1º MOTIVO DA ROSA
Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula,
que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil.
Meus olhos te ofereço:
espelho para a face
que terás, no meu verso,
quando, depois que passes,
jamais ninguém te esqueça.
Então, de seda e nácar,
toda de orvalho trêmula,
serás eterna. E efêmero
o rosto meu, nas lágrimas
do teu orvalho... E frágil.
2º MOTIVO DA ROSA
- para Mário Raul Morais de Andrade (1893-1945) -
Por mais que te celebre, não me escutas,
embora em forma e nácar te assemelhes
à concha soante, à musical orelha
que grava o mar nas íntimas volutas.
Deponho-te em cristal, defronte a espelhos,
sem eco de cisternas ou de grutas…
Ausências e cegueiras absolutas
ofereces às vespas e às abelhas,
e a quem te adora, ó surda e silenciosa,
e cega e bela e interminável rosa,
que em tempo e aroma e verso te transmutas!
Sem terra nem estrelas brilhas, presa
a meu sonho, insensível à beleza
que és e não sabes, porque não me escutas…
4º MOTIVO DA ROSA
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
5º MOTIVO DA ROSA
Antes do teu olhar, não era,
nem será depois- primavera.
Pois viemos do que perdura,
não do que fomos. Desse acaso
do que foi visto e amado: - o prazo
do Criador na criatura...
Não sou eu, mas sim o perfume
que em ti me conserva e resume
o resto, que as horas consomem.
Mas não chores, que no meu dia
há mais sonho e sabedoria
que nos vagos séculos do homem.
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