sim, ‘tô ciente que dei AQUELA sumida do blog que disse que não ia fazer, mas aconteceu coisa pra caralho nesse ínterim e não deu pra dar a devida atenção ao “meu” lugarzinho favorito da internet[1]. o que nunca me faltou ideia foi ideia pra escrever sobre e tem um monte de merdas aqui pra eu escrever sobre mas, isocronicamente, tem um monte de coisa pra ler e escrever e fazer. ai, essa madrugada última, eu ‘tava vendo alguma coisa na internet procurando sono[2] e googleei “filmes judô artes marciais” e ai dei de caras com uns que já tinha visto e dois que não. o primeiro era o documentário nipo-estadunidense, Mrs. Judo: Be Strong, Be Gentle, Be Beautiful, sobre Umweltesmeisterin Fukuda Keiko-sama (1913-2013), SÓ A MAIOR JUDOCA DA HISTÓRIA DO JAPÃO E TALVEZ A MAIOR DO ESPORTE ATÉ AGORA. o texto foi dirigido, escrito, produzido e editado[3] pela nipo-estadunidense Yuriko Gamo Romer.
o outro filme era o coreano My Annoying Brother, de 2016, dirigido por Kwon Soo-kyung, escrito por Yoo Young-ah, produzido por Lee Yong-nam e Choi Nak-kwon para a Good Choice Cut Pictures e distribuído pela CJ Entertainment.
olha...
‘tá...
sim.
eu admito com todas as letras que só vi por um ÚNICO e EXCLUSIVO motivo: porque judô era um dos Leitmotiven do filme. ‘tá, tinha o caso de um dos protagonistas se tornar deficiente visual e como ‘tô ajudando umas amigas com seus TCCs que tratam de inclusão, pensei “como caralhas abordam esse tema? ‘bora ver que porra é essa”.
foda de ter visto os dois primeiros filmes da trilogia Ong Bak é que tu ficas mal-acostumado pra caralho com a qualidade de filme de arte marcial. ‘tá, nas listas que vi de filmes com arte marcial tinham o primeiro Rocky[4] (porque merece, dê uma pedrada na cabeça de quem discordar), mas quando vi que o ator principal do filme era um cantor de k-pop[5], pensei que seria mais próximo de um A Grande Vitória e infinitamente longe do primeiro Rocky e do Touro Indomável nem vou falar dos dois primeiros Ong Bak. quando terminei, fiquei... “alguém dá uma Palma de Ouro em Cannes pr’A Grande Vitória. um Oscar de Filme Estrangeiro, por baixo assim. na moralzinha, na parceiragem.”
Ong Bak - O Guerreiro Sagrado, de 2003, dirigido por Prachya Pinkaew; escrito por ele, Panna Rittikrai e Suphachai Sittiaumponpan
Ong Bak 2 - O Começo, de 2008, dirigido por Prachya Pinkaew e Tony Jaa; escrito por eles, Ek Iemchuen e Nonthakorn Thaweesuk
Rocky, Um Lutador, de 1976, dirigido por John Guilbert Avildsen (1935-2017) e escrito por Sylvester Enzio Stallone
A Grande Vitória, de 2014, dirigido e produzido por Stefano Capuzzi; escrito pelo mesmo e por Paulo Tavares
Touro Indomável, de 1980, dirigido por Martin Scorsese, escrito por Paul Schrader e Mardik Martin (1933-2015), baseado na autobiografia do pugilista estadunidense Giacobe “Jake” LaMotta (1922-2017), Raging Bull: My Story, escrito por ele, Joseph Carter e Peter Savage (1920-1981)
“MAS QUAL O PAPO DE MY ANNOYING BROTHER?!?”
2015. o judoca coreano Go Dō-young (Do Kyung-sō), em uma competição internacional (creio que era um campeonato asiático), aplica um uchi mata num japonês[6] mas leva um fuckin ura nage de reverso. conheci uma professora da UFPA que pesquisa neurociências, Frau Professorin Doktorin Soraia Valeria de Oliveira Coelho Lameirão, que vou perguntar pra ela assim que possível como caceta alguém pode perder – integralmente – a visão com o impacto que o Dō-shik levou. ai, caralho, tu já podes pensar que ai, daí já vai sair um filmão do caralho, ainda mais que aparece o Go Dō-shik (Jo Jung-suk), presidiário condenado por fraude e sonegação (em certa parte, ele meio que deixa entender que alguém tinha que se fuder no negócio, e ele foi escolhido pra tomar no coo). dá pra prever que os dois encontrar-se-ão e vai rolar uma puta rota de colisão, vai ser uma caralhada “Rain Man feelings”. My Annoying Brother é um Rain Man piorado. mas que tem judô.
falando em judô, tem a Lee Sō-hyun (Park Shin-hye)[7], a treinadora da equipe do Go, que fica frustadamente frustrada pela situação do muleque e vai ver a situação do Dō-young e saca o quão o Dō-shik era um escroto. “por que o Dō-shik era um escroto?” porque ele não queria cuidar do irmão mais novo, ainda mais naquela situação. o Dō-young ‘tava escroto modo Edward Arthur Burroughs (1882-1934) feelings. foda-se o mundo no turbo, “quero dormir e foda-se o mundo”.
se rola um triângulo amoroso entre Dō-young, Dō-shik e Sō-hyun?
