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YEAH, HOUSTON, WIR HABEN BÜCHER!

e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

“Faz muito tempo que ninguém mais pensa em adiantar-se à experiência, ou em construir um mundo inteiramente baseado em algumas hipóteses apressadas. De todas as construções às quais as pessoas ainda se compraziam ingenuamente há um século, hoje não restam mais que ruínas.
Todas as leis, pois, provem da experiência, mas para enunciá-las é preciso uma língua especial; a linguagem corrente é demasiado pobre, e aliás muito vaga para relações tão delicadas, tão ricas e tão precisas.
Eis portanto uma primeira razão pela qual o físico não pode prescindir da matemática; ela lhe fornece a única língua que ele pode falar.”
– Jules Henri Poincaré (1854-1912), “A análise e a física”. IN: o valor da ciência. Trad. Ildeu de Castro Moreira.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Incrível como a mente é uma filha da puta cretina, tu queres dormir mais e ela encontra uma maneira tensa de te dar uma lição e mostrar quem é que manda pra tu acordares:
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Teu ônibus não passa e acabas pegando um que passa “aproximadamente perto” da tua casa (andarilhos entenderão) que tu podes dar uma “pequena” pernada pra tua casa. No ônibus, uma mulher te encara, fazendo teu cu ***SUMIR***. 
E então tu levantas e vês que ela vai descer na mesma parada que tu. ***PUTA QUE O PARIU!***
Mesmo cortando o caminho pra ela não seguir, tu sentes os pelos arrepiados. ***ELA TÁ PERTO.*** Não consegues olhar pra trás porque ela tá na cola. Anda mais rápido. Os pés cada vez mais lentos. ***CARALHO CARALHO CARALHO***
Ela não fala nada, só chega mais perto. Cada vez mais. Em silêncio.
Visão aérea: um senhor labirinto fudido.
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Então eu acordei. NEURADO PRA CARALHO. Sem condições continuar dormindo depois dessa. 
Não vou encarar mulher em ônibus tão cedo depois dessa. Ou nunca mais mesmo.
‘Tá é doido.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

“A má consciência do universo branco empreendeu, especialmente no Brasil. uma forma singular de abominável de redenção de seus próprios crimes, com a contrafação de uma redenção dos negros: - a invenção, ou antes. a impostura da mestiçagem - a construção da meta-raça - que não consegue mais. entretanto, para a investigação científica e o julgamento da consciência moral, tapar com a peneira de uma suposta democracia racial a espantosa realidade do genocídio dos negros no Brasil. E a palavra genocídio vai aqui empregada com toda a sua carga de horrores.
Genocídio. A palavra não é antiga, e nenhum dos grandes dicionários do passado a registra. Parece que foi cunhada durante a Segunda Guerra Mundial. para definir a hecatombe do povo judeu sob o nazismo. Foi preciso acionar a indignação. a inteligência e o prestigio mundial do povo de Israel, para que se tomasse conhecimento de um delito praticado impunemente ao longo da história contra outras nações. outros povos. outras raças, outras religiões. outras culturas. Contra os negros, especialmente. não 5 ou 6 milhões, mas de 200 a 400 milhões, abatidos durante séculos, como as árvores do pau-de-ébano, e vendidos como pau-de-ébano ou como animais nos mercados de gado humano.”
– da primeira orelha da obra “O Genocídio do Negro Brasileiro - Processo de um Racismo Mascarado”, de 1976, do escritor, professor e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras Abdias Nascimento (1914-2011).

