autorais de Belchior: Bahiuno!




BIS!
ZU!
DEM!
BREAKIN!
FUCKIN!
NEUEN!
POST!