ouvindo: Neil Young, Time Fades Away, de 1973
as obras do cineasta indiano-estadunidense Manoj Nelliyattu Shyamalan, a.k.a. “M. Night”, tem três tipos de consumidores: os que amam suas obras, os que odeiam e os amam ou odeiam por não entenderem porra nenhuma dos textos. o que eles têm em comum são, ao final de todos os filmes, é “QUE PORRA FOI ESSA, DOIDO?!?”.
do outro lado da régua, têm-se as adaptações de Histórias em Quadrinhos para o Cinema. eu já falei das minhas favoritas nesse post aqui e, enquanto ontem, vi o novo Esquadrão Suicida – do James “Super” Gunn (cedo ou tarde vou dissecar esse filme aqui também) e baseado na equipe homônima da DC Comics –, hoje vi o Tempo, escrito e dirigido pelo próprio Shyamalan, baseado na graphic novel[1] francesa Castelo de Areia, do roteirista e cineasta francês Piérre Oscar Levy e do desenhista suíço Frederik Peters.
Super, roteiro e direção de James Gunn, de 2010
Castelo de Areia, roteiro de Piérre Oscar Levy e arte de Frederik Peters, também de 2010, lançada no Brasil em 2011 pela Caleidoscópio
enquanto Castelo de Areia é um título, no mínimo, fascinantemente tenso demais para um caralho que consegue agradar sem dar nada mais que HIPÓTESES para o que acontece com os personagens num recôncavesco[1]/praiano no qual toda a narrativa é desenvolvida (Festim Diabólico Empfindungen? HAHAHA), sendo um excelentíssimo exemplo do quão as HQs podem ser, de muitas maneiras e variações, qualquer coisa, EXCETO infantis.
Tempo é uma adaptação, no mínimo, ESTRANHA PRA CARALHO. eu descobri que tinha uma adaptação pra cinema após ir ter procurado a versão pra HQ[2] pra baixar. “claro, foda-se por que não?”. o filme não é ruim, mesmo sendo mazerrado do que acertado, e muitíssimo melhor adaptado quanto os blockbusters Esquadrão Suicida (o desse ano), Loki e WandaVision. explicando: mesmo funcionando muitíssimo mais como produção original que adaptação (der ERSTE Jurassic Park Empfindungen), Shyamalan não tem medo de transformar Castelo de Areia em uma ficção científica contendo uma crítica caralhalmente fuderosa à indústria farmacêutica – que pode tanto lembrar Johnny Mnemonic, quanto Orphan Black, até mesmo o ora vilão, ora antiherói Cardíaco, da Marvel – que explica o porquê dos frequentadores da praia morrerem de velhice extremamente acelerada enquanto presentes à praia.
Johnny Mnemonic, roteiro do escritor William Gibson sobre seu conto homônimo de 1981, direção de Robert Longo para a Alliance Communications, de 1995
Orphan Black, série criada por Graeme Manson e John Fawcett para uma parceria entre a filial canadense do canal Space e a filial estadunidense do canal BBC, transmitida entre 2013 e 2017
Cardíaco (alter-ego de Elias Wirtham), personagem criado por para a Marvel Comics em 1990 pelo desenhista Erik Larsen e pelo roteirista David Michelinie (criador do Venom, do Carnificina e do Máquina de Guerra, a propósito); sua primeira aparição foi na edição #344 da revista The Amazing Spider-Man, de fevereiro de 1990
mesmo que, por mais que eu odeie admitir porque é foda mesmo e foda no pior sentido, Tempo é uma porra dum filme genérico que quer muita coisa e não consegue porra nenhuma: quer ser terror mas não consegue, quer ser suspense mas não consegue. no que se arrisca a ser ficção científica ainda consegue algum crédito, mas seria muitão mais digno de nota se conversasse com os outros dois gêneros e não precisava daquela porra de final feliz depois que os irmãos Trent Reznor (no original, Félix; interpretado, enquanto novo, por Alex Wolff e, enquanto velho, por Emun Elliott) e Maddox (no original, Zoe; interpretada, enquanto nova, por, respectivamente, Alexa Swinton e Thomasin McKenzie; e, enquanto velha, por Embeth Davidtz[3]) Cappa conseguem fugir da praia, fazendo uma referência FUDIDA à Fuga de Absolom. se o caralho do Shyamalan (UI!) tivesse visto a porra d’O Enigma de Outro Mundo, do Carpenter, e visto a porra d’O Enigma do Horizonte, do Paul MORTAL KOMBAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAT Anderson e até mesmo a porra do francês[4] Les Revenants[5], do Robin Campillo, cada um (filme) até entender, mas entender MESMO, creio que certamente caralhalmente entenderia qual pegada deveria ter utilizado em Tempo. ver pelo menos dez vezes cada filme, pelo menos – só pra constar/garantir.
