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e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

sábado, 19 de abril de 2008

EDUCAÇÃO – parte um

A partir desta postagem, vou colocar algumas reportagens da revista Nova Escola – uma das melhores publicações da Editora Abril – que achei muito do cacete e creio que ajudarão alguns profissionais da área de educação, que não recebe a atenção necessária dos governantes de nosso país. A primeira matéria se chama O que você espera deles? , e foi tirada da revista Nova Escola de abril de 2005, número 181, ano 20, e eu gostaria muito de dedicá-la para as minhas grandes e veneráveis professoras / amigas / conselheiras Maria Luiza Ferro Santana, Maria Edilena Carvalho e Patrícia Nogueira Coelho e Regina Célia Andrade Matos e, por fim, Shirley Boller [do estado do Paraná]. Ich höffe Sie lieben! Espero que elas gostem! E vocês também.
Enjoy!


O QUE VOCÊ ESPERA DELES?
Se só de olhar você já deduz que este ou aquele aluno não vai aprender, pode apostar: ele não vai mesmo. Para evitar que a profecia se realize, é preciso superar essa primeira impressão. E acreditar que todos podem ter sucesso
Por Meire Cavalcante

Suponha que você se inscreveu em um curso de dança. Na primeira aula, o professor ensina os passos básicos e você, que anda com o esqueleto enferrujado, não tem um desempenho dos melhores. Ele percebe sua dificuldade e faz aquela cara de quem diz: “Você não leva o menor jeito”. Nas aulas seguintes, o professor não lhe dá muita atenção nem se empenha nas explicações. Mas não poupa elogios aos que parecem ter nascido pra dançar. Como você se sentiria numa situação como essa? Provavelmente se julgaria um fiasco, sairia do curso ou desistiria de dançar. Agora, tente imaginar o peso dessa situação nos ombros de seus alunos, sejam eles crianças ou adolescentes. Desanimador, não?
Esse pré-julgamento do professor, que leva muitas vezes ao fracasso dos estudantes, tem um nome pomposo: profecia auto-realizadora – fenômeno mais freqüente do que se imagina e que provoca sérias conseqüências. É verdade. A forma como o aluno é visto e tratado por quem deve ensiná-lo pode virar uma bola de neve. Ao acreditar que a criança é incapaz, o professor provoca nela uma adaptação às baixas expectativas. Feito isso, o aluno realmente não aprende. Para que todos tenham a mesma oportunidade de se desenvolver na escola, é essencial refletir sobre a sua postura diante da turma. Depois, convencer-se de que todos são capazes de avançar. Assim, você não só combate o fracasso escolar mas evita que talentos sejam desperdiçados.

Reconhecer preconceitos é o começo
É consenso entre estudiosos da profecia auto-realizadora que o professor deve se auto-avaliar sempre. “Todos somos preconceituosos e isso não é defeito. Construímos nossos preconceitos com base em experiências familiares e sociais”, afirma o psicoterapeuta Carmem Maria Andrade, professora da Faculdade Metodista de Santa Marta, no Rio Grande do Sul.
O preconceito nada mais é do que um conceito antecipado sobre algo. E nem sempre ele é negativo. Quer um exemplo? Quando você diz a alguém que é muito bom no que faz porque se graduou em certa universidade, significa que você criou o conceito antecipado de que lá só se formam bons profissionais. “Os pré-julgamentos, no entanto, não podem ser utilizados para machucar ou prejudicar alguém”, alerta Carmem. Isso ocorre, por exemplo, ao crer que um jovem que mora na favela não tem a mesma capacidade que o de classe média.
Em 1967, Carmem realizou uma pesquisa com 100 professores de escolas municipais, estaduais e particulares. “Observando o trabalho dos educadores, identifiquei 22 tipos de preconceitos manifestados em relação às crianças”, diz ela. A origem socioeconômica, a estrutura familiar e até o vestuário eram motivos de discriminação. Dez anos mais tarde, ela localizou 98 dos professores e repetiu o procedimento. “Na segunda vez, identifiquei 24 tipos de preconceito.”
A professora concluiu que ainda é preciso discutir muito o assunto. “De nada adiantam grandes campanhas contra o preconceito na mídia se, na convivência diária, não mudamos nossa prática”, afirma. Carmem conta que a manifestação mais freqüente das duas pesquisas era a discriminação racial. Certa vez, ela ouviu uma professora perguntando para outra quantos negros tinha em sua sala. A resposta foi impactante: “No primeiro bimestre eram três, mas consegui ficar só com um!”

