Postagem em destaque

YEAH, HOUSTON, WIR HABEN BÜCHER!

e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

domingo, 29 de março de 2020

BELCHIOR - PARAÍSO - 1982

BELCHIOR
PARAÍSO
1982
– todas as letras e músicas de Belchior, exceto onde indicado
E QUE TUDO MAIS VÁ PARA O CÉU
(Belchior, Jorge Mautner)
Um dia você me falou, em Andaluzia e em Valladolid
Granada fica além do mar, na Espanha
Molhou em meu vinho seu pão
E também me falou em coisas do Brasil
O FMI, Tom, poeta tombado na guerra civil

O homem da máquina então, então me falou
Vá embora poeta maldito!
O teu tempo maldito também já terminou

E eu fui embora sorrindo, sem ligar pra nada; como vou ligar
Para essas coisas quando eu tenho a alma apaixonada?

Mas teu cabelo é mais negro que o negro
Da asa da graúna, de um negro mais sutil
Preto como os tipos pretos que compõem a palavra anil

E à noite eu entro no CinemaScope
Tecnicolor, World Vision, daqueles de cowboy
De que vale a minha boa vida de playboy?
E eu compro este ópio barato
Por duas gâmbias, pouco mais
Mas como dói...  
Eu entro num estádio e a solidão me rói

E eu quero mandar para o alto
O que eles pensam em mandar para o beleléu
E que tudo mais vá para o céu

E eu quero mandar para o alto
O que eles pensam em mandar para o beleléu
E que tudo mais vá para o céu
E que tudo mais vá para o céu
E que tudo mais vá para o céu

MONÓLOGO DAS GRANDEZAS DO BRASIL
Todo mundo sabe/todo mundo vê
Que tenho sido amigo da ralé da minha rua
Que bebe pra esquecer que a gente
É fraca
É pobre
É víl
Que dorme sob as luzes da avenida
É humilhada e ofendida pelas grandezas do brasil
Que joga uma miséria na esportiva
Só pensando em voltar viva
Pro sertão de onde saiu

Todo mundo sabe
(principalmente o bom deus, que tudo vê)
Que os homens vão dizer que a vida é dura e incompleta
Pra quem não fez a guerra e não quer vestibular
Pra quem tem a carteira de terceira
Pra quem não fez o serviço militar
Pra quem amassa o pão da poesia
Na limpeza e na alegria
Contra o lixo nuclear.

Como uma metrópole,
O meu coração não pode parar
Mas também não pode sangrar eternamente

Ta faltando emprego
Neste meu lugar
Eu não tenho sossego
Eu quero trabalhar
Já pensei até em passar a fronteira.
- eu vou pra São Paulo e Rio
(Eldorados da além-mar)
A estrada é uma estrela pra quem vai andar.
Oh! Não! Oh! Não!
Ai! Ai! Que bom que é
A lua branca, um cristão andando a pé!
Ai! ai! que bom, que bom se eu for
Pés no riacho, água fresca, nosso senhor!

Vou voltar pro norte/ semana que vem
Deus já me deu sorte/ mas tem um porém
Não me deu a grana/ pra eu pagar o trem.

MA
EEi! Ma! Você é tão boa!
(MA em hindu é mulher)
EEi! Ma! Como você voa!
Não me dá nenhuma colher de café
EEi! Ma! Você ri à toa!
Contigo jogo melhor que Pelé
Ma não é qualquer pessoa, não
Enquanto eu pretendo ser, ela é

O sol tem sete estágios
As estrelas também
Um elefante é tão elegante
Procuro Ma, a minha amante

Os magos chegam bem cedo
Montados em incríveis motos
Encontro Ma, minha amante
Sentada numa flor de lótus

DA COR DO CACAU
(Guilherme Arantes)
A minha morena é cor do cacau
sabor de banana é sol tropical

Este balanço é pra te embalar
esta canção é prá te encantar
estes acordes são recordação
que nunca é tarde, não, no coração
O meu Reggae é pra regalar
a minha Salsa é pra temperar
o meu Calipso é pra refrescar
ah, e o Merengue é pra suspirar

BELA
Ela
É
Bela
Bela como a luz elétrica
Mensagem pura
Como as letras do alfabeto
Estas estrelas
Como poema concreto
Claro projeto
Como um lugar comum secreto
Ela

Ela o avesso do verso: O processo
A prosa; o trabalho em progresso
Meu lance de dez no acaso do sucesso
Mensagem de amor na votação do congresso
Meu voto é dela!

Ela
Minha (a) ventura, minha bem – aventurança
Minha mãe, minha irmã, minha mulher, minha criança
Raiz do meu cantar, matriz da minha contradança
Bárbara beatriz é ela

Ela
Sensibilidade de fortaleza à luz do dia
Toda a sensualidade da Bahia
Folia da utopia da anarquia da poesia
Inferno e paraíso é ela

PARAÍSO
Amo tua voz e tua cor
E teu jeito de fazer amor
Revirando os olhos e o tapete
Suspirando em falsete
Coisas que eu nem sei contar
Ser feliz é tudo que se quer

Ah! Esse maldito fecho éclair
De repente a gente rasga a roupa
E uma febre muito louca
Faz o corpo arrepiar
Depois do terceiro ou quarto copo
Tudo que vier eu topo
Tudo que vier, vem bem

Quando bebo perco o juízo
Não me responsabilizo
Nem por mim, nem por ninguém
Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar

Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar
Tens um não sei que de paraíso
E o corpo mais preciso
Do que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou

DO MAR, DO CÉU, DO CAMPO
Fê-pê, Lê-pê, O-pô, Rê-pê,
Aflor do mar, o céu: Rose Selavy.
Lê-pê, A-pá, Ga-pá, O-pô, O-pô, Quê-pê:
A Giocondadá, flor do campo.

Ay! Minha moça ready made passando de virgem à noiva.
My non sense of humour, minha máquina de viver.
Ay! Fonte. Um nu descendo um novo lance de escadados.
Orei, a rainha, o cavalo, o peão, o grande vidro de xadrez.

