ouvindo: música de povos indígenas do Alto Rio Negro ao Monte Roraima documentadas pelo Cauxi Produções
“Pessoas não reagem ao blá de intelectuais... Pessoas reagem ao poder do fogo!”
– Doutrinador
a HQ pra ser comentada hoje era Bitch Planet – criação da roteirista Kelly Sue DeConnick (30 Days of Night, Capitã Marvel, Supergirl) e pelo desenhista Valentine De Landro (X-Factor, Quarteto Fantástico, G.I. Joe) para a Image Comics – mas como eu tenho uma pica de coisa, vai ficar ainda pra essa semana, não sei quando.
sim, eu sei que ‘tô relapso quanto ao blog, se considerando os dois últimos meses, mas ai que ‘tô atualizando leituras e trabalhos que deveriam ter sido feitos quando eu ‘tava bloggando. mas ‘bora de novo de HQ nacional, e como finalmente tive coragem pra ler do tal Doutrinador, do quadrinista brasileiro Luciano Cunha, bora nessa porque vai ser bem rápida, três edições e nem vou falar do filme porque TALVEZ eu assista.
Doutrinador, né? três edições que saíram pela fluminense Redbox, a primeira e a segunda em 2015, a última em 2016 especialmente para a ComicCon Experience 2016[1]. a primeira foi total do it yourself pelo Cunha (roteiro, desenho, arte-final, colagens[2], produção gráfica, edição e letramento), tem 79 páginas[3] e particularmente é a minha favorita devid’o clímax ter rolado em Belém do Pará e o Brasil todo, como o personagem repete ♪♫time and time again♪♫, se tornar seu campo de caça.
o Junior Kararotto vai diabos saber quem ser este ser e de onde saiu ‘tá 50% certo na quarta capa da primeira edição em dizer que o personagem – Agente Nove, Doutrinador é como ele passa a ser chamado WTF motivos pela mídia e o nome pega – é uma mistura de Travis Bickle, Tyler Durden, Rorschach, V e Frank Castle. V certamente riria ao saber de tal comparação, Rorschach creio que não, Castligione faria aquela cara feia mas… alguém disse ai que o personagem (Doutrinador) é fruto do seu tempo porque queria o que todo mundo queria fazer: passar fogo em todos os políticos corruptos, barões da privatização e religiosos corrompidos e depois colocar fogo no mundo. quem atualmente não quer passar fogo em todos os políticos corruptos, barões da privatização e religiosos corrompidos e depois colocar fogo no mundo? mas é meio bem merda dizer que “o personagem (Doutrinador) é fruto do seu tempo” porque nem todo mundo é uma máquina de matar e destruir de forma cirúrgica treinada pelo Estado e que depois se volta contra ele por não suportar o que ele se tornou.ai olha a segunda cagada: ele foi doutrinado pra ser uma imparável máquina de matar e destruir de forma cirúrgica, e o cidadão médio brasileiro, “gente como a gente” doutrinada e amordaça a não matar e a não protestar e, quando fazê-los, caso se seja das camadas de base da pirâmide social, independente do país[4], se é rapidamente coagido e posto de volta no lugar. “ah, mas isso é a História contada pela esquerda”, dirão. eu poderia fazer um blog só pra isso e eu jamais teria falta de exemplo pra esfregar na cara de cretin@ metid@ a espert@.
voltando ao “fruto do seu tempo”, também não é igualmente tudo o que ele decidiu lutar contra, porque corrupção ‘tá na base da espinha dorsal da história do Brasil, eu nem deveria estar dizendo isso de tão óbvio que isso é. independente da corrente ideológica que tu adotes, é impossível nunca teres se encaralhado por pelo menos um ato de corrupção. e isso que é foda em Doutrinador, vai te agradar independente do teu viés. e caso apareça alguém chorando dizendo que “nacionalismo é algo característico da extrema direita”, eu só cito os exemplos da URSS e da China, quando estas ainda não socialistas de estado.
e então que o governo decide apelar, chama alguém treinado pelo mesmo programa criador do Agente Nove[5], que é a cara daquele supermachão que todo mundo conhece mas ninguém, além de seus iguais, o quer por perto – e seu sentimento a seus desiguais é recíproco. mas ninguém pode dizer que os métodos do Agente Sete não funcionam, e ele consegue mesmo chamar o Nove para seu circle pit. pena que, no processo, e seguindo o clichê da luta final, leve o Theatro da Paz, e também seguindo o clichê (repetido muitas vezes no volume) da explosão.
