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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

XIRA - quadrinho comentado e analisado

ouvindo: Social Insecurity + Dread 101, Social Insecurity + ...And Systems Continue, 2002

existe uma área do conhecimento chamada Psicolinguística, que quem saca esse blog entre o triênio 2011-2013 sabe muito bem que essa cátedra foi o meu caos na terra durante minha graduação, que quase que não me formo por causa dessa feladumégua.
a cadeira em questão trata de estudar como seres humanos adquirem, processam, desenvolvem e produzem linguagem[1]. dentro deste contexto, há a memória (não, não o que o Halbwachs[2] e o Ricœur[3] entendem como memória), que traz à tona recordações de experiências anteriores similares[4].
sabendo disso, ler Xira, dos argentinos Diego Giribaldi (arte), Mauro Mantella (roteiro) e Ramon Ignacio Bunge (colorista), me fez lembrar praticamente imediatamente do pequeno grande clássico do começo desse século We3, de Grant Morisson (não preciso dizer QUEM é o Grant Morisson) e Frank Quitely (não preciso dizer QUEM é o Frank Quitely), mesmo porque o próprio Diego Giribaldi admite a influência e inspiração da, talvez, minha obra favorita do Morisson.  
Xira 
#1, arte de Diego Giribaldi, roteiro de Mauro Mantella e cores de Ramon Ignacio Bunge. Estados Unidos: Red 5 Comics, julho de 2020
Xira 
#2, arte de Diego Giribaldi, roteiro de Mauro Mantella e cores de Ramon Ignacio Bunge. Estados Unidos: Red 5 Comics, agosto de 2020
Xira 
#3, arte de Diego Giribaldi, roteiro de Mauro Mantella e cores de Ramon Ignacio Bunge. Estados Unidos: Red 5 Comics, setembro de 2020. 
We3 
#1, roteiro de Grant Morisson e arte de Frank Quitely. Estados Unidos: Vertigo, 2004.
We3 
#2, roteiro de Grant Morisson e arte de Frank Quitely. Estados Unidos: Vertigo, 2004.
We3 
#3, roteiro de Grant Morisson e arte de Frank Quitely. Estados Unidos: Vertigo, 2004.

Xira também lembrou Projeto Secreto: Macacos, com o Matthew Broderick (não preciso dizer QUEM é o Matthew Broderick), por praticamente ter a mesmíssima pegada “primatas sendo testados por militares para se tornarem armas vivas”. não coincidentemente, não surpreendentemente, o projeto do filme do Kaplan e o da história do Morisson acontecem com armas desenvolvidas pela USAF (¿por que qual outro grupo terrorista usaria uma arma desse tipo, né não?).
Projeto Secreto: Macacos, direção de Jonathan Kaplan, roteiro de Lawrence Lasker e Stanley Weiser. Estados Unidos: distribuição internacional da (até então) 20th Century Fox, 1987. 