Cê-pê, A-pá, Nê-pê, Tê-pê, A-pá, Rê-pê,
Cantar o mar no céu, la vie en rose aqui
Estuve pensando en ti, xyz de mi problema:
A culpa é do cinema!

A-E-I-O-U, doble U, dobre o U
Na cartinha da Juju, Misanu.
A-E-I-O-U, dabliú, dabliú,
Que a partilha é de Ubu.

Noiva Maria, denudada por seus parceiros solteiros.
Ay! Dama do meu fliperama, mulher-objeto trovado no chão.
Oh! sonho que o dinheiro compra. Oh! pedra de toque, palavraclosada
Oh! trova clusada. E Kitsh goliardo
Que inventa-provença na minha canção!

A/B/C/D/E/Fê/Guê/
Agá/I/K/Lê/Mê/
N/O/P/Q/Rê/
STUV pensando en ti, XYZ de mi problema:
A cULpa é do cinema

A ESTRANHELEZA
(Arnaldo Antunes)
Pétala de flor na bochecha
Se enfeita, na mata, a menina preta
Fanta-uva, doce corante
Sou feliz, no pé  
verniz diamante

Eê, língua de macaco êê
Perna de serpente
Hóstia manchada de batom
Bomba tomar
Num tá tudo bom

Eê, êe
Eieiei iê
Eieiei iê eê
Eê eê!

Em Saturno há tempestades douradas
No céu (no Céu!!) eu tenho dez namoradas
Tanta estranheleza me encanta
Santa mulher com pele de planta

Eê, língua de macaco, êê
Perna de serpente
Miss mistério no stereo do som
Pérola, tudo tambor tão bom

ELA
Ela contou pra mim que tinha sonhos e se assustava
Por não saber o sentido daquele lance vivido nas ultimas madrugadas
Ela contou pra mim que tinha medo do seu espelho, queria um apoio um conselho
Mas não contava o segredo que seu olhar revelava
Mas a vida era uma festa e as viagens eram fugas
E a solidão, a única amiga a unica certeza da vida
Estava sempre esperando por ela em qualquer porto ou estação
Ela... Uau!
Ela contou pra mim que tinha sonhos e se assustava
Por não saber o sentido daquele lance vivido nas ultimas madrugadas
Ela contou pra mim que tinha medo do seu espelho, queria um apoio um conselho
Mas não contava o segredo que seu olhar revelava
Ela contou pra mim que tinha sonhos
Ela contou pra mim que tinha
Ela contou pra mim que
Ela

RIMA DA PROSA
Deixe nessa casa sua fala gravada na fita
Permita que eu aperte o botão

O sol glorioso iluminou toda a cidade
E nós cantores
Se a morte chega já deixamos a nossa voz
E alegria nos dentes
Nos olhos dos contentes

A nossa pose na fotografia
Que revela o belo e a bela
Cravo e canela
Verso universo
Romance e folia

Rima da prosa  
que o corpo irradia

sábado, 28 de março de 2020

D4VE e EVERYTHING IS BEAUTFIFUL, AND I’M NOT AFRAID - análise e crítica das HQs

ouvindo: Raul Seixas, Gita, de 1974

após dormer 10 horas seguidas, acordar pra tomar banho e comer e depois dormir  mais quatro horas, fui ver o que tinha de bom na internet e aproveitei pra catar umas HQs lá no Invisíveis que ainda não tinha lido e aproveitei pra completar minha coleção de Estranhos no Paraíso que ‘tava incompleta. e, como tinha uma lá cujo roteiro me interessou mas não tinha completa no site, fui catar lá no GetComics. TODAVIA a melhor surpresa foi saber que Os Batutas, site do qual eu garimpava as HQs das TARTARUGAS NINJAS tinha voltado do limbo e aproveitei pra catar uma coisas de lá que ainda não tinha lido em computadores anteriores.mas o que foi que baixei [além d’os quatro primeiros números do crossover Power Rangers / Tartarugas Ninjas, parceria da IDW (que detém o copyright da publicação das TMNT em comics) e da Boom! (que detém o copyright da publicação dos Power Rangers), com roteiro de Ryan Parrott, arte de Simone di Meo e cores de Walter Baiamonte e Igor Monti comentarei assim que saírem os dois últimos números e as capas alternativas estão animais, fodidamente acima da média!!!]? 
a nova série de American Splendor – que, no Brasil, recebeu o título Anti-Herói Americano – , que narra a vida “ordinária” do servidor público Harvey Pekar e até comentei NESTE POST AQUI. como sempre, roteiros do Pekar, mas ao invés da arte de mestre Crumb, tem-se nas quatro edições lápis de Dean Haspiel, Ty Templeton, Hilary Barta, Greg Budgett, Gary Dumm, Richard Corben, Eddie Campbell, Chris Weston, Leonardo Manco, Chris Samnee, Chandler Wood, Rick Geary, Hunt Emerson, Josh Neufeld, Steve Vance, Zachary Baldus, Gilbert Hernandez, Ho Che Anderson e Bob Fingerman enquanto a coletânea anterior foi publicada pela, essa foi pela Vertigo. logo, com essa equipe e por essa editora, não tem como ser ruim!!!!
Samurai Jack, (também) da IDW e baseada na clássica/renomada/famosa/metodofônica-melhor-do-universo série de animação homônima criada por Genndy Tartakovsky para a Cartoon Network, com roteiro de Jim Zub e arte de Andy Suriano. 
Cryptocracy, da Dark Horse, com roteiro de Van Jensen e arte de Pete Woods.
Everything Is Beautiful, and I’m Not Afraid – a Baopu collection, graphic novel deste ano, com roteiro e arte de Yao Xiao e publicada pela estadunidense Andrews McMeel eu nao sacava essa editora e vou até ver que mais eles têm de bom.
D4VE, de 2013, da também estadunidense Monkey Brain, todavia distribuída pela IDW, que tem roteiro de Ryan Ferrier e arte de Valentin Ramon.

