ouvindo: Shrüm, Red Devils & Purple Ringers, de 1997; Intense Degree, War In My Head, de 1988; Dread Full, Wonder Fool People, de 1997, e Day Off, de 1999
“o fato é que a guerra pode ser, entre outras coisas, a perpetuação de uma cultura própria por seus próprios meios.”
– John Keegan, Uma História da Guerra.
eu ‘tava escrevendo um conto ontem sobre mechas de combate e acabei terminando outro. mas durante o processo de referência visual para escrever sobre os módulos acabei encontrando no YouTube uma série do gênero[1] especificamente para esta plataforma[2], chamada Obsolete, escrita por Gen Urobuchi[3] e dirigida por Hiroki Yamada (responsável pelo maravincrível e altamente recomendado Kaze no Matasaburo) e Seiichi Shirato[4] para o estúdio Buemon (o de Kaze no Matasaburo, diga-se de passagem), com distribuição pela Bandai Namco[5], tendo estreado em 3 de dezembro de 2019.
“OK, MAS QUAL É O PAPO DE OBSOLETE?!?”
em 2014 uma espécie aligenígena chega chegando à Terra, solicitando comércio com a humanidade, oferecendo um robô de uso geral controlado pela consciência, conhecido como “EXOFRAME” em troca de... CALCÁRIO.
“ah, mas não sei o que é calcário”
a saber, calcário é uma rocha sedimentar[6] composta basicamente por calcita (CaCO3) (LIMA, 2010, p.2), sendo
“originada pela precipitação de cálcio por agentes químicos e orgânicos. O cálcio constituinte dos calcários tem origem no intemperismo das rochas crustais, sendo conduzido em solução para o mar, onde parte do carbonato de cálcio dissolvido precipita-se, em decorrência da sua baixa solubilidade na água marinha. Altas taxas de evaporação e as variações de temperatura podem reduzir o teor de dióxido de carbono contido na água, causando condições de saturação e facilitando a precipitação do carbonato de cálcio, formando um calcário de alta pureza química [SAMPAIO & ALMEIDA]. A maior parte do calcário existente hoje no mundo é de origem orgânica. O cálcio precipitado é utilizado por seres marinhos como corais, foraminíferos, moluscos e equinodermos, na confecção de suas conchas, as quais se acumulam no fundo mar.Essas conchas são compostas basicamente por carbonato de cálcio puro, sendo encontradas em calcários como greda e marga.” (IDEM, p.3)
este mineral é amplamente utilizada na construção civil, indústria de vidro, siderúrgica, cal, cimento, rochas ornamentais, corretivos de solos, entre outros campos.
mas então, olha só: dá pra customizar a porra do exoframe de acordo com a necessidade de uso. como ser humano é conhecido por adaptar praticamente tudo ou pra fins sexuais ou bélicos, adivinha só o que acontece: adaptam os frames pra fins BÉLICOS. e aí que dá-se a merda.
no meu entender, Obsolete vem em um excelente momento, visto que tem um monte de nerd retardado e otaku mais ainda[7] que fica bostejando “não coloque política no meu quadrinho” “não coloque política no meu mangá” “não coloque política no meu anime” “não coloque política no meu joguinho” etc etc etc. tod@s vocês já ouviram essas merdas e Obsolete é uma pedra de calcário bruto no teu cocoruto porque o que tem de crítica política, de questionamentos geopolíticos e análises históricas e tudo isso junto ao mesmo tempo não é fácil. tu vais ter que sacar de História, Ciência Política, Relações Internacionais e Geopolítica pra poder pegar tudo e fazer tudo fazer sentido.
e, a grosso modo, é muitíssimo impossível não lembrar de Metal Gear ao falar de Obsolete não somente porque é um texto de mechas, mas justamente porque são mechas utilizados para fins bélicos, cuja presença no planeta dá uma desbalanceada FUDIDA nas relações de poder, o que permeia a obra de política do começo ao fim e abre um novo paradigma de guerra terrestre, a ponto de muitas nações assinarem um tratado sobre não-utilização deste maquinário nos campos de batalha e, além de certo país que todos vocês sabem qual é por sua fama de quebrar tratados internacionais, muitos outros países cagaram pra essa convenção.
ah. yeah. design de muitos mechas customizados lembra PRA CARALHO tanto mechas em jogos da série Metal Gear quanto os, vistos inicialmente em O Império Contra-Ataca e depois em O Retorno de Jedi. ‘tá na cara lá, tu só não vais reconhecer se não sacares MG ou, mais principalmente, Star Wars.
(se foi proposital não sei, isso ter-se-ia que questionar ao Junichi Taniguchi [diretor de arte], ao Takaaki Suzuki [pesquisa de armas], ao Makoto Ishiwata [designer mecânico] e ao Ryousuke Takahashi [produtor de planejamento])
a série, de seis episódios, se passa desde o final do século XX até 2023, sendo que somente os dois últimos se passam na mesma ambientação e sua chave hermenêutica está fora do círculo de militares estadunidenses Bowman, Miyajima Rei e Loewner.
o primeiro episódio se chama Outcast é se passa em 2023 na América do Sul, na Amazônia Ocidental, na fronteira entre Equador e Peru[8].
o segundo é Bowman, passado em 2015 em Cabinda, Angola[9].
