:: MATANZA ::
:: PIOR CENÁRIO POSSÍVEL ::
:: 2015 :
A SUA ASSINATURA
Eu posso ouvir, e posso ver você tentando se esquivar de mim
Você nunca foi um cara muito esperto
Acha que de mim não vai chegar nem perto
Mas eu estou a poucos passos de você
Mas tudo bem, porque eu sei do gosto ruim que a paranoia tem
Sei do desconforto de quem sente medo
Não há bebida que afogue o seu segredo
A um passado que não pode revelar
Mas soube me pedir, saiba também me pagar
Fácil como foi ter vindo aqui me procurar
Eu sei como se sente, eu sei que se arrepende, é assim com muita gente
Mas se essa assinatura é sua, a sua alma impura agora vem pra mim
Mas se essa assinatura é sua, a sua alma impura vem pra mim
Eu derrubei muita gente pra poder te transformar em rei
De um povo que te olha com desprezo
É tão irônico que encontra-se indefeso
Eu faço muito gosto em vê-lo decair
Não sei dizer o que explica a obsessão de ter pra aparecer
De conseguir as coisas sem merecimento
E é por isso que agora o atormento
Com a verdade que não quer admitir
Mas soube me pedir, saiba também me pagar
Fácil como foi ter vindo aqui me procurar
Eu sei como se sente, eu sei que se arrepende, é assim com muita gente
Mas se essa assinatura é sua, a sua alma impura agora vem pra mim
O QUE ESTÁ FEITO, ESTÁ FEITO
Nada muito bom mas eu não posso reclamar
Cheguei muito mais longe do que eu pude imaginar
Deveria me encontrar em melhor situação
Poderia ter ficado menos tempo na prisão
Eu tenho consciência do que fiz
E só lamento não ter feito direito
Matei e sei que mereço morrer
Não mataria se não tivesse porque
Eu devo admitir que não fui muito legal
Pelo menos é o que diz a minha ficha criminal
Eu tentei me defender e mostrar quem tem razão
E peguei mais de duzentos anos de detenção
Foi muito importante pra pensar na vida
Mas eu não gostei da comida
E da liberdade não se abre mão
Então achei na dinamite a solução
Nada que eu ache bonito, sei que não tinha o direito
Não resolvi o conflito quando matei o sujeito
Admito que enfureço se me faltam com respeito
E o que está feito, está feito
Nada muito bom mas eu não posso reclamar
Cheguei muito mais longe do que eu pude imaginar
Deveria me encontrar em melhor situação
Poderia ter ficado menos tempo na prisão
Eu tenho consciência do que fiz
E só lamento não ter feito direito
Matei e sei que mereceu morrer
Não mataria se não tivesse porque
Nada que eu ache bonito sei que não tinha o direito
Não resolvi o conflito quando matei o sujeito
Admito que enfureço se me faltam com respeito
E o que está feito, está feito
MATADOURO 18
Muito se espantariam os vizinhos da área
Se um dia soubessem
Que nos fundos do Matadouro 18
Coisas assim acontecem
Chega a polícia, investiga
Não acha nada, nem desconfia
Que há gente trancada no piso de baixo há dias
Quantos mais vão cair
Pelo poço do matadouro 18
Da câmara fria impossível sair
Alguns são depois encontrados na margem do rio
Mas a maioria simplesmente sumiu
Os que já sabem
Hoje vivem na sombra do medo
Jamais dirão qualquer coisa
Eles guardarão em segredo
Mesmo com todas as mortes
Teremos sempre um desavisado
Que resolve passar a noite acampando no lago
Quantos mais vão cair
Pelo poço do matadouro 18?
Da câmara fria impossível sair
Existe um riacho lá perto que já foi bom pra pescar
Hoje a água é turva e lodosa, ninguém mais vai lá
Quantos mais vão cair
Pelo poço do matadouro 18?