antes de lavar uma porrada de roupa entulhada no meu quarto eu li D4VE e depois de meter um banhoso e um litro de café gargant’abaixo, li Everything Is Beautiful, and I’m Not Afraid.
pela capa de D4VE, ‘cês já devem ter sacado que é ficção científica. e ‘tô comentando primeiro porque eu sou apaixonado pelo Dave Grohl e pelo David Bowie, e casaria com qualquer um dos dois e o casamento do roteiro de Ryan Ferrier (RoboCop, Power Rangers, Kong On the Planet of the Apes [FUDIDA PRA CARALHO, VALE DEMAIS A LEITURA!!!!!!!], TMNT. G.I. Joe, Sons of Anarchy, Narcos [PRECISO LER ISSO!!!!]) com a arte de Valentin Ramon Menendez (John Saul Presents The Blackstone Chronicles, British Showcase Anthology, Imaginary Drugs) transformam essa mini em cinco edições (publicadas inicialmente em formato digital pela Monkey Brain entre 2013 e 2014 e então em um encadernado fisico pela IDW em 2015) em uma declaração de amor a um dos três gêneros estético-literários surgidos no período do Romantismo, porque praticamente todo o canônico produzido dentro desta (escola/sub-escola foda-se, decide ai sozinho) só não tem referência a nada de mecha e de robô gigante. de resto, tem de tudo em D4VE (se tu não veres as referências à Casablanca e ... E O Vento Levou, faça o favor à humanidade de se matar-se a si mesmo).
se deve ter duas coisas em mente à leitura desta série. a primeira é que o termo anglófono robot, até hoje utilizado, advém do vocábulo de origem eslava robota (“trabalho forçado”), criado pelo escritor, tradutor, fotógrafo, dramaturgo e jornalista checo Karel Čapek (1890-1938) para sua peça R.U.R. – acrônimo de Rossum’s Universal Robots –, de 1920. a segunda é que este resultado de manufatura moderna atende o conceito de mecatrônica[1], que Adamowski e Furukawa (2001) pontuam como a “aplicação combinada de conhecimentos de áreas tradicionais como a Engenharia Mecânica, Eletrônica e Computação de forma integrada e concorrente”.
“mas quem porra é D4VE?”
os humanos criaram os robôs para cumprir tarefas que não conseguiriam devido suas estruturas orgânicas e depois os situaram para executar as que se consideravam indignos (tipo nativos de determinados lugares fazem com estrangeiros [e depois reclamam que não tem emprego disponível]). e lá então situados em fábricas, escritórios, editoras, na puta que pariu que os humanos os colocavam pra trabalho, um belo dia os robôs chegaram a um meio-termo de nirvāṇa[2] e satori[3], se encaralharam com os humanos e os quitam do planeta, até – como no nome do filme – o último homem. copiando o “costume humano” de sempre pensar alto, eles decidem quitar TODOS OS SERES VIVOS DA GALÁXIA[4].
os robôs passam a se comportar IGUALZINHO os humanos o faziam, com as mesmas vidinhas escrotas miseráveis
os robôs passam a se comportar IGUALZINHO os humanos o faziam, com as mesmas vidinhas escrotas miseráveis, praticamente dobrando o clima do planeta a seu favor e transmutando até bichinhos inhos inhos[5] a condições maquinárias (ratos, libélulas, casais de passarinhos), e consumindo tudo o que os sapiens deixaram de cultura já pronta (um C A R A L H A L de referência pra ser pega e degustada em TODO o texto), para o bem e para o mal. e D4ve, de herói de guerra e símbolo da ascensão do desenvolvimento robótico (ele mesmo diz que esse “desenvolvimento” não passa de uma mentira e que os robôs não são moralmente melhores que os humanos), se torna nada mais que um funcionário de uma hidrelétrica cuja energia alimenta a cidade onde vive com a esposa, S4lly, que não tem mais paciência com sua broxice (a de D4ve) frente ao mundo (ele não aceita os novos tempos e a nova vida), e 5cotty[6], um típico adolescente descolado retardado contestador da ordem vigente que sempre aparece em filme de adolescente pra tirar onda com os adolescentes; e tendo que aguentar um chefe altamente cretino cujo único prazer na vida é encher a porra do saco do personagem-título.
mas ai que, em uma chupada conjunta (UI!) no primeir’O Dia em que a Terra Parou e no primeiro Independence Day, a espécie aliegenígena K’laar chega à Terra alegando serem das profundezas do espaço propondo um acordo pacífico entre as espécies e D4v3 saca imediatamente o migué e se apercebe que alguém tem que fazer algo a respeito, já que seus pares estão totalmente apáticos quant’à situação geral (a zuada com a Hillary Clinton é GE NI AU AU AU).
ai que dá pra sacar a intermidialidade e internarratividade entre HQ e videogames e filmes de ação, já que a pegada da HQ muda pra algo bem videogameístico, dinâmicão, que dá pra sacar que funcionaria bem num videogame ou numa animação mesmo tipo Duro de Matar espacial – estrelando D4ve McClane –, já que o design do D4ve lembra muitaço o Zeta do Projeto Zeta.
Projeto Zeta, série estadunidense de animação do gênero ficção científica criada por Robert Goodman e produzida pela Warner Bros. Animation. 
levanta a mão só quem sabia que é um spin-off do Batman do Futuro!
o que o D4ve faz? se empolga igual o caralho e vai atrás de quitar os K’laar da E4rth, ajudado por quem pelo animal do 5cotty tais ações são reprovadas por Tin4, irmã de S4lly, que definitivamente não curte D4ve, o tendo como um eu na vida maior cuzão cretino fracassado do universo, que D4ve se vê assim após o fim das guerras dos robôs contra o final do universo e este vai detonar os antagonistas para procurar uma – posso chamar assim? – redenção?
a mudança de climática e velocidade na narrativa a faz perder a força? não, não faz, ainda mais que sempre se pergunta se vai conseguir ou não e se sua mulher vai gostar dele da mesma maneira que eles se conheceram caso ele consiga quitar os da E4rth, frustrando seus planos de fazer a rainha se alojar no centro da terra e repovoar o planeta só de K’laar (REFERÊNCIAS GRITANDO).
precisa dizer que o D4ve consegue? não, né? precisa dizer que ele e a S4lly se reconciliam? não, né? a grande surpresa é 5cotty se tornando um cadete da próxima Força de Elite que protegerá a Terra de forças invasoras, algo bem final de filme de ação made in USA, enlatadão clichêzão. e isso também não compromete o resultado final porque ainda existe a crítica perene de pra onde estamos indo enquanto sociedade e civilização e também e o quanto ainda temos de humanidade e o quanto nos permitimos robotizar, automatizar e alienar.
talvez eu escreva algo sobre D4ve um dia, cedo ou tarde, porque esse merece. e merece aquela leitura estaile também. não há de se ter arrependimentos

