ouvindo: Takehito Nakazawa, Hiroaki Kagoshima, UMIZO e WIZ•KISS, Genocyber Original Soundtrack, de 1994; e Metal Slug 3 Original Soundtrack, de 2003.
eu baixei essa no mesmo site de Zero Eterno, o Rodolfo já tinha me indicado essa e mais outra sobre problemas escolares e ai decidi passar o olho (UI!) em cima (UUUUUUI!!!). a NewPOP já tinha trazido a versão brasileira Herbert Richers e tem até uma animação, mas talvez eu assista a animação, mas não esperem que eu comente aqui (como farei com Eien no Zero).
a animação – lançada em 2016, com roteiro de Reiko Yoshida e direção de Naoko Yamada – tem como norte verdadeiro o texto original a partir de suas tônicas determinantes, o bullying, a inclusão e a exclusão a partir das idiossincrasias pessoais (NINGUÉM = NINGUÉM), além da importância da comunicação entre seres (des)iguais para alcançarem um fucking denominador comum (i.e., quando ambas partes se compreendem, saussureanamente falando, psicolinguisticamente falando; eu até diria “charlessanderspeircemente”[1] falando, se já tivesse lido algo a sério dele[1.1]).
e quando me refiro a bullying, me refiro a um filho da puta retardado que veio ao mundo a passeio que não tem o que fazer, vai incomodar alguém que ‘tá na sua. regra do bullying é clara: jogar pedra só quando te pedem e não em quem ‘tá na sua sem incomodar ninguém.
e quem faz essa cagada ensaiada é um corno chamado Ishida Shouya, que, como este que vos escreve, é um desocupado sem norte na vida que não sabe o que ‘tá fazendo nela – admito que me identifiquei com ele em decorrência destas características. Shouya passa a fazer isso por seus amigos cansarem de suas presepadas (os “testes de fidelidade coragem”) e irem atrás de seus rumos.
então que chega uma aluna nova à escola que Shouya “estuda”, Nishimiya Shouko. na verdade, ela é a primeira personagem a ser trabalhada na narrativa, quando é contado que ela é surda e o viado começa a perseguir a pobre, inclusive induzindo outros alunos da classe a fazerem isso, mesmo que o professor o repreenda a cada cagalhada que Shouya realize (vou falar desse professor mais adiante, fiquem ligados).
‘tá. certo. sim. eu ‘tô agindo de modo sociocentrista criticando o personagem a partir da MINHA perspectiva e sob o que EU faria, sendo que, no país de origem da Yoshitoki Ōima, ao contrário do que acontece hipocraticamente no Ocidente[2], pessoal não curte nada quem mija fora do pinico e cai matando mesmo e F O D A S E. chuva de napalam de bullying, bullying from above[3]. lá não tem essa frescura de “seja você mesmo (contanto que seja ‘você mesmo’ segundo o que a geral tem como ‘mesmo’ e não ofenda esta geral)”, é in persona massification e foda-se. essa imagem achei no 9Gag uns anos atrás ilustra muitíssimo bem o que quero dizer.
quem souber a autoria, colocar ai nos comentários, fazendo o favor nessa porra
apesar de nós, não-japoneses, acharmos do caralho essas marmotas nipônicas de ser o diferentão se fazendo de doido virado pra alcançar seus objetivos, na real eles não tem dessas por lá não e segundo minha experiência de convivência, não é aprovado ser fora do padrão deles – o que inclui gente de outras etnias e até mesmo portadores de necessidades especiais e isso me faz perguntar como porra eles permitiram que role os Jogos Paraolímpicos por lá, apesar de, é claro!, eu não pensar que rol[ass]e uma eugenia espartana destroyer no país (não que eu não duvide que isso aconteça por lá, pontua-se).
apesar dos avanços monstruosos de inclusão a PNE[5] no Japão (aqui no Brasil não dá nem pro cheiro, mas não é nenhuma novidade), esse “hábito japonês”[6] especiais se apresenta no fudido do protagonista de Koe no Katachi que leva o inferno à vida da protagonista, e endossado pela classe e pelo professor (!!!!!!!!!) que age como o típico filho da puta cretino que se considera intocável pela lei. Shouko assume a responsabilidade de tornar Shouko ciente do quão incomoda a classe por sua condição (ser surda), a ponto de causar injúrias físicas à guria e danificar muitos de seus aparelhos auditivos.
todavia, como “felicidade de pobre acaba cedo” (neste caso “felicidade” vem com INCONTÁVEIS aspas) (a mãe de Shouya é dona de um pequeno salão de beleza), El Principal[7] chega com a classe e “olha, seu bando de filho da puta, seu bando de fudido, seu bando de caralho, a mãe da aluna X veio aqui reclamando que zuaram a filha dela e deram fim em seus aparelhos auditivos. se não aparecer algum culpado, toda a turma vai pagar e o professor vai pagar fucking 50% de todos os artefatos danificados/perdidos”. todo mundo fica co coo na mão, começando pelo Shouya e seguindo pelo professor (“CARALHO, DOIDO, 50% DE 1x4^6 IENES[8] NUMA SÓ PORRADA!”) e o filho da puta2 [professor] entrega o filho da puta1 [Shouya], cuja mãe tem que arcar com as consequências financeiras e pedir desculpas à mãe de Shouko.
