ouvindo: Midnight In The Garden Of Good And Evil (Music From And Inspired By The Motion Picture), de 1997
post de ontem falei que ia falar de filme pra mó de desocupar o estômago do meu HD. hoje vamos dar prosseguimento.
CENA UM
Douglas “Doug” Murray, veterano da guerra do Vietnã, idealizou e escreveu a HQ The ‘Nam para a Marvel Comics entre dezembro de 1986 e setembro de 1993. este título foi publicado no Brasil pela editora Abril Jovem sob o título O Conflito do Vietnã[1].e cada volume tinha três histórias. e, no volume 8 da mesma, publicado originalmente em julho de 1986 – e, no Brasil, em abril de 1989 –, tinha a história Rato do Túnel, desenhada por Michael Golden. já na história anterior, No Subterrâneo[2], nós é apresentado o sargento Frank Verzyl, que trampara como “rato de túnel”.
“que porra é um ‘rato de túnel’?”
os vietcongues faziam muitos tuneis subterrâneos, que utilizavam para transporte de tropas e suprimentos e as tropas estadunidenses tinham “corajosos” (que o resto da tropa considerava como completamente malucos) que adentravam este buracos para limpá-los e, assim, garantir a segurança dos ianques. e o Verzyl, em uma operação de rotina, cai numa armadilha deixada pelos vietcongues: uma dispensa LOTADA de RATOS famintos. o cara surta violentamente com a situação, desembesta de lá hellucinado mete dois balaços no sargento de primeira classe que o ordena voltar lá e é levado amarrado em um avião para ser julgado pela corte marcial do exército estadunidense. sim, completamente louco.
CENA DOIS
2007. junho de 2007. como eu disse por aqui, eu ‘tava em Parauapebas trabalhando pra uma empreiteira terceirizada da Vale. ai conseguir ter a oportunidade de ver/visitar umas minas de extração de minérios e conheci uns malucos que explosivos nos fundos das minas pra poder escavar mais ainda e tirar mais porra de minérios. ‘tava escrito nas testas desses caralhos “COMPLETAMENTE PIRADO PRA CARALHO”, o que não era de se admirar, considerando o trabalho, visto que passavam até mesmo uma FUCKING SEMANA INTEIRA no subsolo metendo explosivos pra deixar buracos absurdamente assustadores na pele de Gaia cada vez mais absurdamente assustadores. não suficiente, tinha doido que morava dentro do buraco ou mesmo nos caminhos dos caminhões pra pegar minério e mais absurdamente assustador era que OS CARAS CONSEGUIAM LEVAR MULHER PRA LÁ. era dos assuntos que todo mundo, TODO MUNDO, sabia mas ninguém comentava por motivos óbvios.
e, sim, a essa época, eu já tinha lido Conflito do Vietnã.
ai por que as duas “cenas”? pra falar de Lunar, filme de 2009, primeiro filme de Duncan Jones (que dirigiu o nada menos que MAGNÍFICO Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos, de 2016), que o escreveu em conjunto com o Nathan Parker, primeiro filme escrito por ele. tudo pra dar errado, né?
tal qual Operação Avalanche – que também vou comentar aqui –, descobri Lunar em uma lista de melhores filmes de ficção científica espacial quando deveria estar escrevendo artigo pra disciplina do mestrado. fiquei interessado pela premissa e “foda-se, vou baixar pra ver?”.
Lunar é uma ficção científica onde Sam ring my Bell (Sam Rockwell[3]), funcionário da transnacional que nomeia o filme[4] e que extrai minérios do satélite natural da Terra, visto que os daqui da Terrinha praticamente estão levando o caralho, uma parada praticamente totalmente automatizada. mas ai que tem ter um fuckin humano na jogada, não? sim, justamente nosso abiguinhu Sam Bell é o escolhido pra ser colocado n’olho do furacão. para lhe fazer “companhia”, há o autômato Gerty, que mais serve como babá do que qualquer outra coisa ou uma companhia propriamente dita.
quando eu vi o nome do Kevin Spacey[5] nos créditos do filme, me perguntei onde porra ‘tava a porra do Roger Kint no filme. é não é que o Kint ‘tá dublando a porra do Gerty coisa de loco HAHAHAHA[6]
são noventa minutos de filme onde a fotografia, cenografia e figurino são limpos a ponto de irritar e se tu não gostas de filme lento, NÃO ASSISTA LUNAR. são noventa minutos de filme que o tempo parece não passar e a trilha sonora não melhora as coisas, ainda mais se fores hiperativo e seres fuckin ansioso[7]. “ain, Quilômetros, mas tem filme mais lento e angustiante que Lunar?” tem o austro-alemão A Fita Branca, escrito e dirigido por Michael Haneke[8], do mesmo ano que Lunar, inclusive[9]. se fores hiperativo e seres fuckin ansioso, NÃO ASSISTA A FITA BRANCA.
