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e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

terça-feira, 29 de setembro de 2020

UM HOMEM SEM IMPORTÂNCIA - crítica e análise do filme

 ouvindo: Judas Priest, Sad Wings of Destiny, 1976


a produção cinematográfica brasileira do período da ditadura militar[1] varia primeiro entre dois extremos, os clássicos atemporais e os as porras completamente esquecíveis, e então aos meio-termos que um ou outro valem a conferida. como eu confio cegamente e inconscientemente nas sugestões de filme que meu parça Rodolfo me indica e, dessa vez, ele me indicou um nacional (eu tinha indicado pra ele o Politicamente Incorreto[2]): Um Homem Sem Importância, escrito e dirigido pelo cineasta espanhol radicado brasileiro Alberto José Bernardo Salvá Contel (¡eita nome!) (1938-2011)[3] e lançado em 1971.

Um Homem Sem Importância, escrito e dirigido por Alberto José Bernardo Salvá Contel

o filme, iniciado ao som de “Born to Be Wild”, dos estadunidenses do Steppenwolf[4], conta a história de Flávio (Oduvaldo Vianna Filho[5]), um desempregado na casa dos trinta anos que foi demitido da casa de boliche na casal trabalhava em decorrência um bando de muleque bêbado que tava zuando o repositor dos pinos. Flávio, segundo seu pai (interpretado por Rafael de Carvalho [1918-1981]), já passou por uns 10, 12 empregos em dois anos o irmão de Flávio (interpretado por José D’Artagnan Mello [1961-2019]).

“Born to Be Wild”, do Steppenwolf

só que, além de Flávio inventar de colocar no currículo que tem experiência em certas áreas e levar lindamente na cara quando é upado pra trabalhar nas mesmas, conhece peças extremamente raras na pelega de arrumar emprego – como (Mário Prieto), seu amigo de infância, e o nipo-brasileiro (Katsuo Kon) – e ainda se mete em situações, no mínimo... posso dizer inusitadas. como encontrar a filha da puta que começou a confusão que desembocou na demissão de Flávio do boliche (Dita Côrte-Real [1936-1974[6]), acompanha de dois amigos (Silvio Froes e Célio de Barros).

ao último lugar que vai, não consegue a vaga [de contínuo[7]], mas conhece Selma (Glauce Rocha [1930-1971][8]), com quem tem um rolo de uma noite antes de voltar pra casa e brigar valendo com o pai na mesa do jantar sobre as velhas discussões de formação, trampo, necessidades e oportunidades. o monólogo de Flávio pode ser considerado desnecessário mas é característico de filmes nacionais do período quanto a(o) protagonista do texto.

ainda que Um Homem Sem Importância me lembre pra caralho em muitas passagens e detalhes a magnus opus musiliana, Um Homem Sem Qualidades, funciona como apresentação do panorama do Brasil não ser a maravilha econômica que pintam sobre a época da ditadura à própria época do filme, e Flávio fazer parte da População Economicamente Ativa – i.e., o percentual populacional a partir de 15 anos de idade inserido no mercado de trabalho ou que, de forma ou outra, está procurando se inserir nele para exercer algum tipo de atividade remunerada (PENA, 2015) – , somando o fato que, às palavras de Tatiana Kolodin Ferrari e Gutemberg Hespanha Brasil (2015),

“Existem três forças que agem sobre o mercado de trabalho determinando a taxa de desemprego: a oferta de trabalho, a demanda por trabalho e os salários. Se os mercados fossem eficientes, essas forças iriam atuar de forma a gerar um estado de equilíbrio, eliminando qualquer disparidade de desemprego entre as regiões no longo prazo. Entretanto, a ação dessas não consegue reduzir completamente as disparidades [...] Na tentativa de explicar as causas dessas diferenças e a persistência entre as taxas de desemprego regionais, surgiram duas abordagens: a de desequilíbrio e a de equilíbrio.” (KOLODIN, BRASIL, 2015:674) 


logo, aplicando estes dois conceitos ao apresentado no Anuário Estatístico do Brasil de 1971 nos tocantes à escolaridade e acesso ao emprego, essas putarias de “todo mundo tinha emprego” e de “todo mundo tinha acesso a emprego” eram isso mesmo: putarias. sendo que, se hoje, 2020, o negócio já é absurdamente díspar a nível socioeconômico no país, pensem como era no ano do Tratado sobre a Proibição da Colocação de Armas Nucleares e Outras Armas de Destruição em Massa no Leito do Mar e no Fundo do Oceano e em seu subsolo. 

