Postagem em destaque

YEAH, HOUSTON, WIR HABEN BÜCHER!

e ai que tenho três livros de autoria publicada que fiz praticamente tudo neles e vou fixar esse post aqui com os três pra download e todos...

domingo, 20 de setembro de 2009

LOBO SOLITÁRIO: O Mito [parte três de três]

Trilha sonora de fundo: Arrastão do Pavulagem, Arraial do Pavulagem, 2001
(deveras contrastante, não?)


LOBO SOLITÁRIO:
O Mito

Como acontece em grandes obras, o mangá se tornou um marco, um grande ponto de referência na cultura pop mundial. A série deixou influências indeléveis em numerosas outras criações, tanto em quadrinhos quanto fora deles. Veremos agora muitos (mas nem de longe todos) trabalhos que foram influenciados direta ou indiretamente por este grande mangá.

Começaremos pelos filmes baseados na série. Em 1972, a HQ ainda em produção, o autor Shintaro Katsu, célebre por ser o intérprete do espadachim cego Zatoichi na série cinematográfica homônima, estava à procura de um papel para seu irmão, Tomisaburo Wakayama, também ator, e viu em Itto Ogami um personagem de potencial comparável ao do próprio Zatoichi. O próprio Kazuo Koike participou da adaptação dos quadrinhos para o filme e o hábil diretor Kenji Misumi (outro veterano dos filmes de Zatoichi) foi chamado para dirigí-lo.

O resultado foi excelente, transpondo com habilidade do papel para a película. Apesar de um tanto encorpada para o papel (tendência que seria seguida pelos outros intérpretes do personagem nas telas), Wakayama revelou-se um ótimo Ogamim ainda que não tivesse o carisma de seu irmão. Mas, apesar de algum sucesso nas bilheterias, não conseguiu cumprir sua meta de igualar o sucesso de Zatoichi.

Ainda assim, a cinessérie continuou até o sexto filme (sempre com Wakayama no papel principal), com qualidade e sucesso decrescentes. O golpe mais sério foi, sem dúvida, o afastamento do diretor Misumi (talvez por motivos de saúde, ele morreu em 1975). O último filme foi lançado em 1974, com a HQ ainda em curso e, em conseqüência disso, a série de filmes foi privada de um desfecho satisfatório.

Os filmes foram o primeiro produto da série a chegar ao ocidente. Em 1980, Roger Coman – o célebre produtor de filmes B – lançou nos EUA um longa-metragem que combinava os dois primeiros filmes japoneses. Sua produtora editou os dois filmes em um só (fazendo alterações consideráveis na história durante o processo), dublou o resultado em inglês, criou uma nova trilha sonora e lançou o produto final com o título de Shogun Assassin. Esse filme, até hoje, é um grande sucesso no mercado de vídeo americano, mais tarde, a série foi lançada sem cortes nos EUA, com o título de Baby Cart Assassin (numa tradução literal, O Assassino do Carrinho de Bebê) e as duas versões (a original e a de Corman) são bastante conhecidas entre os fãs americanos de filmes de artes marciais.

Nesse meio tempo, surgiu no Japão a primeira série de TV do personagem, exibida de 1973 a 1976. Diferente dos filmes, esta adaptou integralmente o manga até seu final. Kinnosuke Nagamura fez o papel de Itto Ogami. Além do sucesso no Japão, a série foi exibida em vários países do ocidente – inclusive no Brasil, com o título de Samurai Fugitivo, pelo SBT.

Diversos outros filmes e séries de TV do personagem foram feitas posteriormente no Japão. Nenhuma parece ter chegado ao ocidente, mas é digno de menção um filme para a TV de 1979, em que Wakayama, o eterno Itto Ogami do cinema, interpreta o maior vilão da série, Retsudo Yagyu.

A influência de Lobo Solitário nas HQs ocidentais começa com Frank Miller. O conhecido artista americano teve seu primeiro contato com a revista através de uma edição encadernada japonesa, emprestada por um amigo seu. Embora não soubesse uma palavra de japonês, Miller ficou impressionado pela força da história e, em especial, da arte de Kazuo Koike. Isso se refletiu logo em seu primeiro trabalho autoral, Ronin (DC Comics), que incorpora muito da temática e da técnica narrativa de Lobo Solitário.

Miller foi também peça fundamental na primeira publicação de Lobo Solitário nos EUA, pela editora First Comics, com o título Lone Wolf and Cub (numa tradução literal, Lobo Solitário e Filhote – título algo incoerente...). Miller fez as primeiras capas e textos introdutórios das primeiras doze edições. A presença de Miller – um dos autores de maior popularidade nos comics americanos – somada aos méritos da série, fizeram da adaptação da First (o primeiro mangá a ser publicado regularmente nos EUA) um enorme sucesso editorial. E apesar de ter durado apenas pouco menos de quatro anos (1987 a 1991), estar repleto de cortes, mal invertido para o sentido ocidental de leitura e com alguns problemas de tradução, a edição da First foi quem tornou o personagem famoso nos EUA.

Merecem atenção especial as capas das edições da First. Assinadas por artistas americanos do porte de Miller, Bill Sienkewicz, Matt Wagner e Mile Ploog, elas contribuíram muito para o sucesso da série. Grande parte delas foi reutilizada nas edições ocidentais posteriores, como a segunda edição americana – agora na íntegra da Dark Horse, nas edições européias, nas várias edições brasileiras (incluindo a presente) e até mesmo em uma das republicações japonesas!