 
Everything Is Beautiful, and I’m Not Afraid – a Baopu collection, da chinesa radicada nos Estados Unidos Yao Xiao, não somente vai no caminho totalmente oposto a D4VE, mas também é aquela HQ, aquela GRAPHIC NOVEL que tu que se dizes fã/leitor/consumidor de HQ tens a obrigação cívica e moral de ler pelo menos uma vez na vida para reivindicar tal/is título/s.
Xiao nos presenteia com um texto cujas perguntas já neuraram todo mundo pelo menos um monte de vezes na vida durante a vida mas (quase) ninguém fala, quase ninguém externa, e ficamos com isso sempre matutando na cabeça, sem parar, sem parar, sem parar. Everything Is Beautiful... trata, inclusive, sobre pertencimento... NÃO-pertencimento... distanciamentos (e [não]-comunicação durante estes)... aproximações... e recomeços, sobre o quão fudido é não pertencer, o quão fudido é recomeçar independente de “onde” e “quando” e “porquê”, independente de origem, etnia, classe social, sexualidade etc etc etc.
outrossim, é importante falar qu’ess’obra inclui sexualidade nos tópicos temáticos, visto que a autora é bissexual[7] e muitas das questões que põe à mesa – ou mesmo que provêm de outras interrogações – são oriundas desta palavra-chave[8]. não se pode esquecer que, mesmo se sendo hetero, já há uma pressão fudidaça (QUE INSISTEM EM DIZER QUE NÃO EXISTE) quanto a falar, NÃO-falar de sexualidade, uma maior ainda sobre o tema homoafetividade[9], acerca de bissexualidade[10] há uma [pressão] do tamanho de uma FUCKING Gigante Vermelha[11], ainda que seja um dos temas que “todo mundo fale quando ninguém está vendo” (♪♫HIPOCRISIAAAAAAAAAA, EU QUERO UMA PRA VIVEEEEEEEEEEEEER♪♫). alguém disse, em algum momento, algum dia, algum lugar[12] que sexo é a força-motriz da nossa espécie, guiando o que fazemos até mais do que dinheiro, vida o que há de produção cultural que contempla, de modo ou outro, sexo (vide as espaçonaves dos K’laar, os antagonistas de D4VE, caso se preste bastante atenção) e este seja o VERDADEIRO tema que, apesar de todo mundo falar ABERTAMENTE o tempo todo (ainda que a maioria das pessoas que fale sobre não faça fuckin ideia do que esteja falando sobre)... ah, foda-se, vocês entenderam.
sobre a arte, releva-se aqui que Xiao é ilustradora de longa data e a forma que ela vai mudando de ares, temas e cores e enquadramentos (a nível de tamanhos dos quadros e palavras entre eles) chega a lembrar – mesmo que vagamente – as inovações estéticas apresentadas pelo Steranko[13] e pelo Kirby[14], fazendo até pensar que porra eles diriam caso vissem a condução visual de Everything Is Beautiful... yeah, não que a arte seja, pra quem consuma MESMO HQ, oh, nova, lembrando em muitos momentos dos muitos melhores momentos do nosso queridíssimo e estimadíssimo Iturrusgarai[15], o que é, mais-do-que-definitivamente, um senhor ponto a favor da obra.sem contar que muitas passagens simulam dos cartões postais que se compram mas são tão bunitus, tão bunitus, tão bunitus, que a vontade de enviar pra alguém passa a cada vez que se olha.
e a não ser que tenhas a sensibilidade de um macho branco hetéro de internet que se ofende com tudo que fuga a seu paradigma/status quo/welfare state, Everything Is Beautiful, and I’m Not Afraid – a Baopu collection é uma senhora leitura que vale à pena pra caralho. não ter público alvo também é uma senhora cesta de três pontos pr’esse título.claro que, quando geral tiver ciência dess’obra, não haverá de tardar pipocarem pesquisas acadêmicas a tendo como Forschungsobjekt[16], seja de Psicologia, seja de Teoria Narrativa, seja de Semiótica, seja de Artes Gráficas/Visuais (que também podem apelar/tratar de Semiótica), seja de Estudos de Gênero, seja de Filosofia. é um grande cardápio de possibilidades!

tal qual D4VE e mediante o mundo estar funcionando a ¼ de carga, Everything Is Beautiful... não tem previsão de publicação no Brasil, todavia creio que, cedo ou tarde, ‘tá por ai em algum site de site de scan por ai (não, não achei Everything Is Beautiful... no Invisíveis, e sim no GetComics quando fui procurar o Cryptocracy na íntegra pra ler).


no mais, caso lhe possível seja, fique em casa, leia quadrinhos, o mundo e o próximo agradecem.


* colaboraram nesse post (e, por conseguinte, aqui presto meus agradecimentos): Marcelo Jorge Luz Mesquita e Marcelo Jamaica, pelos cálculos das massas solares; e Christian Marques Barros e Líscia Ariane Perez, pelas observações de detalhes na sintaxe em algumas passagens.