o Brasil sempre teve mão-de-obra pra caralho, mas e a qualificação? pra chegar essa qualificação a essa mão-de-obra? como fica essa caralha? pra chegar essa mão-de-obra a essa qualificação? e somem o fato que a industrialização brasileira é uma piada

tem tecnologia de ponta? tem. 

tem ciência de ponta? tem. 

tem produção cientifica de ponta? tem.

todavia, BRASIL NÃO CONSEGUE NEM SER PAÍS DE BASE ECONÔMICA AGRÍCOLA DECENTE QUE DIRÁ DE BASE ECONÔMICA A PARTIR DE INDÚSTRIA.

sabe a Índia? sabe a China? primeiro país tem 1b2mi pessoas e obteve a independência em 1947, segundo tem 1b3mi habitantes quase na virada do século XIX pro XX. e eu preciso dizer no que Brasil perdeu pra Índia e pra China: não que sejam 100% melhores pra viver que o Brasil. todavia, rolou aqui um processo tão fudido de sabotagem e um de autossabotagem que aqui não tem 250mi habitantes e não temos nem uma porra de programa nuclear funcional, que dirá um espacial. isso a ponto de que, se tu considerares Um Homem Sem Importância um retrato social AGRADÁVEL do Brasil da época, tu estás, NO MÍNIMO, assim, NA MELHOR DAS HIPÓTESES, assinando COM SANGUE teu diploma de inexorável e insofismável retardado acerca da história do país.

se o Brasil mudou pra melhor da época de Um Homem Sem Importância pra cá?

se tu acreditas que sim, tenho uma PÉSSIMA notícia pra te dar.






[1] caso haja dúvidas da existência de ditadura militar, dar uma olhada nessa bibliografia aqui rápidão:

1. U.S. Forces Stood Ready to Aid ’64 Brazil Coup, de Lewis H. Diguid, publicado no jornal The Washington Post de 29 setembro 1976;

2. The Situation of Brazil, documento oficial da CIA de 13 de fevereiro de 1969;

3. Documento da CIA relata que cúpula do Governo militar brasileiro autorizou execuções, artigo de Rodolfo Borges publicado no site do ElPais Brasil em 10 de maio de 1968;

4. Documento da CIA sobre execuções “implode” versão oficial da ditadura, (também) de Rodolfo Borges publicado no site do ElPais Brasil em 15 de maio de 1968;

5. Comissão debaterá arquivos da CIA sobre assassinatos durante a ditadura militar, de Carlos Penna Brescianini para a Agência Senado em 23 de maio de 2018;

6. Document No. 12. U.S. Support for the Brazilian Military Coup d’État, 1964;

7. The United States and the 1964 Brazilian Military Coup, de Matias Spektor para o The Oxford Research Encyclopedia of Latin American History, de 2016;

8. Memorandum From Director of Central Intelligence Colby to Secretary of State Kissinger, de William Egan “Bill” Colby (1920-1996), diretor da CIA de 1973 a 1976.

[2] eu comento esse filme nesse post aqui.

[3] Espanha também ‘tava no caralho em decorrência da ditadura militar capitaneada pelo militar Francisco Franco Bahamonde (1892-1975) a partir do golpe executado em 1939 pela coalização Nacionales – triunfante da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) – e terminada no ano da morte do “Generalíssimo” Franco.

[4] escrita pelo guitarrista Mars Bonfire (pseudônimo de Dennis Eugene McCrohan) para o álbum Steppenwolf, primeiro da banda, lançado em 1968.

[5] (1936-1974), também diretor, cineasta e dramaturgo.

