“Estuda-se o desenvolvimento humano pela evolução do organismo e sua interação ambiental. A evolução do organismo começa com a evolução através do hominídeo até a evolução do homem, o Neandertal, o Cro-Magnon.
Ora o que temos aqui são três eixos. O biológico, o antropológico, o desenvolvimento das culturas e o cultural, que é a expressão humana.
O que se viu foi a evolução das populações, não de indivíduos. Pense na escala temporal em questão. A vida tem dois bilhões de anos; o hominídeo, seis milhões. A humanidade, como a conhecemos hoje, tem 100 mil anos. Percebe como o paradigma evolutivo vai se estreitando? Quando se pensa na agricultura, na revolução cientifica, na revolução industrial, são apenas 10 mil anos, 450 anos, 150 anos. Vê-se um estreitamento crescente da temporalidade evolutiva. À medida em que entramos na nova evolução, ela se estreitará ao ponto em que a veremos no curso de uma vida.
Há dois novos eixos evolutivos, vindos de dois tipos de evolução. O digital e o analógico. O digital é a inteligência artificial. O analógico resulta da biologia molecular e da clonagem. Une-se os dois com a neurobiologia. Sob o antigo paradigma, um morreria e o outro dominaria. Sob o novo paradigma, eles existem em um grupamento cooperativo e não-competitivo, independente do meio externo. Assim, a evolução torna-se um processo individualmente centrado emanado no indivíduo e não um processo centrado onde o indivíduo está sujeito ao coletivo.
Produz-se, então, um neo-humano com uma nova individualidade, uma nova consciência. Esse é apenas o começo do ciclo. Pois, à medida que ele se desenvolve, a fonte é a nova inteligência. Enquanto as inteligências e as habilidades se sobrepõem, a velocidade muda até atingir-se uma crescente. Imagine então uma realização instantânea do potencial humano e não-humano. Isso pode ser a amplificação do individuo, a multiplicação de existências individuais paralelas, onde o individuo não estaria mais restrito pelo tempo e pelo espaço. E as manifestações dessa evolução neo-humano poderiam ser dramaticamente imprevisíveis.
A antiga evolução é fria, é estéril. E eficiente. Suas manifestações são aquelas de adaptação social. Trata-se de parasitismo, dominação, moralidade, guerra, predação. Essas coisas ficarão sujeitas à falta de ênfase e de evolução. O novo paradigma nos daria as marcas da verdade, da lealdade, da justiça e da liberdade. Essas seriam as manifestações dessa evolução. E essa é a nossa esperança.”
– Do longa-metragem em animação Waking Life, de 2001, roteiro e direção de Richard Linklater.