[1] Martins (2006) determina a mecatrônica como “a conjunção de subsistemas mecânicos e subsistemas eletrônicos para conceber, projetar, gerenciar e produzir infinidades de sistemas”. já Malafaia (2013) observa que “área da ciência, tal como outras que tiveram seu desenvolvimento acelerado durante a Corrida Armamentista, foi bastante pesquisada e estruturada”.
[2] “Estado de total libertação do sofrimento e consequente renascimento” (GÓMEZ, 2003, p.600, IN: BUSSWELL JR, 2003). mas não que os robôs pudessem “sentir” “sofrimento”, se é que vocês me entendem.
[3] “Iluminação de olhos abertos” (CAMPBELL, 1994, p.32; HENRIQUES, 2000, p.150).
[4] sendo produzidos por seres humanos e como as obra também “carregam os genes dos criadores”, não se pode dizer que isso seja necessariamente uma “surpresa”.
[5] caralho que ‘tô trazendo meus vícios de linguagem de Messenger pra cá!
[6] não, não AQUELE Scotty! também não confundir com “scotch”.
[7] sim, existe o termo “biafetiva” mas não ‘tô a fim de usar no texto principal. se não gostar, vá tomar no seu cu e quite daqui!
[8] ‘tá. sim. eu ‘tô sendo assaz academicista mesmo não puxando a formalidade linguística. perdão.
[9] como “homoafetivo” já ‘tá mais consolidado na minha memória de longa duração, eu uso ao invés do “homossexualidade”, que já caiu em desuso.
[10] ah, foda-se.
[11] uma estrela cujo raio mede dezenas ou centenas de vezes mais que o do Sol do nosso sistema solar, chegando a pesar de 0,5 a 10 massas solares (i.e., entre 0,99455*10^24 kg e 1.9891*10^31kg).
- massa solar é a unidade de medida de massa equivalente a 1.9891*10^30, sendo utilizada na
em Astronomia para representar a massa de estrelas, galáxias e corpos de grandes dimensões.
[12] acabei citando “Somewhere”, do Leonard Bernstein (1918-1990) e do Stephen Joshua Sondheim (1930-), sem querer. fail.
[13] James “Jim” Steranko, quadrinista, ilustrador e historiador estadunidense
[14] Jacob Kurzberg (1917-1994), vulgo Jack Kirby, roteirista e desenhista estadunidense de histórias em quadrinhos.
[15] Adão Iturrusgarai, cartunista brasileiro, autor de clássicos imperdíveis e impagáveis como Rocky & Hudson, Aline, Família Bíceps e Homem-Legenda.
[16] objeto de pesquisa.



R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

ADAMOWSKI, J. C. ; FURUKAWA, C. M. . Mecatrônica: Uma Abordagem Voltada à Automação Industrial. Mecatrônica Atual, , v. 1, p. 8 - 11, 01 out. 2001.
CAMPBELL, Joseph. As Máscaras de Deus – Mitologia Oriental. Trad. Carmem Fischer. São Paulo: Palas Athena, 1994.
GÓMEZ, Luis O. Nirvāṇa. IN: BUSSWELL, JR., Robert (Org.). Encyclopedia of Buddhism. Estados Unidos: Macmillan Library Reference, 2003. p.600-605.
HENRIQUES, A.R. Introdução ao Orientalismo. Record: Nova Era, 2000.
MALAFAIA, R.A. A recepção da Corrida Armamentista pela Narrativa em Arte Sequencial Metal Gear Solid. Monografia (Letras Alemãs) orientada pelo Prof. Dr. Cláudio Maurício Flores Morales e co-orientada pelo Prof. Dr. Luiz Guilherme dos Santos Júnior e pela Profª. Esp. Patrícia Moeller-Steffen. Belém: Universidade Federal do Pará, Belém, 2013.
MARTINS, A. . O Que é Robótica. São Paulo: Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, vol. 272, 2006. 











BIS 
ZU 
DEM 
BREAKING 
FUCKING 
NEUEN 
POST
!!!!

sexta-feira, 27 de março de 2020

KOE NO KATACHI - crítica e análise do mangá

ouvindo: Takehito Nakazawa, Hiroaki Kagoshima, UMIZO e WIZ•KISS, Genocyber Original Soundtrack, de 1994; e Metal Slug 3 Original Soundtrack, de 2003.

eu baixei essa no mesmo site de Zero Eterno, o Rodolfo já tinha me indicado essa e mais outra sobre problemas escolares e ai decidi passar o olho (UI!) em cima (UUUUUUI!!!). a NewPOP já tinha trazido a versão brasileira Herbert Richers e tem até uma animação, mas talvez eu assista a animação, mas não esperem que eu comente aqui (como farei com Eien no Zero).
Koe no Katachi é um mangá de sessenta e dois volumes compilados em sete volumes escritos e desenhados por Yoshitoki Ōima, publicados de forma bimestral entre novembro de 2013 e dezembro de 2014 no periódico Weekly Shōnen Magazine, da editora Kodansha. 
a animação – lançada em 2016, com roteiro de Reiko Yoshida e direção de Naoko Yamada – tem como norte verdadeiro o texto original a partir de suas tônicas determinantes, o bullying, a inclusão e a exclusão a partir das idiossincrasias pessoais (NINGUÉM = NINGUÉM), além da importância da comunicação entre seres (des)iguais para alcançarem um fucking denominador comum (i.e., quando ambas partes se compreendem, saussureanamente falando, psicolinguisticamente falando; eu até diria “charlessanderspeircemente”[1] falando, se já tivesse lido algo a sério dele[1.1]). 
e quando me refiro a bullying, me refiro a um filho da puta retardado que veio ao mundo a passeio que não tem o que fazer, vai incomodar alguém que ‘tá na sua. regra do bullying é clara: jogar pedra só quando te pedem e não em quem ‘tá na sua sem incomodar ninguém.
e quem faz essa cagada ensaiada é um corno chamado Ishida Shouya, que, como este que vos escreve, é um desocupado sem norte na vida que não sabe o que ‘tá fazendo nela – admito que me identifiquei com ele em decorrência destas características. Shouya passa a fazer isso por seus amigos cansarem de suas presepadas (os “testes de fidelidade coragem”) e irem atrás de seus rumos.
então que chega uma aluna nova à escola que Shouya “estuda”, Nishimiya Shouko. na verdade, ela é a primeira personagem a ser trabalhada na narrativa, quando é contado que ela é surda e o viado começa a perseguir a pobre, inclusive induzindo outros alunos da classe a fazerem isso, mesmo que o professor o repreenda a cada cagalhada que Shouya realize (vou falar desse professor mais adiante, fiquem ligados).
‘tá. certo. sim. eu ‘tô agindo de modo sociocentrista criticando o personagem a partir da MINHA perspectiva e sob o que EU faria, sendo que, no país de origem da Yoshitoki Ōima, ao contrário do que acontece hipocraticamente no Ocidente[2], pessoal não curte nada quem mija fora do pinico e cai matando mesmo e F O D A S E. chuva de napalam de bullying, bullying from above[3]. lá não tem essa frescura de “seja você mesmo (contanto que seja ‘você mesmo’ segundo o que a geral tem como ‘mesmo’ e não ofenda esta geral)”, é in persona massification e foda-se. essa imagem achei no 9Gag uns anos atrás ilustra muitíssimo bem o que quero dizer.
quem souber a autoria, colocar ai nos comentários, fazendo o favor nessa porra

