e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...
quarta-feira, 30 de setembro de 2020
CRUZ DEL SUR, ROI OURS E QUARTETO FANTÁSTICO 2099 - análise e crítica das HQs
ouvindo: James Newton Howard, The Prince Of Tides - Original Motion Picture Soundtrack, de 1991
primeiro que este post amorosamente dedicado às memórias do cartunista argentino Joaquín Salvador Lavado Tejón, a.k.a. Quino (1932-2020) e à do desenhista estadunidense Alfonso “Al” Williamson (1931-2010).
nós não esqueceremos, somente agradecemos.
diferentes países. diferentes escolas de Histórias em Quadrinhos. Comics. Bande Desinée. super-heróis. de tudo um muito. e chega a ser irônico pensar que se produz mais HQ de faroeste na Europa que nos próprios Estados Unidos. tão irônico[1] ao se considerar que só se tem conhecimento de super-heróis franceses, à exceção de Satanax, criado pelo artista Auguste Liquois (1902-1969) e pelo roteirista Lucien Bornet, ambos franceses. eu poderia falar de n diferenças culturais acerca da nona arte nos países em questão, e de como o cinema, a literatura e o teatro influenciam muitíssimo mais as HQs no país mais islamofóbico do mundo[2] do que na “terra das ‘oportunidades’” entretanto vou me ater hoje somente “somente” a falar de três títulos – poder-se-ia dizer – díspares.
imagens do meu cérebro funcionando após eu ler HQs muito díspares entre si
todavia dois deles são mais aproximados que o terceiro, que não tem porra nenhuma a ver com o último. bora pro que interessa nessa porra.
CRUZ DEL SUR
pra começar eu vou me corrigir: no começo do texto era pra ter falado do país europeu que mais recebeu influência islâmica em praticamente todos os âmbitos socioculturais e as igrejas católica e protestante falh(ar)am miseravelmente em extirpar – a Espanha[3].
admito que o que eu mais saco da Espanha é futebol, cinema, Dom Quixote, Crysyx, tretas na Cataluña, HHH, GRB, Hörror, atriz de filme pornô e o Ignacio Jordà González a.k.a. Nacho Vidal. e antes de Cruz Del Sur, eu NUNCA tinha lido nada de HQ produzido nesse país.
O AUTOR DESSE BLOG DEFENDE A INDEPENDÊNCIA DA CATALUNHA!
¡LLIBERTAT CATALONIA!
crendices, superstições e medievalismo são indissociáveis. em algum lugar, aqui, ali, por ai, nas narrativas, os dois primeiros se encontram com o cristianismo seja em rota de colisão – com este visando destruir os hábitos “religiosos” locais para que se estabeleça –, seja para andar de mãos dadas. mas, no final, quase nem sempre o negócio acaba bem. em verdade, quase nunca o negócio acaba bem (a não ser quando a história é contada pra criança – ou não).
o conjunto crendices e superstições locais em rota de colisão com o cristianismo à época do medievalismo é o Leitmotiv de Cruz Del Sur, graphic novel escrita por Luis Durán e desenhada por Raquel Alzate, publicada pela editora Astiberri em dezembro de 2004.
Cruz Del Sur é onde a narrativa se desenvolve, quando Groz, o cavaleiro favorito de Volt (o senhor de Cruz Del Sur) e soldados subordinados a ele matam uma mulher tida como uma bruxa e levam sua filha, Iliane, para que o senhor da localidade decida seu destino. como em dado período da Idade Média europeia aconteceu a Santa Inquisição e a decorrente caça às bruxas, havia sempre um padre (muitas vezes mais gordo que a puta que pariu, pra quem nunca falta comida) em uma vila, cidade, comunidade, etc etc etc, foda-se, vocês entenderam.