As primeiras edições brasileiras de Lobo Solitário foram baseadas nas da First Comics. A primeira, da Editora Cedibra, reimprimiu fielmente as primeiras edições da First. As duas seguintes, pela Nova Sampa, eram publicadas em um formato menor mas com maior número de páginas.

A segunda edição da Sampa teve algumas capas assinadas por artistas brasileiros, incluindo Mozart Couto. Depois da primeira publicação nos EUA, Lobo Solitário tornou-se referência constante nas HQs norte-americanas com temática samurai. A primeira delas foi Usagi Yojimbo, a maior longa HQ americana de samurais (em publicação regular desde 1986), estrelada por animais antropomórficos. Nela já apareceu um “Bode Solitário” e seu filhote. Um samurai com seu carrinho de bebê também foi coadjuvante da HQ de samurai The Path – de vida infelizmente curta – da extinta editora americana Crossgen.

Qualquer boa idéia que seja incorporada pelos comics americanos acabe inevitavelmente chegando às HQs de super-heróis, e com este mangá não foi exceção. Claramente inspirado na série, o escrito Fabian Nicieza transformou um ex-parceiro do Capitão América, o Nômade, em um super-herói errante com visual de Lorenzo Lamas e um bebê a tiracolo. Embora o personagem tivesse seus méritos (originalidade não era um deles!), ele foi uma vítima da crise que atingiu o mercado americano no início dos anos 90. Algumas de suas histórias foram publicadas na extinta revista Superaventuras Marvel, da Editora Abril.

Uma adaptação muito superior da idéia básica de Lobo Solitário para outra ambientação foi feita na HQ Road to Perdition (Estrada Para Perdição), que coloca o conceito e os personagens no submundo da Grande Depressão dos anos 30. Embora o “Daigoro” dessa versão fosse bem mais crescido, o escrito Max Allan Collins fez a melhor “reimaginação” de Lobo Solitário até o momento (ele inclusive dedica a sua HQ a Koike e Kojima). Curiosamente, esta “versão gângster” também chegou às telas de cinema, em uma adaptada versão cinematográfica bem produzida mas um tanto pausterizada em relação ao original. A HQ foi lançada no Brasil pela Editora Via Lettera.

Por fim, o sucesso conseguido pela sua nova edição de Lobo Solitário nos EUA levou o dono da editora americana Dark Horse, Mike Richardson, a criar a nova versão para o personagem, agora em uma ambientação futurista. Devidamente licenciada e aprovada por Kazuo Koike, Lone Wolf 2100 (Lobo Solitário 2100) vem sendo publicada esporadicamente nos EUA desde então. A história é do competente escritor Mike Kennedy e a arte do bom artista Francisco Ruiz Velasco. Embora seja um trabalho razoável, a HQ sofre em comparação com o muito superior original japonês. Por fim, partindo para o campo da animação, não custa nada mencionar uma ponta de Itto Ogami e seu filho no desenho animado Samurai Jack, que releva uma certa influência da HQ de Koike e Kojima em seu conceito e muitas das soluções narrativas.

Ainda hoje, mais de 30 anos depois de sua publicação original, Lobo Solitário continua inspirando artistas por todo o mundo. E com iniciativa da Panini em publicar o mangá original no Brasil e na Europa, quem sabe quantos outros ainda poderão ser influenciados por ele? Esta é a marca de um verdadeiro clássico!

Pedro “Hunter” Bouça




Nota: há um ponto que ficou meio obscuro no texto da primeira edição de Lobo Solitário (nota do dono do blog: texto presente na postagem Lobo Solitário: o Mangá [parte um de três]). Foi mencionado que o primeiro trabalho de Goseki Kojima foi publicado em 1967. Na verdade, esta é a data de publicação do primeiro mangá do autor serializado em uma antologia periódica vendida em bancas e livrarias de todo o Japão. Antes disso, o autor já tinha uma década de experiência na produção de mangás específicos para o mercado de kashi-bom, as livrarias de aluguel de mangá (uma prática comum no Japão durante os anos 50, hoje em desuso), normalmente adaptações de clássicos da literatura japonesa e histórias de samurai. Kojima fez seu primeiro trabalho ainda neste mercado ainda em 1957, sendo portanto, quando da criação de Lobo Solitário, um artista de mangá já experiente, ainda que, sim, relativamente novo na produção de mangás periódicos, uma disciplina diferente da produção para livrarias de aluguel (onde os autores produziam volumes inteiros, não histórias seriadas como nos trabalhos periódicos a que estamos acostumados).






Fonte: Lobo Solitário, volume 3: A Estrada Branca Entre Dois Rios, Panini Brasil, fevereiro de 2005, páginas 316 a 313.








“Feliz aniversário e Muitas Farras na Vida!” para: Lenina Elizabeth Silva e Silva (ver Canção Para Lenina) e Raoni Sousa Santos!!!!!
Weil ihr das verdient!!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você está em solo sagrado!
Agora entalhe com vossas garras na Árvore dos Registros e mostre a todos que virão que você esteve aqui!!!