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YEAH, HOUSTON, WIR HABEN BÜCHER!

e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

LUNAR - análise e crítica do filme

ouvindo: Midnight In The Garden Of Good And Evil (Music From And Inspired By The Motion Picture), de 1997

post de ontem falei que ia falar de filme pra mó de desocupar o estômago do meu HD. hoje vamos dar prosseguimento. 

CENA UM 
Douglas “Doug” Murray, veterano da guerra do Vietnã, idealizou e escreveu a HQ The ‘Nam para a Marvel Comics entre dezembro de 1986 e setembro de 1993. este título foi publicado no Brasil pela editora Abril Jovem sob o título O Conflito do Vietnã[1].e cada volume tinha três histórias. e, no volume 8 da mesma, publicado originalmente em julho de 1986 – e, no Brasil, em abril de 1989 –, tinha a história Rato do Túnel, desenhada por Michael Golden. já na história anterior, No Subterrâneo[2], nós é apresentado o sargento Frank Verzyl, que trampara como “rato de túnel”.
“que porra é um ‘rato de túnel’?”
os vietcongues faziam muitos tuneis subterrâneos, que utilizavam para transporte de tropas e suprimentos e as tropas estadunidenses tinham “corajosos” (que o resto da tropa considerava como completamente malucos) que adentravam este buracos para limpá-los e, assim, garantir a segurança dos ianques. e o Verzyl, em uma operação de rotina, cai numa armadilha deixada pelos vietcongues: uma dispensa LOTADA de RATOS famintos. o cara surta violentamente com a situação, desembesta de lá hellucinado mete dois balaços no sargento de primeira classe que o ordena voltar lá e é levado amarrado em um avião para ser julgado pela corte marcial do exército estadunidense. sim, completamente louco.

CENA DOIS 
2007. junho de 2007. como eu disse por aqui, eu ‘tava em Parauapebas trabalhando pra uma empreiteira terceirizada da Vale. ai conseguir ter a oportunidade de ver/visitar umas minas de extração de minérios e conheci uns malucos que explosivos nos fundos das minas pra poder escavar mais ainda e tirar mais porra de minérios. ‘tava escrito nas testas desses caralhos “COMPLETAMENTE PIRADO PRA CARALHO”, o que não era de se admirar, considerando o trabalho, visto que passavam até mesmo uma FUCKING SEMANA INTEIRA no subsolo metendo explosivos pra deixar buracos absurdamente assustadores na pele de Gaia cada vez mais absurdamente assustadores. não suficiente, tinha doido que morava dentro do buraco ou mesmo nos caminhos dos caminhões pra pegar minério e mais absurdamente assustador era que OS CARAS CONSEGUIAM LEVAR MULHER PRA LÁ. era dos assuntos que todo mundo, TODO MUNDO, sabia mas ninguém comentava por motivos óbvios.
e, sim, a essa época, eu já tinha lido Conflito do Vietnã.

ai por que as duas “cenas”?  pra falar de Lunar, filme de 2009, primeiro filme de Duncan Jones (que dirigiu o nada menos que MAGNÍFICO Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos, de 2016), que o escreveu em conjunto com o Nathan Parker, primeiro filme escrito por ele. tudo pra dar errado, né?
NÃO MESMO 
tal qual Operação Avalanche – que também vou comentar aqui –, descobri Lunar em uma lista de melhores filmes de ficção científica espacial quando deveria estar escrevendo artigo pra disciplina do mestrado. fiquei interessado pela premissa e “foda-se, vou baixar pra ver?”.
Operação Avalanche
, de 2016, escrito e dirigido por Matt Johnson

Lunar é uma ficção científica onde Sam ring my Bell (Sam Rockwell[3]), funcionário da transnacional que nomeia o filme[4] e que extrai minérios do satélite natural da Terra, visto que os daqui da Terrinha praticamente estão levando o caralho, uma parada praticamente totalmente automatizada. mas ai que tem ter um fuckin humano na jogada, não? sim, justamente nosso abiguinhu Sam Bell é o escolhido pra ser colocado n’olho do furacão. para lhe fazer “companhia”, há o autômato Gerty, que mais serve como babá do que qualquer outra coisa ou uma companhia propriamente dita. 
quando eu vi o nome do Kevin Spacey[5] nos créditos do filme, me perguntei onde porra ‘tava a porra do Roger Kint no filme. é não é que o Kint ‘tá dublando a porra do Gerty coisa de loco HAHAHAHA[6]
são noventa minutos de filme onde a fotografia, cenografia e figurino são limpos a ponto de irritar e se tu não gostas de filme lento, NÃO ASSISTA LUNAR. são noventa minutos de filme que o tempo parece não passar e a trilha sonora não melhora as coisas, ainda mais se fores hiperativo e seres fuckin ansioso[7]. “ain, Quilômetros, mas tem filme mais lento e angustiante que Lunar?” tem o austro-alemão A Fita Branca, escrito e dirigido por Michael Haneke[8], do mesmo ano que Lunar, inclusive[9]. se fores hiperativo e seres fuckin ansioso, NÃO ASSISTA A FITA BRANCA.
então que, se conseguires passar da primeira meia hora de filme, verás que o Bell começa a ter a impressão de que não está sozinho lá, de que há outra pessoa lá com ele e isso também angustia pra caralho (ess)a situação. é o pior que não é coisa da cabeça dele, tem outra pessoa lá com ele mesmo. É OUTRO SAM BELL que TAMBÉM ACREDITAVA ESTAR SOZINHO NA ESTAÇÃO. sim, é NESSE momento que teu cérebro explode com a situação, ainda mais que nenhum dos dois está louco (só paranoico mesmo, que já é um pé pra ficar loco oco oco) e descobrem que “Sam Bell” é um nome genérico pra um clone que trabalha na estação há tanto tempo que não questiona seu trabalho e quando vai voltar pra Terra, porque sabe que vai voltar. não sabe quando, mas vai.
visto que tem uma cauraulhada de clones armazenados em uma parte isolada da estação para atenderem à Moon até quando tiver matéria-prima pra ser lavrada e que sua “vida ‘terrestre’” não passa de uma mentira caralhesca, Sam decide fazer o impensável: ir à Terra confrontar os chefes da Moon.