Miyajima Rei, terceiro episódio, se passa em 2016 na geleira de Siachen, ao leste da cordilheira do Caracórum, Himalaia, no estado de Ladakh, noroeste da Índia – local disputado com o Paquistão[10].
passado em 2017 no Golfo Pérsico e contendo o diálogo que é um soco na tua cara a nível de paralelo histórico e pode definir TODA essa narrativa, há o quarto episódio, Loewner.
os dois últimos episódios – Soldier Brat e Jamal, que justificam a citação de Sir Professor Historiker John Desmond Patrick Keegan (1934-2012) no começo da postagem – se passam na África Subsaariana com uma diferença temporal de cinco anos (Soldier é em 2016 e Jamal em 2021) e são “guiados” pelo veterano de guerra Zahir que os jovens só conseguem concluir que não é nativo da África “mas enfim”.
Obsolete é um SENHOR agrado pras viúvas de Metal Gear após o lançamento de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, de 2015 (que não fechou porra nenhuma porque não explicou em definitivo e sim de uma maneira bem porca, pra dizer o minimo como se liga ao primeiro Metal Gear, de 1987) e o final antológico de MGS4: Guns of Patriots, de 2008.
‘tá. sim. Obsolete não tem o que se pode chamar de “fim”. e dá pra ver cada episodio separadamente (‘tá, sim... Soldier Brat e Jamal contam como um... ok? ok) que não dá em nada porque a história é mais repetida que a origem do Batman em filme do Batman e mini-série do Batman e graphic novel do Batman; mas fica mais legal, muito mais legal sendo vista na ordem como os episódios não chegam a dezesseis minutos e dá pra matar em uma hora e meia na maciota.
não somente, [Obsolete] abre muitas discussões a nível político, a nível sociopolítico, a nível socioeconômico a nível internacional, atendendo brutalmente o que Frau Professorin Kerslake e Herr Professor Edward James apresentam em suas obras seminais (Science Fiction and Empire e Science Fiction in the Twentieth Century, respectivamente), a tornando obrigatória tanto pra quem saca o gênero ficção científica quanto quem trata de Ciências Humanas na Arte[11], agradando inclusive quem não curte nada disso e só quer ver um bom anime que tenha o mínimo de conteúdo.
assista Obsolete.
[1] tanto fãs quanto estudiosos do gênero fantástico debatem se mecha é um gênero dentro do gênero fantástico ou se é um recurso no Japão, mecha é toda e qualquer quinquilharia tecnológica utilizada por personagens, seja de animes, seja de mangás no Ocidente, são os famosos robôs gigantes utilizados principalmente em tokusatsus de Super Sentai ou Metal Heroes.
[2] a saber, YouTube Originals, criada inicialmente para assinantes do YouTube Premium, mas liberada um tempo desses ai pra ser assistida gratuitamente. o grande porém é ter 2 a 3 mais anúncios que o conteúdo gratuito do YT.
[3] admito que nunca tinha ouvido falar do cara antes.
[4] idem.
[5] dispensa apresentações.
[6] “Rochas que resultam da desintegração e decomposição de rochas preexistentes (magmáticas, metamórficas ou sedimentares), graças a ação de intemperismo (conjunto de processos mecânicos, químicos e biológicos que ocasionam a transformação das rochas em sedimentos).” fonte: Capítulo 5 – ROCHAS SEDIMENTARES.
[7] ainda que “otaku retardado” seja pleonasmo, igual “otaku bolsominion”.
[8] segundo a Legislação da Amazônia, presente no site da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia.
[9] “Cabinda é uma das 18 províncias de Angola, localizada na região norte do país, sendo a mais setentrional e também único exclave da nação. A capital é a cidade e município de Cabinda.” fonte: Wikipedia.
[10] para mais detalhes sobre essa pendenga ler Imperialismo e Resistência, do escritor e ativista paquistanês Tariq Ali. eu já falei dele nesse post AQUI! e também nesse AQUI!
[11] tem gente que considera Psicologia no meio das Ciências Humanas. tem gente que considera Psicologia no meio das Ciências Biológicas. eu considero psicanálise picaretagem e aleijamento mental no mesmo nível de astrologia, criacionismo, design inteligente e terraplanismo. independente a tudo isso, tem umas partes no anime eu tratam de Psicologia e que não devem ser desconsideradas.
R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S
__________. Cabinda (província). Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabinda_(prov%C3%ADncia)>. Acessado em 29 de maio de 2020.
ALI, Tariq ; BARSAMANIAN, David. Imperialismo e Resistência. Trad. Tatiana Carvalho de Azevedo e Maitê Carvalho Cassachi, com revisão de Geraldo Martins de Azevedo Filho. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
BRASIL, Legislação da Amazônia. Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, Ministério do Desenvolvimento Regional. Disponível em <http://www.sudam.gov.br/index.php/institucional/58-acesso-a-informacao/86-legislacao-da-amazonia>. Acessado em 29 de maio de 2020.
JAMES, Edward. Science Fiction in the Twentieth Century. Oxford: Oxford University Press, 1994.
KEEGAN, J. Uma história da guerra. Trad. Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
KERSLAKE, P. Science Fiction and Empire. Liverpool: Liverpool University Press, 2007.
LIMA, Leonardo Alves Montes. Produção de Calcário no Estado do Rio de Janeiro. 2010. 43 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geologia) – Departamento de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Disponível em <https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/4436/1/LIMA%2C%20L.A.M.pdf>. Acessado em 29 de maio de 2020.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA. Capítulo 5 – ROCHAS SEDIMENTARES. Disponível em <http://www.ufjf.br/nugeo/files/2009/11/Geologia-Cap5.pdf>. Acessado em 29 de maio de 2020.
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