Para os que curtem o DEAD FISH está para lançar na segunda quizena de Fevereiro o novo CD - CONTRA TODOS - , que representa uma nova fase em sua trajetória, agora com uma guitarra, com as letras mais diretas e um rítimo mais rápido. São 14 canções que mostram o grupo maduro e cada vez mais metropolitano, já que adotou São Paulo como base. Um Dead Fish talvez nunca visto (ouvido) antes.
Segue abaixo um texto e entrevista de Maurício Sno.
Era começo dos anos noventa. O rock pulsava nas veias na mesma intensidade que os hormônios pulavam feitos loucos na cabeça de uns rapazes que resolveram montar uma banda na capital do Espírito Santo. Até aí nada demais, pois o que mais surgia naquela época era banda de rock. De hardcore então, nem se fala. Naqueles tempos era quase obrigatório cantar em inglês – a desculpa mais usada era "que soava melhor". Assim era o Dead Fish.
A banda é uma das pouquíssimas sobreviventes desse cenário, resistindo N vezes de virar mais um número nas estatísticas e hoje, quase 18 anos depois, é um dos mais importantes nomes do hardcore nacional, responsável por carregar milhares de pessoas ao mais de 1500 shows realizados em mais de 120 cidades que passaram. E tudo isso não se deve apenas por ter assinado com uma gravadora grande. Antes disso, já tinha um público fiel que acompanhava os meninos quando ainda eram independentes.
O Dead Fish tem uma particularidade: já vendeu mais de 350 mil discos sem ter a preocupação de cantar histórias de amores mal resolvidos ou dor de chifre. Mesmo com a maior exposição que conquistaram pós-Deck Disc, não mudaram o discurso de suas mensagens sempre recheadas de protestos. Talvez por isso que não se pode esperar a banda em programas dominicais ou mesmo na trilha sonora de Malhação. Este é o preço (ou a vantagem) de não ser igual.
Enfim o Dead Fish lança Contra Todos, que representa uma nova fase na trajetória da banda, agora com apenas uma guitarra, com as letras mais diretas e o som mais rápido. "Que tenha pressa quem quiser me alcançar", alertam em uma das músicas. São 14 canções que mostram a banda madura e cada vez mais metropolitana, já que adotou São Paulo como base. Um Dead Fish talvez nunca visto (ouvido) antes.
O disco marca também a última participação de Nô, o baterista e espinha-dorsal do Dead Fish que recentemente deixou a banda – substituído por Marcão, que também toca na lendária Ação Direta e no recém-nascido Musica Diablo.
Ano de 2009. Com mais de três décadas de vida os meninos mostram que de "dead" não têm nada e que estão dispostos a ficar por muito tempo na estrada ocupando aquilo que chamam de "o melhor trabalho do mundo". Para contar um pouquinho desse percurso e para falar um pouco de cada faixa do disco novo, conversei com Rodrigo Lima, o vocalista, um dos melhores exemplos do que não seguir.
O disco anterior soou meio frio dentro da discografia do Dead Fish. O que Um Homem Só não tinha que o Contra Todos tem?
Talvez seja mais espontâneo, no Um homem só testamos algumas coisas que ao meu ver não deram muito certo, mas dentro da banda este pensamento nunca foi unânime. Fizemos uma experiência pra música no penúltimo e neste deixamos o barco correr.
Tanto o som quanto as letras do Dead Fish estão mais simples e diretas. O que explica essa postura, digamos, mais punk?
Quando nos tornamos um quarteto, acho que muitos dos pensamentos internos se tornaram mais simples mesmo e isso refletiu no som.
A capa do novo disco faz lembrar muito a do primeiro, Sirva-se. A idéia era essa mesma de voltar ao começo?
Não era esta a idéia, nunca quisemos nos repetir nem voltar em momentos já vividos, mas se você acha, pra mim ótimo. O Sirva-se é um CD com uma energia muito boa, tudo estava começando era tudo novidade pra gente.
Esse já é considerado o melhor disco do Dead Fish. Enfim, encontraram a batida perfeita antes do D2?
Hehe, não mesmo o D2 está muito a frente na busca. Ainda temos muitas coisas pra evoluirmos, não chegamos nem perto ainda de várias bandas que admiramos, mas eu concordo contigo que é o nosso melhor trampo. E digo isso porque normalmente ouço uma ou duas vezes o trabalho depois de pronto, neste consigo me empolgar várias vezes ao dia ouvindo.