e então que agora perguntar-se-ás que porra tem a ver o filme com as duas histórias que contei no começo do post. a narrativa per specificare do Murray é pra mostrar como o cara pode ser/ficar completamente pinel se trabalhar sob condições escabrosas de trabalho (isso se já não for antes de exercer a atividade[10] em questão). e que o caso da mineração predatória[11] vem ferrando o mundo lindamente, a ponto de já ter n ideias e tecnologias de lavrar aerolitos meteoros[12] e até mesmo outros planetas tem outros filmes e obras que tratam disso. todavia, Lunar é do caralho justamente por pegar esses dois tempos, do quanto o cara fica fudido alienado do trabalho em decorrência das condições escrotas do mesmo (mesmo que não pareçam escrotas) e do quão precisamos rever urgentemente nossas politicas energéticas e consumistas, visto que são diretamente proporcionais e interligadas e isso afeta diretamente o sistema ecológico planetário e como nele estamos inseridos. fora que também há a crítica do quão somos substituíveis no mercado do trabalho e quem controla o jogo de fato está pouco se fudendo pra mão-de-obra, isso inclusive a nível de saúde mental. TALVEZ PRINCIPALMENTE a nível de saúde mental, vai saber. o caso de “dependendo de sua origem, você não é um, e sim mais um. e, somadas as outras discussões que apresentei aqui, faça Lunar ser relevante.
assista Lunar.





[1] infelizmente nem todos os volumes foram publicados por aqui, o que já era meio que costume das editoras nacionais no período.
[2] nome do volume em questão, a propósito. 
[3] vencedor do Oscar de ator coadjuvante por Três Anúncios Para Um Crime, de 2017, escrito, produzido e dirigido por Martin McDonagh (vencedor do Oscar de curta-metragem em 2005 por Six Shooter). pelo mesmo filme, Frances McDormand recebeu sua segunda estatueta na premiação, sendo a primeira por Fargo, de 1997, dos irmãos Coen.  
[4] no original, Moon.
[5] se tu pensas que vou dizer quem é o Kevin Spacey aqui, certamente tu comeste merda.
[6] não tanto se considerar que ele já tinha trampado n’animação Vida de Inseto, de 1998, dirigido por John Lasseter e escrito por Andrew Stanton, Donald McEnery e Bob Shaw.
[7] tal qual este que vos fala.
[8] ele dirigiu e escreveu Amor, vencedor do Oscar de filme estrangeiro de 2013. mas podem ter certeza que não vou me dar o trabalho, nem que seja mínimo, de procurar pra ver. 
[9] ver notas 1 e 7 da postagem anterior.
[10] A Atividade é uma HQ da Image muito foda, recomendo.
[11] ‘tá, sim, eu sei que não existe mineração NÃO-predatória, vocês entenderam.
[12] a HQ Pariah, comentada nesse post aqui, tem uma passagem que trata exatamente disso.










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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

AMIZADE DESFEITA - análise e crítica do filme

ouvindo: Anti-Nowhere League, We Are…The League, de 1982

como atualmente tenho menos espaço na partição C: do HD que memória RAM e tenho uma pasta de quase 26 Gb de filme guardado na partição D: do mesmo armazenador a fins de só pra comentar aqui e depois deletar, esse resto de mês e parte de novembro vou fazer uma maratona de “análises e críticas de filmes” pra ir liberando espaço no D: e mandando coisa do C: pra lá. e vamos começar com um dos filmes mais locos que vi em 2018, chamado Amizade Desfeita, do ano de 2014. 
Amizade Desfeita
, de 2014, dirigido por Levan “Leo” Gabriadze e escrito por Nelson Greaves
Amizade Desfeita é uma produção russo-estadunidense dirigida por russo Levan “Leo” Gabriadze e escrito por Nelson Greaves (24 Horas: O Legado), que também produz o filme, em conjunto com Timur Bekmambetov (O Procurado, Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, Guardiões da Noite, Guardiões do Dia)[1] e Jason Blum (Whiplash, Corra!, Atividade Paranormal), para a estadunidense Blumhouse Productions e para a russa Bazelevs Films, sendo que foi distribuído internacionalmente pela Universal. 
assistindo Amizade Desfeita dá pra entender porque, mesmo custando “só” um milhão de doletas, arrecadou cerca de 64k5 doletas no mundo todo – ou seja, mais do que se pagando, visto que um filme deve render, no mínimo, o triplo do seu valor total de custo para ser considerado. e Amizade Desfeita quebrou a banca, tal qual A Bruxa de Blair da vida, o primeiro. tal qual A Bruxa de Blair, Amizade Desfeita também tem continuação
Amizade Desfeita 2: Dark Web
, de 2018, escrito e dirigido por Stephen Susco
A Bruxa de Blair
, de 1999, escrito e dirigido por Daniel Myrick e Eduardo Sánchez
e olha que o primeiro A Bruxa de Blair mergulhou num mar de tubarões que foi o ano de 1999. só pra lembrar rapidinho o que foi 1999[2] no cinema pra quem esteve lá e pra apresentar pra quem não esteve:
Matrix, escrito e dirigido por Lana Wachowski e Lilly Wachowski
South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes, dirigido por Trey Parker e escrito por ele, em conjunto com Matt Stone e Pam Brady
O Gigante de Ferro, dirigido por Phillip Bradley Brad Bird[3] e escrito por Tim McCanlies, sobre o romance The Iron Man: A Children's Story in Five Nights, de 1968, do escritor inglês Edward James Ted Hughes (1930-1998)[4]
Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma, escrito e dirigido por George Lucas
13º Guerreiro, dirigido por John SE NÃO CONHECE ELE, RAPA DAQUI AGORA McTiernan e escrito por William Wisher, Jr. e Warren Lewis, sobre o romance Comedores de Mortos, de 1976, do estadunidense Michael Crichton (1942-2008)
10 Coisas que Eu Odeio em Você, dirigido por Gil Junger e escrito por Karen McCullah Lutz e Kirsten Smith
O Homem Bicentenário, dirigido por Chris Columbus[5] e escrito por Nicholas Kazan, sobre o conto homônimo, de 1976, e do romance O Homem Positrônico, de 1993, ambos do escritor e cientista russo-estadunidense Isaac Asimov (1920-1992)
Quero Ser John Malkovich, dirigido por Spike Jonze e escrito por Charlie Kaufman
O Sexto Sentido, escrito e dirigido pelo M. Night Shyamalan
Godzilla 2000, dirigido por Takao Okawara e escrito por Hiroshi Kashiwabara e Wataru Mimura
À Espera de um Milagre, escrito e dirigido pelo Frank Darabont, sobre o livro homônimo do Stephen King
Clube da Luta, dirigido por David Fincher e escrito por Jim Uhls, sobre o livro homônimo de Chuck Palahniuk
A Múmia, escrito e dirigido por Stephen Sommers
Detroit Rock City, dirigido por Adam Rifkin e escrito por Carl V. Dupré
American Pie - A Primeira Vez é Inesquecível, dirigido por Paul e Chris Weitz, escrito por Adam Herz
Buena Vista Social Club, escrito e dirigido por Wim Wenders
Beleza Americana, dirigido por Sam Mendes e escrito por Alan Ball