e o que acontece com o Shouya? acertou quem disse que toda a turma se voltaria contra ele, fazendo com ele o que não podiam fazer com a Shouko. Shimada e Hirose, os “escudeiros” se tornam seus algozes mais cruéis, roubando e jogando fora seus sapatos e, volta e sempre, lhe descendo o caralho e até o professor que endossara seus atos o tem como mentiroso, questionando suas súplicas e reclamações. quando Shouya descobre que Shimada e Hirose eram os ladrões de seus sapatos, os confronta e leva aquela senhora peia estaile, talvez a maior que eles lhe infligiram ao recobrar a consciência, vê-se amparado justamente por Shouko, a quem agride violentamente física e psicologicamente, a fazendo pedir transferência da escola – o que piora mais ainda a situação de Shouya.
ao decorrer dos anos o antigo valentão se torna estigmatizado e famigerado nas turmas escolares que frequenta por seus atos (mas lembrar da éguice que a turma dele fez com ele quando ele jogou a merda no ventilador dizendo que todo mundo – começando pelo professor – tinha culpa no cartório ninguém nem chegou a citar), chegando ao nível de ser publicamente isolado dos demais.
e esse é o primeiro dos sete volumes e poderia ficar por ai mesmo, sendo aquela one shot no jeitão, inesquecível do seu jeito, mas Yoshitoki inventou de fazer uma porra duma novela que, salvo como raríssimos momentos que Shouko-no-oba se culpabiliza por ter gerado uma criança surda em virtude de todas as cagadas que fizera em vida; que Shouya-no-oba questiona os atos do filho, dizendo que não o criara para aquilo mas que não consegue reprova-lo totalmente; e quando os adultos se jogam merda uns nos outros para não admitir que todos são responsáveis do que acontece com a jovem, os volumes 2 a 7 são praticamente inúteis.sempre demora muito pra acontecer alguma coisa e deve ser por isso que quem viu o OVA (segundo vi no Twitter aind’estes dias) o prefira mais que o texto original, já que rola aquela enxugação de desnecessidades narrativas pro negócio.
admito que foi uma surpresa do caralho pra mim ler um shōnen[9] escrito por uma mulher (yeah, foi uma mulher que escreveu) e esta obra ter uma carga emotiva do tamanho do Seawise Giant[10] (i.e., maior petroleiro do mundo) pra algo do gênero. só depois de ler que vi que é uma autora e faz realmente uma cara que não leio não escrito por mulher que não seja poesia, conto e artigo acadêmico.
eu li porque o Green me indicou, e “bem, se ele me indicou é porque ou é shōnen ou é seinen, e porque deve ser fudidaça pra caralho”. admito que fiquei, no mínimo, impressionado pra caralho com os rumos tomados na obra, já que se trabalha a reinserção social de Shouya a partir de sua vivência com Shouko. o caralho é que uma merda muito melodramática pro gênero, quase apelando pro Shōjo[11] ou mesmo pra um Josei[12], e isso dá uma raiva muita da sua monstra
eu só recomendo a leitura de Koe no Katachi se tu gostares MUITO de mangá e querer MUITO uma leitura nova fora da caixinha. senão, champs, fecha a cara e passa reto porque não vai te fazer diferença.
e o salão no qual Shouko vai cortar o cabelo no começo do primeiro episódio pertence à mãe do Shouya
[1] Charles Sanders Peirce (1839-1914), filósofo, pedagogo, cientista, linguista, matemático e lógico estadunidense, além de pioneiro da ciência conhecida como Semiótica;
[1.1] o Semiótica e o Semiótica e Filosofia;
[2] mesmo que o Brasil e a América Latina se vejam como Ocidente, mas não sejam tidos como tal por estadunidenses, canadenses e europeus. muito mais informações em
- Você se considera ocidental? Para grande parte do mundo, o Brasil não faz parte do Ocidente, de Leonardo Rodarte, de 24 de setembro de 09 2018;
- Entendam, o Brasil não é Ocidente para os ocidentais, de Kai Ferreira, de 17 abril de 2019;
- Entendam, o Brasil não é Ocidente para os ocidentais, de Kai Ferreira, de 17 abril de 2019;
- De NY a Brasília – O Ocidente não considera o Brasil Ocidental, de Guga Chacra, de 20 de junho de 2011;
- Brasil, país ocidental?, de Alex Castro, de 19 de Julho de 2014;
- Why are Brazil & Argentina not considered Western countries?, de 02 de dezembro de 2011;
- Is Brazil a western country?, de 2014
[4] APOCALYPSE NOW FEELINGS!
[5] portadores de necessidades especiais
[6] ‘tá, sim, claro, essas marmotas de bullying aos considerados indiferentes também rola por aqui – mas eu divirto mais com gente filha da puta que se considera, por algum motivo, superior às demais, o meu caso não vem ao caso.
[7] quem assistiu o C R Á S S I C U Um Diretor contra Todos, com o James Belushi e o Louis Gossett, Jr. de 1987, vai pegar a referência.
[8] aproximadamente, 64.710 reais.
[9] mangá cujo público alvo são adolescentes do sexo masculino
[10] maior petroleiro do mundo
[11] mangá cujo público alvo são adolescentes do sexo feminino
[12] mangá cujo público alvo são mulheres já adultas
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