CHOVERÁ, CAROLINA
“Minha tristeza é não poder mostrar-te as nuvens brancas,
e as flores novas como aroma em brasa,
com as coroas crepitantes de abelhas.”
– Cecília Meirelles, “3”.
Parecia que o céu ia abrir
Fechou de novo
O sol até que tentou
A zaga não deixou
Chove não, chove não
Tem muita roupa no varal
Chove não, chove não
Lavei tudo na mão
Se chover, que chova Carolinas Porfírio também
Se chover, se chover
Chuva, Mãe Chuva, Santa Chuva
Choverá Carolinas?
Choverá, choverá, Carolinas e Seus abraços?
Choverá, choverá, Carolinas e Seus risos?
Choverá, choverá, Carolinas e Seus sorrisos?
Antecedendo e sucedendo
Beijos?
Voltarão, Carolinas?
Voltarão, Carolinas, em raios de Lua
Quando o sol n’Ela reflete e ilumina a noite?
Voltarão, voltarão
Para o céu onde residem...
Voltarão, Carolinas
Se esta noite não for nublada
E ser possível ver a Lua
Se não, se não
À Sua casa
À noite de amanhã
Se, se Ela vier
Cantar-me-á Sua história
Até que eu durma em Seus braços
E de manhã
Ao invés de colhermos flores
Estenderemos roupas em varais
E seremos nossos leitos
Até as recolhermos secas e dobrá-las e guarda-las
E novamente seremos
Até o café com pão e pupunhas do fim de tarde
Quando vestir-Se-á de Flores e Poemas e Bem-Quereres
Para voltar, para voltar
Ao Céu onde foi
Gerada e Parida e
Reside.
Quando o céu cinza de novo
Virá com a chuva de novo?
Céu e chuva e Carolina...
Roupas e varais e Carolinas...
Abraços e sorrisos e beijos e Carolinas...
Carolina, choverá, Carolina
Carolina, choverá Carolina.
:: 10 de dezembro de 2018 ::
:: agradecimentos especiais à poetisa brasileira Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) ::
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