voltando à Amizade Desfeita. é preciso situar que o filme fez esse sucesso ABruxadeBlairiano em decorrência de sua história, visto que o filme é praticamente “passado” na internet e 2014. a tríade não, não a do WoD Facebook-Twitter-Instagram ‘tava cuns caralhos e o WhatsApp também ‘tava com tudo e tinha acabado de chegar ao Brasil com a nova tecnologia de telefonia celular não lembro qual era e não vou pesquisar, foda-se. e tinha o Skype[6] também, né? tem que falar do Skype, porque ele é a ambientação principal da narrativa aqui comentada. 
após alguém não identificado upar na internet um vídeo da estudante secundarista Laura Barns (Heather Sossaman) mutcho mutcho loca em uma festa, desmaiada e se cagando. como se as coisas não pudessem piorar – mas elas sempre pioram –, o vídeo viraliza e ela passa a ser motivo de chacota da escola. não aguentando a pressão, Laura mete uma bala na cabeça.
EXATAMENTE UM ANO APÓS O SUICÍDIO DE LAURA, estão em uma conferência de Skype Blaire Lily (Shelley Hennig) – a então “melhor amiga de infância” de Laura –, Mitch (Moses Storm) – namorado de Lily –, Jess (Renee Olstead), Ken Masters (Jacob Wysocki), Adam Warlock (Will Peltz) e um usuário desconhecido conhecido como “billie227”. toda vez eles querem se livrar do “indesejado” mas sempre sem sucesso, até Blaire conferir a quem pertence à conta – para surpresa geral, a conta era de Laura. após situações meio que absurdas e ser revelado que cada um dos participantes tem algum tipo de vínculo com Laura, todos passam a ser mortos – acredita-se que por seu espírito, que viera para dar aquela forra do povo que fez bullying dela. eu, particularmente, acredito que é a Laura mesmo que veio tocar o foda-se no negócio.
‘TÁ CERTO 
eu vejo Amizade Desfeita sob três perspectivas. a primeira é quanto ao fenômeno social bullying. “ain, se ela não tivesse bebido tanto, isso não teria acontecido”. FODA-SE, MEU IRMÃO, a mina chapou? chapou. mas não era nada pra filmar e muito menos upar na rede. a regra é clara: ACONTECEU NA FESTA, FICA NA FESTA. eu já sofri bullying pra caralho, eu já fiz bullying pra caralho, ninguém precisa me dizer o quanto o ensino médio é escroto quanto a isso. não conheci ninguém que se matou em decorrência de bullying, mas conhecer gente que conheceu não melhora as coisas. dizem que o Brasil tem potencial pra ser um EUA da vida ia ser legal pela expectativa de vida, não pelas taxas de suicídio entre jovens, que é praticamente o dobro do Brasil e, consequentemente, maior que qualquer outro país do G8 e da própria América Latina.
a minha segunda perspectiva quant’à obra remete e ainda’bre um link a terceira perspectiva. em algum dos seus vídeos do seu canal do YouTube o filósofo brasileiro Henry Alfred Bugalho disse que obras artísticas são necessariamente obras de seus tempos, produzidas sob problemas dos tempos, visando tratar com pessoas de seus tempos, podendo ou não utilizar ferramentas e metodologias de produção dos tempos nos quais foram produzidas. Amizade Desfeita é uma obra do nosso tempo falando pra gente do nosso tempo de problemas do nosso tempo, se valendo da atemporal roda de amigos pra falar merdas sobre tudo e principalmente sobre o que todo mundo fala quando ninguém está escutando – neste caso, Laura – e se valendo de duas ferramentas de nosso tempo. como dito, o Skype. como dito, a internet.
a minha terceira perspectiva parte do como Skype ambientação principal da narrativa um dos filmes mais icônicos do Alfred Hitcock é Festim Diabólico, de 1948, que, em suma, se passa em somente um cenário.
Festim Diabólico
, dirigido por Alfred Hitcock (1899-1980) e escrito por Arthur Laurents (1917-2011), sobre a obra Rope’s End, de 1929, do teatrólogo e escritor britânico Anthony Walter Patrick Hamilton (1904-1962)