10 anos depois, após voltar de guerras e guerras, Martin, o filho mais novo do senhor de Volt, retorna à Cruz Del Sur e, após se “encantar” com Iliane, tenta violentá-la, mas ela resiste e acaba sendo esfaqueada pelo bobo da corte. Dominique, o escravo do bobo, o mata com uma paulada e ajuda Iliane a fugir justamente para o bosque; ele a deixa justamente à base da árvore que a mãe de Iliane foi morta. o bosque, tido como maldito/diabólico, se vinga dos relacionados aos que mataram sua amada e sua filha.
a história é fenomentalmente bem contada e a arte de Raquel Alzate apresenta praticamente um quadro a ser emoldurado na parede, devido sua habilidade com pinceis e iluminação o final da leitura é um “UOU, QUE FOI ISSO, VELHO?” com “porra, já acabou? não tem mais, não?” como pouquíssimas obras fazem a quem as degusta.
tem um animador russo chamado Aleksandr Konstantinovich Petrov, vencedor do Oscar de curta em animação em 1989 por The Cow e em 2000 por The Old Man and the Sea – com base no romance homônimo de Ernest Miller Hemingway (1899-1961) –, que tem três obras OBRIGATÓRIAS pra quem curte animação: a já citada The Old Man and the Sea, de 1999; My Love, de 2006, escrita em conjunto com Ivan Shmelyov; e Rusalka, de 1996, escrita em conjunto com Marina Vishnevetskaya.
The Old Man and the Sea, de 1999, de Aleksandr Konstantinovich Petrov
My Love, de 2006, de Aleksandr Konstantinovich Petrov
Rusalka, de 1996, de Aleksandr Konstantinovich Petrov
podem ter certeza que bicho produzindo uma animação dessa graphic novel ganhava, no mínimo, por baixo, mais um Oscar de curta em animação, ainda mais se coordenado e/ou co-dirigindo com Durán e Alzate.
se tu não gostares de Cruz Del Sur, por favor, pare de consumir nona arte porque o negócio não é pr’ocê não.
ROI OURS
volta e meia eu falo de HQ francesa aqui e vou falar até quando eu considerar conveniente. porque os franceses, junto aos japoneses, são os picas das galáxias pra fazer HQ. Roi Ours, do francês Mobidic, lançada em 2015 pela Delcourt, não foge em nada à regra, mesmo tendo um jeitão de animação infantil. mas só o “jeitão” mesmo, visto que é uma história de amor, sacrifício e devoção ritual das quais tu não deixas uma criança ver sozinha, ainda que tenha uma referência indiretona ao Ursos sem Curso, já que a BD[4].
Ursos sem Curso,
em um cenário meio Apocalypto na parte central da América do Norte e muitíssimo antes da chegada dos europeus ao continente, Xipil será entregue em sacrifício à Caiman, a deusa-jacaré, para que graças recaiam sobre sua tribo, quando é “salva” pelo Rei Urso Polar da Coca-Cola com a benção – ainda que deveras receosa – da Mãe dos Macacos, o soberano desposa a jovem após esta atacada por Antli, seu.... EX-MARIDO. claro que, quando a ficha dela cai, ela nota o tamanho da cagada que se meteu. a cerimônia de casmento é digna das melhores narrativas orais de mitologias. Rei Leão Feelings, algo por ai.
claro que a caralhada fica mais caralhenta quando Xipil tem uma visão de seu povo natal guerreia com o Rei Urso e o derrota, tombado em celeuma e que, OLHA SÓ!, não era uma PREvisão e sim uma em tempo real. com isso, Caiman vê uma oportunidade de reaver sua oferenda e, de quebra, se vingar dos humanos que destroem indiscriminadamente as terras do povo-crocodilo fazendo uma proposta irrecusável à Xipil que custará sua alma.
MAS A REGRA É CLARA: se a narrativa tem um tom épico tem que acabar em merda, não pode ter final feliz. nisso, Mobidic agrada de forma soberba, a ponto de fazer tu se sentires mal com o fim de Roi Ours, a ponto de bater aquele vazio ESCROTO. se a HQ consegue fazer isso, ela vale pra caralho.
por fim, também achei Roi Ours fudida pra caralho no melhor sentido por apresentar uma nova perspectiva sobre totens, rituais e relações com seres espiritais. e MELHOR AINDA: sem relação alguma com os Garou de Lobisomem: O Apocalipse, abrindo possibilidades de campanhas interBetê[5], já que os totens apresentados são “Gurahl”[6] e “Mokolé”[7] e a ambientação uma região indeterminada da América do Norte muito antes da chegada dos Estrangeiros da Wyrm. enquanto Cruz Del Sur cai como uma luva pra GURPS Middle Ages ou mesmo um D&D ou um Vampiro: A Idade das Trevas; Roi Ours é total um GURPS ou um Mago: A Cruzada dos Feiticeiros ou quem sabe aquele Lobisomem: A Idade das Trevas belezinha.
leia Roi Ours. e leia pra ontem.