apesar de nós, não-japoneses, acharmos do caralho essas marmotas nipônicas de ser o diferentão se fazendo de doido virado pra alcançar seus objetivos, na real eles não tem dessas por lá não e segundo minha experiência de convivência, não é aprovado ser fora do padrão deles – o que inclui gente de outras etnias e até mesmo portadores de necessidades especiais e isso me faz perguntar como porra eles permitiram que role os Jogos Paraolímpicos por lá, apesar de, é claro!, eu não pensar que rol[ass]e uma eugenia espartana destroyer no país (não que eu não duvide que isso aconteça por lá, pontua-se).
apesar dos avanços monstruosos de inclusão a PNE[5] no Japão (aqui no Brasil não dá nem pro cheiro, mas não é nenhuma novidade), esse “hábito japonês”[6] especiais se apresenta no fudido do protagonista de Koe no Katachi que leva o inferno à vida da protagonista, e endossado pela classe e pelo professor (!!!!!!!!!) que age como o típico filho da puta cretino que se considera intocável pela lei. Shouko assume a responsabilidade de tornar Shouko ciente do quão incomoda a classe por sua condição (ser surda), a ponto de causar injúrias físicas à guria e danificar muitos de seus aparelhos auditivos.
todavia, como “felicidade de pobre acaba cedo” (neste caso “felicidade” vem com INCONTÁVEIS aspas) (a mãe de Shouya é dona de um pequeno salão de beleza), El Principal[7] chega com a classe e “olha, seu bando de filho da puta, seu bando de fudido, seu bando de caralho, a mãe da aluna X veio aqui reclamando que zuaram a filha dela e deram fim em seus aparelhos auditivos. se não aparecer algum culpado, toda a turma vai pagar e o professor vai pagar fucking 50% de todos os artefatos danificados/perdidos”. todo mundo fica co coo na mão, começando pelo Shouya e seguindo pelo professor (“CARALHO, DOIDO, 50% DE 1x4^6 IENES[8] NUMA SÓ PORRADA!”) e o filho da puta2 [professor] entrega o filho da puta1 [Shouya], cuja mãe tem que arcar com as consequências financeiras e pedir desculpas à mãe de Shouko.
e o que acontece com o Shouya? acertou quem disse que toda a turma se voltaria contra ele, fazendo com ele o que não podiam fazer com a Shouko. Shimada e Hirose, os “escudeiros” se tornam seus algozes mais cruéis, roubando e jogando fora seus sapatos e, volta e sempre, lhe descendo o caralho e até o professor que endossara seus atos o tem como mentiroso, questionando suas súplicas e reclamações. quando Shouya descobre que Shimada e Hirose eram os ladrões de seus sapatos, os confronta e leva aquela senhora peia estaile, talvez a maior que eles lhe infligiram ao recobrar a consciência, vê-se amparado justamente por Shouko, a quem agride violentamente física e psicologicamente, a fazendo pedir transferência da escola – o que piora mais ainda a situação de Shouya.
ao decorrer dos anos o antigo valentão se torna estigmatizado e famigerado nas turmas escolares que frequenta por seus atos (mas lembrar da éguice que a turma dele fez com ele quando ele jogou a merda no ventilador dizendo que todo mundo – começando pelo professor – tinha culpa no cartório ninguém nem chegou a citar), chegando ao nível de ser publicamente isolado dos demais. 
e esse é o primeiro dos sete volumes e poderia ficar por ai mesmo, sendo aquela one shot no jeitão, inesquecível do seu jeito, mas Yoshitoki inventou de fazer uma porra duma novela que, salvo como raríssimos momentos que Shouko-no-oba se culpabiliza por ter gerado uma criança surda em virtude de todas as cagadas que fizera em vida; que Shouya-no-oba questiona os atos do filho, dizendo que não o criara para aquilo mas que não consegue reprova-lo totalmente; e quando os adultos se jogam merda uns nos outros para não admitir que todos são responsáveis do que acontece com a jovem, os volumes 2 a 7 são praticamente inúteis.sempre demora muito pra acontecer alguma coisa e deve ser por isso que quem viu o OVA (segundo vi no Twitter aind’estes dias) o prefira mais que o texto original, já que rola aquela enxugação de desnecessidades narrativas pro negócio.

admito que foi uma surpresa do caralho pra mim ler um shōnen[9] escrito por uma mulher (yeah, foi uma mulher que escreveu) e esta obra ter uma carga emotiva do tamanho do Seawise Giant[10] (i.e., maior petroleiro do mundo) pra algo do gênero. só depois de ler que vi que é uma autora e faz realmente uma cara que não leio não escrito por mulher que não seja poesia, conto e artigo acadêmico.
eu li porque o Green me indicou, e “bem, se ele me indicou é porque ou é shōnen ou é seinen, e porque deve ser fudidaça pra caralho”. admito que fiquei, no mínimo, impressionado pra caralho com os rumos tomados na obra, já que se trabalha a reinserção social de Shouya a partir de sua vivência com Shouko. o caralho é que uma merda muito melodramática pro gênero, quase apelando pro Shōjo[11] ou mesmo pra um Josei[12], e isso dá uma raiva muita da sua monstra
eu só recomendo a leitura de Koe no Katachi se tu gostares MUITO de mangá e querer MUITO uma leitura nova fora da caixinha. senão, champs, fecha a cara e passa reto porque não vai te fazer diferença.




e o salão no qual Shouko vai cortar o cabelo no começo do primeiro episódio pertence à mãe do Shouya