Amizade Desfeita se passa em um cenário particionado em cenários, em cenários que fabricam um cenário. não é integralmente em plano sequência como o texto hitcockiano, óbvio, além de não ter um trabalho de fotografia e iluminação, sendo esta última a das câmeras dos notebooks e dos lugares pelos quais os personagens e coadjuvantes transitam, dando um senhor ar de credibilidade ao que o Greaves e o Gabriadze, creio, devem ter proposto ao desenvolver a obra. esta, inclusive[7], também não tem trilha sonora, sendo todo o som ambiente – tal qual o primeiro parâmetro (A Bruxa de Blair) –, que deve ter facilitado pra caralho a vida do pessoal da mixagem de som e da edição de som, por não terem tanto som pra trabalhar em cima.
a edição é um caso à parte justamente pelo caso do “cenário particionado em cenários, cenários fabricando um cenário”, é um jogo muito interessante de se acompanhar, tem umas jogadas de câmera muito boa, que o som vai acompanhando tudo e parece que estamos na conversa devido à limpeza de som enviado e recebido. essa limpeza de som também chega a incomodar quando rolam os gritos e chiados e barulhos intensos. não duvido que tenha sido verdadeiramente intencional. e deu muito certo.
meu problema com Amizade Desfeita é: ser muito longo. fosse uma hora, NO MÁXIMO, ‘tava de excelente duração. ESTOURANDO, uns setenta minutos. ‘tá. sim. tem o caso da exigência do cinema de ter cerca de uma hora e meia, no mínimo. mas, pra mim, não funcionou com todo esse tempo, ficou cansativo, a ideia meio que se perdeu. eu não sei se o Levan Gabriadze e o Nelson Greaves tinham a pretensão de “revolucionar” o cinema de horror e o caralho. mas certamente eles deram uma senhora contribuição inquestionável ao gênero com o texto. este tem os poréns de comparação com Festim Diabólico? tem, mas tem seus méritos próprios que cobrem estes poréns. Amizade Desfeita tem os poréns de comparação com A Bruxa de Blair? tem, mas tem seus méritos próprios que cobrem estes poréns, ainda mais tendo em vista a diferença de propósitos e qualidade do refinamento dos produtos finais. mesmo porque comparar a qualidade de vídeo de uma câmera de mão da primeira metade da década de 1990 com uma câmera de notebook da primeira metade da década de 2010 é justo pra caralho, né? (dependendo do notebook, a qualidade de vídeo da câmera é a mesma de uma câmera de mão da primeira metade da década de 1990 mesmo).
no mais, creio que um texto realmente aproximado a poder comparar Amizade Desfeita é o Pulse/Kairos, mas isso vou tratar em outro post[8], inclusive[9].
Kairo
, de 2001, dirigido e escrito por Kiyoshi Kurosawa
Pulse
, de 2006, dirigido por Jim Sonzero e escrito por Wes Craven e Ray Wright, com base em [ver filme abaixo]

e, oh, no decorrer do filme, se acaba-se descobrindo quem upou o vídeo da Laura.

assista Amizade Desfeita.





[1] ele também produziu o Ben-Hur de 2016, mas se faça o favor de ignorar sua existência.
[2] sim, agora tu cantas a música homônima do Capital Inicial.
[3] eu falo de uma das primeiras animações que o Brad Bird trabalha, The Plague Dogs, nesse post aqui
[4] eu apresentei um trabalho sobre esse longa na época da minha graduação, falo dele AQUI! 
[5] vale o mesmo comentário do John McTiernan.
[6] dispensa apresentações.
[7] caralho que “inclusive” se tornou meu novo marcador linguístico HAHAHAHAHA.
[8] ‘tá quase pronto até, só falta ajeitar um detalhe aqui e ali e subir.
[9] olha ai de novo o marcador.










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sábado, 17 de outubro de 2020

DEAD FISH – LADO BETS – 2020 – O CENTÉSIMO POST DO ANO

ouvindo: X, Under the Big Black Sun, de 1982

centésimo post do ano, né?
os últimos anos que rolaram mais de cem posts foram 2016 e 2011, respectivamente. quase períodos olímpicos, né? RÁ RÁ RÁ era pra centésima postagem ter rolado em julho se eu não fosse tão procrastinador quanto ao blog, mas foda-se, ele não é mais tão prioridade, visto que já rolou até canal do YouTube (toda vez é pra eu tirar essa porra do ar mas sempre esqueço porque considero aqui mais versátil de trabalhar e sou um bosta pra editar vídeo e porque escrevo melhor do que falo). eu poderia, inclusive, falar de qualquer outro assunto – tem duas HQs e um filme na fita pra comentar, inclusive –, mas como descobri que o DF lançou um álbum de “inéditas” chamado Lado Bets, aind’ess’emestre, fiquei “foda-se, warum fuckin nicht? vamos lá”. vamos lá? vamos lá.
DEAD FISH
LADO BETS
2020
DÉCIMO ANDAR
:: de uma programa de vinhetas da MTV Brasil de 2005 ::<
Vislumbrar um caos
Tão ordenados aqui
Janelas acesas e postes de alguém, não sentir
Saudades da onde vier
Outro episodio sobre essa vida real
Que não vai cristalizar
Não se pode valorar em uma figura para trace-consumir(trace consumirrrrr)
Sem esperar
As ruas da cidade
Hoje não vai chover
Hoje não vai chover
Fogo a ultrapassar, paciência esperar
Chegarem.