O retrato do aluno vem da avaliação
Além dos aspectos básicos, as atitudes da garotada também estimulam os professores a formar opiniões deturpadas. Crianças e jovens manifestam comportamentos que, sem dúvida, refletem um pouco da sua personalidade, mas que de forma alguma determinam suas capacidades cognitivas. Durante uma pesquisa realizada em escola pública de São Paulo, a psicopedagoga Maria Cristina Mantonanini pediu aos professores que separassem os alunos bons dos ruins. Resultado, cerca de 40% das crianças foram consideradas ruins. “Avaliei todas elas e constatei que nenhuma tinha problemas cognitivos. O desenvolvimento intelectual das crianças dos dois grupos era semelhante. Isso deixou muitos professores espantados.” Para Maria Cristina, índices altos como esse são indício de que as estratégias em sala devem ser revistas. “Ao separar bons e ruins, a maioria não utiliza critérios pedagógicos e cognitivos, limitando-se apenas a observar atitudes.”
Se uma criança chega suja, fala demais ou é agressiva não significa que é incapaz de aprender. Foi o que descobriu Ana Lígia Malaquias. Há alguns anos, ela lecionava para turmas de aceleração em uma escola pública do Rio de Janeiro. As crianças traziam um histórico de fracasso e eram vistos como casos perdidos. Entre elas estavam cinco irmãos, o terror da escola. Elas falavam muito, eram indisciplinados, tiravam notas péssimas e nem certidão de nascimento tinham.
Duas garotas dessa família foram para a turma de Ana Lígia. “Eu tinha ouvido muitos comentários ruins sobre o comportamento e o rendimento dos irmos. Quando entrei na sala, já tinha criado as piores expectativas em relação às meninas”, conta. Para Júlia e Karina* [nota: *Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos estudantes], a atitude de Ana Lígia não era novidade. Afinal, já carregavam o estigma de péssimas alunas. Elas nunca participavam das atividades, eram muito tímidas – às vezes agressivas – e não faziam amizade com ninguém.
Certa vez, durante uma aula na sala de leitura, as meninas sumiram. As duas estavam atrás do teatrinho de fantoches; uma com um livro no colo e um boneco na mão; a outra, prestando atenção na história que a irmã contava. “Naquele dia, percebi que, mesmo faltando às aulas, elas tinham entendido a proposta como os outros. Só faltava uma oportunidade que eu não estava dando”, admite. Hoje, quando Ana Lígia pega uma turma nova, primeiro conhece bem todos e depois lê os históricos e conversa com os antigos professores. “Assim, evito pré-julgamentos injustos.”