“mas e a Xira?” pergunta totalmente quinta série feelings
Xira é um gorila fêmea que reside em uma instalação de tortur... pesquisa que utiliza primatas não-humanos. não fica especificamente específico do que são estas pesquisas, mas quando catei as capas no ComicVine, ‘tava descrito que são tortur... pesquisas que visam criar astronautas melhores (FAZER ISSO COM HUMANOS NINGUÉM QUER, NÉ, CARALHO!?), mais fortes, mais rápidos e mais inteligentes. como de praxe, os cientistas a tratam como mais uma primata não-humana estúpida, a quem lhe foi permitida procriar para que sua prole também seja submetida a... creio... testes de verificação de transmissão de genes a partir dos experimentos aos quais Xira fora submetida. não é explicado como nossa heroína consegue uma arma, mas ela mete um balaço no coco do cientista-chefe, não só porque ele é um escroto de marca maior, MAS PORQUE É UM ZÓOFILO TAMBÉM. Xira, não surpreendentemente [‘tá, sim, surpreendentemente sim] consegue fazer uma FUCKING análise sociopsicológica[5] a partir de uma leitura corporal do segurança de um traje capaz de atuar a a 30 vezes a atmosfera a terra[6] e tira o segurança da jogada. sim, Xira fala como um ser humano (se bobear, melhor do que muito “ser ‘humano’ que eu conheço), o que deixa praticamente todo mundo surpreso – os cientistas e quem ‘tá lendo a hq em questão[7].
no trajeto de fuga para encontrar o grupo militante pelos direitos dos animais não-humanos, chamado [talvez muitíssimo convenientemente] de ZOO FIGHTERS, “não sei opinar”[8] se a melhor parte foi ela meter um míssil em um comboio possível situado para obstruir sua passagem ou ela tratorar uma equipe da swat, jogando, inclusive, um carro em um helicópteros de guerra que fora tirar a de combate, visto que ela portava “um vírus capaz de fazer antrax parecer fermento em pó”, às palavras do chefe de polícia (sim, o que leva o míssil na fuça) – vírus, inclusive, de influência nula a primatas não-humanos. as situações mencionadas são maravilhosas de se ver porque a arte do Diego Giribaldi não é bagunçada e as cores feitas pelo Ramon Ignacio Bunge são nítidas, não parecem estar todas uma em cima da outra, não permitindo o discernimento do que cada personagem é em cada quadro.
mas tal como em We3, mandam uma arma propriamente dita para parar Xira de uma vez por todas. um babuíno em uma armadura hipertecnológica, que, pelo dito por um dos cientistas, dá pra entender que já foi utilizado em batalha anteriormente. achei legal que o Mauro Mantella faz uma referência/homenagem indireta muitíssimo ao escritor estadunidense ERNEST HEMINGWAY (1899-1961) (não preciso dizer QUEM é o Ernest Hemingway), pois enquanto em inúmeras histórias do Hemingway, as personagens femininas não têm nome, além da própria Xira, a única personagem que tem nome é Marko, o babuíno da armadura hipertecnológica, usado pelo governo dos EUA (¿por que qual outro grupo terrorista usaria uma arma desse tipo, né não?²). achei isso interessante para caralho e seria legal o Morisson ter feito isso em We3.
após Xira e sua cria essa frase nao ficou legal, convenhamos já terem encontrado os Zoo Fighters[9] e Xira alimentar sua cria, ocorre uma batalha destroyer entre Xira e Marko, que após este arrancar o braço da cria de Xira, o que provoca sua ira e então lhe dá a vitória na batalha. por fim, através da divulgação do Manifesto Xira, pelos Zoo Fighters, na qual ela se declara “a voz dos que não têm voz”, a comunidade científica mundial decide parar de uma vez com as pesquisas em animais não-humanos. UHUM, ‘TÁ, VOU ACREDITAR QUE VAI SIM.
Xira é um manifesto ecológico e um convite a discussões sobre o atual estado e mesmo o futuro da bioética, das quais a médica, militante feminista e bioeticista Fátima Oliveira (1964-2017) – autora do volume Bioética, da coleção Polêmica (Moderna, 1997, 144 páginas) – ficaria orgulhosíssima em ver e participar o texto de Mantella, Giribaldi e Bunge, além de excelente contribuição aos quadrinhos de ação e de ficção científica (que andam juntos quase sempre desde sua gênese), é um tremendo de um chute na boca dos nerdolas chorões pleonasmo mode on turbo que dizem não querer discussões sobre política no referido gênero tetual (sim, os quadrinhos). 
creio que a própria Fátima Oliveira, pra quem dedico esse texto, adoraria ler essa HQ, justamente por sua protagonista ser uma fêmea, uma mãe e um ser vivo que só quer viver e o melhor para sua prole.

leiam Xira






[1] SÁ, Thaís Maíra Machado de; OLIVEIRA, Cândido Samuel Fonseca de. Métodos experimentais em psicolinguística: uma introdução. In: OLIVEIRA, Cândido Samuel Fonseca de; SÁ, Thaís Maíra Machado de [orgs.]. Métodos experimentais em psicolinguística. - 1. ed. - São Paulo : Pá de Palavra, 2022.
[2] HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1990.
[3] RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alan François et al., Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2007.
[4] GUIMARÃES, Mara Passos. O priming estrutural na pesquisa linguística. In: OLIVEIRA, Cândido Samuel Fonseca de; SÁ, Thaís Maíra Machado de [orgs.]. Métodos experimentais em psicolinguística. - 1. ed. - São Paulo : Pá de Palavra, 2022.
[5] PAIVA, Vera Silvia Facciolla. Psicologia na saúde: sociopsicológica ou psicossocial? Inovações do campo no contexto da resposta brasileira à AIDS. Temas em Psicologia, vol.21 no.3, Ribeirão Preto dez. 2013.
[6] eu poderia colocar a 30 atm, mas isso ia lembrar muito os treinos do Vegeta e do Goku na ida a Namekusei.
[7] ¿qual o nome que os eleitores do mileso dão pra histórias em quadrinhos?
[8] Pires, 2016.
[9] eu lia e pensava “caralho, esse bicho é muito filho da puta” HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA 









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