[6] ela atuou também no filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1976, escrito e dirigido por Bruno Barreto, sobre a obra homônima do escritor Jorge Leal Amado de Faria (1912-2001), publicada em 1966.

[7] servente, pessoa que trabalha em serviços gerais.

[8] este foi seu último papel.mas antes participou de nada mais que Rio, 40 graus, de 1955, dirigido por Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), escrito por ele e Arnaldo de Farias; Os Cafajestes, de 1962, dirigido por Ruy [Alexandre] Guerra [Coelho Pereira] e escrito por ele e Miguel Torres; e os metafodônicos e caralhalmente obrigatórios Terra em Transe, de 1967, escrito e dirigido por Glauber [de Andrade] Rocha (1939-1981); e A Navalha na Carne, de 1969, dirigido por Braz Chediak e escrito por ele + Fernando Ferreira, Emiliano Queitroz e Plínio Marcos, com base na peça homônima escrita por esse último.






R E F E R Ê N C I A S C O N S U L T A D A S

________. Document No. 12. U.S. Support for the Brazilian Military Coup d’État, 1964. Disponível em <https://global.oup.com/us/companion.websites/9780195375701/pdf/SPD12_US_Support_Brazil_Coup.pdf>.

BRASIL. Anuário Estatístico do Brasil – 1971. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ministério de Planejamento e Coordenação Geral. Disponível em <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/20/aeb_1971.pdf>

DIGUID, Lewis H. U.S. Forces Stood Ready to Aid ’64 Brazil Coup. The Washington Post, 29 setembro 1976. Disponivel em <https://www.cia.gov/library/readingroom/docs/CIA-RDP91-00901R000700060125-0.pdf>.

BORGES, Rodolfo. Documento da CIA relata que cúpula do Governo militar brasileiro autorizou execuções. ElPais Brasil, 10 de maio de 2018. Disponivel em <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/10/politica/1525976675_975787.html>.

BORGES, Rodolfo. Documento da CIA sobre execuções “implode” versão oficial da ditadura. ElPais Brasil, 15 de maio de 2018. Disponível em <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/11/politica/1526053261_197839.html>.

BRESCIANINI, Carlos Penna. Comissão debaterá arquivos da CIA sobre assassinatos durante a ditadura militar. Agência Senado, 23 de maio de 2018. Disponivel em <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/05/23/comissao-debatera-arquivos-da-cia-sobre-assassinatos-durante-a-ditadura-militar>.

COLBY, William Egan. 99. Memorandum From Director of Central Intelligence Colby to Secretary of State Kissinger. Central Intelligence Agency, Office of the Director of Central Intelligence, Job 80M01048A: Subject Files, Box 1, Folder 29: B–10: Brazil. Secret. Washington, 11 de abril de 1974. Disponível em <https://history.state.gov/historicaldocuments/frus1969-76ve11p2/d99>. 

ESTADOS UNIDOS. The Situation of Brazil. Central Intelligence of America, 13 de fevereiro de 1969. Disponível em <https://www.cia.gov/library/readingroom/docs/CIA-RDP91-00901R000700060125-0.pdf>.

ESTADOS UNIDOS. Telegram. Department of State, julho de 1972. Disponível em <http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/images/pdf/docs/Doc16_53384-6-006.pdf>.

FERRARI, Tatiana Kolodin; BRASIL, Gutemberg Hespanha . Comportamento do desemprego regional no Brasil: uma aplicação de teste de convergência em painel. Nova Economia (UFMG. Impresso), v. 25, p. 673-688, 2015. Disponível em <https://www.scielo.br/pdf/neco/v25n3/1980-5381-neco-25-03-00673.pdf>.

PENA, Rodolfo Ferreira Alves. População Economicamente Ativa – PEA. Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/populacao-economicamente-ativa-pea.htm>.

SPEKTOR, Matias. The United States and the 1964 Brazilian Military Coup. IN: The Oxford Research Encyclopedia of Latin American History. Estados Unidos: Oxford University Press, 2016. Disponivel em <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4307854/mod_resource/content/1/Spektor%20US%20Military%20Coup%20in%20Brazil.pdf>. 











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