Postagem em destaque

YEAH, HOUSTON, WIR HABEN BÜCHER!

e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

poesia, o propósito da madrugada é de se escrever poesia

ouvindo: Finally Doomsday, Post Nuclear Armageddon, de 2010.

MEDOS QUE SÓ OS MOLEQUES TÊM
quando eu era moleque, eu tinha medo de não ter mais amigos 
agora vinte anos depois, já tenho os e as que preciso e não 
preciso de mais. 
há vinte anos eu tinha medo de ficar apaixonado e nunca ser correspondido 
hoje tenho medo de não retribuir suficientemente à altura 
o gostar de mim. 
eu tinha medo de ficar sempre escuro, de não amanhecer no outro dia 
eu ainda amo ver amanhecer mas muita claridade agora me incomoda. 
medo de moleque é morrer antes de completar os sonhos 
sonhos que só os moleques têm 
medo de homem adulto com alma de moleque é não sonhar mais. 
medos que só os moleques têm é falhar na hora de transar 
mesmo medo que homem barbudo tem mas não diz em voz 
igual qualquer moleque tem. 
eu só tenho medo de não poder dizer mais que tenho medo 
medo de chorar na frente dos outros não é medo 
medo é de não conseguir mais chorar 
medo de não ter mais por quem chorar, pelo quê chorar 
então pra quê chorar? 
atualmente quem quiser ficar, fica e quem quiser ir, vai 
que não vou impedir 
porque não tenho mais medo de ficar sozinho 
só de ficar com gente que não acrescente e seja peso morto: 
por acreditar não acrescentar e sendo peso morto 
eu ando simplesmente me afastando, partindo sem me despedir 
porque, se eu me despedir, eu paro e penso e acabo não indo e 
ficando pior depois. 
se eu não acreditasse que ficarão melhor sem mim, eu não iria 
e já tive medo demais de não ser um amigo bom o suficiente a ponto de 
isso destruir o meu coração e eu ficar sem chão. 
quando muleque eu queria todas minhas perguntas respondidas 
atualmente nem todas as perguntas valem à pena. 
e seria melhor não ter sabido muitas das respostas que tenho hoje pra 
como esse mundo – não acaba antes de mim, mundão – funciona. 
um medo que perdura, perenemente dura e permanece 
é o de escrever e não conseguir alguém a também o fazer 
e também por não aguentar a realidade em que vive e as 
sobrepostas umas às outras. 
há vinte anos, quando eu tinha dezesseis anos, 
eu não tinha medo do que iam dizer 
ainda hoje não tenho medo, mas tenho medo de 
ter medo de não começar e medo de começar e não terminar. 
há vinte anos 
quando eu tinha dezesseis anos 
eu falava “eu te amo” 
com a mesma facilidade de quem caga, bate punheta ou siririca. 
passados vinte anos 
não tenho mais dezesseis e sim trinta e seis anos 
e hoje tenho medo de não
poder dizer “eu te amo, tu és especial pra mim” 
pra quem eu amo e considero especial
e já fez diferença significativa positiva um dia na minha vida. 
enquanto amanhecer, me lembra que tenho que dizer
antes que não haja amanhecer seguinte.
meu medo é que não haja amanheceres suficientes para dizer 
para dizer...


:: 28 de outubro de 2019 :: 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você está em solo sagrado!
Agora entalhe com vossas garras na Árvore dos Registros e mostre a todos que virão que você esteve aqui!!!