então que, se conseguires passar da primeira meia hora de filme, verás que o Bell começa a ter a impressão de que não está sozinho lá, de que há outra pessoa lá com ele e isso também angustia pra caralho (ess)a situação. é o pior que não é coisa da cabeça dele, tem outra pessoa lá com ele mesmo. É OUTRO SAM BELL que TAMBÉM ACREDITAVA ESTAR SOZINHO NA ESTAÇÃO. sim, é NESSE momento que teu cérebro explode com a situação, ainda mais que nenhum dos dois está louco (só paranoico mesmo, que já é um pé pra ficar loco oco oco) e descobrem que “Sam Bell” é um nome genérico pra um clone que trabalha na estação há tanto tempo que não questiona seu trabalho e quando vai voltar pra Terra, porque sabe que vai voltar. não sabe quando, mas vai.
visto que tem uma cauraulhada de clones armazenados em uma parte isolada da estação para atenderem à Moon até quando tiver matéria-prima pra ser lavrada e que sua “vida ‘terrestre’” não passa de uma mentira caralhesca, Sam decide fazer o impensável: ir à Terra confrontar os chefes da Moon.
e então que agora perguntar-se-ás que porra tem a ver o filme com as duas histórias que contei no começo do post. a narrativa per specificare do Murray é pra mostrar como o cara pode ser/ficar completamente pinel se trabalhar sob condições escabrosas de trabalho (isso se já não for antes de exercer a atividade[10] em questão). e que o caso da mineração predatória[11] vem ferrando o mundo lindamente, a ponto de já ter n ideias e tecnologias de lavrar aerolitos meteoros[12] e até mesmo outros planetas tem outros filmes e obras que tratam disso. todavia, Lunar é do caralho justamente por pegar esses dois tempos, do quanto o cara fica fudido alienado do trabalho em decorrência das condições escrotas do mesmo (mesmo que não pareçam escrotas) e do quão precisamos rever urgentemente nossas politicas energéticas e consumistas, visto que são diretamente proporcionais e interligadas e isso afeta diretamente o sistema ecológico planetário e como nele estamos inseridos. fora que também há a crítica do quão somos substituíveis no mercado do trabalho e quem controla o jogo de fato está pouco se fudendo pra mão-de-obra, isso inclusive a nível de saúde mental. TALVEZ PRINCIPALMENTE a nível de saúde mental, vai saber. o caso de “dependendo de sua origem, você não é um, e sim mais um”. e, somadas as outras discussões que apresentei aqui, faça Lunar ser relevante.
assista Lunar.
[1] infelizmente nem todos os volumes foram publicados por aqui, o que já era meio que costume das editoras nacionais no período.
[2] nome do volume em questão, a propósito.
[3] vencedor do Oscar de ator coadjuvante por Três Anúncios Para Um Crime, de 2017, escrito, produzido e dirigido por Martin McDonagh (vencedor do Oscar de curta-metragem em 2005 por Six Shooter). pelo mesmo filme, Frances McDormand recebeu sua segunda estatueta na premiação, sendo a primeira por Fargo, de 1997, dos irmãos Coen.
[4] no original, Moon.
[5] se tu pensas que vou dizer quem é o Kevin Spacey aqui, certamente tu comeste merda.
[6] não tanto se considerar que ele já tinha trampado n’animação Vida de Inseto, de 1998, dirigido por John Lasseter e escrito por Andrew Stanton, Donald McEnery e Bob Shaw.
[7] tal qual este que vos fala.
[8] ele dirigiu e escreveu Amor, vencedor do Oscar de filme estrangeiro de 2013. mas podem ter certeza que não vou me dar o trabalho, nem que seja mínimo, de procurar pra ver.
[9] ver notas 1 e 7 da postagem anterior.
[10] A Atividade é uma HQ da Image muito foda, recomendo.
[11] ‘tá, sim, eu sei que não existe mineração NÃO-predatória, vocês entenderam.
[12] a HQ Pariah, comentada nesse post aqui, tem uma passagem que trata exatamente disso.
BIS
ZU
DEM
BREAKING
FUCKING
NEUEN
POST
!!!