KAISA BEIJOS-DE-MOÇA
“Não, tu não és um sonho, és a existência
Tens carne, tens fadiga e tens pudor
No calmo peito teu. Tu és a estrela
Sem nome, és a morada, és a cantiga
Do amor, és luz, és lírio, namorada!
Tu és todo o esplendor, o último claustro
Da elegia sem, anjo!”
– Marcus Vinicius de Moraes (1913-1980), “Cântico”.
Como vireis? Como vireis?
Descendo os raios de sol?
Desfilando pelos raios de luar?
Como estareis? Como estareis?
Se vierdes ao Sol,
Vossos cabelos brilharão como a Lua?
Se vierdes à Lua
Cintilarão tal como o Astro-Rei?
Por Vossa voz aparentas ser
A calmaria do lago à qualquer luz
Nele refletida.
Mas então
– Pessoalmente –
Sois um pequeno que torna-se um
Rio estrondoso?
Carrega-me, Musa Correnteza, carrega-me!
Leveis-me em Vosso ventre
enquanto
O mundo sucumbe ante Vossa passagem!
Ou sereis Musa-Rouxinol
Arrulhando aos sussurros aos meus ouvidos
Me pondo para dormir
Com os braços ao redor de Vossas pernas
E cabeça sobre Vosso bojo
Olhos fechados
Quase adormecido
– Esperar-me-eis dormir para
Voltar para onde sois oriunda?
Deixar-me-eis ao Sol para ser acordado aos beijos pela Lua?
Ou à Ela, para ser incendiado pelo Sol?
E, ao despertar, sereis
Lembrança concreta?
Alucinação vívida?
(vivida?)
Delírio (auto-)induzido?
E então perambularei por Mannheimr com
Vossos cânticos aos ouvidos que infindamente ressoarão
Ao Vosso encalço: insano perscrutar e impossível localização?
Ou
Vós de sacra e em cristais nobres talhada
Voz
Em Vós mesma
Ávida
Arfante
Sôfrega
acordares-me e levares-me
a
Vossos-Lábios-Todos
para em
Vossas unhas
e
Vossas pernas
e
Vossos lábios
me possuir:
me inserindo e me
conduzindo
em Vosso
interior?
Que Vossos calcanhares beijem
de minha cintura a joelhos!
Que Vossas unhas tracem
Pontos e Retas e Curvas e Sinuosidades de meus ombros à alcatras!
Que nasçam em
Muros de Arrimo e em
Paredes de Contenção de Energia Nuclear
Rosas e Violetas e Labiadas e Mesambrintemos
a partir de nossos beijos!
E regadas estas flores com
Nossos chegares juntos ao
Paraíso.
Consoma-me!
Atomiza-me!
Particula-me!
através de ondas eletromagnéticas de idiossincráticas freqüências e comprimento de ondas
características à
Vós
enquanto
Divindade!
E as palavras de Vossas solares mãos
a meus ombros
enquanto
a mim
Vossos melhores beijos
Beijos melhores e tão saborosos
quanto
os Beijos-de-Moça
que a Moça-que-Não-Sei-o-Nome
vende no ônibus na tarde chuvosa.
E Vossos elípticos lunares não-lunáticos olhos
– que já contemplaram o Mundo
como ele foi e está sendo e ainda será
– aos meus enquanto a mim
Vossos melhores beijos – não Beijos-de-Moça e sim
Beijos-de-Mulher-Feita-e-Atemorosa.
E por fim então seja Verdade, Sonho, Delírio ou Miragem
com braços com braços
ao redor de meu corpo e minha cabeça a Vosso colo.
Ninar-me-eis aos arrulhos de iniciado anoitecer
enquanto
não mais rios retumbantes revoltosos
e trovejares
e relampejares e raiares somente a mim
Vossos melhores
Beijos-de-Mulher-Plena-e-
à minha testa
Vossos melhores
Beijos-de-Moça.
:: 01 e 02 de fevereiro de 2018 ::