Atitudes que caracterizam a profecia
Durante sua pesquisa, Maria Cristina ouviu relatos de crianças conformadas com o fracasso e que acreditavam na incapacidade atribuída a elas. “Muitas falavam que não davam para o estudo ou que a professora dizia que não conseguiriam aprender.” A pesquisadora conta que 84% dos estudantes considerados ruins chegavam para falar com ela apreensivos, tinham dificuldade de falar de si mesmos e medo de errar. Já os avaliados como bons eram curiosos e mostravam muita desenvoltura e confiança ao se expressar.
Apesar de alguns professores serem explícitos, Maria Cristina acredita que, para condenar um aluno, não é preciso dizer que ele não vai aprender. Basta, por exemplo, ignorar quando ele tenta dar uma resposta ou nunca chamá-lo à lousa para uma atividade. “Se a criança tenta participar e é criticada, ela não vai tentar uma segunda vez, acreditando que todos sabem mais que ela”, explica. Esse tipo de conduta do professor não prejudica apenas o rendimento e a autoconfiança do aluno. Pode também minar suas chances de se socializar.
Para a professora Carmem, a escola estimula a competitividade de tal forma que, quando a turma observa a atitude discriminatória do professor, passa a ridicularizar o colega que tem dificuldades. “Ninguém quer ser amigo daquele aluno. Muito menos oferecer ajuda a ele para resolver problemas”, afirma. Assim, cria-se na sala um ambiente propício para a desigualdade, em que o estudante excluído passa a ser responsável pelo fracasso. Essa dinâmica pressupõe que só não aprende quem não quer ou não se interessa.
A atitude do professor em sala é tão poderosa e facilmente percebida pela turma que não é possível escondê-la. Por isso, não adianta combater o problema afirmando – mesmo sem acreditar – que uma criança vai conseguir se sair bem. Ao contrário, essa estratégia pode ser tão negativa quanto a profecia auto-realizadora. São dois os motivos: ter um sentimento pelo aluno e demonstrar outro pode gerar nele um grande desconforto; e, se ele aceitar essas afirmações positivas, pode se decepcionar ao criar expectativas sobre si que não são reais.

O professor pode mudar a situação
O professor em relação aos estudantes às vezes é tão marcante que, ao encontrar um professor com uma postura diferente, muitos se admiram. “Quando entrei sorrindo pela primeira vez em uma sala considerada problemática, um aluno me perguntou se eu ia ficar com eles de verdade”, conta Lael Keller, professora da Universidade do Estado de Minas Gerais, em Passos. Em 1995, ela dava aulas de Educação Especial na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) – onde hoje é supervisora –, quando foi convidada a assumir uma turma de 1ª série em uma escola pública regular.
O curioso é que não havia nenhuma criança em deficiência na classe – e Lael logo percebeu isso. “Fui convidada por minha experiência em Educação Especial. A escola já tinha tentado de tudo com aquela turma”, lembra Lael. O grupo era um retrato do fracasso – e a culpa, atribuída às crianças. Na sala, encontravam-se todos os repetentes, os indisciplinados e os que tinham dificuldade de aprendizagem. Sem avaliação e propostas pedagógicas adequadas, eles eram imprudentemente diagnosticados como portadores de distúrbios mentais e de comportamento.
Apesar de não achar adequado reunir todos em uma mesma turma, a professora buscou a melhor maneira de alfabetizá-los e de tirar das costas deles o peso de afirmações inconseqüentes como “você é burro”. Os pais, cansados das reclamações, já acreditavam na burrice dos filhos e nem tentavam ajuda-los. “Por isso, dava deveres que os alunos podiam resolver sozinhos. Era emocionante ver o orgulho que tinham ao entregar a tarefa pronta no dia seguinte”, revela Lael.
Ela propôs atividades lúdicas e dinâmicas fora da sala e trabalhou com jogos e projetos, sempre observando as dificuldades e analisando o conhecimento de cada um. Com isso, podia planejar as atividades mais adequadas. As melhores surgiram a partir do meio do ano. Os pais, surpresos com a reviravolta na vida escolar das crianças, enchiam a professora de presentes. “Eu me sentia mal com os agrados, pois aquilo era apenas a minha obrigação.”
Ao mesmo tempo que não acreditam nos alunos, muitos professores também não confiam na própria capacidade de ensinar. Maria Cristina Mantonanini percebeu que, ao encaminhar uma criança ou adolescente a especialistas, como o médico ou o psicólogo, muitos professores se sentiam diminuídos, como se o magistério não desse conta do recado. Em seu livro Professores e Alunos Problema: Um Círculo Vicioso, ela afirma que “o professor que só consegue enxergar no aluno a falta – a dificuldade, aquilo que ele não sabe e deveria saber – faz o mesmo consigo próprio!”
Lael já recebeu na Apae muitas crianças com diagnósticos errados. As escolhas encaminhavam os estudantes para se livrarem dos “problemas”. “O professor deve entender que casos de saúde são resolvidos por um médico, que questões emocionais podem ser amenizadas por um terapeuta e que quem doutrina o processo de aprendizagem é ele”, ressalta Maria Cristina. Ela destaca que a consciência do valor do magistério aumenta a confiança dos educadores na própria capacidade e também na dos estudantes. A prova está na conclusão de sua pesquisa. Todos os alunos que ates haviam sido considerados ruins foram aprovados. “Isso só aconteceu porque os professores, nas longas reflexões que fizeram, perceberam que podiam intervir no processo de aprendizagem com base nos conhecimentos de sua profissão.”