Qual o balanço que fazem de três discos pela Deck e as produções feitas pelo Rafael Ramos?
Foi uma ótima experiência, tivemos durante estes quase 5 anos bons aprendizados no quesito produção, aprendemos bastante como funciona uma música com editora, vimos muita tecnologia que não estaria ao nosso alcance no independente, vimos também a política do "mainstream" mais internamente e aprendemos que coisa boa e ruim tem em todos os lugares no meio cultural, e que o Brasil quase nunca é, vanguarda ou massa, um país sério.
Nos vídeos disponibilizados no Youtube, é mostrada uma bandeira do Flamengo quando você grava os vocais. Isso é um tipo de amuleto ou simpatia? A propósito, Obina ainda é seu rei?
Obina será sempre nosso rei, meu caro, com quantos quilos ele estiver, hehehe.
O CD foi gravado no fim do Campeonato Brasileiro, eu acompanhava os jogos pelo rádio e TV e torcia muito pro Mengão ir pra Libertadores. Acabou não rolando por falta de competência do próprio time, fazer o quê, Copa do Brasil tá aí pra isso. Era engraçado também porque o Aly [Alyand Mielle, baixista] é vascaíno e ele, de leve, viu o time dele cair e fingiu que não estava abalado. Mas eu sei que ele ficou mal, porque ele me xingava todo dia ao me ver gravando com a bandeira do Flamengo na técnica.
Há a possibilidade de o Contra Todos ter uma versão em vinil. Como é lançar um disco pela primeira vez nesse formato? Isso tem a ver com a onda nostálgica ou é pelo tesão mesmo?
Tem mais de 6 anos que desejamos ter um lançamento do Dead Fish em vinil, chegamos a negociar com umas pessoas na Europa, o que acabou não dando certo. Hoje temos um contato na Alemanha engatilhado pra lançar o Sonho Médio [segundo disco, de 1999] e a Deck mostra sinais aí que pode comprar a única fábrica do Brasil [localizada em Belford Roxo, a Poly Som desligou as máquinas e fechou as portas no ano passado], o que nos dá muita esperança de ver este trampo em vinil, vamos vendo.
Para viver de música do Brasil é necessário abrir mão de alguns "conceitos underground", como ter que assinar com uma grande gravadora, aparecer na mídia etc. Hoje em dia ainda há espaço/sentido para ser "fiel ao underground"?
Acho que não é mais tão necessário assinar com alguém ou ter um lobby fazendo algo por você. As coisas mudaram muito em 5 anos, acho que o Cansei de Ser Sexy, se não me engano, nem precisou de uma gravadora grande pra aparecer e nem mais um monte de coisas por aí. Confesso que não vislumbraria ter conseguido viver de música se não tivéssemos assinado com a Deck há 5 anos, mas hoje é diferente. E mais, aquela era nossa única e última chance de tentar, estávamos todos seguindo outros caminhos. Eu hoje custo em entender o que é underground, independente, vanguarda, mainstream, as coisas parecem misturadas com toda esta crise da indústria fonográfica e com a revolução da internet. O que hoje é cool, amanhã pode ser a coisa mais massificada do mundo, o que é revolucionário hoje, em 2 minutos pode se tornar muito conservador. Portanto o que sobrou foram as idéias, de se autogestionar, de fazer algo diferente pro mundo e não só esteticamente ou musicalmente, talvez seja esta a "fidelidade ao underground" que sinceramente não levo tão a sério, como não levo nada do que leio e vejo hoje em dia como revolucionário ou cool.
Ao contrário das mensagens contidas nas letras, os shows do DF garantem momentos de muita diversão. Quem nunca viu um show de vocês deve achar que deve ser algo muito sério e panfletário. Que diabos de entidade que você recebe quando pisa no palco?
Talvez este seja o maior mistério que temos, alguém de fora da banda poderia tentar explicar isso porque eu não consigo. Estou muito envolvido há muito tempo, apenas subo lá e dou meu melhor do meu jeito, gosto que seja intenso e divertido mesmo sendo uma banda politizada nas letras.
A parte da geração mais recente do DF tem o hábito de idolatrar a banda. Num show de vocês presenciei um grupo de jovens falando coisas do tipo: "já falei com o Alyand", "já peguei a baqueta", "já toquei na mão do Rodrigo". Como lidar com esse tipo de endeusamento?