[1] Charles Sanders Peirce (1839-1914), filósofo, pedagogo, cientista, linguista, matemático e lógico estadunidense, além de pioneiro da ciência conhecida como Semiótica;
[1.1] o Semiótica e o Semiótica e Filosofia;
[2] mesmo que o Brasil e a América Latina se vejam como Ocidente, mas não sejam tidos como tal por estadunidenses, canadenses e europeus. muito mais informações em
- De NY a Brasília – O Ocidente não considera o Brasil Ocidental, de Guga Chacra, de 20 de junho de 2011;
- Brasil, país ocidental?, de Alex Castro, de 19 de Julho de 2014;

[4] APOCALYPSE NOW FEELINGS!
[5] portadores de necessidades especiais 
[6] ‘tá, sim, claro, essas marmotas de bullying aos considerados indiferentes também rola por aqui – mas eu divirto mais com gente filha da puta que se considera, por algum motivo, superior às demais, o meu caso não vem ao caso.
[7] quem assistiu o C R Á S S I C U Um Diretor contra Todos, com o James Belushi e o Louis Gossett, Jr. de 1987, vai pegar a referência.
[8] aproximadamente, 64.710 reais.
[9] mangá cujo público alvo são adolescentes do sexo masculino
[10] maior petroleiro do mundo
[11] mangá cujo público alvo são adolescentes do sexo feminino
[12] mangá cujo público alvo são mulheres já adultas










BIS 
ZU 
DEM 
BREAKING 
FUCKING 
NEUEN 
POST
!!!!

quinta-feira, 26 de março de 2020

BELCHIOR – OBJETO DIRETO - 1980

BELCHIOR
OBJETO DIRETO
1980
– todas as letras e músicas de Belchior, exceto onde indicado
OBJETO DIRETO
Eu quero meu corpo bem livro do peso inútil da alma
Quero a violência calma de humanamente amar
Eu quero quebrar o quebranto do permitido e do proibido
E nego o que nega os sentidos direito e dom de gozar
A verdade está no vinho “In vino veritas”
Que me faz gauche, anjo torto
Que retempera o meu corpo nos pecados capitais
Pois a pedra no sapato de quem vive em linha reta
É a sentença concreta
Viver e brincar e pensar tanto faz
Substantivo comum um infinito presente
Este, objeto direto, reto, repleto, completo
Presente, infinitamente

NADA COMO VIVER
Nada
Nada como viver
Nada como viver de repente
Nada, nada, nada, nada!
Nada como viver
Nada como viver de repente

Alegria é uma beleza
Com certeza eu viveria
Nessa cor que a moça usa
Além da blusa
Eu quero viver

Amar, prazer, por que não dizer
O palavrão, a palavra, tentação
Amar, prazer, por que não dizer
O palavrão, a palavra, coração

Nada, nada como viver
Nada como viver de repente
Nada, nada, nada, nada
Nada como viver
Comover é comover
Nada como viver de repente

Quando a vida acontecer
Tão bonita mocidade
A palavra independente
O corpo que sente
Sabe fazer

Amar, prazer, por que não dizer
O palavrão, a palavra, sensação
Amar, prazer, por que não dizer
O palavrão, a palavra, sem o senão

Nada
Nada como viver
Nada como viver de repente
Nada, nada, nada nada
Nada como viver
Nada como te ver tão contente

PEÇAS E SINAIS
Nós vamos morar
No mais alto andar
Daquele edifício
Que parece voar

De lá dá pra ver
Um navio que vem vindo
Bombas explodindo em homens
Quase soltos no ar

Em torno ao nosso quarto
Passam helicópteros
E envolvem nossos corpos
Em círculos mortais

A hélice metálica
Risca nosso beijo
E deixa em nossa pele
Peças e sinais

Mas nós não somos bobos
Bomba de hidrogênio
Não vamos permitir
Que a vida acabe assim

Vamos refazer o amor
Um manchão submarino
Bomba H, foguete
Não teremos fim

YPÊ
Contemplo o rio que corre parado
E a dançarina de pedra que evolui
Completamente, sem metas, sentado
Não tenho sido, eu sou, não serei, nem fui
A mente quer ser, mas querendo erra
Pois só sem desejos é que se vive o agora
Vêde o pé do ypê apenasmente flora
Revolucionariamente
Apenso ao pé da serra
Vêde o pé do ypê apenasmente flora
Revolucionariamente
Apenso ao pé da serra

Contemplo o rio que corre parado
E a dançarina de pedra que evolui
Completamente, sem metas, sentado
Não tenho sido, eu sou, não serei, nem fui
A gente quer ter, mas querendo era
Pois só sem desejos é que se vive o agora
Vêde o pé do ypê apenasmente flora
Revolucionariamente
Apenso ao pé da serra
Vêde o pé do ypê apenasmente flora
Revolucionariamente
Apenso ao pé da serra

AGUAPÉ
Capineiro de meu pai
Não me corte os meus cabelos
Minha mãe me penteou
Minha madrasta me enterrou
Pelo figo da figueira que o Passarim beliscou

Companheiro que passas pela estrada
Seguindo
Pelo rumo do sertão
Quando vires
A casa abandonada
Deixe-a em paz dormir
Na solidão

Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras no seio ao passar
Vai espantar o bando, o bando buliçoso.
Das mariposas que lá vão pousar

Esta casa não tem lá fora
A casa não tem lá dentro
Três cadeiras de madeira
Uma sala a mesa ao centro

Esta casa não tem lá fora
A casa não tem lá dentro
Três cadeiras de madeira
Uma sala a mesa ao centro

Rio aberto barco solto
Pau d’arco florindo a porta
Sob o qual ainda há pouco
Eu enterrei a filha morta
Sob o qual ainda há pouco
Eu enterrei a filha morta

Aqui os mortos são bons
Pois não atrapalham nada
Pois não comem o pão dos vivos
Nem ocupam lugar na estrada
Pois não comem o pão dos vivos
Nem ocupam lugar na estrada