ROUBANDO COMIDA
>:: bonus track do álbum Vitória, de 2015 ::<
Ele é limpinho
Toma banho e penteia o cabelinho
Faz a barba e toma iogurte
Paga seus impostos em dia
Fala baixo e respeita o vizinho
Respeita a polícia militar
Diz trabalhar feito um camelo e odiar os nordestinos

Nada melhor!
Um cidadão de bem!
Entende seus direitos!
Pensando mais além!

Sempre pronto pra dar um conselho
Vê um bom sujeito no espelho
Se relaciona com as pessoas certas
Sempre, as mais espertas

Se diverte na festa
Murcha uma de testa
Acredita em violar
o estado sempre em seu proveito
Acredita na família e na igreja
Uma cidade limpa é o que deseja
Sem crianças pretas na sarjeta
Apóia grupos de extermínio

Nada melhor!
Um cidadão de bem!
Entende seus direitos!
Pensando mais além!

Mas o salário não dava
Vivia além do que podia
Comprando tudo o que via veio a carestia
Achava entender economia
A dívida crescendo e a insatisfação
Um homem bom com crédito
foi preso roubando comida

Nada melhor! (Roubando comida)
Um cidadão de bem! (Roubando comida)
Entende seus direitos! (Roubando comida)
Pensando mais além!

DÊEM NOMES AOS BOIS
>:: presente no EP Dead Fish e Zander - Split Vinil 7”, de 2013 ::<
O que é mais conveniente, que amnésia coletiva?
Não saber porque se morre, nem porque se mata

Não queremos esquecer, se não há lembrança
Existe um sentimento de algo injusto no ar
O argumento não convence
mostrem suas mãos sujas de sangue
O que não vem ao caso

Esconder, perpetuar!

Temos o direito à verdade
Pingos nos i's, um passo à frente
Deem nome aos bois
Ordem e progresso por memória

Ampla e restrita para quem?
Para velhos em seus pijamas
E suas gordas pensões
Onde fica o desespero
De quem ainda procura
Abra os seus arquivos
Covardes militares!
Assassinos, coronéis!

Temos o direito à verdade
Pingos nos i's, um passo à frente
Deem nome aos bois
Reconstruir nossa memória

Reconstruir, nossa memória
Reconstruir, nossa memória!

O OUTRO DO OUTRO
>:: bonus track do álbum Ponto Cego, de 2019 ::<
Sem janelas, só espelhos
A boa vida no apertamento
Proteção que aliena a quem convém

Sufocando em segurança
Retorcendo e distorcendo a razão
Interesses que não servem mais ninguém

Cresce o muro, cresce a grade
Cresce o ego, insustentavelmente
Cresce o medo, o ódio e o desdém

Ganhar mudando as leis
Viver sem competir
Desaprender a enxergar e a sentir

O ponto cego desumaniza o outro
Nega e anula o outro, e o outro
Do outro, do outro

Amor devido é amor não pago
Dentro de uma escala de valor
A prudência que é capaz de anular

Aplaudido pelo ego
O reforço opositivo para si
Dividir a dívida pra se isentar
Responsabilizar, acusar, repreender
Aqueles que não poderão se defender

Cativeiro privativo
Alto custo de manutenção
Esperando a chegada do passado
Fragilidade extrema
Revivendo a confrontação
Resignado ao quadrado

Autoajuda, gasolina
Nos limites entre contas e quinas
Pobres cachorros prontos pra se adaptar
Na caverna o que vê é só o que há
Receita fabricada para confundir
O outro, do outro, do outro

MODERN MAN
>:: áudio da banda tocando no programa Fanático MTV, em 2006 ::<
>:: cover do Bad Religion, escrito para o álbum Against the Grain, de 1990 ::<
I've got nothing to say,
I've got nothing to do.
All of my neurons are functioning smoothly
Yet still I'm a cyborg just like you.

I am one big myoma that thinks:
My planet supports only me,
I've got this one big problem: Will I live forever?
I've got just a short time to see.

Modern man, evolutionary betrayer,
Modern man, ecosystem destroyer.
Modern man, destroy yourself in shame,
Modern man, pathetic example of earth's organic heritage.

When I look back and think,
When I ponder and ask "why?",
I see my ancestors spend with careless abandon,
Assuming eternal supply.

Modern man, evolutionary betrayer,
Modern man, ecosystem destroyer.
Modern man, destroy yourself in shame,
Modern man, pathetic example of earth's organic heritage.

Just a sample of carbon-based wastage,
Just a fucking tragic epic of you and I.

MICHEL OGHATA
>:: presente no compacto Michel Oghata / Múmia, de 16 de setembro de 2016 ::<
Foi avisado lá não era um bom lugar,
O príncipe ordenou não ser tão curioso, aquilo podia matar.
Não precisava entender, o que chamam civilização.

Partiu com um sorriso na face
Sem dar ouvidos lá se foi.
Qualquer dia, qualquer lugar,
Precisava provar

Michel Ohgata vai pra cidade aprender
Vivenciar o belo ver o seu superior
Tratado como diferente se assustou
Raça forte
Passeou a morte.

A lei para os indesejáveis,
Louros ao vencedor.
Se arrependeu em estar ali, quis fugir
Um preço alto demais a pagar.
Não precisa mais do que já sabe.
Eles não confiam em ninguém
Não respeitam o sol,
Não agradecem, à lua.

Michel Ohgata deixa a cidade se entender.
Por que complicam tanto?Por que não deixam viver?
Não entendia a sorte não sabia o que era fé
Não se encaixava em um destino.

Quem precisa ensinar?
Quem precisa aprender?