não, velho, não rola. não chega a ser frustrante porque o foco fica mesmo na relação entre Loser Manos[8] mas cada um deles tem sua própria relação de respeito, admiração e ódio com Soo-hyun porque dá uma treta aqui e ali entre cada um deles e ela e entre os três. a saber, young e shik não são filhos da mesma mãe, mas do mesmo pai, isso norteia praticamente toda a treta do dois. foda que o desenvolvimento da treta o negócio não é pontual. bastasse o Young-ah caralhar de cismar em pontuar situação engraçada, o porra do Sō-kyung não tem o timing pra conduzir decentemente o esquema. e tu ficas “POR QUE PORRA ELES COLOCARAM ESSA PORRA DESSA CENA, DOIDO?!? VAI SE FUDER, VELHO!” e dá uma vontade caralhesca de parar de ver o filme umas e outras e vezes, se não tiveres tu vendo a porra do filme de cérebro desligado (que não foi a porra do meu caso).
quando o negócio do filme começa a funcionar? quando o Dō-shik descobre que tem uma porra dum câncer terminal que vai morrer cedo ou tarde e isso faz o judô voltar pro primeiro plano porque Dō-shik faz o Dō-young voltar a ter vontade de treinar e pede pra Sō-hyun continuar a ser treinadora dele. não chega a ser um Rocky mit Judo, não chega a ser um Touro Indomável mit Judo, não chega a ser um Rain Man mit Judo, mas ai começa a ter sua própria identidade. creio que já tinha, mas, como falei, TEM MUITO MOMENTO DESNECESSÁRIO PRA CARALHO, que ai, creio, impede de se tornar um Rocky mit Judo, um Touro Indomável mit Judo, um Rain Man mit Judo.
mas, com todos os defeitos de My Annoying Brother, ele cresce em si mesmo não somente pela dedicação do Dō-young voltando a treinar, mas pela citação direta a nada fuckin mais, nada fuckin menos aos JOGOS PARAOLÍMPICOS DO RIO DE JANEIRO DE 2016 e o Dō-young ser da seleção coreana de judô. eu imagino, em decorrência da invasão japonesa à Coreia[9], os japoneses devem ter babado de raiva ao ver os coreanos fazerem um filme desses, apesar do japonês ter quitado o principal. mas não se enganem, My Annoying Brother chega nem perto de ser um Saga do Judô.
Saga do Judô, de 1943, dirigido por Akira Kurosawa (1910-1998), escrito por ele e Tsuneo Tomita (1865-1937), baseado no romance Sanshiro Sugata[10], escrito pelo próprio Tomita
eu, como brasileiro, fiquei feliz de terem falado dos Jogos Paraolímpicos do RJ. fiquei feliz mesmo “caralho, doido, judô dos Jogos Paraolímpicos”, é foda pra caralho pra mim ver tal competição. ai, como alegria de pobre dura pouco, alegria de pesquisador no Brasil dura pouco, tinham que zoar o país que, se tu levas a sério o que ‘tá acontecendo no país de fato, tu vais ficar puto com essa imagem que temos no exterior. foda, doido.
uhm, sim. Dō-shik morre no final. Dō-young quase não luta ao saber que o irmão ‘tá com câncer e é a Sō-hyun que o traz de volta pra real, pro aqui, agora, pros Jogos Paraolímpicos do RJ. sim, Dō-young ganha a medalha de ouro. mas não, Sō-hyun e Dō-young não ficam juntos e “PORRA, AINDA BEM POR ISSO”.
My Annoying Brother não vai mudar tua vida. caso sejas judoca, não vai te fazer gostar mais ou menos do esporte, mas as cenas de judô são bem feitas pra caralho, muito bem feitas pra caralho. a edição é do caralho, a fotografia é do caralho. mas My Annoying Brother não convence, as derrapadas no roteiro fazer o filme ter um gosto muito ruim na boca no final. como uma Sessão da Tarde, como ver um filme esperando outro baixando, esperando alguém sair, hora pra sair, serve. mas, pffffff, só. é ver My Annoying Brother e “‘tá, né?”.
[1] na verdade, o segundo. o primeiro ainda é o fuckin damn hell Twitter.
[2] era pra eu ter dormido cedão mas deu um revés ai cago fuckin destroyer do caralho, o sono foi embora e acabei só indo dormir lá pelas 4 da manhã.
[3] caralho que a mulher era a porra do Ed Wood (1924-1978)!!!!!!
[4] admitamos, o ÚNICO filme REALMENTE SÉRIO da série.
[5] no meu entender, o estilo de música favorita de anarcocapitalistas.
[6] não achei o nome do ator nos créditos porque não sei ler coreano, mas na wiki em inglês diz que foi interpretado por Kwon Ji-hoon.
[7] MARAVILINDA PRA CARALHO, pena que é uma vara de seca.
[8] an inevitable piada.
[9] interim ocorrido entre 1910 e 1945, quando o Império Coreano se tornou um protetorado japonês. para mais informações, ler
Japanese Occupation in Korea, de Greg Sill
Os coreanos na história segundo Bruce Cumings, de Amaury Porto de Oliveira
Por que não fazemos como a Coreia?, de Claudio de Moura Castro
[10] título original do Saga do Judô, inclusive.
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