QUARTETO FANTÁSTICO 2099
o terceiro dos três foda de ser fã é ler quase todas as merdas que saem de tal personagem ou grupo de personagens e eu já falei pra caralho aqui o quanto eu curto Quarteto Fantástico[8] e, à exceção do Motoqueiro Fantasma[9], eu sempre fiquei totalmente na onda com os títulos da série 2099. “ah, mas tinha o Homem-Aranha também.” ESSE Homem-Aranha eu curtia, ai conclui – ao ler a última série do personagem (Homem-Aranha 2099) – que meu problema não era o personagem e sim o alter-ego, o cretino imbecil do Parker.
Motoqueiro Fantasma 2099, criado por Len Kaminski e publicado de 1994 a 1996
Homem-Aranha 2099, criado por Peter David e Rick Leonardi
ai que a Marvel, creio que na esteira da última série do Homem-Aranha 2099, decidiu rebotar esse universo e já estão rolando os títulos tanto do Conan (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)[10], Venom (eu considero perfeitamente cabível)[11]. eu só queria saber como vão linkar, SE, em decorrência de Maestro, prequel de Futuro Imperfeito, vão linkar essa caralha ao universo de Futuro Imperfeito[12]. nhum boto fé ki vaum fazer içú nhaum.
Hulk: Futuro Imperfeito, de Peter David, George Pérez e Tom Smith, de 1992; publicada no Brasil pela primeira vez em 1996
Hulk: Maestro, de Peter David e Dale Keown; série em andamento
“mas como o Quarteto Fantástico vai parar em 2099?”
é demais sabido que, em história de super-herói, fulano viaja no tempo como criança brinca de pira[13] e isso já aconteceu pra caralho em história do Quarteto, principalmente na fase Byrne e na fase Simonson-Simonson[14] e na saga contada por Karl Kesel (Super-Homem, Demolidor, Indiana Jones), Terry Kavanagh (X-Men, Mestre do Kung-Fu, Viúva Negra), Joe Kelly (Action Comics, Elephantmen[15], Steampunk) e Benjamin “Ben” Raab (Liga da Justiça: Xogum de Aço[16], Excalibur); desenhada por John DISPENSA APRESENTAÇÕES Buscema, Humberto Ramos (Impulso, Vingadores, Hardware), Rick Leonardi (Asa Noturna, Star Wars, Mulher-Hulk), Matt Ryan[16] (Liga da Justiça, Bloodshot, Conan & Mulher-Maravilha[17]), Pasqual Ferry (Thor, Superboy, O Jogo do Exterminador[18]): arte-finalizada por Al Williamson (Star Wars, Motoqueiro Fantasma, Weird Science-Fantasy), Jimmy Palmiotti (Jonah Hex, Justiceiro, Aliens), Jaime Mendoza (Bloodstrike, Batman, X-Men Ultimate) e Art Thibert (Renegados, Youngblood, Call of Duty: The Brotherhood[19]); e colorida por Paul Becton (Vingadores da Costa Oeste, Conan).
“‘tá, mas o que é que acontece?” a Primeira Família da Marvel volta de uma missão na Zona Negativa e cai em 2099, sendo perseguidos pelas megacorporações Stark-Fujikawa[20] e Alchemax[21] para que tenham certeza se são eles ou não enquanto isso, eles além de tentar voltar pra Zona Negativa pra poder voltar pra 1999 vai ser só mais um ano, um dia na vida, uma gota no oceano, ano do qual eles saíram. então que, não sei a razão – talvez eu nem queira saber – deram fim no universo Marvel, NESSE universo Marvel com um asteroide composto do mesmo tecnovírus do personagem Warlock[22] e jogaram o Quarteto nessa presepada toda, vista a experiência do conjunto nestas situações. ademais, são situações deliciosamente absurdas que é legal observar o contraste das gerações de superseres aparecem o Aranha e o Doutor Destino, como eles são e não tem como não curtir.