A RECOMPENSA
>:: bonus track do álbum Um Homem Só, da própria banda, de 2006 ::<
Passou muito além do seu destino
Perdeu mais tempo sem nada pra fazer
Todas as coisas fúteis que ela nunca fez
Se olhando no espelho, rindo de si mesma

É tarde pra definir
Se tudo foi bom ou ruim
Se nada te fez ver
Não se preocupe mais

Seja feliz como nunca se permitiu
Agora já não há tempo pra lamentar

Sentiu falta de se dedicar
(A algo ou alguém)
Pela primeira vez teve a vida em suas mãos

Ninguém vai sentir ou ver por você
A recompensa não virá
Mas isso não importa

Tudo vai terminar
Sobre os escombros a sorrir
No meio da multidão
Cantando alto a canção

MÚMIA
>:: presente no compacto Michel Oghata / Múmia, de 16 de setembro de 2016 ::<
Tratar as pessoas como se tivessem dito o que fazer
O mal que fez a si mesmo, sempre rogado desejando
Por mais silêncio que pudesse haver
Não era só por mim

Suportar as tarjas, censuras e escolhas
Em tudo há consequência
Tente aceitar a sua...
Assuma o que é teu

Para outros todo mal
Como é fácil apontar
Este é o seu melhor
Tudo que pode demonstrar
Eu sei nunca vai ouvir
Que Deus é esse o seu?
Que reza só pra si!

Suportar as tarjas, censuras e escolhas
Em tudo há consequência
Tente aceitar a tua...
Assuma o que é teu

Ainda bem que insisti em esperar o pior
E ver em copos vazios uma escolha melhor
Não exercer o poder, vindo de ideias tão burras
E aceitar que você podia ser muito mais
Talvez tenha sido cego
Mas continuei por paixão
Se o dinheiro não veio, e ninguém pode pagar
Não precisava ter feito, o que fez!

Tente outra vez
(Ou esqueça pra sempre)
Tornar melhor
(Você acha que pode)
Tente outra vez
(Outra oportunidade)

SEM REMÉDIO
>:: deveria ter entrado no álbum Um Homem Só, 2006 ::<
Não perca tempo, a máquina não vai parar
Nem esperar por você ou por ninguém
Não se distraia, mantenha o passo, siga o fluxo
Cumpra a meta e não esqueça de sorrir

Com orgulho ou desprezo
A vaga é sua até não ser mais
Tão fácil substituir

Você perdeu espaço e valor
O mundo do trabalho é sem remédio
Peça obsoleta, encaixes desgastados
Todos sabiam esse dia iria chegar

Quando o cansaço torna difícil suportar
O custo é alto mas não há pra onde correr
Se recomponha, tome um remédio pra acelerar
Um relaxante e oito gotas pra concentração

Sinta fluir
Você é parte da engrenagem
Sinta apertar e explodir
Você perdeu espaço e valor
O colapso do indivíduo é sem remédio
Peça obsoleta, encaixes desgastados
A máquina não vai te esperar

Mantenha o passo, sempre sorrindo
Com ordem e progresso
Mantenha o passo, siga o fluxo
Até morrer

A doença ingerida diariamente
O vazio que não dá pra preencher
Com anúncios ou mentiras ou remédios
O sofrimento que mata sem perceber
Sinta fluir, você é parte

MANIAC NONLINEAR
>:: gravada no período de gravação do álbum Zero e Um, de 2004 ::< 









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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

PLANOS PRA HOJE - poema[s] em partes

ouvindo: JK Flesh, Suicide Estate Antibiotic Armageddon, de 2016

planos pra hoje
se 
Vossos planos pra hoje
são 
passares o dia deitada
eu deixo
deixardes
eu olhar
passardes 
o dia 
deitada

:: 16 de outubro de 2020 :: 

planos pra hoje
[1]
se 
Vossos planos pra hoje
forem 
passares o dia deitada
e Vos 
admirardes
[Vos]
apaixonardes
por Vós
¿e então Vos
namorardes
permitirdes eu 
olhar
admirar
Vos
admirardes 
e
[Vos]
apaixonardes
por Vós
e então Vos
namorardes?

:: 16 de outubro de 2020 :: 

planos pra hoje
[2]
estão em Vossos planos pra hoje
repousar 
as mãos trêmulas em minha barriga
com Vossos rosto e cabelos se 
desfazendo em suor
descendo
pelos braços
até minha barriga
quando Vós desfazendo
e eu me desfazendo 
em água?

:: 16 de outubro de 2020 :: 

planos pra hoje
[3]
os planos consistem em trancar o mundo pro lado de fora
os planos consistem em fazermos nosso próprio mundo
os planos consistem em eu Vos descobrir como mundo 
os planos consistem em eu me perder em Vós enquanto mundo
e quando eu me encontrar n’Ele
após voltar de Vossos ombros 
retornar de Vossas costas
regressar de Vosso umbigo
retrogradar de Vossas pernas
os planos consistirão em nos desfazermos em beijos
os planos consistirão em nos desfazermos em água
os planos consistirão em nos desfazermos em beijos
os planos consistirão em nos desfazermos em centelhas
e ulteriormente
a eu banhar-Vos
banquetear-Vos janta
 – talvez –
vestir-Vos
estiraremos ao templo onde nos contemplamos e adoramos
os planos consistirão em repousar como um mundo
que segue suas próprias regras a nível físico
de contagem de tempo
rotação 
translação
e dormir

:: 16 de outubro de 2020 :: 









BIS 
ZU 
DEM 
BREAKING 
FUCKING 
NEUEN 
POST
!!!!

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

LOMBO, O LOMBO – letra de punk rock/hardcore

ouvindo: Greymachine, Disconnected, de 2009


lombo, o lombo
pau
brasil

pau 
no lombo do
trabalhador

pau 
no lombo do
professor

pau
no lombo do
estudante

pau
no lombo do
manifestante

pau
no lombo do
operário

pau
no lombo do
assalariado

só quem não leva pau no lombo é quem não se considera trabalhador
só quem não leva pau no lombo é quem não se considera mão-de-obra
só quem não leva pau no lombo é quem se considera por cima da carne seca
só quem não leva pau no lombo é quem se entende como parte da realeza

“– já viu dotô médico pegando pau no lombo de puliça?”
“– nunca vi, não, sinhô.”