Da câmara fria impossível sair
A noite se ouve abafado o barulho do incinerador
E o cheiro que vem com a fumaça
Revela uma noite de horror
CASA EM FRENTE AO CEMITÉRIO
Essa casa é minha
Deviam ter ficado fora
Não há saída agora
Aqui só há raiva e rancor
No chão em que pisam, muito sangue fora derramado
Está amaldiçoado e eu me alimento dessa dor
Foi nessa casa onde nasci
Onde eu passei a vida, onde morri
Não vou deixar ninguém chegar
E achar que é dono do lugar
Jamais vou tolerar
Eu tenho raiva de quem entra aqui
Ódio de quem entra aqui
Nojo de quem entra aqui
A casa foi erguida
Em frente ao velho cemitério
Solo morto estéril
Quero que continue assim
Nunca tive pena de nenhum dos velhos moradores
Os fiz passar horrores, tiveram um pavoroso fim
Foi nessa casa onde nasci
Onde eu passei a vida, onde morri
Não vou deixar ninguém chegar
E achar que é dono do lugar
Jamais vou tolerar
Eu tenho raiva de quem entra aqui
Ódio de quem entra aqui
Nojo de quem entra aqui
SOB A MIRA
Não morri no dia do acidente
Em que meu carro foi quase partido ao meio
Não contavam com sobreviventes
Com um desastre realmente muito feio
Não morri quando fui baleado
Apesar de ter cruzado um tiroteio
Eu mesmo fiquei admirado
Porque nenhum dos 27 foi em cheio
Vejo que o azar tem trabalhado muito bem
Mas a morte ao que parece não quer nem saber de mim
Deve ter havido um erro na digitação
Porque as coisas não costumam ser assim
Eu devia ter morrido envenenado
Por ter misturado whisky e gasolina
Nem sequer fui hospitalizado
O caso eu resolvi com uma aspirina
Não morri quando calcei a bota
Sem saber que havia um escorpião lá dentro
Pode ser que eu seja um idiota
Pois não faço disso um acontecimento
A única certeza que se tem nessa vida
É que ela acabe, contra isso não há nada a se fazer
Posso imaginar a sua indignação
Não é só a discussão que vai perder
Estive sob sua mira
E acabou sua munição
Pra você ver que o jogo vira
Não sou eu nesse caixão
Assim acaba sua vida
Vá você que eu não vou não
Boa sorte na descida
Não quero te dar lição nenhuma
Uma explicação melhor fico devendo
Não há uma palavra que resuma
E você também não tem mais muito tempo
O fato é que eu também não entendo
Eu sigo o rumo que o destino aponta
E nesse meio tempo eu vou bebendo
Até que a morte chegue e peça a conta
Agora se me der licença
Eu vou fumar o meu cigarro
Vou tomar uma cerveja por ai
Pode ser que um dia a sorte mude
Sei que fiz tudo que pude
Só por isso estou aqui
Estive sob sua mira
E acabou sua munição
Pra você ver que o jogo vira
Não sou eu nesse caixão
Assim acaba sua vida
Vá você que eu não vou não
Boa sorte na descida
PIOR CENÁRIO POSSÍVEL
Então você se vê, perdido em alto mar
Sem água, sem comida e sem ideia de onde está
Sem diesel no motor, sem sinalizador
Sem chance de ser visto, de ser salvo por quem for
Em tal situação, fácil perde-se a razão
Começa a esperar de Deus alguma explicação
O fato é que não há mais nada a se fazer
Você mal pode crer
Quando vê a tempestade se formando no horizonte
A nuvem carregada vindo em sua direção
Gira o botão, mas o rádio não responde
Água subindo de nível
Pior cenário possível
Casco na proa esta rachado
O barco já está adernado
Teria alguma sugestão?
Não!