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

“Se queremos mudar o mundo, temos de investir em educação. Não mudaremos a economia, porque ela representa o poder que quer manter tudo como está. Não mudaremos o mundo militar. Também não mudaremos o mundo por meio da diplomacia, como querem as Nações Unidas – sem êxito. Para ter um mundo melhor, temos de mudar a consciência humana.”
– Claudio Naranjo Cohen, psiquiatra chileno, em entrevista para Flávia Yuri Oshima, da revista brasileira Época.
Fonte: “A educação atual produz zumbis”, de 31 de maio de 2015.
“Cada vez que se pretende estudar uma certa forma épica é necessário investigar a relação entre essa forma e a historiografia. Podemos ir mais longe e perguntar se a historiografia não representa uma zona de indiferenciação criadora com relação a todas as formas épicas. Nesse caso, a história escrita se relacionaria com as formas épicas como a luz branca com as cores do espectro. Como quer que seja entre todas as formas épicas a crônica é aquela cuja inclusão na luz pura e incolor da história escrita é mais incontestável. E, no amplo espectro da crônica, todas as maneiras com que uma história pode ser narrada se estratificam como se fossem variações da mesma cor. O cronista é o narrador da história.”
– Walter Benjamin, O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov: texto 12. IN: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet.
“Imaginemos uma árvore representando a evolução e o desenvolvimento das especialidades científicas modernas a partir de suas origens comuns digamos, na Filosofia da Natureza primitiva e no artesanato. Uma única linha, traçada desde o tronco até a ponta de algum galho no alto, demarcaria uma sucessão de teorias relacionadas por sua descendência. Se tomássemos quaisquer dessas duas teorias, escolhendo-as em pontos não muito próximos de sua origem, deveria ser fácil organizar uma lista de critérios que permitiriam a um observador independente distinguir, em todos os casos, a teoria mais antiga da teoria mais recente. Entre os critérios mais úteis encontraríamos: a exatidão nas predições, especialmente no caso das predições quantitativas; o equilíbrio entre o objeto de estudo cotidiano e o esotérico; o número de diferentes problemas resolvidos. Valores como a simplicidade, alcance e compatibilidade seriam menos úteis para tal propósito, embora também sejam determinantes importantes da vida científica. Essas ainda não são as listas exigidas, mas não tenho dúvidas de que podem ser completadas. Se isso pode ser realizado, então o desenvolvimento científico, tal como o biológico, é um processo unidirecional e irreversível. As teorias científicas mais recentes são melhores que as mais antigas, no que toca à resolução de quebra-cabeças nos contextos freqüentemente diferentes aos quais são aplicadas. Essa não é uma posição relativista e revela em que sentido sou um crente convicto do progresso científico.
Contudo, se comparada com a concepção de progresso dominante, tanto entre filósofos da ciência como leigos, esta posição revela-se desprovida de um elemento essencial. Em geral uma teoria científica é considerada superior a suas predecessoras não apenas porque é um instrumento mais adequado para descobrir e resolver quebra-cabeças, mas também porque, de algum modo, apresenta um visão mais exata do que é realmente a natureza. Ouvimos freqüentemente dizer que teorias sucessivas se desenvolvem sempre mais perto da verdade ou se aproximam mais e mais desta. Aparentemente generalizações desse tipo referem-se não às soluções de quebra-cabeças, ou predições concretas derivadas de uma teoria, mas antes à sua ontologia, isto é, ao ajuste entre as entidades com as quais a teoria povoa a natureza e o que ‘está realmente aí’.”
– Thomas Samuel Kuhn, “Revoluções e relativismo”. IN: A Estrutura das Revoluções Científicas. Trad. Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira, com revisão de Alice Kyoto Miyashiro.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