METODOLOGIA TAMBÉM INTERFERE NA APRENDIZAGEM
Nem todos os alunos que fracassam são vítimas da profecia da auto-realização. Em muitos casos, as estratégias de ensino é que não se mostram adequados. Segundo a pesquisadora Maria Cristina Mantonanini, é possível traçar um caminho seguro para descobrir em que medida as dificuldades de um estudante são ou não decorrentes de sua atitude em relação a ele. A primeira coisa que o professor tem que fazer é avaliar seus preconceitos e adotar uma postura diferente, acreditando nas crianças e nos jovens. Em seguida, analisar a porcentagem da classe que considera ter problemas de aprendizagem. “Em uma turma homogênea de 30 ou 35, é normal ter um ou dois com reais necessidades especiais”, afirma Maria Cristina. O sinal de alerta deve piscar quando, por exemplo, quase metade não estiver aprendendo – como no caso da escola em que ela realizou sua pesquisa. “Esse talvez seja o momento de o professor rever a metodologia utilizada para ensinar.” Claro, ao lançar mão de diversos métodos e atividades, será mais fácil descobrir quem, de fato, tem problemas de aprendizagem. Isso diminui os riscos de encaminhamentos desnecessários a especialistas.

COMO EVITAR OS “RÓTULOS”
Observe quais critérios você utiliza ao avaliar uma turma. Para mudar de postura, é fundamental perceber os próprios preconceitos e de que forma a bagagem individual que você traz interfere na sua prática.
Debata sobre o assunto com seus colegas nas reuniões pedagógicas. Isso estimula uma reflexão mais profunda da equipe e, conseqüentemente, uma mudança de conduta.
Aprenda a lidar com as diferenças e incentive o direito à diversidade a turma.
Evite relacionar as capacidade de aprendizagem das crianças a características físicas ou comportamentais. A família, a etnia, a religião, a atitude, a aparência e a classe social, econômica ou cultural de um aluno não determinam se ele pode ou não avançar.
Propicie oportunidade iguais de crescimento para todos os alunos, mas sempre observando as necessidades individuais. Um planejamento adequado permite que cada um progrida no seu ritmo.
Acredite sempre que todos são capazes de aprender.

QUER SABER MAIS?
>> ANA LÍGIA MALAQUIAS COUTINHO, e-mail: aligia@click21.com.br >> LAEL KELLER, email: keller@passosuemg.br >> MARIA CRISTINA MANTOVANINI, e-mail: mcrismantovanini@uol.com.br

BIBLIOGRAFIA
>> ENSAIOS PEDAGÓGICOS: COMO CONSTRUIR UMA ESCOLA PARA TODOS?, Lino de Macedo, 168 págs., Ed. Artmed, tel. (11) 0800 703-3444, 34 reais >> PROFESSORES E ALUNOS PROBLEMA: UM CÍRCULO VICIOSO, Maria Cristina Mantonanini, 173 págs., Ed. Casa do Psicólogo, tel. (11) 3034-3600, 21 reais





[esta postagem foi escrita ao som dos álbuns Se Julgar Incapaz Foi O Maior Erro Que Cometeu da banda de punk rock Bulimia – composta só por mulheres –; Tocar e Protestar, da banda cearense de hardcore Sociedade Armada e Restos de Nada, da banda clássica de punk rock da década de 1980 de mesmo nome].

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