“[...] não se deve deixar que a
dicotomia entre ‘mulher de família’ e ‘mulher prostituta’ esconda que as duas
versões ou posições advêm de um mesmo núcleo de sentido fundante: o feminino é
todo ele pensado como objeto e como interdito. O feminino posto unilateralmente
pelo imaginário dominante como único objeto da sexualidade passa a ser o objeto
por excelência da interdição. Assim, toda
a sexualidade feminina é concebida pelo
imaginário dominante como aquela que se esquiva para se oferecer. Assim, ao
mesmo tempo que se diz que a mulher é o objeto passivo da sexualidade, sempre
se supõe uma iniciativa indireta e o signo da interdição. Não há, assim,
qualquer possibilidade de substancialização das categorias de ‘mulher de
família’ e ‘mulher prostituta’. Elas
podem sempre se transmutar uma em outra, porque é a referência ao ‘ego’
masculino que as constitui. O feminino visto da posição exterior, tanto para os
olhares masculinos como femininos, enquanto se está falando das outras
mulheres, o feminino é transitivo, ou melhor, transicional. Apresenta-se como a
construção de uma sexualidade de gênero que se funda no transitar entre a
posição de seduzir e a posição de esquiva, entre a posição de feminino sagrado
e de feminino impuro. A ambivalência e a transicionalidade entre estes dois
lugares é o que constitui o imaginário da sexualidade feminina.”
– MACHADO, Lia Zanotta. Masculinidade, sexualidade e estupro: as construções da virilidade. cadernos pagu (11) 1998: pp.231-273.
– MACHADO, Lia Zanotta. Masculinidade, sexualidade e estupro: as construções da virilidade. cadernos pagu (11) 1998: pp.231-273.
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