“No sentido comum, anarquia sempre foi o caos, a desordem. A palavra transformou-se em sinônimo de bagunça e os cronistas e historiadores de hoje jamais lograram repor o significado veraz de um passado glorioso e, no mínimo, construtivo. Por paradoxal que pareça, anarquia não é bagunça, muito menos ordem. Mas não é com uma pequena dose de purgante que se limpam quase dois séculos de distorções acumuladas na cabeça dos homens e alimentadas dia a dia. Também, não há dúvida, foram os próprios anarquistas a colaborar para a imagem que se faz deles; como nunca quiseram tomar o poder, é óbvio que jamais iriam fazer de suas representações as imagens oficiais nas mentes dos homens.
Os anarquistas, se é que se pode encontrar algo de comum entre eles, têm em mira apenas o indivíduo, sem representantes, sem delegações, produtor, naturalmente em sociedade. Positivamente, eles preconizam uma nova sociedade e indicam alguns meios sobre isso.
Como em todas as revoluções, diria Camus, a liberdade está no seu princípio. A justiça também, inimaginável, sem a liberdade. Mas chega o momento do terror, da violência, do assassínio; é a justiça cobrando e exigindo a suspensão da liberdade. O paradoxo deixa a pergunta da inevitabilidade da revolução e expulsa do rosto dos revolucionários o ar de felicidade. Quase todos os anarquistas procuraram a revolução, alguns foram violentos, outros simplesmente apoiaram a violência.
(...)
Não se pode negar que ao combater o autoritarismo e todas as formas de autoritarismo os anarquistas tocaram o cerne do problema da sociedade. A ingenuidade das teorizações e a fraqueza da doutrina que nunca se apresentou como um corpo sistemático completo e acabado é da gênese do próprio anarquismo. O Estado, a autoridade que se sobrepõe ao individuo e o transforma em um verme, num réptil submisso, cresceu e tomou forma tanto no capitalismo quanto no próprio socialismo.
(...)
Mas deve-se argumentar também que sem os anarquistas singelos e aventureiros Marx não teria preconizado o fim do Estado após a ditadura do proletariado e a abolição das classes sociais. O Estado ainda não foi abolido em parte alguma, as classes sociais na URSS “acabaram” por um decreto de Stalin, mas a autoridade continua.
E o anarquismo, esta paradoxal mescla de positivismo com idealismo, jamais conseguiu formar um organismo aglutinador e impulsionador de seus objetivos; apesar de seus objetivos, não logrou sequer abalar as estruturas do sólido Estado moderno. Eis seu fracasso e seu fascínio.”
– Caio Túlio Costa, “A Ingênua Lucidez”. IN: O que é Anarquismo. São Paulo: Brasiliense, 2004 – (Coleção Pequenos Passos; 5)

NADEEN - poema escrito em duas partes

NADEEN

AH!, quem me dera Vós
de cabelos soltos como cachoeiras
e quadris e cotovelos apoiados à minha cama
enquanto contemplas o céu (forro).
Ah!, quem me dera Vós
de pés descalços e mãos à cama
rindo como se não fosse convosco
e seus sorrisos mostrando os dentes
ou quando não, com a ponta da língua os correndo
“tu sabes o que eu quero” escrito em runas em Vosso olhar.
Ah!, Vós deitada despida de bruços
queixo apoiado sobre a mão
pele alva refletindo o sol ou o luar para dentro do quarto,
bendito de mim por permitido contemplar-Vos
contornos de Mulher-Formosa-Completa-Em-Si-E-Para-Si
nesse momento, toda e Toda somente para mim.
Posso... Poderia Vos contemplar despida para então confeccionar Poesia?
Eu poderia Vos contemplar despida em forma de aurora
– infindável-Amanhecer-particular –
mesmo sem Vos tocar somente para escrever poesia... Sim poesia minúscula
já Vós... Vós em si e como todo e completo Poesia em maiúsculas.
Posso... Poderia... Ah!, quem me dera... Ah!, quem dera-me...
Poder despir-Vos e então correr nariz e barba e boca a descobrir e desbravar em minúcias
todos Vossos horizontes a mim desconhecidos e que almejo como e enquanto 
Lar e Morada e Templo.
Qual corpo de Mulher-Formosa-Completa-Em-Si-E-Para-Si
– tal qual Vós sois –
não é uma Usina, Fábrica, Indústria-Motor-Reator
de infindável Prazer e Gozo e Júbilo
a Si mesmo e próprio...?
Ah!, quem me dera poder, ao menos, tocar-Vos pelo menos somente uma vez
e então, em contato com Vossa energia, pura em si, explodir em mesmo e por fim não mais existir como se nunca aqui
e finalmente Vós novamente eternamente dormir.

Então a Poesia e a Mulher e a Pesquisa são as crenças que me conduzem como estrelas-guias
a ponto de crer que, mesmo em praias continentalmente distantes,
ainda
um dia
estarei descalço ao pé de uma cama
com o queixo apoiado nos antebraços,
Vos contemplando adormecida
então acordares por um momento
me beijares
e recolher-Vos ao sono novamente. 

:: 27 de janeiro e 02 de fevereiro de 2017 ::
:: agradecimentos mais-do-que-especiais ao poeta maranhense Raimundo da Mota de Azevedo Correia (1859-1911) ::