Dois dias atrás, quando partiu do cais
Deixou a terra em que não pisaria nunca mais
E agora o que fará, não consegue pensar
Com o vento que bate, você começa a congelar
Nem barco de pesca, nem guarda costeira
Por mais que se queira, não passa nem um avião
Porão inundado, sem alternativa
Total a deriva
Vendo a tempestade se formando no horizonte
A nuvem carregada vindo em sua direção
Gira o botão, mas o rádio não responde
Água subindo de nível
Pior cenário possível
O mar ficando agitado
Você vai sendo arrastado
Até sumir na escuridão então
O PESSIMISTA
Reconheço na voz a mentira
Me admira a frieza do olhar
O sorriso fingido da ira
Tanto inspira quem quer te matar
O discurso é de fato asqueroso
O conceito é arcaico e sombrio
Com um pretexto confuso, ardiloso
Que defende o que nunca existiu
E você que me acusa de ser pessimista
Quer que eu fique sentado e assista
Esse mundo mudando por si
Não vai mudar
Vai ficar bem pior do que está
Mais inútil dizer
Se ninguém quer saber
Não vou ficar
Vou embora pra outro lugar
Não consigo viver
Perto assim de você
Atitude é sempre covarde
Partido que não pode explicar
A pergunta se faz muito tarde
A resposta não queira escutar
Não explica a miséria do mundo
Não entende, não vai discutir
Nos ordena que mude de assunto
Diga algo que os faça sorrir
E você que me acusa de ser pessimista
Quer que eu fique sentado e assista
Esse mundo mudando por si
Não vai mudar
Vai ficar bem pior do que está
Mais inútil dizer
Se ninguém quer saber
Não vou ficar
Vou embora pra outro lugar
Não consigo viver
Perto assim de você
CHANCE PRO AZAR
Podia ser pior, mas não foi dessa vez
Realmente impressionante o estrago que fez
Mas teve sorte sim, mesmo com a explosão
Teve só um braço quebrado e uma laceração
Você podia estar em casa com sua mulher
A derrota é fazer tudo o que o diabo quer
Não sabe nada
Sempre dando chance pro azar
A noite poderia ter tido um final feliz
É como se diz
Não sabe fazer
Acaba pondo tudo a perder
Diante do juiz, que muito quer saber
O porquê de tudo isso que deu em você
Sem ter o que dizer, não há como negar
Sempre esta na hora errada e no pior lugar
Seu advogado fala da situação
A fiança pelos danos chega a um milhão
Que pilha errada
Sempre dando chance pro azar
A noite poderia ter tido um final feliz
É como se diz
Não sabe fazer
Acaba pondo tudo a perder
ORGULHO E CINISMO
Muito me embrulha o estômago ler os jornais
Talvez seja pra humanidade tarde demais
Navio naufraga e derrama petróleo no mar
Material radioativo que a usina deixa vazar
Teoria da conspiração
O triste fim da civilização?
Ou só mania de perseguição que leva à paranoia
Pode alguém dizer o que estamos fazendo aqui?
Esta estrada acaba num abismo
Mas pelo visto nós vamos todos cair com orgulho e cinismo
Cogitar que o mundo pode acabar seria um grande exagero
Mas, se o futuro prometido aqui chegar, há de suportar o mau-cheiro
Um chefe de estado suspende os direitos civis
Epidemia de vírus dizima todo um país
A fraude é só o que sustenta o sistema legal
É fato, não é boato, não li no jornal
Teoria da conspiração
O triste fim da civilização?
Ou só mania de perseguição que leva à paranoia
Pode alguém dizer o que estamos fazendo aqui?
Esta estrada acaba num abismo
Mas pelo visto nós vamos todos cair com orgulho e cinismo
Cogitar que o mundo pode acabar seria um grande exagero
Mas, se o futuro prometido aqui chegar, há de suportar o mau-cheiro
Pode alguém dizer o que estamos fazendo aqui?
Esta estrada acaba num abismo
Mas pelo visto nós vamos todos cair com orgulho e cinismo
Cogitar que o mundo pode acabar seria um grande exagero
Mas, se o futuro prometido aqui chegar, há de suportar o mau-cheiro
CONVERSA DE ASSASSINO SERIAL
Precisa arrumar um novo culpado
Se tudo acabar dando errado
Precisa de um novo suspeito
Porque foi bem longe de um crime prefeito
Fez bem em tê-la enterrado
Pena que foi descuidado
Deixou na pá impressões digitais
Porque ninguém mais acredita
Que foi só um crime comum
Mesmo que a investigação não saiba onde procurar
Eu já vi mais de um repórter andando pelo local
Já começaram a publicar que é um assassino serial
A policia se depara com um cadáver
Associa uma série de outras mortes
Pelos traumas, pelos cortes
São imagens realmente muito fortes
O legista faz um relatório extenso
E atesta requintes de crueldade
Seis mulheres da mesma idade
Todas ela mortas no meio da tarde
Precisa sair disfarçado
Quando for deixar o condado
Precisa de um carro discreto
Não se preocupe vai dar tudo certo
Procure deixar pistas falsas
Cruze o rio pelas balsas
Pegue carona e siga pro sul
Eu cometi o mesmo erro que você tempos atrás
Me colocaram na cadeia, mas eu consegui fugir
Me escondi numa cabana na montanha por um mês
E não é pra me gabar, mas eu matei bem mais de seis
A policia identifica nas imagens
Um sujeito numa loja de ferragens
Um velhinho de aparência cordial
Chega a noite e compra dez quilos de cal
A patrulha o segue e chega numa casa
Que parece há muito tempo abandonada
Há vários corpos enterrados no quintal
Mas nem sinal do assassino serial