‘tá, mas o cara morre. e eu achei do caralho isso, pra comer o cu de que esperava o triunfo dele. mas convenhamos que é meio-impossível-para-caralho tu sobreviveres a uma explosão causada por explosivo plástico tu o carregando tu no teu corpo.
e tem o volume dois, Dark Web, escrito pelo saudoso Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana (1965-2019) – o Marcelo Yuka, baterista e principal compositor d’O Rappa –, e com arte produzida unicamente pelo Cunha. foda dessa edição é que fode a ideia do personagem de extrema direita, já que o Yuka era de esquerda e militante e tudo creio eu, inclusive, que deve ter uma carrada de fã d’O Rappa – e até mesmo do F.U.R.T.O, banda que o cara fez após sair do Rappa – que é bolsominion e usa camisa do imbecil ouvindo a(s) banda e cantando junto, incapaz de fazer o devido paralelo sociopolítico (sim, eu ‘tô rindo).
é muito interessante que, enquanto no volume 1, a presidenta era a Dilma, aqui nesse passa a ser o Lula e o Yuka foi preciso onde o Cunha não foi na première: que o cara tanto traiu quem votou nele quanto há um modus operandi de ratice política no qual ele soube se adequar muito bem e apresenta com todas as letras que, como todo mundo que tem o mínimo de bom senso e conhecimento de história política de Brasil sabe, A CORRUPÇÃO NO BRASIL NÃO COMEÇOU COM O PT!
o argumento gira nos crimes passados na famosa Deep Web, sendo o antagonista principal o colombiano José Fabian Marquez, de codinome El Coyote que decide se refugiar no Brasil e tocar seus negócios diretamente relacionados ao tráfico de entorpecentes aqui na terrinha e o quanto a classe política está fechada com o tráfico. o clima desta edição é bem mais tenso e pesado que da anterior, todavia não menos cinematográfico, além de explicar que há sim um novo Doutrinador e, até na mínima de suas ações, ele presta homenagem e reverência a seu predecessor. saber quem é necessita da leitura do volume inteiro e é uma surpresa amarga. muito amarga. e tanto o Noam Chomsky quanto o Nelson Jahr Garcia (1947-2002) ficaram por demais orgulhosos ao ver como a televisão – mídia em geral, diga-se – são utilizadas como ferramentas coercitivas das massas a seu favor.
e os extras são do caralho, não deixem de conferir.
Apocalipse Bsb, de 2016, fecha a trilogia, além de trazer o roteirista brasileiro Gabriel Wainer como co-editor, apresenta histórias curtas – nesta ordem, Helicoca, Bloody Sunday, Vazio, Força de lei, Contra nós e A sombra – totalmente produzidas por Luciano, que funcionam totalmente independentes dos volumes anteriores, apresentando o personagem e a que veio e as ilustrações são muito mais caprichadas.
O Doutrinador parece ser uma leitura fácil. mas na verdade deixa um gosto bem ruim na boca de quem lê a devida reflexão, já que ele não perdoa ninguém e não deixa pedra sobre pedra como fazem e muito, o tirando como propaganda ideológica e política, e bem a grosso modo: algo que o/a leitor/a não se pode dar ao luxo de fazer, muito menos o ler sem a referida parcimônia chama-lo de “facista” é bem fácil, mas tu sabes mesmo como e onde aplicar este termo corretamente? chama-lo de “herói do povo brasileiro de bem” é bem fácil, mas tu sabes qual a origem do termo “cidadão de bem” e quais seus contornos nos tempos atuais? pois é, pessoa, primeiro o conhecimento e depois a crítica.
não seje acrítico. não fique repetindo bordãozinho. não cagalhe o coreto dizendo “não meta política no meu Quadrinho” por ai.
atendendo estes pré-requisitos, poderás contemplar em sua totalidade O Doutrinador.
nota 01: ao contrário das muitas citações, que deve(ria)m ser procuradas por quem lê pra saber os devidos contextos para situar melhor na obra, uma coisa que me incomodou pra caralho foi a quantidade de camisa de banda de rock nos personagens.
nota 02: “mas e ai? tu achas que Destro vai ser assim, no mesmo nível?”
eu só vou saber lendo, mesmo que algo me diga que não vai ser não mas, se Doutrinador já abriu essa discussão, ‘bora ver – por mais que eu que odeie admitir em voz alta – que acontece com Destro, não?
[1] quem já foi me disse que é a maior reunião de nerd virjão sem nada na cabeça.
[2] uma HQ que tem colagens sempre merece AQUELA conferida.
[3] na Ficha Catalográfica Criada pela Editora, diz que tem 84 pgs, mas quem se importa?
[4] quero dar minha cara à tapa como se não vai aparecer um fudido que vai ler isso e rir dizendo que isso não acontece.
[5] algo me disse que rolou uma influência do Programa Supersoldado nessa presepada.
BIS
ZU
DEM
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FUCKING
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POST
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