Fuga de Absolom, de 1994; roteiro de Michael Gaylin e Joel Gross – baseados no romance The Penal Colony, de Richard Herley, de 1987 –, direção de Martin Campbell, para uma parceria entre a Pacific Western e a Allied Filmmakers
O Enigma de Outro Mundo; de 1982; roteiro de Bill Lancaster – baseado de Who Goes There?, de John Wood Campbell Jr. (1910-1971), de 1938 -, direção de John Howard Carpenter
O Enigma do Horizonte, de 1997; roteiro de Philip Eisner (A Era da Escuridão - Crônicas Mutantes) e direção de Paul William Scott Anderson; para uma parceria entre a Paramount Pictures, a Golar Productions e a Impact Pictures
Les Revenants, de 2004; roteiro e direção de Robin Campillo
não se iluda pensando que a leitura da HQ facilita a do filme porque não facilita não. nem inventa. o máximo que vai fazer é te familiarizar com os elementos narrativos do texto fonte, principalmente com Charles (Rufus Sewell), o médico que é cidadão de bem conservador de direita típico[6], como os caras do Pilha de Gibis perfeitamente o alcunharam no “resenhamento” de Castelo de Areia. todavia, sua participação é vital para tanto para o desenrolar da história quanto para sentir ainda mais o pesar por cada personagem que se vai, sendo que no filme, esta função é de Kara (no original, Sophie; interpretada, enquanto nova, por, respectivamente, Kylie Begley e Mikaya Fisher; e, enquanto velha, por Eliza Scanlen), após perder o filho que tem com Trent (é Zoe quem tem o bebê no original, de Louis – que VAI SABER-SE O PORQUÊ – corno do Shyamalan não colocou no texto cinematográfico).
mesmo com todos seus defeitos caralhentos e não ter sequer metade da carga emocional (e praticamente ZERO da carga erótica [apesar da gravidez de Kara/Sophie que já volta “dali” de mãos dadas com Trent]) que o texto de Levy e Peters contém, Tempo funciona muitão melhor em si mesmo que Esquadrão Suicida, Loki e WandaVision porque é fechado em si mesmo, tudo o que é necessário ‘tá lá, não é pra ser vendido a conta-gotas e, no final, mostra ser por demais sólido, mesmo que uma rocha sólida bastante irregular e que fira suas mãos quando a tiver em mãos. mesmo que, muitíssimo possivelmente – creio eu –, seja uma aula de como uma rocha sólida não deva ser.
cuidado com Tempo, mas vá sem medo à Castelo de Areia.
[1] relativo a “recôncavo” – essa palavra não existia, mas agora existe HAHAHA;
[2] eu ia chamar de HQ, mas ver a crítica da Isabela Boscov me fez consertar a mancada a tempo;
[3] eu casava fácilzão era hoje com essa mulher;
[4] AMBIGUIDADE TOTALMENTE PROPOSITAL DO CARALHO;
[5] RECOMENDO PARA UM CARALHO, VÁ VER PARA ONTEM!
[6] IRONICAMENTE et AINDA BEM, todo Charles que conheço é gente fina pra caralho.
BIS
ZU
DEM
BREAKIN
FUCKIN
NEUEN
POST
!!!
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