“– já viu dotô engenheru pegando pau no lombo de puliça?”
“– nunca vi, não, sinhô.”

“– já viu dotô dos denti pegando pau no lombo de puliça?”
“– nunca vi, não, sinhô.”

“– já viu dotô avogado pegando pau no lombo de puliça?”
“– nunca vi, não, sinhô.”

“– já viu dotô professor universitário pegando pau no lombo de puliça?”
“– nunca vi, não, sinhô.”

pau
brasil

pau
no lombo do
brasil

menos de quem não se considera brasil
exceto em jogo do futebol do brasil


:: 15 de outubro de 2020 :: 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A CASA - análise e crítica da HQ

ouvindo: Javier Díez-Ena And His Theremins, Theremonial 2 (More Dark & Exotic And Danceable Theremin Music, de 2019.

hiato de novo, né isso ai hiato de novo todo dia sempre tenho alguma merda nova pra comentar por aqui mas acabo não comentando por motivos que não sei os motivos ai ontem, antes de faltar energia por quase toda a madrugada, achei no Tralhas Várias a HQ A Casa, do espanhol Paco Roca. e, lá pela metade, “porra, vou comentar esse texto amanhã”. ao contrário do Cruz del Sur, da dupla Luis Durán / Raquel Alzate[1], A Casa é bem mais bem mais bem mais pros nossos tempos. 
La Casa
, do espanhol Paco Roca, publicada originalmente pela Astiberri, em 2015
capa da edição portuguesa, da Lenoir, em 2016 (edição que tive acesso, a propósito)

dois textos que me fizeram ter uma perspectiva, no mínimo, assaz interessante sobre A Casa. o primeiro é o A memória, a história, o esquecimento, do filósofo francês Jean Paul Gustave Ricœur (1913-2005). o segundo é o artigo Amnésia e Anistia: reflexões sobre o esquecimento e o perdão, da professora húngaro-estadunidense Susan Rubin Suleiman, que, no meu entender, (ironicamente) se volta ao texto que falei de Herr Professor Ricoeur. mas vou falar deles lá pra frente.
é sabido, PORÉM CONVENIENTEMENTE IGNORADO que Brasil e América Latina, mesmo com inúmeras tradições advindas similares a dos europeus – e australianos e estadunidenses – NÃO SÃO CONSIDERADOS OCIDENTE[2] por não estarem nos mesmos níveis de “desenvolvimento”, “democracia” e “cultura” europeias[3][4]. sim, mesmo com o caso particular JAPÃO. mesmo o quão tais “potências ocidentais” tenham metido o bedelho no desenvolvimento e democracias emergentes a ponto delas não “estarem no ‘padrão europeu’ de ‘democracia’”. e mesmo que dois baluartes do Ocidente tenham passado por ditaduras militares[5]: Espanha e Portugal. como todo mundo sabe, houve uma época do Brasil antes de ser Brasil que era metade da Espanha e metade de Portugal e uma coisa atemporal que existe nos três países em questão é a boa, a velha a fedorenta e a puta que pariu TRETA DE FAMÍLIA. se tua família não tem treta em pelo menos algum grau, pode crer que ela não é normal, deu errado, é disfuncional, “volta que deu merda” e não poderia ser diferente com Antonio e Amparo Gisbert, e seus três filhos (nesta ordem), Vicente, José (alter-ego de Paco) e Carla. Vicente é casado e, com ela, são pais de Juan – que tem um celular[6] colado às mãos. José é marido de Silvia. Carla é casada e, com ele, são pais de Elena em momento algum se diz os nomes dos cônjuges de Carla e Vicente não são ditos em momento algum da narrativa. 
apesar de em A Casa, Vicente, José e Carla falem de sua relação com Antonio, tanto por suas características de personalidade, quanto por precisarem vender a casa a qual ele se empenhou tanto para manter sempre bonita e arrumada. claro que os três não se limitam a tratar apenas do pai e das memórias de infância, mas também da relação entre eles – yeah, sim, em menor grau. contudo, é importante pegar esse fio, porque dialoga com a relação deles e Antonio.
pouco se diz sobre Amparo Gisbert (tanto que ela aparecesse pouquíssimo na história), visto que ela morrera antes de Antonio, somente o quão ela diferia do esposo, que não aguentava ficar parado, SEMPRE procurando algo para fazer na casa e sempre ordenando os filhos que o ajudassem logo, o caso dos três para reparar o imóvel e vendê-lo, uma vez que suas ocupações impossibilitam ficar com ele, por mais que suas vontades e corações insistam para fazê-lo.
eu falei de “narrativa”, né?
uma narrativa, a saber, tem como elementos enredo, tempo, espaço, ambiente, personagens e narrador. ainda que o tempo seja linear, ainda que contendo muitos flashbacks, Roca brinca com os demais constituintes narrativos, forçando ao leitor partilhar sua atenção para pegar os nuances da história. 
NUM PRIMEIRO MOMENTO, é de se pensar que a casa não passa somente do ambiente onde a narrativa se desenvolve e a família Gisbert seja protagonista. PORÉM, numa leitura mais atenciosa, vê-se que a casa e a família Gisbert sejam tanto personagens quanto narradores do texto em questão, visto que ela se torna o centro das atenções e local de reunião de Vicente, José e Carla. os fatos sobre tempo, espaço, personagem e narrador a ser questionados em A Casa são:
  • “onde (e quando) a personagem Vicente termina e começa a personagem Casa?” 
  • “onde (e quando) a personagem José termina e começa a personagem Casa?” 
  • “onde (e quando) a personagem Carla termina e começa a personagem Casa?” 
  • “onde (e quando) a personagem Casa termina e começa a personagem Vicente?” 
  • “onde (e quando) a personagem Casa termina e começa a personagem José?” 
  • “onde (e quando) a personagem Casa termina e começa a personagem Carla?” 
  • “onde (e quando) há a personagem Casa e a personagem Vicente, como uma só personagem?” 
  • “onde (e quando) há a personagem Casa e a personagem José, como uma só personagem?” 
  • “onde (e quando) há a personagem Casa e a personagem Carla, como uma só personagem?” 
enquanto o Maranhão[7] meteu ficha a nível narrativo com seus Jogos Infantis, o Roca inserted coin e pressed Start em A Casa.