Nada
A velha sentada o ruído da renda
A menina sentada roendo a merenda

Nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada.
Aqui não acontece nada não
Nada
Nada
Nada
Nada absolutamente nada
E o aguapé lá na lagoa
Sobre a água nada
E deixa a borda da canoa
Perfumada
É a chaminé à toa
De uma fábrica montada
Sob a água que fabrica
Este ar puro da alvorada
Nada, nada, nada, nada, nada, nada
Aqui não acontece nada não
Nada
Nada, nada, nada, nada, nada, nada
Nada absolutamente nada.
* inclui passagem do poema “A Cruz da Estrada”, do poeta brasileiro Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871) *

CUIDAR DO HOMEM
Cuidar do homem
Cuidar do homem

Solução, rima, Raimundo
é chegado o fim de tudo
e o mundo pode acabar

Solução, rima, Raimundo
é chegado o fim de tudo
e o mundo pode acabar

Cuidar do homem
Cuidar do homem

De tanto ver, fiquei cego
surdo de tanto escutar
Ainda me sinto gente
mas não posso respirar

Tem veneno em toda terra
Mil fumaças pelo ar
Não tem pássaro nem bicho
E monte líquido de lixo
Se tornou a água do mar

Não tem pássaro nem bicho
E monte líquido de lixo
Se tornou a água do mar

Cuidar do homem
Cuidar do homem

Pra quem pensava que Hiroshima, meu amor
tinha sido exemplar
Há Bomba N, há de Hidrogênio, há Bomba Atômica
Só quem não tem nenhuma simpatia pela raça humana
pode insistir
num desrespeito tão flagrante ao direito de existir
Talvez, se esses caras tivessem uma bela dama
um amor puro
fizessem fama, sobre a cama, como autores do futuro
Por isso, enquanto esses dementes
tomam por amantes bombas e usinas
eu canto, eu danço, eu fumo, eu bebo, eu como, eu gozo
com essas meninas
E se você vier com essa: que eu sou ingênuo, artista louco
digo: eu concordo. Eu pinto, eu bordo
eu vivo muito e ainda acho pouco
Por isso é sempre novo afirmar
Não faça a guerra. Faça o amor
E viva a vida os seus instintos em poder da flor

Por isso é sempre novo afirmar
Não faça a guerra. Faça o amor
E viva a vida os seus instintos em poder da flor

SEIXO ROLANDO
Tudo o que tenho é meu corpo
Sou o que tenho e te dou

Com um corpo como o teu
Não precisas nem de alma
Sente a minha violência
Como uma essência de calma
Anjos, se houvesse anjos
Claro, seriam como tu
No corpo, rosa dos ventos
Tudo é norte, tudo é sul
Se oriente, se ocidente
Toda cor corre pro azul
Não nada como o nada que é o eu
Indescritível nu

Sou um seixo rolado
Na estrada do lado
De lá do sertão
E ser tão humilhado
É sinal de que o diabo
É que amassa o meu pão
Mas meu corpo é discente
E, civilizada a mente
Gosta, cheira, toca, ouve e vê
E, com amor e anarquia
Goza que enrosca e arrepia
Roquerolando em você
Be-bopeando em você
Calipsando em você
Merenguendo em você
Bluesbusando em você
Um boogie-woogie em você
Tango um bolero em você
Chorando em você

JÓIA DE JADE
Trago guardada num quintal dentro de mim
(horto fechado que o povo chama jardim)
A fina flor do alecrim
Cheirosa dama da noite
Rosa de cheiro sem fim

Flora, abomina - deusa encarnada!
Mostra-me a sina: um v de verão
Jazzmin secreto ao sol glorioso
Um mistério gozoso pro meu coração

A face oculta da lua aparece na água do brejo
Vitória régia: a ausência total de desejo
Jóia de jade de onde a luz vem
Lâmina animal - espelho
Que tudo reflete e que nada retém

A paz da verdade preserva mesmo um bichinho
E faz a vontade da erva e do ovo - do ninho
Que as coisas sejam só o que são
Eis o fausto do amor sem defeito
Sujeito objeto de nula intenção

DEPOIS DAS SEIS
Quando a fábrica apitou e o trabalho terminou
Todo mundo se mandou
Sem desejos de voltar
Como o mar não tá pra peixe
Ai, mulata, não negues teu cabelo
E, aproveitando esta deixa
Vem viver, me comer, vem me dar
Renascer, descansar

O sol posto
Enxuga o suor do meu rosto
Que eu não sou cativo por gosto
Estou vivo e berrando da geral
E a moçada é que faz de fato a festa
Em cidade como esta
Onde ser gente é imoral
Conheço a lua
E não conheço o meu quintal
A culpa é tua
Eu cantei todo esse mal

Eu... a andorinha
Contou que, sozinha
Canta, mas não faz verão
Tem boi na linha
É o mesmo trem, a mesma estação
Resumindo
Até logo, eu vou indo
Que é que estou fazendo aqui?
Quero outro jogo
Que este é fogo de engolir

MUCURIPE
(Belchior e Raimundo Fagner)
As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vou mandar as minhas mágoas
Pras águas fundas do mar

Hoje à noite namorar
Sem ter medo da saudade
Sem vontade de casar

As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vou mandar as minhas mágoas
Pras águas fundas do mar

Hoje à noite namorar
Sem ter medo da saudade
Sem vontade de casar

Calça nova de riscado
Paletó de linho branco
Que até o mês passado
Lá no campo inda era flor

Sob o meu chapéu quebrado
Um sorriso ingênuo e franco
De um rapaz novo encantado
Com vinte anos de amor

Aquela estrela é dela
Vida, vento, vela, leva-me daqui
Aquela estrela é dela
Vida, vento, vela, leva-me daqui

As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vou levar as minhas mágoas
Pras águas fundas do mar

Hoje à noite namorar
Sem ter medo da saudade
Sem vontade de casar

Calça nova de riscado
Paletó de linho branco
Que até o mês passado
Lá no campo inda era flor

Sob o meu chapéu quebrado
Um sorriso ingênuo e franco
De um rapaz moço encantado
Com vinte anos de amor

Aquela estrela é dela
Vida, vento, vela, leva-me daqui
Aquela estrela é dela
Vida, vento, vela, leva-me daqui