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e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

quarta-feira, 3 de julho de 2019

BELCHIOR - CORAÇÃO SELVAGEM - 1977 [era pra eu ter postado ontem mas dormi e acabei não postando]

ouvindo agora: Menstruação Anárquika, Menstruação Anárquika, de 2004.

o título do post é autoexplicativo

BELCHIOR
CORAÇÃO SELVAGEM
1977
CORAÇÃO SELVAGEM
Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção
Esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão
Eu quero um gole de cerveja no seu copo
No seu colo e nesse bar

Meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja
Não quero o que a cabeça pensa eu quero o que a alma deseja
Arco-íris, anjo rebelde, eu quero o corpo
Tenho pressa de viver

Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar
Tempo para ouvir o rádio no carro
Tempo para a turma do outro bairro, ver e saber que eu te amo

Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente
Tome um refrigerante, coma um cachorro-quente
Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem
Tem essa pressa de viver

Meu bem, mas quando a vida nos violentar
Pediremos ao bom Deus que nos ajude
Falaremos para a vida: "Vida, pisa devagar
Meu coração cuidado é frágil;
Meu coração é como vidro, como um beijo de novela"

Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão
O meu som, e a minha fúria e essa pressa de viver
E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza
E arriscar tudo de novo com paixão
Andar caminho errado pela simples alegria de ser

Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo
Vem morrer comigo, meu bem, meu bem, meu bem
Talvez eu morra jovem:
Nalguma curva no caminho, algum punhal de amor traído
Completará o meu destino, meu bem... Que outros cantores chamam baby.

PARALELAS
Dentro do carro, sobre o trevo a cem por hora, oh! Meu amor
Só tens agora os carinhos do motor
E no escritório em que eu trabalho e fico rico
Quanto mais eu multiplico diminui o meu amor

Em cada luz de mercúrio vejo a luz do seu olhar
Passas praças, viadutos, nem te lembras de voltar
De voltar, de voltar

No Corcovado,
Quem abre os braços sou eu!
Copacabana, esta semana, o mar sou eu!
E as borboletas do que fui pousam demais,
Por entre as flores do asfalto, em que tu vais

E as paralelas dos pneus n'água das ruas
São duas estradas nuas em que foges do que é teu
No apartamento, oitavo andar, abro a vidraça e grito
Grito quando o carro passa:
teu infinito sou eu, sou eu, sou eu, sou eu

No corcovado quem abre os braços sou eu
Copacabana esta semana o mar sou eu
Como é perversa a juventude do meu coração
Que só entende o que é cruel e o que é paixão

TODO SUJO DE BATOM
Eu estou muito cansado
Do peso da minha cabeça
Desses dez anos passados (presentes)
Vividos entre o sonho e o som
Eu estou muito cansado
De não poder falar palavra
Sobre essas coisas sem jeito
Que eu trago em meu peito
E que eu acho tão bom

Quero uma balada nova
Falando de brotos, de coisas assim
De money, de banho de lua, de ti e de mim
Um cara tão sentimental

Quero uma balada nova
Falando de brotos, de coisas assim
De money, de banho de lua, de ti e de mim
Um cara tão sentimental

Quero a sessão de cinema das cinco
Pra beijar a menina e levar a saudade
Na camisa toda suja de batom

Quero a sessão de cinema das cinco
Pra beijar a menina e levar a saudade
Na camisa toda suja de batom

CASO COMUM DE TRÂNSITO
Faz tempo que ninguém canta uma canção falando fácil, claro-fácil, claramente
Das coisas que acontecem todo dia, em nosso tempo e lugar.
Você fica perdendo o sono, pretendendo ser o dono das palavras, ser a voz do que é novo; e a vida, sempre nova, acontecendo de surpresa, caindo como pedra sobre o povo.

À tarde, quando eu volto do trabalho, mestre Joaquim pergunta assim pra mim:
- Como vão as coisas? Como vão as coisas? Como vão as coisas, menino?
-Como vão as coisas? Como vão as coisas? Como vão as coisas, menino?

E eu respondo assim:
- Minha namorada voltou para o norte, ficou quase louca e arranjou um emprego muito bom. Meu melhor amigo foi atropelado, voltando para casa.
Caso comum de trânsito, caso comum de trânsito, caso comum de trânsito.
Caso, caso comum de trânsito, caso comum de trânsito, caso comum de trânsito.

Pela geografia, aprendi que há, no mundo, um lugar, onde um jovem como eu pode amar e ser feliz. Procurei passagem: avião, navio... Não havia linha pra aquele país.
Não havia linha. não havia linha pra aquele país.