“‘tá, mas e o Ricœur e a Suleiman?”
sobre a fala do José Gisberto, enquanto Herr Professor Ricœur – em seu A memória, a história, o esquecimento – levanta as questões 
  • “o QUE esquecer?” 
  • “o que NÃO esquecer?” 
  • “por que esquecer?” 
  • “por que NÃO esquecer?” 
  • QUEM esquecer?” 
  • “quem NÃO esquecer?”
em seu encalço, Frau Professorin Suleiman – em seu Amnésia e Anistia: reflexões sobre o esquecimento e o perdão – traz à baila as inquirições QUEM perdoar?”, “quem NÃO perdoar?”, “o QUE perdoar?” e “o que NÃO perdoar?”
o quadro acima demonstra que todas estas interrogações se fazem presentes em A Casa, visto que o trio de rebentos luta para que a memória do pai não desvaneça com a venda do imóvel, apesar de reprovarem muitos de seus comportamentos, e saberem que estas reprovações influem diretamente em como julgam uns aos outros a si mesmos simultaneamente. a consciência destes julgares e reprovações resulta em uma busca constante de perdão aos outros e si por estes atos e os três se confrontando e externando tais incômodos, concluindo que enquanto permanecerem vivos – e unidos –, a memória de Antonio e Amparo Gisbert não se extinguirá. ainda que Carla quisesse muito que Elena pudesse lembrar mais do avó.
ainda dentro d[est]a questão ricœur-suleimaniana, uma última crítica a tecer sobre A Casa é sobre o “perdoar” a Antonio e sua “mania de trabalho”. eu tinha lido em alguns textos anarquistas algo que a socióloga e professora brasileira Sabrina da Fonseca Borges Fernandes até comentou de uma só tacada em seu canal do YouTube sobre a alienação trabalhista violentamente difundida pelo capitalismo e vou sintetizar aqui com as minhas palavras o que li nos textos somado à fala da professora. 
nos é ensinado desde tenra idade que “trabalho dignifica o homem”. mas ai a gente se pergunta “trabalho até quando?” “o quanto de trabalho?”. e vimos e vemos nossos pais e nossas mães não conseguirem ficar parados em casa, sempre procurando algo pra fazer e nos criticando por não estar fazendo o mesmo tanto que eles ai se torna um caralho de círculo vicioso de eles – nossos pais e nossas mães – serem assim porque seus pais viveram assim e a nós, geração atual[9], ser destinada tal vida. 
“qual vida?” 
trabalhar igual um jumento, não ter tempo pra porra nenhuma, adorar um feriado e cagar pra direitos trabalhistas porque não tem tempo pra pensar sobre eles porque se fode de trabalhar e não tem tempo pra pensar no que não lhe é conveniente. e acaba ensinando ao trabalhador que não lhe é conveniente discutir seus direitos básicos. onde eu quero chegar?
a pessoa trabalha muito durante a vida, praticamente só trabalha, pouco se diverte e só entende “trabalha muito” como “vida”, se incomodando com as que não são do mesmo feitio e querendo repassar a seus filhos e netos etc. etc. etc. vocês entenderam. e foi isso ai aconteceu que com o Gisbertão e acontece com muita gente – preferir morrer a não ter mais o que fazer e, consequentemente, se sentir inútil para si e, olha só!, para o mundo ignorando o fato de que já fizeram o suficiente pela sociedade. essa mesma alienação aqui descrita influiu diretamente na relação parental vista na HQ e não só em um momento que essa dicotomia é apresentada no texto e o trio se pergunta, nas entrelinhas, o quão isso fudeu a relação familiar gisbertiana. isso tudo remetendo às questões suleimanianas sobre perdão. 

leia A Casa.





[1] comentado AQUI.
[2] pensem pelo lado bom, a África e a Rússia não são nem meio-termo.
[3] RODARTE, Leonardo. Você se considera ocidental? Para grande parte do mundo, o Brasil não faz parte do Ocidente. UOL Notícias. 24 de agosto de 2018.
[4] aspas propositais por motivos óbvios.
[5] ver nota [1] deste post aqui.
[6] “telemóvel” HUAHUAEUHAEUHAEUHAEUHAE
[7] Haroldo Lima Maranhão (1927-2004), escritor, jornalista e advogado brasileiro.
[8] nesse vídeo aqui ó.
[9] falo sobre a minha (1983) junta com a de todas até os nascidos em 1999, no mínimo.





R E F E R Ê N C I A S C O N S U L T A D A S

RICOEUR, P.  A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain François. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.

RODARTE, Leonardo. Você se considera ocidental? Para grande parte do mundo, o Brasil não faz parte do Ocidente. UOL Notícias. 24 de agosto de 2018. Disponível em <https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/09/24/brasil-nao-e-pais-ocidental.htm>.

SULEIMAN, Susan Rubin. Amnésia e Anistia: reflexões sobre o esquecimento e o perdão. IN: SULEIMAN, Susan Rubin. Crises de Memória e a Segunda Guerra Mundial. Trad. Jacques Fux e Alcione Cunha da Silveira. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2019.










BIS 
ZU 
DEM 
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FUCKING 
NEUEN 
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