Isso é besteira, acaba quando a gente conversa com os guris. Nossa postura nunca foi esta, queremos gente que acompanhe a banda com senso crítico, com independência bastante pra saber se aquilo é legal pra ela ou não, acho que muitos garotos passaram pelos shows do Dead Fish e viram que era assim, alguns continuam ali outros se foram e isso que é legal, não os prendemos com dogmas ou sendo sérios demais com o que dizemos, se eles quiserem partir que partam, se quiserem ficar, que fiquem.
Na cobertura do festival Ponto CE feita pelo programa de TV Radiola, o pessoal do Bad Religion interrompeu a entrevista para ver o show de vocês. Como é essa inversão de papéis com quem influenciou o som do DF?
Cara, o Bad Religion foi a banda que nos fez ter vontade de ter a nossa banda. Tivemos a oportunidade de trocar umas palavras com os caras anos antes, foi legal demais, pudemos ver que são humanos como todos nós, muito diferentes entre si e velhos, hehehe, como nós, cheios de reclamações parecidas com as nossas. Acredito que pra qualquer banda ser visto pela pessoa que te influenciou cause um certo medo misturado com orgulho e uma imensa satisfação também. Mas o mais assustador é você entrar numa van e se sentar entre o Bill Stevenson [Descendents, Black Flag] e o Karl Alvarez [Descendents, All], ambos caras que já foram de bandas que ouvi a minha vida inteira, e eles te darem um tapinha nas costas e dizerem "cara, foi um ótimo o show de vocês", ai é até perigoso você passar a se achar demais.
Em 2007 vocês tocaram pela primeira vez na Europa. Como é mostrar o som em um país diferente? Como é público de vocês lá?
Pra mim foi normal, tirando os dois primeiros shows que significavam a inauguração da parada toda, no resto da tour eu até fazia piada com os caras do público, ou xingava em alemão ou tcheco. Como todo brasileiro, sempre dava uma zuada nos caras em português e nêgo não entendia nada e virava piada interna. Nosso tour mannager é alemão filho de portugueses e sempre dizia quando estava legal ou quando estava ruim, num dado momento comecei a fazer perguntas sobre política e dei algumas bolas fora, os caras lá ainda se sentem meio culpados pela cagada que seus avós fizeram, eu acho tudo uma grande propaganda pra manterem eles com baixa autoestima. As pessoas são maravilhosas e interessadas na Alemanha, achei o país muito, muito justo, as coisas não são caras como em outros países da Europa, é uma bela democracia, mas os garotos nem sempre relaxam. Fizemos alguns amigos, e como nosso baixista é preto, sempre chamávamos ele de "black bastard" e os caras ficavam escandalizados com isso, pra eles era a coisa mais extrema a ser feita ou dita, eles não podiam dizer também, nem com a maior das intimidades, saca? É mais ou menos assim que funciona. Nosso público foi bem pequeno, mas sempre muito interessado, só cola quem quer ver a banda, então é quase sempre jogo ganho. No fim da tour tinham uns caras cantando os sons nos dois últimos shows, isso foi muito legal pra gente.
Pretendem fazer algo maior como já fez o Jason, Confronto e Questions?
Sim, este ano ainda se possível. Queremos ir a Argentina, Uruguai e Chile que já estamos pra ir há pelo menos sete anos.
Os outros meninos da banda têm outras bandas/projetos. O Alyand com o 88 Não, o Phil (guitarrista) com o Zander e o Marcão com o Ação Direta e o Musica Diablo. Vale a pena escutar
Sim, vale muito, são bandas boas ao meu ver.
Como foi a troca da "Vitória Poluída" por "SP Chaos"? A troca foi justa ou já bateu o arrependimento?
É diferente tudo. Uma cidade não tem nada a ver com a outra. Em Vitória tudo é menor, as pessoas se conhecem e se esbarram todo o tempo, aqui é um mar de gente, uma cidade menos pessoalista (sic) mas não menos acolhedora pra quem pode pagar. Eu gosto daqui, foi a cidade que me deu a oportunidade de viver de música, de conhecer gente louca e cheia de boas idéias. Eu me canso muitas vezes, como todo mundo aqui, mas aí tenho Vitória e posso ir lá ver os velhos amigos, cair no mar e voltar correndo. Por hora quero estar aqui ainda.
(esse post é pra toda a galera da minha sala da FIBRA!)
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