Deite ao meu lado. Dá-me o teu beijo. Toda a noite o meu corpo será teu. Eles vêm buscar-me na manhã aberta: a prova mais certa que não amanheceu.
Não amanheceu, não amanheceu menina. Não amanheceu,não amanheceu ainda.

PEQUENO MAPA DO TEMPO
Eu tenho medo e medo está por fora
O medo anda por dentro do teu coração
Eu tenho medo de que chegue a hora
Em que eu precise entrar no avião

Eu tenho medo de abrir a porta
Que dá pro sertão da minha solidão
Apertar o botão: cidade morta
Placa torta indicando a contramão
Faca de ponta e meu punhal que corta
E o fantasma escondido no porão

Medo, medo. medo, medo, medo, medo

Eu tenho medo que Belo Horizonte
Eu tenho medo que Minas Gerais
Eu tenho medo que Natal, Vitória
Eu tenho medo Goiânia, Goiás

Eu tenho medo Salvador, Bahia
Eu tenho medo Belém, Belém do Pará
Eu tenho medo pai, filho, Espírito Santo, São Paulo
Eu tenho medo eu tenho C eu digo A

Eu tenho medo um Rio, um Porto Alegre, um Recife
Eu tenho medo Paraíba, medo Paranapá
Eu tenho medo Estrela do Norte, paixão, morte é certeza
Medo Fortaleza, medo Ceará

Medo, medo. medo, medo, medo, medo

Eu tenho medo e já aconteceu
Eu tenho medo e inda está por vir
Morre o meu medo e isto não é segredo

Eu mando buscar outro lá no Piauí
Medo, o meu boi morreu, o que será de mim?
Manda buscar outro, maninha, no Piauí

GALOS, NOITES E QUINTAIS
Quando eu não tinha o olhar lacrimoso
Que hoje eu trago e tenho
Quando adoçava o meu pranto e o meu sono
No bagaço de cana de engenho
Quando eu ganhava esse mundo de meu Deus
Fazendo eu mesmo o meu caminho

Por entre as fileiras do milho verde que ondeiam

Com saudades do verde marinho

Eu era alegre como um rio

Um bicho, um bando de pardais

Como um galo, quando havia
Quando havia galos, noites e quintais
Mas veio o tempo negro e a força fez
Comigo o mal que a força sempre faz
Não sou feliz, mas não sou mudo
Hoje eu canto muito mais

CLAMOR NO DESERTO
É! meus amigos,
Um novo momento precisa chegar.
Eu sei que é difícil começar tudo de novo,
Mas eu quero tentar.

Minha garota não me compreende
E diz que, desse jeito, eu apresso o meu fim.
Fala que o pai dela é lido e corrido
E sabe que a América toda é assim.

Quem me conhece me pede que seja mais alegre...
Mas é que nada acontece que alegre meu coração.
Dá no jornal, todo dia, o que seria o meu canto,
Mas o negócio é cantar o luar do sertão.

É! meus amigos,
Um novo momento precisa chegar.
Eu sei que é difícil começar tudo de novo,
Mas eu quero tentar.

Ano passado, apesar da dor e do silêncio,
Eu cantei como se fosse morrer de alegria.
Hoje, eu lhe falo em futuro e você tira o revólver,
Puxa o talão de cheque e me dá um bom dia.

Sei que não é possivel dizer todas as coisas,
Nesse feliz ano novo que a gente ganhou.
Mas falta só algum tempo para 1-9-8-4.
Agora estou em paz: o que eu temia chegou!

POPULUS
Populus meu cão
o escravo indiferente que trabalha
e por presente tem migalhas
sobre o chão

populus populus populus meu cão
populus meu cão populus meu cão

Primeiro foi seu pai segundo seu irmão
terceiro agora é ele agora é ele agora é ele
de geração em geração em geração

No congresso do medo internacional
houví o segredo do enredo final
sobre populus meu cão
sobre populus meu cão

Documento oficial
em testamento especial
sobre a morte sem razão
de populus meu cão

populus de populus de populus

populus populus populus meu cão
populus populus populus meu cão

Delírios sanguíneos
espumas nos teus lábios
tudo em vão

Tenho medo de populus meu cão
roto no esgoto do porão
De populus de populus de populus meu cão

seu olhar de quase gente
as fileiras dos seus dentes
trago o rosto marcado
eles me conhecerão me conhecerão me conhecerão me conhecerão

populus populus populus meu cão
populus populus populus meu cão

populus populus populus meu cão

sos é só sos é só

CARISMA
Deu a vida pelos seus
isto é mais forte que a morte
mais importante que Deus
que Deus e o Mundo
que Deus e todo mundo

Sua voz, morta, ainda canta
ainda espanta o mau agouro
nessa terra, onde o silêncio
literalmente, é de ouro

Eu nasci lá, numa terra
onde o céu é o próprio chão

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