Ananindeua, 09 de julho de 2014.
“Se eu falar sobre o que não entendem
Poucos escutam, muitos se ofendem
A verdade é que não há verdade
Tudo é porque não há não ser”
– Matanza, “Quem Leva a Sério o Que?”, A Arte do Insulto, 2006.
Certamente, das reclamações que meine Mutter mais deve ter escutado a meu respeito é que não sei conversar e que só falo besteira na roda de conversa quando estou com gente mais velha que eu. Algumas das conclusões que cheguei foram:
• Essas pessoas tem razão, sou realmente um merda pra conversar;
• Essas pessoas tem razão, sou realmente um merda pra conversar – ainda mais com gente fora do meu meio;
• Essas pessoas tem razão, eu sou um realmente merda pra conversar – ainda mais com gente fora do meu meio, ainda mais se não lerem as mesmas coisas que eu.
Como percebido, são conclusões complementares. Ei, eu falo sobre armas, guerras e videogames porque escrevo sobre armas, guerras e videogames e as consequentes recepções, assimilações e devoluções a nível de cultura, tecnologia, ciência e sociedade. Eu falo sobre filmes pornôs porque consumo muita pornografia, e leio sobre a mesma, tanto a nível de reportagem quanto (atualmente) de Belas Letras e/ou Teoria da Literatura (não sou nenhuma Suellainy ou Paola, mas eu não me passo por ignorante). Eu falo de mitologia e culturas antigas porque é um assunto que me enche os olhos.
Mas e ai? E as outras pessoas, “as fora do meu meio e que não leem as mesmas coisas que eu”? elas ficam putas porque não falo do cotidiano delas, e, quando consigo, não é do mesmo nível que elas – eu admito não ter cacife e conhecimento suficiente para tanto, oras. E elas ficam mais putas ainda quando eu faço a ligação entre o que elas falam e eu falo, é como se estivesse dando com um livro sagrado de alguma crença nas caras delas. Sim, é isso que acontece. Eu invejo o Sonho-Desperto porque ele consegue fazer isso de forma sutil, agradável e até mesmo “inclusiva” (sim, eu odeio este termo); quer dizer, muita gente que conheço faz isso. Ai que, apesar de escrever sobre, não consigo florear, sou muito técnico e escolho os piores exemplos para serem utilizados – e/ou também existe o fato de como o Robson me disse uma vez, as pessoas ficam putas de como eu abordo tais assuntos, de uma forma “violenta” e “insultosa”. Como dito, “conclusões complementares” (e fodasse*, eu disse a mesma coisa por perspectivas diferentes).
Creio eu que as pessoas “fora do meu aquário” não estão prontas para ouvirem certas “verdades”** e tratarem sobre estas, e assim, “inverdades” e estereótipos e tabus são passados adiante, justamente pelo erro de conversar sobre. Isso sem contar o fato do “Outro”, de ver somente o lance pela sua perspectiva e não dá de outrem. Dois exemplos muito legais são a curra que a Alemanha deu no Brasil ontem, que serve muito bem ser o primeiro exemplo: pimenta nos rabos dos outros é refresco, mas quando upam nos nossos? Já o segundo (eu queria falar disso desde a primeira vez que ouvi falar no assunto) é a presepada do MEC em ampliar o FIES*** pro strictu sensu (i.e., Mestrado e Doutorado, respectivamente). Rum, o que teve gente soltando purpurina pelo cu quando soube, achando a Oitava Maravilha da face de Gaia, não ‘tá no gibi. Eu nem conto procês que agora é que o cão vai chupar a mangueira inteira com esse tiro de Stinger**** que a gestão Dilma deu no próprio pé, que eu num duvido nada que foi prevendo re-eleição (plano de contingência caso desse merda na Copa? talvez, eu não tinha pensado nisso até esse momento, mas seria um plano muito furado, uma vez que não cobre nem a metade da galera cujo voto faz diferença). Eu não sou contra tal medida, sério, acredito que seja uma boa iniciativa, mas tirar do papel é que vai ser o caralho de asa, ainda mais considerando o poder das universidades públicas no país e serem poucas as particulares de verdadeiro renome em território nacional*****. Sim, me chamaram de “coxinha”, “reaça” e o cacete quando expus tais fatos, mas um dos fatos é que o abismo entre o ensino superior brasileiro particular e público vai aumentar ainda mais. Não que não existam particulares com mais estrutura do que as públicas – isso é fato – mas Mestrado e Doutorado são fundados em PESQUISA e não em retorno financeiro IMEDIATO no qual as particulares se baseiam. Isso ainda vai dar um circo muito valendo e quero ver como a próxima gestão vai lidar com essa cagada. E quero ver como a galera vai discutir isso daqui a uns dez, quinze anos.
Talvez eu seja de fato e realmente um maldito catastrofista
(¿talvez? hah! veja o post Catastrofistas dos Dias Modernos, de janeiro de 2010). Sim, eu tenho meu quê de otimismo, mas eu fiquei velho (só na idade, nem tanto na mentalidade), cínico e filho da puta – quer dizer, mais cínico e mais filho da puta. Mas é verdade mesmo, só dá pra conversar com meus pares e alguns de fora mesmo. Ainda não decidi, muito menos parei pra pensar se isso é bom ou ruim, afinal tenho conversado praticamente as mesmas coisas com as mesmas pessoas a mais de dez, vinte anos e só agregando mais gente pra poder falar praticamente as mesmas coisas. É, eu curto ficar “no meu aquário”, bastante até, mas sim, eu me divirto tirando as pessoas dos delas, e olha que não faço isso propositalmente. Um assunto vai puxando outro, outro, outro, já foi.....
E, para terminar, eu me espocava de rir daquele comercial com as crianças “eu nunca vi o Brasil ganhar uma Copa. Brasil, ganha a Copa pra mim”. Ai um comentarista diz hoje no jornal da manhã “devemos ter mais pena das crianças que viram o jogo e ficaram traumatizadas vendo o Brasil perdendo como perdeu da Alemanha e numa Copa em casa”. Só te pergunto o seguinte, jogador: que tal a gente pensar na criançada que morreu por não ter hospital porque estádios estavam sendo ampliados para a Copa, e na criançada que teve pais mortos nas ampliações destes estádios ou cujos pais morreram por não terem hospitais para a ampliação destes? Hum? Que me diz?
Catastrofismo. Cinismo. Filha da putice.
Bem-vindo às Arestas da Calçada.
* erro proposital.
** ver a letra que abre este post.
**** Míssil oficialmente conhecido como FIM-92A do tipo terra-ar projetado pela fabricante de armas General Dynamics em 1967 e fabricado em massa pela Raytheon Missile Systems no mesmo ano, sendo utilizado até hoje por tropas tanto dos Estados Unidos quanto de outros países desde maio de 1982, durante a Guerra das Malvinas (entre 2 de abril e 14 de junho do referido ano) e foi utilizado inclusive no Afeganistão (1979-1989), Kargil (1999), Iugoslávia (1991-2001) e Angola (1975-2002). Tem a função de dar às tropas terrestres uma maneira de lidar com aviões e helicópteros voando a baixas altitudes, sendo guiado por infravermelho – i.e., consegue travar o alvo no calor que o motor da aeronave produz, é chamado de localizador “passivo” porque, ao contrário de um míssil guiado por radar, não emite ondas de rádio para “ver” seu alvo. Fontes: <
http://armasvoadoras.blogspot.com.br/2009/03/fim-92-stinger.html> e <
http://www.howstuffworks.com/stinger.htm>.
***** alguém ai disse PUC? alguém ai disse Mackenzie? alguém ai disse Luterana?