o que posso dizer sobre Quarteto Fantástico 2099 é: é RUIM, DÁ VERGONHA DE VER. as histórias são Quarteto Fantástico Quarteto Fantástico, pegada ação com ficção cientifica com roteiro até que bem-feito e arrumado. TODAVIA a arte É ABSURDAMENTE PORCA, lembrando muito Super-Homem do final da década de 1980 começo da década de 1990 que chega a dar muita raiva ao se ver.
por fim, só leia Quarteto Fantástico 2099 se tu fores indiscutivelmente fã do grupo, senão passe longe. BEM longe.
estas foram as críticas e análises de hoje, espero que vocês tenham curtido. e eu queria agradecer ao meu Irmão-Lobo Chuva-Vermelha-de-Sangue e a minha Irmão-Loba Lizzie Perez pelas orientações quanto a situação histórica da Idade Média pra eu não falar merda no texto.
[1] ♪♫Ist das nicht ironisch? Meinst du nicht?♪♫
[2] às palavras da Prof.ª. Dr.ª. Francirosy Campos Barbosa, do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do campus Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, na vídeo-aula Introdução ao Islam: fontes escriturárias, mulheres e pandemia, de 27 de agosto de 2020.
[3] ver nota 1 do post anterior.
[4] acrônimo de Bande Desinée.
[5] metamorfo(s) ou mesmo raça(s) metamórfica(s).
[6] para mais informações sobre os metamorfos-urso, ler Gurahl: Changing Breed Book 4, de Jackie Cassada e Nicky Rea para a White Wolf em 1998.
[7] para mais informações sobre os metamorfos-repteis, ler Mokole: Changing Breed Book 6, de James Comer, Steve Prescott, Jeff Rebner e Ron Spencer para a White Wolf em 1999.
[8] ler ESTE post, ESTE post e ESTE post.
[9] cedo ou tarde, vou fazer um post só pra ele por aqui.
[10] eu vejo uma influência do Ronin, do Miller; do Lobo Solitário cyberpunk e de muitas coisas do RPG Shadowrun.
[11] não preciso dizer que sempre gostei mais do Venom que do Aranha do 616.
[12] o Maestro chega a meter a cara nos tempos presentes em umas edições de Velho Logan. meio forçadinho mas ‘tá valendo pra passar a tarde.
[13] ver nota anterior.
[14] Walter Simonson e Louise Simonson no roteiro e Walter Simonson na arte.
[15] pelo bem do que te resta de sanidade e saúde mental, NÃO LEIA ESSA PORRA!
[16] eu já falei dela nesse post aqui, também vou falar dela por aqui.
[17] FODA PRA CARALHO! RECOMENDO PRA CARALHO!
[18] serve como leitura “lateral” do filme homônimo dirigido e escrito por Gavun Hood, baseado na obra homônima de 1985 do escritor estadunidense Orson Scott Card.
[19] não tem nada a ver com a série homônima de jogos de videogame e sim com as teleséries Station 19 e Chicago Fire. Brigada 49 e/ou Cortina de Fogo em Quadrinhos, caso prefiras.
[20] não vou explicar aqui, talvez eu explique no post do Motoqueiro 2099 por ora, terás que se debruçar sobre o universo pra saber.
[21] idem.
[22] personagem criado por Chris Claremont e por Bill Sienkiewicz, cuja primeira aparição foi na edição #18 do grupo The New Mutants, de agosto de 1984 (no Brasil, saiu na edição #72 d’O Incrível Hulk, de junho de 1989).
R E F E R Ê N C I A S C O N S U L T A D A S
BARBOSA, Francirosy Campos. Introdução ao Islam: fontes escriturárias, mulheres e pandemia. Vídeoaula do curso Introdução ao Islam, oferecido pelo RELIGANDO Ciência da Religião Online em 27 de agosto de 2020. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=aqdLiIIDf6g>.
CASSADA, Jackie; REA, Nicky. Gurahl: Changing Breed Book 4. Estados Unidos: White Wolf, novembro de 1998.
CORNER, James; PRESCOTT, Steve; REBNER, Jeff; SPENCER, Ron. Mokole: Changing Breed Book 6. Estados Unidos: White Wolf, setembro de 1999.
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